Editores do Washington Post regularmente lembram a redação de que a cobertura do diário deve ter foco em Washington. Por isso, quando iniciou-se um tumulto no sistema de metrô em uma noite de sexta-feira, parecia uma oportunidade perfeita para mostrar aos leitores locais que o Post é sua fonte indispensável de notícias. A desordem aconteceu perto de meia-noite do dia 6/8 e autoridades disseram que cerca de 70 pessoas estavam envolvidas. A briga começou na estação Gallery Place e continuou até a estação L’Enfant Plaza. Houve prisões e diversas pessoas pararam no hospital. O Post conseguiu reunir informações suficientes para uma matéria, que foi publicada no site. No sábado, o artigo foi um dos mais acessados, o que mostrava o grande interesse dos leitores. Mas, ao final do dia, muitos internautas mostraram-se decepcionados por não terem novas informações no ar.
Quando finalmente foi publicada uma matéria sobre o episódio na edição de domingo, havia pouca novidade e não havia respostas para questões importantes. O que provocou a briga? Os feridos estavam envolvidos na confusão ou eram pessoas que passavam pelo local? A segurança do metrô foi reforçada? Por quê uma cobertura tão fraca do incidente?
Equipe reduzida
Como é comum nos finais de semana, apenas três repórteres locais estavam de plantão naquele dia e dois deles eram estagiários cuidando de outras pautas. No passado, antes dos cortes de pessoal, haveria o dobro disto. Coube, então, à repórter Ann E. Marimow apurar a matéria – mas somente à tarde, pois na parte da manhã estava fora com outra pauta. Mesmo com outros tentando localizar testemunhas por meio de redes sociais, era esperar muito de Ann que ela produzisse uma matéria completa em poucas horas.
O ombudsman Andrew Alexander questiona, em sua coluna de domingo [15/8/10], os motivos de não ter sido solicitado reforço, já que o jornal tem uma equipe local de 70 repórteres. O editor de final de semana, Robert E. Pierre, explica que não viu necessidade. ‘A questão não era sobre equipe adicional. As redes sociais e a polícia não tinham grandes informações’, justifica. ‘O número de envolvidos não podia ser confirmado’.
Além disso, Pierre ficou preocupado em dar muito destaque a uma matéria que envolvia questões raciais. Embora a cobertura do Post não tenha deixado isto claro, muitos leitores acharam que os que participaram da confusão eram negros e sentiram-se ofendidos pelos comentários online. Quando finalmente foi produzida uma matéria maior para a edição de segunda-feira, Pierre achou que o Post deu muito destaque ao episódio. ‘Foi uma briga no metrô. Crianças brigam’, disparou.
Na opinião do ombudsman, a melhor atitude teria sido chamar repórteres extras para fazer uma apuração mais ampla do incidente. Eles poderiam ter entrevistado os hospitalizados, os testemunhas, o policial que assistiu às filmagens do metrô e ainda ter feito uma pesquisa maior nas redes sociais. ‘Realmente, foi difícil conseguir dados. Se tivéssemos mais pessoas, poderíamos ter conseguido falar com mais gente’, reconhece o editor-executivo Marcus Brauchli.
RODAPÉ