Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

‘O senador pelo PMDB-MG e jornalista Hélio Costa terá, nesta quinta-feira (29/04), reunião com o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, para falar sobre o movimento de imprensa alternativa, que reivindica a democratização das verbas públicas para os meios de comunicação. ‘Se ele não ajudar a mídia alternativa estará perdendo uma grande oportunidade de ajudar o governo e a sua divulgação’.

Sobre a relação entre o governo Lula e os órgãos de comunicação, ele comentou: ‘ (Essa relação) Vai mudar. Estou trabalhando para isso. Amanhã, como disse, tenho um jantar com Ministro Gushiken para tratar do assunto. Não existe ética do jornal, ética do jornalista, ética do governo…. ÉTICA É ÉTICA’.

Leia o Papo na Redação com Hélio Costa:

[11:12:40 AM] – Flávio Oliveira (Freelancer – Freelancers) pergunta para Hélio Costa: O que o senhor acha do movimento dos veículos de imprensa alternativa, divulgado aqui no Comunique-se, que cobra que os pequenos jornais sejam beneficiados com a destinação de verbas publicitárias do governo?

Hélio Costa responde: Esta é pergunta que vou fazer, amanhã, à noite, ao Ministro Gushiken, com quem vou jantar. Se ele não ajudar a mídia alternativa estará perdendo uma grande oportunidade de ajudar o governo e a sua divulgação.

[11:17:28 AM] – Henrique Diniz (Redator – Infoglobo Comunicação – RJ) pergunta para Hélio Costa: Não ficaria mais fácil para o governo se o responsável pela fundamental área da Comunicação, em um país como as dimensões do nosso, fosse do ramo?

Hélio Costa responde: Sem dúvida. No caso da comunicação da Presidência da República o presidente optou por um amigo confiável e brilhante. No caso do Ministério, aceitou uma indicação política do PMDB.

[11:19:50 AM] – Pierina Morais (Freelancer – Assessoria de Comunicação Pierina Morais) pergunta para Hélio Costa : Senador, tenho acompanhado o seu trabalho e seus projetos pela Tv Senado e, aproveito para lhe parabenizar qto ao progresso. Como Barbacenense, residente no Rio de Janeiro, estive em Barbacena e vi o qto a cidade está sendo mal administrada pela atual gestão. Gostaria de saber se existe algum projeto para recuperar esta triste realidade que a cidade passa. Percebi o qto está carente de projetos culturais, sociais e econômicos. A minha pergunta é o Senhor pretende ajudar a noss

Hélio Costa responde: Cara Pierina. Sempre ajudei minha cidade e continuo ajudando. Nos últimos anos liberei inúmeros recursos para nosso município. Lamentavelmente o atual Prefeito encontrou a cidade praticamente quebrada e com cinco folhas da pagamento em atraso. É um prefeito honesto e sério. Lamentavelmente, muito lento em suas decisões. Quem corrige isso é a eleição. Esteja lá e participe.

[11:21:34 AM] – Ricardo Salim (Editor – Barbacena On Line – MG – Barbacena) pergunta para Hélio Costa: Hélio Costa, o apoio e o respeito que você dá à imprensa é por conhecer a força deste veículo. Como é a sua visão a respeito das falsas notícias, utilizadas para plantar situações inverídicas?

Hélio Costa responde: Lamentável. A constituição no seu Artigo V garante a liberdade de expressão. Indica, também, os deveres dos jornalistas. Cada um trabalha com o caráter que tem.

[11:23:01 AM] – Ageu Nunes Vieira (Diretor – Redação / Jornalismo – Rádio Peperi AM – SC – São Miguel d`Oeste) pergunta para Hélio Costa: Como você vê o relacionamento do governo Lula com os órgãos de comunicação, em relação à questão publicitária? Sempre houve uma grande discussão sobre ética, jornalismo e publicidade. Mudou alguma coisa?

Hélio Costa responde: Vai mudar. Estou trabalhando para isso. Amanhã, como disse, tenho um jantar com o Ministro Gushiken para tratar do assunto. Não existe ética do jornal, ética do jornalista, ética do governo…. ÉTICA É ÉTICA.

[11:26:00 AM] – Pierina Morais (Freelancer – Assessoria de Comunicação Pierina Morais) pergunta para Hélio Costa: continuando: Pretende ajudar a nossa cidade (Barbacena) para ter algum progresso e gerar emprego, que é a dignidade de todo cidadão?

Hélio Costa responde: Acabamos de inaugurar um Hospital Regional que vai atender a cinco mil pessoas por mês. A Universidade Estadual de Minas Gerais já tem 300 alunos fazendo seus cursos gratuitamente. O distrito industrial está pronto. O gás industrial já está instalado na cidade. São algumas das obras que consegui para Barbacena. Veja no meu ‘site’ helicosta.com a relação das cidades em todo o estado de Minas que estou ajudando com recursos.

[11:26:30 AM] – Sílvio Xavier (Administrador de Empresas) pergunta para Hélio Costa: Você pretende se candidatar novamente a Governador do Estado de Minas Gerais?

Hélio Costa responde: Na verdade, pretendo ser Governador de Minas Gerais.

[11:29:29 AM] – Rafael Fortes (Estudante – USP) pergunta para Hélio Costa: Bom dia Hélio! Conforme já discutido anteriormente sobre a imprensa alternativa, gostaria de saber a sua opinião a respeito da crise dos grandes veículos de comunicação, enquanto a imprensa menor tem sido cada vez numerosa. Você acha que esse cenário tende a continuar?

Hélio Costa responde: Estamos discutindo na Comissão de Educação do Senado, onde sou vice-presidente, uma ajuda a todos os órgãos da imprensa nacional, jornal, rádio e televisão. A ajuda se destinará a todos os veículos, grandes e pequenos. Das redes de televisão e jornais até aos jornais e emissoras do interior. É importante que cada cidade tenha um veículo para se comunicar.

[11:31:57 AM] – Henrique Diniz (Redator – Infoglobo Comunicação – RJ) pergunta para Hélio Costa: Como jornalista e parlamentar, o que acha da tal `Lei da Mordaça`? O vazamento de informações por parte do Ministério Público atrapalha as investigações em curso, ou ao contrário, favorece-as com maior exposição na mídia?

Hélio Costa responde: Nos Estados Unidos, na Europa e em vários países latino-americanos, enquanto um assunto está ‘sub judice’ nada se pode falar dele. Aqui está acontecendo o contrário. Lá, quem acusa tem de provar que determinada pessoa cometeu um crime. Aqui, o cidadão tem de provar que não é criminoso. Alguma coisa tem de ser feita para acabar com este abuso da autoridade.

[11:34:05 AM] – Ageu Nunes Vieira (Diretor – Redação / Jornalismo – Rádio Peperi AM – SC – São Miguel d`Oeste) pergunta para Hélio Costa: A atuação política cria rótulos ideológicos que, para mim, prejudicam totalmente a isenção exigível para o trabalho jornalístico. Você voltaria, hoje, para uma equipe de jornal ou tevê e, em caso afirmativo, para que tipo de projeto?

Hélio Costa responde: Poderia voltar como um analista político, em jornais diários, ou para fazer documentários sobre a realidade brasileira na TV educativa.

[11:34:46 AM] – Flávio Oliveira (Freelancer – Freelancers) pergunta para Hélio Costa: Senador, qual é a sua opinião sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalista?

Hélio Costa responde: Sou a favor. Em toda profissão é fundamental o preparo. No jornalismo principalmente.

[11:35:16 AM] – Ricardo Salim (Editor – Barbacena On Line – MG – Barbacena) pergunta para Hélio Costa: Senador, é óbvio que não você usa deste expediente ao plantar notícias falsas na mídia. Porém, alguns políticos inclusive da nossa cidade de Barbacena fazem uso deste artifício e continuam recebendo o respaldo da população através dos votos. É preciso uma campanha para moralizar as atitudes daqueles que governam. Você acredita que o país está vivendo uma crise de caráter?

Hélio Costa responde: Não. Alguns políticos sim.

[11:36:07 AM] – Geraldo Lopes (redator – Alerj) pergunta para Hélio Costa: Oi, Helio. Seja bem vindo. Olha só: no jornalismo, o profissional conta com várias formas de fazer um trabalho agregando um valor social, ou seja, tem muito jornalista que se preocupa mais em fazer um trabalho voltado para o excluído do que com o próprio salário. Como político, você mantém essa preocupação?

Hélio Costa responde: Sem dúvida. Sempre usei o meu salário, como político, para fazer obras sociais.

[11:37:28 AM] – João Paulo Coutinho (Estudante – Univás) pergunta para Hélio Costa: Bom dia Hélio. O jornalismo tende hoje a se regionalizar. Como você vê como jornalista essa regionalização?

Hélio Costa responde: Cada vez mais as pessoas estão preocupadas, primeiro, com a sua comunidade; depois com a sua região…. com o seu estado, com o seu país e com o mundo. Como você vê a regionalização é uma prioridade. Lembra-se da aldeio global do mestre Marshal?

[11:38:51 AM] – Ageu Nunes Vieira (Diretor – Redação / Jornalismo – Rádio Peperi AM – SC – São Miguel d`Oeste) pergunta para Hélio Costa: Um pergunta a pedido da Fernanda Aires, do Rio: Hoje há uma grande discussão em torno de rádios comunitárias. Também há muita ilegalidade, com rádios piratas e ilegais funcionando sob o rótulo de comunitárias. Como essa questão será resolvida para funcionamento das comunitárias?

Hélio Costa responde: Toda rádio comunitária tem de ser autorizada pelo Ministério das Comunicações. Rádio pirata tem de ser retirada do ar. Comunique qualquer irregularidade a Anatel, que é a agência reguladora do setor.

[11:40:35 AM] – Henrique Diniz (Redator – Infoglobo Comunicação – RJ) pergunta para Hélio Costa: O diploma (eu tenho o canudo) hoje é mais problema do que solução. Só pode ser professor quem tiver mestrado e, agora, doutorado. Não conheço jornalista que consiga estudar e trabalhar tanto ao mesmo tempo. Com isso, formam-se professores que nunca passaram por qualquer redação. É teórico formando teóricos.

Hélio Costa responde: Você tem dois tipos de jornalistas. Os que fazem jornalismo e os que ensinam. Escolha.

[11:42:11 AM] – Thais de Menezes (Repórter – Comunique-se – RJ) pergunta para Hélio Costa: Hélio, como você vê esse constante ‘atrito’ entre assessores e jornalistas de redação?

Hélio Costa responde: O assessor tem sempre de manter todas as portas abertas. Este é a principal mensagem de um conhecido jornalista, assessor do Ministro Gushiken que acaba de lançar um livro (até o final da entrevista indico o livro e o autor).

[12:04:56 PM] – Grace Hyane Silva Santos (Assessor de Imprensa – Interface Comunicação Empresarial – MG) pergunta para Hélio Costa: Qual mudança mais significativa a internet trouxe para a produção de notícias?

Hélio Costa responde: Comunicação instantânea em qualquer parte do mundo. Para quem cobriu o mundo esperando três dias em um hotel em Lagos, Nigéria, para fazer uma comunicação com o Brasil, trata-se de um avanço espetacular.

[12:07:59 PM] – Henrique Diniz (Redator – Infoglobo Comunicação – RJ) pergunta para Hélio Costa: Senador, colaboro para o Barbacenanline, portal de sua cidade natal. Gostaria de conhecer sua opinião sobre a importância desse portais em cidade do interior.

Hélio Costa responde: Caríssimo Henrique. Leio suas crônicas e aprecio suas posições, inclusive com relação a outros ‘cronistas’ do ‘site’. Todo ‘site’ internet é uma porta aberta para a comunicação e divulgação. Considero todos os ‘sites’ de cidades do interior importantíssimos, principalmente no dia-a-dia da condução da máquina administrativa, no conhecimento da história da cidade e aperfeiçoamento da educação.

[12:08:38 PM] – Victor Ribeiro* (Redator – Rádio Fluminense FM – RJ – Niterói) pergunta para Hélio Costa: Hélio, enquanto jornalista, qual a sua opinião sobre as declarações do ministro Gushiken, que disse que a imprensa deveria falar mais sobre a agenda positiva do governo?

Hélio Costa responde: O Ministro da Comunicação é o Gushiken.

[12:11:38 PM] – Thais de Menezes (Repórter – Comunique-se – RJ) pergunta para Hélio Costa: Olá Hélio!!! O que levou você a ‘trocar’ o jornalismo pela política?! Sente falta do dia-a-dia do jornalista?!

Hélio Costa responde: Cumpri minha missão durante muitos anos, passando por 73 países, em diversas situações. Em 75, com a abertura democrática, a imprensa passou a dedicar mais tempo aos assuntos nacionais. Voltei para ser apenas constituinte. Nunca pensei em continuar a carreira e sim, voltar depois dos quatro anos no Congresso, para minha carreira. Acabei candidato a governador. Perdi por um por cento e fui roubado na outra. Hoje, com muito orgulho, sou Senador da Republica pelo glorioso estado de Minas Gerais, onde utilizo toda a experiência com jornalista para desempenhar meu mandato.’



ENTREVISTA / NILSON LAGE
A Notícia

‘Entrevista’, copyright A Notícia, Joinville, 25/4/04

‘A Notícia – O senhor afirma que o conhecimento constitui o instrumento para a identificação de oportunidades e conquistas. Isso é o ‘mapa’ para o futuro dos jovens, ávidos por oportunidades. Como se preparar para adquirir esse conhecimento?

Nilson Lage – O conhecimento constitui uma rede de relações que se vai ampliando à medida que novas informações ingressam no sistema e se articulam com as já existentes, produzindo inferências, isto é, decorrências lógicas. As coisas vão, por assim dizer, adquirindo sentido para nós. Além dessa capacidade, podemos reconhecer padrões (situações, experiências) e, por um mecanismo ainda não muito claro, chegar ao que se chama de intuição. A maneira de ampliar o conhecimento é, assim, acrescer vivência e informação de maneira inteligente, articulada. Ler, por exemplo. Mas observar, também. Experimentar. Meditar. Pesquisar. Refletir. Expressar-se.

AN – Conhecimento e informações, pelo menos em tese, são resultado de estudos e estes de leitura. É indiscutível que os jovens de hoje lêem muito menos do que as gerações ‘maduras’. Isso não é um problema nesse processo?

Lage – Talvez leiam menos, mas talvez reúnam maior quantidade de informações. Embora ler seja sempre útil, é preciso que a leitura faça sentido, seja apreciada. E os meios audiovisuais também portam informação. Uma das coisas que me angustiam é a representação caricatural do jovem como pouco responsável ou pouco sério. Meus alunos, eu lhe asseguro, são pessoas sérias porque eu os considero assim. O jovem respeita quem se dá ao respeito e quem o respeita, como qualquer outra pessoa.

AN – Os jovens de classe média, principalmente, sonham com o emprego em frente a um terminal de computador, sem formalidade ou horário rígido e que em primeiro lugar esteja a criatividade. Produtividade é coisa de fábrica convencional. Isso existe mesmo ou é apenas ficção e sonho de juventude?

Lage – Pode existir. Jornalismo, por exemplo, faz-se quase todo tempo em frente ao computador. Não só para escrever, compor a página gráfica, editar som e imagem, formatar ao sítio na web ou o CD-ROM, mas também, cada vez mais, como elemento para apuração das informações e construção dos bancos de dados que facilitam o trabalho em qualquer área de informação especializada. Mas não é preciso computador para se ter criatividade. Para um bom matemático, fórmulas que julgamos áridas podem ser interessantes, agressivas ou engraçadas. E o segmento mais criativo da população – de onde vem o folclore, que é a referência de toda arte erudita – é justamente o que se compõe de pessoas simples, com vidas simples, mas sentimentos universalmente humanos.

AN – O ‘governo eletrônico’, que o senhor insere como uma das novas formas de relacionamento social proporcionado pela Internet, quando se tornará uma realidade, palpável e, sobretudo, eficiente para governantes e governados?

Lage – O governo eletrônico está, por exemplo, na Receita Federal – embora não seja agradável lembrar disso, nesses meses. Deve ampliar-se para colocar ao alcance de todos o maior volume de informações sobre a economia, a política, a administração, a saúde, etc., o que tornará mais democrática a gestão da coisa pública. A Internet ainda não oferece – talvez jamais ofereça – segurança para o processamento de votos, mas o sistema eleitoral, embora com os dados trafegando em disquetes, é outro exemplo. E a informatização dos cartórios, mais um. Estamos prestes a implantar a certificação digital em grande escala – e isso será um grande passo adiante. Na verdade, o Brasil não faz feio nesse campo – exceto quando se trata de tornar mais visíveis as ‘caixas-pretas’ da administração – o que se deve mais a fatores culturais do que a qualquer outra coisa.

AN – Até que ponto esse conhecimento, que se constitui em instrumento de identificação de oportunidades e conquistas, servirá de ferramenta para se reduzir as diferenças sociais do País, um dos nossos males mais crônicos?

Lage – A questão social no Brasil não se resolve com soluções técnicas. Ela é estrutural, reside na maneira como a sociedade se organizou e está eternizada nas suas instituições. No momento em que houver a efetiva decisão política de inverter esse estado de coisas, os instrumentos técnicos surgirão. De certa maneira, já existem no método Paulo Freire de alfabetização; nas cisternas e na osmose reversa que permite tirar água potável de fonte salobra; nos cultivares da Embrapa; no microprocessador desenvolvido pelo professor Juarez, da Unisul; no mouse desenvolvido pelos alunos do professor João Bosco, da Universidade Federal de Santa Catarina, para permitir o uso do computador por pessoas com paralisia cerebral. E mais existiria se a sociedade nos estimulasse e desse conseqüência a nossos esforços.

AN – As pessoas estão ficando cada vez mais tempo na frente das máquinas, do computador. Os solitários encontram namoradas e até se casam com auxílio de computadores e da Internet. O homem não está perdendo sua essência de humano, de conviver em sociedade ou a informática e a rede mundial de computadores está ampliado esse conceito?

Lage – O computador é uma criação humana, e o homem é um ser da natureza. Nada existe no homem que não seja natureza. Se ele tem um sistema simbólico, que lhe permite construir uma cultura, isso é tão obra da natureza quanto o pescoço da girafa ou a habilidade do tamanduá para catar formigas nas galerias em que vivem. O computador é uma extensão do sistema nervoso humano, como a pá ou a picareta são extensões dos braços – isso já dizia MacLuhan.

AN – Explique seu conceito de que engenheiros e tecnólogos precisam saber escrever corretamente e adquirir cultura humanística para que se tornem bons profissionais e cidadãos, e que jornalistas, advogados e cientistas sociais não serão homens cultos e bons cidadãos se não se integrarem ao que o senhor classifica de ‘sociedade moldada pela ciência’.

Lage – O conhecimento é convergente em nossa época. A compartimentação tende a desaparecer. Além disso, dada a complexidade das práticas e a especialização dos treinamentos, temos de trabalhar em equipe. Numa equipe, se um não compreende a linguagem do outro, alguém comandará e alguém obedecerá cegamente. Então, não haverá sinergia. Alguém será necessariamente o parceiro ‘burro’. A relação será tensa e menos eficiente. Compreender e respeitar o outro é a maneira certa de se estabelecer qualquer relacionamento – no amor como no laboratório e na fábrica.

AN – Não há, reconheçamos, como viver sem a informática e sem os computadores. Ainda há quem resista? Quem são esses conservadores?

Lage – No plano individual, pode-se viver, ou imaginar que se vive, sem computadores. A resistência aos computadores será razoável se o indivíduo vem de uma época em que eles não existiam e não precisa realmente lidar com eles. A modernidade assusta: contra ela se erguem os que culpam a ciência pelo que os homens, não o conhecimento, fazem, desde que o mundo é mundo: ferem com flechas ou com bombas, com espadas ou com mísseis – a mortandade sempre foi grande, e a guerra, inútil. Não são as armas as culpadas, mas quem as usa. No entanto, a sociedade, seus equipamentos e serviços têm a informática embutida. Não se pense, no entanto, que usar ou aceitar computadores é, em si, procedimento progressista. Certamente, o presidente George W. Bush usa computadores…

AN – Qual sua visão sobre o jornalismo brasileiro e, em especial, o catarinense. O senhor vê evolução tecnológica, humana e de conteúdo editorial?

Lage – O jornalismo brasileiro tem altos e baixos. A Rede Globo é, do ponto de vista técnico (penso no Globo Rural, no Esporte Espetacular, nas entrevistas do Millennium da Globo News, no Jornal Nacional do Bonner e da Fátima), um ponto alto. A interiorização do jornalismo, um ponto baixo. Na verdade, em um Estado como Santa Catarina, com cidades em geral prósperas, são raras as que têm veículos com qualidade aceitável. Isso significa que essas cidades e regiões desconhecem a si mesmas e recebem toda informação de centros que, por sua vez, as desconhecem. Aqui, como em muitos outros lugares, os jornalistas que se formam têm o dever de criar seu próprio mercado – na verdade, para eles, é a única saída, além do aeroporto e da rodoviária, naturalmente.’