Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘A cidade e o Estado de São Paulo, onde este jornal tem a maioria absoluta de seus assinantes e leitores, começam 2009 com problemas sérios.

A maneira com que a Folha os vem tratando deixa muito a desejar em relação ao que se pode esperar do maior diário paulista.

Um deles é o exame a que foram submetidos professores temporários da rede estadual de ensino público, no qual número expressivo tirou nota zero e metade não chegou a cinco.

Como na greve da categoria em 2008, o jornal trata do caso superficialmente. Reproduz declarações das autoridades e, em contraponto, ouve mecanicamente o sindicato dos trabalhadores.

O ‘outro lado’ não é o sindicato, mas os professores, cujas histórias não chegam ao público. O jornal não vai fundo nem nas causas de haver tantos professores provisórios no sistema nem nas razões por que muitos se deram mal na prova.

As condições em que o teste foi concebido, formulado e aplicado (há indícios de que estiveram longe do ideal) não foram detalhadas.

O noticiário e opiniões do jornal acabaram passando a ideia de que a ‘culpa’ do mau desempenho é apenas dos professores, mostrados como em geral despreparados. É claro que a explicação é muito mais complexa.

Outra situação é a da merenda escolar no município de São Paulo. Embora em 2007 a Folha tenha levantado o tema que agora está sendo retomado pelo Ministério Público, seu acompanhamento neste ano tem sido pouco arrojado.

O jornal precisa ser mais ativo. Em vez de quase se limitar ao pingue-pongue entre prefeitura e seus acusadores deve tomar a iniciativa de, por exemplo, verificar autonomamente a qualidade da merenda, pesquisar se pais, professores e alunos estão satisfeitos com ela em comparação com a que tinham antes.

O tema merece mais espaço, destaque e investimento do que tem recebido. Houve dia em que o noticiário sobre ele teve o mesmo tamanho de uma foto que mostrava as calças de um calouro estragadas em trote universitário.

Os paulistas, principalmente os paulistanos, estão sofrendo bastante com enchentes. Mas o jornal tem cuidado delas de forma acanhada. Relata os alagamentos que ocorrem, publica fotos de carros boiando nas ruas, conta os quilômetros de congestionamento. É muito pouco

No dia 10, por exemplo, reportagem registrou que a prefeitura ‘espera o pior fevereiro desde 2004’ e fará novo estudo de riscos só depois do período de chuvas.

A placidez com que acata tal declaração só se compara com a aceitação passiva do argumento de que a prefeitura tapa os buracos ‘sempre que é informada’. Ambas são constrangedoras.

Nada de jornalismo preventivo. Nada de acompanhamento sistemático das providências que as autoridades dizem tomar.

Finalmente, a erupção de violência na favela de Paraisópolis, cujo acompanhamento anódino por este jornal já comentei, não o motiva a se aprofundar no exame desta e de outras comunidades em que a expressão ‘barril de pólvora’ se aplica bem, apesar do lugar-comum. Até acontecer a próxima explosão.’

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‘Cobertura enviesada é um desserviço a leitor e jornal’, copyright Folha de S. Paulo, 15/2/09.

‘A cobertura que a Folha fez do encontro de prefeitos em Brasília esta semana foi um desserviço ao leitor e ao jornal.

Textos, fotos e edição tinham todas as características de um trabalho enviesado, distante da imparcialidade que deve nortear o noticiário.

Imagens da ministra Dilma Rousseff com expressão sonolenta e de membro da audiência que cochilava ressaltaram sem motivo jornalístico aceitável situação banal em qualquer reunião desse tipo com o aparente objetivo de desqualificar o evento por razão irrelevante.

Reportagem disse que ‘pacote de bondades’ anunciado pelo presidente Lula frustrou ‘parte da plateia’, seguramente verdade, mas não mencionou se satisfez alguma outra ‘parte’, o que provavelmente também deve ter ocorrido.

Cheios de expressões impróprias em texto informativo, os relatos denotavam inegável predisposição contrária ao discurso do presidente.

Mais grave foi dar inusitado destaque por dois dias seguidos a um lapso corriqueiro de Lula sobre o número de analfabetos em São Paulo como se ele pudesse criar uma crise política, o que nem o possível alvo do suposto ataque, o governador Serra, achou certo valorizar.’

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‘Para ler’, copyright Folha de S. Paulo, 15/2/09.

‘ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA

1. Prova para professores

2. Corinthians

3. Eleição da Mesa do Congresso

PARA LER

‘Meu Velho Centro’, de Heródoto Barbeiro, Boitempo, 2007 (a partir de R$ 28,48) – memórias pessoais e histórias da cidade contadas por importante jornalista paulistano

‘São Paulo de Meus Amores’, de Afonso Schmidt, Paz e Terra, 2003 (a partir de R$ 15,39) – crônicas sobre a cidade, por um de seus melhores poetas, originalmente publicadas no ano do quarto centenário

PARA VER

‘São Paulo S. A.’, de Luis Sergio Person, com Walmor Chagas e Eva Wilma, 1965 (a partir de R$ 45,90) – formidável retrato da metrópole em seu momento definidor como grande centro econômico moderno e os efeitos disso sobre os moradores

‘Não por Acaso’, de Philippe Barcinski, com Rodrigo Santoro e Leonardo Medeiros, 2007 (a partir de R$ 19,90) – São Paulo é personagem importante nesse bem drama humano contemporâneo

ONDE A FOLHA FOI BEM…

SPREAD

Na sexta, boa reportagem e ótimas artes ajudam a entender o complexo problema do spread bancário

…E ONDE FOI MAL

CORINTHIANS

Reportagem (em especial seu título) na terça sugere indevidamente que houve desvio de verbas no clube; correção na quinta não é proporcional aos problemas provocados

ANAC

Erros crassos em reportagem na terça prejudicam a agência e desorientam o leitor; correção na sexta é útil, mas pouco para reparar os danos

FGTS

Pela terceira vez em seis mexes, jornal noticia com destaque que governo vai permitir saques do FGTS para fins além dos tradicionais e é desmentido pelos fatos em poucos dias

PAINEL DO LEITOR

Desde que monitoramento do espaço da seção começou nesta coluna, nunca o do leitor foi tão pequeno em relação ao de personagens da notícia

DOM HÉLDER

Jornal deixa passar em branco centenário de nascimento de Dom Hélder Câmara, personagem importante do país no século 20

PRÓ-MEMÓRIA

Casos a serem retomados

Alstom

Satiagraha

Vulcano’