Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Como sempre ocorre quando o suplemento Folhateen trata de temas de sexo e drogas, nesta semana diversos leitores se manifestaram ao ombudsman para criticar o conteúdo da reportagem principal da edição de segunda, que abordava a questão de pais que fumam maconha junto com os seus filhos.

Em primeiro lugar, o material está bem feito, é isento, dá voz a quem concorda e adota essa prática tanto quanto a quem discorda dela e a condena. Também é indispensável registrar que esse procedimento familiar ocorre na realidade social, embora não seja universalizado, em especial nos estratos que compõem boa parte do leitorado da Folha.

Abordá-lo, portanto, é jornalisticamente justificável e o que foi mostrado ao leitor não tem problemas relevantes. É claro que os leitores têm o direito de não gostar e reclamar, e que o jornal tem o dever de levar em conta seus argumentos.

Curiosamente, no entanto, quem se manifesta majoritariamente não faz parte do público a que se destina o caderno. Reli toda a correspondência sobre ele que me chegou às mãos neste ano: 80% provieram de não adolescentes; muitos ressaltavam não ter filho adolescente; 50% atacavam material que tinha a ver com sexo ou drogas.

Das mensagens originárias do público-alvo do Folhateen, metade fazia correções de erros factuais, 20% eram sugestões de pauta, 30% criticavam o conteúdo, mas só metade destas (15% do total) tinham a ver com sexo, nenhuma com drogas.

Pode ser que os adolescentes não se queixem porque nem leem o suplemento (mas, se fosse assim, suspeito que a empresa que edita o jornal já o teria tirado de circulação). Pode ser que gostem do conteúdo ou que pelo menos não desgostem a ponto de se mobilizar. Não é possível ter certeza.

O que é seguro é que sexo, drogas e rock and roll despertam o interesse e a curiosidade de muitos adolescentes e possivelmente estão no centro da atenção de vários. Um veículo que se dirige a eles não pode ignorar esses assuntos, a não ser sob o risco de parecer autista.

Muitas das queixas dos adultos indicam que eles gostariam que as matérias fossem mais assertivas na condenação do uso de drogas e da prática indiscriminada de sexo, definissem com clareza o que é certo e o que é errado e tentassem convencer os jovens a optar pelo certo. Pode ser uma boa abordagem.

Mas quem tem filho adolescente, como eu, sabe que o discurso impositivo, que subestima a capacidade de julgamento e o espírito crítico do interlocutor, quase sempre é tiro pela culatra.

É um drama lidar com a adolescência. Para quem já a deixou faz tempo, é recomendável pelo menos tentar lembrar e reconstruir seus sentimentos, ideias, dúvidas, convicções naqueles anos terríveis. Ler livros e ver filmes que conseguem captar e reproduzir o estado d’alma do adolescente, como os indicados abaixo, ajuda muito nessa tarefa.

PARA LER

‘O Apanhador no Campo de Centeio’, de J. D. Salinger, tradução de Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster, Editora do Autor (a partir de R$ 34,93)

PARA VER

‘Conta comigo’, de Rob Reiner, com River Phoenix, 1986 (a partir de R$ 19,90), e ‘Sociedade dos Poetas Mortos’, de Peter Weir, com Robin Williams, 1989 (a partir de R$ 19,90)’

***

‘Observações sobre artigo de César Benjamim’, copyright Folha de S. Paulo, 29/11/09

‘Recebi até as 19h de anteontem 31 mensagens de leitores a respeito do artigo de César Benjamin sobre o filme ‘Lula, o Filho do Brasil’, publicado na edição daquele dia.

Como já disse aqui diversas vezes, não faz parte do escopo de trabalho do ombudsman emitir juízo de valor sobre textos opinativos, como esse, publicados no jornal.

Neste caso, há duas observações técnicas cabíveis.

Primeiro, a de que concordo inteiramente com o leitor Carlos Alberto Bárbaro, para quem ‘não há outra opção ao jornal que publica artigo tão impactante quanto o de César Benjamin que a de, com suas equipes, tentar reconstituir os fatos narrados pelo autor’.

Segundo, a de que é indispensável oferecer ao outro lado espaço e destaque similares para defender pontos de vista opostos aos do artigo de sexta-feira.

O ideal seria a apuração factual dos eventos relatados e os argumentos contraditórios saírem com o artigo. O resultado da apuração começou a ser editado ontem. Que se complete e se publique o contraponto o mais rápido possível.’

***

‘Onde a Folha foi bem…’, copyright Folha de S. Paulo, 29/11/09

AHMADINEJAD

Cobertura da visita do presidente do Irã ao Brasil durante a semana é isenta, factual e equilibrada

ORIENTE MÉDIO

Investimento corajoso de estabelecer um correspondente em Jerusalém começa a produzir resultados como o bom material de quinta sobre assentamentos israelenses na Cisjordânia

POUPANÇA

Na quarta, boa reportagem sobre tema em que o jornal vinha vindo mal: as ações de poupadores que querem se ressarcir de prejuízos dos planos econômicos

…E ONDE FOI MAL

JOVENS E VIOLÊNCIA

Material sobre pesquisa a respeito de jovens e violência na quarta-feira está superficial, confuso e escolhe para abertura aspecto menos relevante (quantos viram corpo de assassinados) em comparação com outros (como quantos foram vítimas de violência)

PRÓ-MEMÓRIA

Em setembro, divulgação de ranking de poluição de carros movidos a gasolina e a álcool provocou polêmica técnica sobre os critérios de aferição que ainda não foram resolvidas’