Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Na quarta e na quinta passadas, a manchete deste jornal não foi sobre os temas que usualmente merecem a distinção (política e economia). Foi sobre políticas públicas ambientais: desmate da Amazônia e imposição de limites de emissão de poluentes para automóveis a gasolina e álcool.

A prioridade dada a assuntos relacionados com sustentabilidade é boa notícia e indício de como tem aumentado essa preocupação no Brasil. Tal alteração na agenda coletiva do país também é constatada no estudo ‘Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira’, que a Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) lança nesta terça, quando poderá ser acessada em www.mudancasclimaticas.andi.org.br A pesquisa monitorou 50 jornais diários entre 2005 e 2008 e comprova como vem crescendo o espaço dedicado especificamente a problemas como o efeito estufa, fontes de energia, consequências das alterações do clima, estratégias para mitigá-las etc..

Também mostra como se amplia consistentemente a valorização da cobertura desses temas aplicados ao contexto brasileiro e especificamente ao de regiões do país.

Claro que nem tudo são flores e ainda há muitos problemas a serem superados, entre eles o das faltas de diversidade de fontes e de dissenso conceitual no material publicado, um dos temas, aliás, de que trata o livro indicado ao final, que faz uma abordagem engajada e militante do jornalismo ambiental.

Quando eu defendi tese de mestrado sobre meios de comunicação de massa e meio ambiente, 33 anos atrás, o panorama era muito diverso. Menções a problemas ecológicos na mídia brasileira eram raras e mal arranhavam a superfície dos assuntos abordados. Pessoas como Ernesto Zwarg, que morreu há dez dias, aos 84 anos, e na década de 1970 corajosamente liderou diversas ações de conscientização ambiental no litoral sul de São Paulo como precursor de métodos celebrizados pelo Greenpeace, eram consideradas exóticas.

Agora, líderes transitam entre política e ambientalismo, a ponto do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore desprezar as eleições para se dedicar a alertar o mundo sobre o aquecimento global e obter os prêmios Nobel e Oscar (com o filme recomendado abaixo) e a ambientalista Marina Silva ser cotada como aspirante à Presidência do Brasil, com boas chances de expressiva votação. A complexidade científica, ideológica e política das questões ambientais constitui um grande desafio para o jornalismo. Por exemplo, nesta semana, em que se comemorou a notícia de que o desmate da Amazônia diminuiu em 2009, revelou-se, em boa reportagem deste jornal, que, mesmo com taxas menores de derrubada da floresta, é possível que a emissão de carbono provocada por ela aumente. Para ser eficaz, o jornalismo tem de reportar fatos com precisão, argúcia, espírito crítico, o que é sempre complicado, mas especialmente vital nos temas de ambiente.

PARA LER

‘Comunicação, Jornalismo e Meio Ambiente’, de Wilson da Costa Bueno, Mojoara Editorial, 2007 (a partir de R$ 18)

PARA VER

‘Uma Verdade Inconveniente’, de Davis Guggenheim, 2006 (a partir de R$ 19,90)

‘O Mentiroso’, de Tom Shadyak, com Jim Carrey, 1997 (a partir de R$ 9,90)’’

***

‘Cinema ajuda a entender o jornalismo’, copyright Folha de S. Paulo, 6/9/09.

‘Teve início na terça-feira e vai até o dia 1º de dezembro o Ciclo Folha de Cinema e Jornalismo, como parte das comemorações do 20º aniversário, este mês, do início da função de ombudsman neste jornal.

O crítico Sérgio Rizzo, um dos debatedores na terça passada após ‘Cidadão Kane’, de Orson Welles (que tem excelente edição em DVD com extras importantes indicada abaixo), estima haver em torno de 300 filmes em que jornalistas ou o jornalismo são centrais na trama.

A ficção, em todas as suas formas, pode ser instrumento importante para estimular reflexão produtiva sobre pessoas, atividades, instituições, porque ela expõe situações-limite, raras na vida, que nos permitem pensar sobre nossas opções reais e como melhor agir diante delas.

O livro de Stella Senra recomendado a seguir é bom exemplo de como pode ser fértil e útil pensar sobre esses personagens que na tela exacerbam o que somos no cotidiano.

O ciclo prossegue nesta terça com ‘A Montanha dos Sete Abutres’, de Billy Wilder, seguido de comentários e debates com João Batista Natali, que foi correspondente em Paris e repórter especial da Folha, e segue às terças às 19h30, no Espaço Unibanco (r. Augusta, 1.475, São Paulo). Mais informações: twitter.com/folhadebate

PARA LER

‘O Último Jornalista’, de Stella Senra, Estação Liberdade, 1997 (a partir de R$ 26,65)

PARA VER

‘Cidadão Kane’, de Orson Welles (Warner Home), 1941 (a partir de R$ 24,90)’

***

‘Onde a Folha foi bem…’, copyright Folha de S. Paulo, 6/9/09.

‘ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA

1. Pré-sal

2. José Sarney

3. Violência em São Paulo

ONDE A FOLHA FOI BEM…

FURO INTERNACIONAL

Entrevista exclusiva na quarta com Óscar Arias, em que o negociador da crise em Honduras admite aceitar resultado da eleição de novembro, tem repercussão internacional

CARROS LIMPOS

Na sexta, reportagem mostra que indústria nacional já fabrica automóveis que poluem menos, mas só para exportação

…E ONDE FOI MAL

INFORMAÇÕES CONFLITANTES

No sábado, 30.ago, edição nacional diz que Joaquim Barbosa relatará recurso contra Sarney no STF e edição São Paulo que o relator será Eros Grau; na segunda, uma página de Esporte diz que Miranda vai ser vendido para a Europa e outra que ele fica no São Paulo

HELIÓPOLIS

Outra vez violência urbana é tratada como caso policial fortuito e não se discutem suas possíveis causas estruturais

PRÉ-SAL

Destaque excessivo a críticas do presidente Lula aos adversários no lançamento do pré-sal infla o reducionismo do tema à guerra partidária

PRÓ-MEMÓRIA

Governadora do Pará visita a Folha um dia antes de completar um ano sem informação no jornal sobre a investigação pela morte de dezenas de bebês na Santa Casa de Belém em 2008 e nem assim o tema é retomado’