Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘A repressão do regime iraniano às atividades de jornalistas nacionais e estrangeiros após a contestação dos resultados da eleição presidencial fez com que mais uma vez se mostrasse a importância das novas tecnologias de comunicação, com suas qualidades e vícios, na sociedade contemporânea.

Com as empresas jornalísticas fora de combate, pessoas comuns passaram a ser a única fonte de informação sobre o que ocorre no país, via celulares e redes de relacionamento em computadores.

O Irã transformou-se no paraíso do ‘jornalismo cidadão’, com vantagens e riscos. Sem ele, possivelmente não se saberia nada do que ocorre ali. Mas é muito difícil distinguir quais as informações provenientes de indivíduos isolados e desconhecidos que têm credibilidade.

O fenômeno não é novo. O segundo livro indicado abaixo mostra o trabalho de um iraquiano que ficou famoso pelo seu blog antes e durante a invasão americana de 2003. Durante muito tempo houve dúvida até se aquela pessoa existia mesmo.

O grande ícone da ‘revolução da revolução’ do Irã, Neda, cujo suposto assassinato foi registrado em celular, não tem sua autenticidade garantida.

Como explica a Secretaria de Redação: ‘A única maneira de comprovar a autenticidade do vídeo seria checando com seu autor e familiares da vítima, o que é impossível, dadas as restrições impostas pelas autoridades iranianas à atividade da imprensa estrangeira -o enviado especial da Folha a Teerã teve seu visto revogado e se viu forçado a deixar o país’. Mesmo que se considere que tudo que chega pelas novas mídias seja verdadeiro, ainda há que levar em conta que as pessoas capazes de enviar essas mensagens não necessariamente representam o conjunto da sociedade.

Quem fala inglês e tem acesso a computadores e celulares é uma faixa da população majoritariamente jovem, bem educada, afluente e pró-Ocidente. É gente como a cineasta iraniana Samira Makhmalbaf, diretora do excelente filme recomendado abaixo, que mostra (no Afeganistão atual) tanto como pensam esses rapazes e moças simpáticos à abertura quanto os mais velhos e menos instruídos, que aderem sinceramente à ortodoxia islâmica.

É impossível assegurar que o estado de espírito predominante no Irã seja o que consta das mensagens que chegam de lá pelas novas tecnologias.

Ótima reportagem publicada aqui na quinta-feira relata que dois institutos de pesquisa de opinião americanos, depois de trabalharem em todo o país, com amostragens de todas as classes, previram que Ahmadinejad venceria o pleito com vantagem superior à que os resultados oficiais lhe deram. Tanto os veículos tradicionais quanto os novos podem ter incidido em falha clássica de cobertura de assuntos em países estrangeiros, que é o jornalista se fiar muito nas informações e interpretações de pessoas parecidas consigo mesmo e, por isso, chegar a conclusões viciadas.

PARA LER

‘A Revolução Iraniana’, de Emília Viotti da Costa (org.), Unesp, 2007 (a partir de R$ 15,80)

‘O Blog de Bagdá’, de Salam Pax (tradução de Daniel Galera), Companhia das Letras, 2003 (a partir de R$ 40,04) PARA VER

‘Às Cinco da Tarde’, de Samira Makhmalbaf, 2003 (no Telecine Cult, no dia 25/7, às 20h05, e no dia 28/7, às 5h10)’

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‘O rei do pop na manchete desta Folha’, copyright Folha de S. Paulo, 28/6/09.

‘A escolha da notícia da morte de Michael Jackson como manchete da capa da Folha de sexta tem mais implicações do que sugere a análise rápida.

Ela pode indicar que o jornal caminha na direção de abdicar do papel de formador de opinião pública e cidadania para concorrer com a mídia eletrônica no universo das celebridades, do negócio do entretenimento, das variedades. Uma competição que, a meu ver, os veículos impressos estarão condenados a perder caso se de fato a enfrentarem.

Claro que a informação sobre Jackson é importante e deveria estar no alto da primeira página. Mas não como manchete principal nem sem trazer nada de novo, revelador, surpreendente para o leitor.

Jogar no campo do adversário, com versões antiquadas de suas armas me parece estratégia fadada ao fracasso.

Quantos fãs de Jackson largaram as telas de computadores televisores para pegar a edição impressa da Folha e ler informações que já conheciam?

E quantos leitores se sentiram frustrados ao ver que os temas geopolíticos, econômicos, sociais e políticos que mais lhes interessam foram tratados como menores?’

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‘Onde a Folha foi bem…’ copyright Folha de S. Paulo, 28/6/09.

‘ONDE A FOLHA FOI BEM…

CRISE NA USP

Finalmente, no domingo e com grande atraso, jornal publica reportagens com dados importantes sobre a crise na USP, além de bons artigos que discutem a fundo seus problemas

…E ONDE FOI MAL

GILMAR MENDES

Seção ‘Tendências/Debates’ traz no domingo artigo do presidente do STF e do CNJ com elogios ao desempenho do CNJ; em 18 de maio, havia dado outro, de Sérgio Bermudes, com loas à atuação do STF e do CNJ sob a direção de Mendes; quando publicará texto discordante?

PLANO DIRETOR

Jornal vem cobrindo pouco e mal as audiências públicas de revisão do Plano Diretor da cidade de São Paulo

DIVÓRCIO

Aprovação final em comissões do Senado de alteração nos processos de divórcio no país passa em branco no noticiário, em nova demonstração de como o jornal cobre mal as atividades do Congresso que não envolvam escândalo ou fofoca

PRÓ-MEMÓRIA

Como está o caso do assassinato do motoqueiro Firmino Barbosa pelo promotor Pedro Baracat Guimarães Pereira? Desde outubro de 2008 que o jornal não trata do assunto

ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA

1. José Sarney

2. Parada gay no Morumbi

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