A repórter do Washington Post Juliet Eilperin escreve sobre mudanças climáticas para o jornal. Seu marido, um conhecido especialista no tema, coordena as políticas climáticas internacionais como membro do Centro para o Progresso Americano. Ela já colocou citações de entidades e grupos liberais em suas matérias, mas nunca de seu marido. ‘Discutimos o tema em casa, mas a separação ‘Igreja-Estado’ existe para áreas nas quais nosso trabalho se sobrepõe’, explicou ela na coluna de domingo [1/11/09] do ombudsman do Post, Andrew Alexander.
Juliet já escrevia sobre o tema antes de se casar com Andrew Light, em junho do ano passado. Quando eles se conheceram, ele era membro do corpo docente da Universidade de Washington, em Seattle. ‘Forcei-o a se mudar para Washington, porque não queria abrir mão do meu trabalho no Post‘, conta. Ainda com todos estes fatores, é possível que Juliet fique neutra e evite declarações tendenciosas? A repórter e seus editores garantem que sim. Alguns blogueiros, no entanto, discordam. ‘Não seria legal se cada grupo ativista tivesse um repórter no Post?’, disparou um blogueiro. Leitores também reclamam. ‘Sua lealdade ao marido impossibilita os leitores de acreditar no que ela escreve’, opinou um deles.
As regras éticas do diário dizem que ‘se deve evitar conflito de interesses ou aparência de conflito de interesses sempre que possível’. A maior parte dos possíveis conflitos são pequenos e podem ser facilmente resolvidos, como pode ser observado em vários casos. A colunista Ruth Marcus, por exemplo, tem um conflito em potencial por ser casada com Jon Leibowitz, presidente da Comissão Federal de Comércio (FTC, sigla em inglês), mas o editor das páginas editoriais Fred Hiatt diz que ela simplesmente não se envolve em questões sobre o FTC e não escreve sobre o tema.
Já Mike Wise, colunista de esportes, geralmente escreve sobre a equipe Washington Redskins e seu proprietário, Dan Snyder. Recentemente, Wise começou a co-apresentar um programa na WJFK, que compete diretamente com a ESPN, de Snyder. Alguns leitores questionaram se ele seria justo em sua cobertura e comentários no ar. O editor de esportes, Matt Vita, sabe do ‘conflito em potencial ou percepção do conflito’ e, por isso, pediu a Wise que seja ‘perfeitamente transparente nas colunas que escreve sobre os Redskins e sua administração’. Em uma de suas colunas, ele revelou que apresenta um programa de rádio em uma emissora que compete com a de Snyder.
O crítico de mídia Howard Kurtz apresenta um segmento de um programa da CNN e é frequentemente criticado por blogueiros e leitores por ser pago pela emissora. Segundo as normas do Post, um editor ou repórter ‘não pode aceitar pagamento de nenhuma pessoa, empresa ou organização que cobre’. Pode haver exceções para alguns grupos, como organizações de mídia, ‘a menos que o editor ou repórter esteja envolvido na cobertura deles’. Kurtz, escritor do Post desde os anos 90, recebeu aprovação do então editor-executivo Leonard Downie Jr. para aparecer no programa há 15 anos. ‘Meu histórico mostra que venho sendo agressivo à CNN – e também ao Post – e seria mesmo se não apresentasse um programa lá’, defende-se o colunista. Ao final de suas colunas, ele sempre revela sua ligação com a emissora.