Wednesday, 04 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Na terça-feira, reportagem revelou a compra para distribuição a alunos da terceira série do ensino fundamental da rede pública estadual de ensino em São Paulo de livro de histórias em quadrinhos com palavras de baixo calão e alusões sexuais.

Embora o texto não fizesse acusações aos autores ou editores do álbum, que foi produzido há sete anos e tinha como alvo o público adulto, não poucos leitores ficaram com má impressão deles. Fez bem o jornal na sexta em dar na seção ‘Tendências/Debates’, artigo que explicitava o óbvio: quadrinhos não são só para crianças.

Podia ter feito mais do que isso. Podia ter analisado o livro, que foi qualificado por autoridades públicas como ‘um horror’. O ‘horror’ depende de qual é o destinatário do trabalho artístico, entre outros elementos. Não há horror absoluto quando se trata de arte.

Também poderia ter discutido a utilização de HQs como instrumento pedagógico, como fez a educadora Doralice Araújo em seu blog http://portal.rpc.com.br/ gazetadopovo/blog/namira/.

Leitora diária e muito crítica da Folha, Doralice Araújo levanta assunto importante para o jornal: ‘Mesmo os cadernos jornalísticos que publicam tiras ou charges pouco apropriadas aos pequenos leitores devem ficar atentos, porque ao contrário de disseminar a leitura desse gênero fazem uma associação com o ignóbil, o chiste abusado e a insolência disfarçada em risos e insultos descabidos’.

Recebo muitas reclamações de leitores contra HQs consideradas ofensivas, sexistas, de mau gosto, publicadas pelo jornal, em especial no suplemento Folhateen.

Indaguei da Redação como ela harmoniza a denúncia das HQs na rede de ensino com as suas próprias, acusadas de propriedades similares. Recebi a resposta (com a qual concordo) de que são coisas muito diversas: ‘As HQs do Folhateen são voltadas para adolescentes, dentro de um produto (o jornal), comprado pelo leitor’.

Este caso me dá a chance de saldar antiga dívida com alguns leitores que há muito me pedem para abordar o tema das HQs do jornal. Alexandre Carvalho, Antonio de Padua Correa, Delano Valadares, Maurício Ferraro foram alguns dos que se queixaram do que consideram ‘falta de criatividade’ nas tiras da Folha nos últimos meses.

Os autores discordam. Angeli diz que eles estão é se renovando e que ‘mudar em uma coluna diária é como trocar de roupa andando, à vista de todo mundo’. Laerte acha que as pessoas estranham o que não é o esperado, mas que é bom que ‘haja lugar para a tira tradicional e para o experimento’. Concordo com eles.

PARA LER

‘A Explosão Criativa dos Quadrinhos’, de Moacy Cirne, Achiamé, 1982 (a partir de R$ 9 em sites que negociam livros usados)

PARA VER

‘Superman’, caixa com 6 DVDs e os cinco filmes da série, a partir de R$ 79,90

estreia prevista no Brasil para 12 de junho de 2009´’

***

‘A peruquinha básica de Dilma’, copyright Folha de S. Paulo, 24/5/09.

‘Na avaliação que faço das edições deste jornal, escrevi o seguinte a respeito de foto e reportagem publicadas no dia 16: ‘Não concebo que interesse público possa ter a informação de que a ministra Dilma Rousseff está ou não usando peruca. Destacar o assunto na legenda da página A8 e dedicar-lhe 6 dos 10 parágrafos da reportagem sobre a doença da ministra é, em minha opinião, injustificável e constitui invasão indevida da sua privacidade’.

Quem resolve ter vida pública abre mão de muito do seu direito à intimidade. Detentor ou aspirante de cargo político tem o dever de informar à sociedade tudo que diga respeito às suas condições de saúde.

Mesmo assim, ainda tem um espaço de intimidade que só interessa aos mais próximos. Na quarta-feira, no entanto, a ministra voluntariamente comentou com jornalistas que está usando ‘uma peruquinha básica’.

Se ela não vê problema em revelar esse tipo de assunto, não será o jornal que terá obrigação de preservá-la.

Mas, exceto quando a pessoa famosa toma a iniciativa de abrir esse tipo de informação, vale a recomendação de que a vida privada só tem relevância jornalística se estiver crucialmente ligada a fato de interesse ou legítima curiosidade públicos.’

***

‘Onde a Folha foi bem’, copyright Folha de S. Paulo, 24/5/09.

‘NOURIEL ROUBINI

Entrevista com economista que previu a crise na sexta é ótima

…E ONDE FOI MAL

‘Terrorismo retórico’

Manchete da página A4 de terça é típica de editorial, não de notícia: opina, emite juízo de valor, toma partido

ADVOGADO DE MENDES

Artigo na página A3 de segunda com elogios a Gilmar Mendes tinha de trazer a informação de que o autor é seu advogado

DESALENTO E DESEMPREGO

Manchete da página B6 de sexta erra ao atribuir ao IBGE conclusão de que ‘desalento evita alta no desemprego’

PETROBRAS

Manchete na página A4 de quarta diz que estatal gastou R$ 47 bi sem licitação em seis anos; deveria ter dito que foram R$ 72 bi em oito anos

REINO UNIDO

Jornal faz cobertura fraca e atrasada do escândalo das verbas de representação Parlamento britânico, similares aos do Congresso brasileiro

ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA

1. Dilma Rousseff

2. Petrobras

3. Poupança

PRÓ-MEMÓRIA

Há dois meses o jornal noticiou que Marcos Valério estava em ‘fase final’ na negociação de delação premiada com a Procuradoria. Como está agora?’