Em sua coluna de domingo [28/1/07], o ombudsman do New York Times, Byron Calame, tratou de uma preocupação que o aflige: a habilidade do diário de manter seus padrões éticos com os colaboradores freelancers. ‘Com estes freelancers trabalhando com um custo menor do que os repórteres fixos que trabalham em tempo integral no jornal, os leitores têm o direito de esperar que os editores garantam a integridade daquele jornalismo’, avalia Calame.
Em abril do ano passado, o jornal criou um questionário online para averiguar se freelancers prestes a contribuir com o diário atingiam os padrões de ética do Times. Recentemente, mesmo com este sistema, artigos de dois freelancers apresentaram claros conflitos de interesse, apontados por leitores que escreveram ao ombudsman.
Falhas e omissões
Um colaborador que escreve freqüentemente para o Times assinou artigos publicados nos dias 23 e 30/11/06 sobre dois celulares fabricados pela Samsung. No dia 7/12/06, uma nota dos editores reconhecia que o autor havia feito uma visita em outubro aos escritórios da Samsung na Coréia do Sul, com as despesas pagas pela empresa de eletrônicos.
Um artigo de outro autor, publicado no dia 15/10/06, tratava do uso de métodos de construção e materiais não poluentes em uma casa no Oregon, a primeira na costa oeste dos EUA a receber o certificado de ‘casa verde’, que não prejudica o meio ambiente. No dia 29/10/06, uma outra nota dos editores revelava que o autor do artigo em questão trabalhava meio período como editor e repórter de uma ONG que promove a economia sustentável, além de ter recebido contribuições financeiras do dono da casa.
As duas notas concluem que, se os editores do Times soubessem a priori do conflito de interesses, os dois freelancers não teriam sido designados a trabalhar com as pautas citadas. Calame se questiona, então, por que o questionário de ética falhou ao não detectar tais conflitos.
John Biggs, que escreveu sobre os celulares da Samsung, respondeu ao questionário de ética em maio. Nele, havia a seguinte pergunta: ‘Você recebeu viagens gratuitas nos últimos dois anos?’. A sua resposta negativa era verídica na época. Depois de ter viajado em outubro, a fim de, primordialmente, escrever para um blog sobre aparelhos eletrônicos, Biggs contou a Calame que havia ‘simplesmente esquecido’ de atualizar o questionário para alertar aos editores sobre o possível conflito de interesses. Se o tivesse feito, ele não receberia nenhuma pauta envolvendo a Samsung. O questionário de ética só requer atualização a cada dois anos – e por isso Biggs não atualizou o dele.
Colleen Kaleda, que escreveu sobre a ‘casa verde’, também respondeu ao questionário em maio e omitiu onde trabalhava – uma das perguntas é sobre os atuais empregadores. Colleen argumentou que não mencionou a ONG por se tratar de um serviço que ocupava pouco o seu tempo. Depois destes casos, Biggs não poderá mais escrever sobre nada que envolva a Samsung, nem Colleen sobre questões ambientais.
Em um memorando do dia 16/1, os editores assistentes Craig R. Whitney e William E. Schmidt afirmaram que ‘recentemente ocorreram diversos casos de aparente não-familiaridade de freelancers com o código de ética, embora um sistema tenha sido lançado em abril para tentar garantir que eles tivessem conhecimento destas normas’. O documento requer que os editores perguntem aos freelancers se eles conhecem as ‘nossas regras de ética’ a cada vez que eles receberem uma pauta. Caso o freelancer ‘desrespeite deliberadamente’ tais normas, ‘vamos parar de trabalhar com a pessoa em questão’.
Calame, deixando claro que não quer desmerecer o trabalho e o caráter dos freelancers, nota que a maior parte deles respeita as normas de ética, e ressalta que há funcionários contratados do Times que não as seguem. Jayson Blair, por exemplo, não era freelancer.
Possíveis soluções
Para ajudar a evitar que tais problemas ocorram, o ombudsman sugere que a equipe tenha tempo suficiente para fazer o questionário com os freelancers e para editar suas matérias. Segundo ele, o freelancer deveria ser obrigado a responder ao questionário nos 30 dias anteriores a uma pauta. O questionário também deveria apresentar uma questão extra que confirmasse que o freelancer estava ciente do código de ética, o que evitaria alegações de desconhecimento das normas de postura.