‘Ninguém gosta de envelhecer. Mas como a opção é pior, todos continuamos a comemorar aniversários como se cada ano a mais de vida fosse mesmo algo a ser festejado.
Um dos problemas básicos da indústria do jornalismo impresso no mundo tem sido o progressivo envelhecimento da audiência.
Phyllis McGinley, autora americana de livros infantis, popular nos anos 1940, fez um poeminha chamado ‘As Sete Idades do Assinante de Jornal’, daquela década, em que descrevia a relação típica do leitor com seu diário ao longo da vida naqueles bons tempos.
O problema é que na tipologia de McGinley os que procuram no jornal primeiro os quadrinhos, os esportes e outros assuntos de crianças e jovens, diminuem. E crescem os que buscam antes de mais nada os obituários.
Em 1 de fevereiro, esta coluna tentou mostrar que a Folha tem feito muito menos do que deve para atrair e reter o público jovem.
No domingo, com o suplemento especial ‘Maioridade’, ela demonstrou preocupar-se com o mais idoso. Faz bem. Tomara que prossiga.
Essa camada demográfica aumenta no país, seus problemas coletivos são relativamente novos para a sociedade brasileira, pouco explorados jornalisticamente e relevantes.
A maioria dos leitores que se manifestaram sobre o caderno o aprovou, como eu. Quase tudo foi bem feito: das artes à diagramação, dos textos às fotos, da pauta à edição, com destaque para o corpo maior do que o habitual na tipologia usada.
Havia, é claro, problemas. Edelmar Ulrich, da Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos, apontou um. ‘Onde estão os números de idosos colocados em asilos, clínicas geriátricas ou simplesmente vivendo isolados em apartamentos, fundos de quintais? Onde entrevistaram os acamados, cadeirantes por fragilidades diversas? Onde estão os AVCs? Parkinson? Esquizofrênicos? Deficientes e demências em geral?’, perguntou.
A pesquisa parece ter ignorado essa parcela considerável da população com mais de 60 anos e se concentrou nos felizes, ativos e conscientes. O jornal precisa voltar ao tema para mostrar melhor esse aspecto.
José Ricardo Oliva Hernandes reclamou de que o caderno tratou pouco e a seu ver mal da questão da aposentadoria: ‘[A Folha] nas entrelinhas do especial ‘maioridade’, compara Previdência Pública com programas sociais de ocasião como Bolsa Família. Não sabe que para ter direito a aposentadoria o trabalhador paga caro, por anos a fio. A Folha não procurou saber por que os recursos previdenciários são usados ilegalmente, por exemplo, na construção de obras públicas’.
O mais importante é que o jornal não pode se contentar com esforços esporádicos ainda que bem realizados, como este no trato dos temas do interesse dos seus leitores mais idosos. Precisa renová-los diariamente.
A idade média do leitor da Folha, informa a sua direção, é de 45 anos. Mas se não levar a sério a tarefa de agradar aos que tem mais de 60 e menos de 20, suas dificuldades futuras serão enormes.’
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‘Contradições econômicas’, copyright Folha de S. Paulo, 22/3/09.
‘O leitor Vagner Bessa escreveu para dizer que não entende ‘os critérios da Folha para estampar notícias sobre a crise econômica na primeira página’. Nem eu.
Como ele argumenta, às vezes o jornal destaca a variação mês a mês das estatísticas da atividade econômica (por exemplo, ao noticiar os índices de desemprego de janeiro), às vezes a anual (ao informar a produção industrial).
Nos dois casos, coincidência ou não, a periodicidade escolhida foi a que trazia conclusões mais negativas.
Não há no jornalismo mandamento que diga que fatos ruins são mais importantes que os bons. São mais notícia os mais inesperados, inusitados, próximos do leitor, que o afetem mais diretamente ou lhe causem mais empatia. Não necessariamente os piores.
Outro caso curioso de disparidade de critérios ocorreu nesta sexta, quando se divulgaram resultados da pesquisa Datafolha com a primeira queda na avaliação pública do governo federal em dois anos. Atribuiu-se -hipótese razoável- o declínio aos efeitos da crise.
Ao anunciar o tombo do PIB no quarto trimestre, o jornal julgou que o aspecto mais importante era o de ele ter sido o maior entre 37 países.
O parâmetro comparativo com as outras nações daquele grupo não foi utilizado ao tratar da perda de apoio ao governo na população.
Não seria interessante saber como os cidadãos daquelas sociedades reagiram aos seus chefes de governo após consequências adversas da crise econômica? A diminuição da popularidade do presidente Lula foi também a maior neste grupo? Não é a questão fundamental, mas seria interessante.
A Folha desprezou esse confronto. Limitou-se a mostrar os índices de aprovação atuais do presidente Obama nos EUA o que não faz muito sentido porque ele acaba de assumir e não tem série histórica.’
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‘Para ler’, copyright Folha de S. Paulo, 22/3/09.
‘PARA LER
‘Memória e Sociedade’, de Eclea Bosi, Companhia das Letras, 1995 (a partir de R$ 52,07) – estudo já clássico sobre a lembrança social no relato de pessoas idosas
PARA VER
‘Num Lago Dourado’, de Mark Rydell, com Henry Fonda e Katharine Hepbrun, 1982 (a partir de R$ 19,90) – história de professor universitário de 80 anos (brilhante desempenho de Fonda) que se confronta com a iminência da morte e a enfrenta melhor com o auxílio de um garoto
ONDE A FOLHA FOI BEM…
SÍNDROME DE DOWN
Reportagem em Equilíbrio sobre aumento de expectativa e qualidade de vida de portadores da enfermidade trata o assunto com sensibilidade e competência
DOIS PARAGUAIS
Boa reportagem na terça revela erros graves em livros didáticos da rede de ensino público estadual e provoca seu recolhimento
…E ONDE FOI MAL
ERROS DE ASSESSORIAS
No domingo e na sexta, seção ‘Erramos’ atribui falhas do jornal a informações erradas de assessorias; obrigação da Folha é checar se o que publica está certo; culpar terceiros não a exime de responsabilidade
AFOGADO EM NÚMEROS
Jornal volta a se esquecer, na maioria dos textos, de dar ao leitor medidas comparativas que o ajudem a entender a dimensão de cifras enormes
PRÓ-MEMÓRIA
Caso a ser retomado
Em novembro de 2008, jornal deu destaque a acusações de racismo feitas por artista brasileiro contra empresa aérea americana. No que elas resultaram?
ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA
1. TV Record
2. Assuntos de esportes
3. Crise econômica’