Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica diária

20/12/07

A notícia do dia

Desde a fotografia da primeira página, a Folha fez a melhor cobertura sobre as decisões judiciais a favor da transposição de águas do rio São Francisco e a internação do bispo em greve de fome.

Os últimos dias deixaram ainda mais evidente a importância de enviar repórter e fotógrafo a Sobradinho para acompanhar a manifestação do frade. O ‘Globo’ cobriu de longe.

A maior deficiência da Folha foi não contribuir, ou contribuir pouco, para os leitores tirarem suas próprias conclusões sobre o projeto contra a seca. O quadro ‘A polêmica’ (pág. A7) reduz os argumentos de um lado e de outro. Muitos parecem simplórios.

O jornal preferiu debater o ato de dom Luiz Cappio, e não a obra contra a qual ele se mobiliza.

É interessante a carta aberta do deputado Ciro Gomes, pró-transposição, à atriz Letícia Sabatella, contra. Saiu no ‘Globo’.

O melhor do dia

É muito boa a reportagem de capa de Cotidiano que rendeu na primeira página o título ‘Gafisa usa subprefeitura para indenizar favelados’.

É ainda mais importante por sair em uma quadra em que as construtoras anunciam a granel na Folha e no jornalismo impresso os seus lançamentos imobiliários.

Sem padronização

É notável o esforço de Brasil para padronizar a provável arrecadação com a CPMF em 2008, se o tributo não tivesse dançado: R$ 38 bilhões.

Na segunda página de Dinheiro, porém, lê-se R$ 40 bilhões.

Persiste a pergunta: em que informação o leitor deve confiar?

Palavras cruzadas

Pobre de quem esbarrou com o erro nas palavras cruzadas no dia 15.

O Erramos de hoje foi fruto do aviso de um leitor.

Para iniciados

O texto ‘Memória – Em 1998, Lula apelou a FHC por grevistas’ (pág. A6) não informa quando ocorreu o seqüestro de Abílio Diniz.

Também não diz quem é Abílio Diniz.

Pesquisa

O texto ‘Marta empata com Alckmin na disputa em São Paulo, diz Ibope’ (pág. A12) omite números recentes do mesmo instituto, bem diferentes.

Faltou espírito crítico ao informar os resultados.

Notícia escondida

A Folha ‘recuperou’ em um texto pequeno, numa só coluna, no pé da pág. C8, furo de ontem do ‘Diário de S. Paulo’: ‘Segundo jornal, Learjet teve falta de combustível’.

O acidente aeronáutico no começo de novembro mereceu a manchete da Folha, que hoje escondeu o áudio da caixa-preta revelado pelo DSP.

É uma pena que o jornal não tenha tido acesso à gravação, mas não é por isso que deve menosprezar a notícia de impacto.

Na terra de Nuno

A Ilustrada publicou pingue-pongue com Nuno Ramos, ‘um dos artistas de maior prestígio no cenário da arte contemporânea brasileira’.

Na legenda da foto (pág. E6), ele é chamado de ‘Nunca Ramos’.

Queda

O texto ‘Lucro do Goldman sobe, e ações recuam’ (pág. B5 da edição Nacional de ontem) afirma que as ações da corretora recuaram 13,41% na Bolsa de Nova York.

O correto seria 3,41%, como se leu na edição São Paulo.

Adivinhe quem vem para jantar

A Folha voltou a publicar ontem fotografia do seu crítico de gastronomia.

Voltarei ao tema gastronomia-culinária-vinhos em coluna dominical de janeiro.

19/12/07

Forfait

Por motivo de força maior, hoje não haverá crítica diária.

18/12/07

Folha, Serra, tendência e método

Na semana passada, lamentei que a Folha não tivesse procurado o governador José Serra para ele se pronunciar sobre a reintegração de posse na favela Real Parque. O terreno pertence a uma empresa ligada ao Estado; a Polícia Militar, que executou a ordem judicial, é subordinada ao governador e a autoridades que ele nomeia diretamente ou não.

Ontem, lamentei que o jornal não tivesse procurado o governador José Serra para ele se pronunciar sobre a morte de um lutador de artes marciais em dependências do Estado.

Hoje, lamento que o jornal não tenha procurado o governador José Serra para ele se pronunciar sobre a morte por tortura –de acordo com laudo de IML– de um adolescente de 15 anos, preso por policiais militares.

Três exemplos não asseguram que se esteja diante de um método. Indicam, no entanto, uma tendência.

O jornal, cujo dever é fiscalizar o poder, todos os poderes, deveria refletir sobre isso.

Deu na TV

Na cobertura sobre a morte de Ryan Gracie, o jornal afirma hoje que ‘o governador José Serra (PSDB) foi procurado por telefone, mas não comentou o caso’ (‘Para secretário, é cedo para dizer se a polícia errou’, pág. C7).

Não entendi: Serra foi encontrado e se recusou a tratar do assunto ou o jornal não falou com ele?

Pois eu assisti ontem a um comentário do governador sobre o caso. Salvo engano, na Globo News. A Folha deveria ter reproduzido a opinião de Serra, registrando o crédito da emissora.

Bom debate

O ‘Estado’ publicou em alto de página um bom debate, marcado pelo pluralismo: ‘Juristas se dividem sobre culpa do Estado’ (no caso Gracie).

Furos alheios

A Folha fez bem ao ‘recuperar’ hoje (pelo menos) três furos alheios e relevantes: ‘Justiça quer que Abin explique uso de BMW’ (pág. A9); ‘Mulher morre, e família diz que farmácia negou remédio por R$ 10’, (pág. C5); ‘Militares são acusados de desviar munição’ (pág. C6).

Os leitores ganhariam se o jornal se comportasse sempre assim.

No primeiro semestre, sugeri que se noticiasse reportagem exclusiva do ‘Estado de Minas’ sobre um livro secreto do Exército com a versão da Força a respeito do combate à luta armada nos anos 1960/70.

Que eu me lembre, o jornal não seguiu a sugestão.

Na semana passada, a Folha se referiu àquele trabalho jornalístico ao anunciar os vencedores do Prêmio Esso. Pela revelação, o repórter Lucas Figueiredo conquistou a categoria Reportagem.

Os leitores da Folha continuam sem saber sobre o relato do Exército.

Trabalho ao leitor

Em um texto-legenda em quatro colunas, a primeira página destaca fotografia do casamento de uma menina afegã de 11 anos com um homem adulto.

Para conhecer a idade dele, é preciso ler o texto interno.

Não custava ter informado na capa (40 anos), havia espaço de sobra.

O rombo da CPMF

Hoje a Folha afirma que o rombo provocado pelo fim da CPMF é de 40 bilhões.

Mas ao noticiar a votação no Senado, na edição da quinta-feira, o jornal falou em R$ 38 bilhões.

Vale padronizar, mesmo sabendo que se trata de estimativa.

Conta incompleta

Parece faltar à cobertura da Folha sobre o fim da CPMF um fator: quanto a União poupará sem pagar o tributo?

A coluna Direto da Fonte, do Estado, ouviu do economista Paulo Rabello de Castro que haverá economia de R$ 10 bilhões, em ‘cálculo bastante conservador’.

O ‘mercado’ e a CPMF

Afirma a coluna Mercado Aberto (pág. B2): ‘No Brasil, a grande preocupação do mercado diz respeito à possibilidade de piora da situação fiscal depois da perda dos R$ 40 bilhões do Orçamento com o fim da CPMF’.

Já a reportagem ‘Bovespa perde 4,19%, seu 3º pior pregão de 2007’ (capa de Dinheiro) afirma que o ‘cenário externo’ foi decisivo para a queda de ontem.

A coluna de Vinicius Torres Freire sustenta, conforme resumo do ‘olho’: ‘Final da CPMF e ministro que não inspira confiança azedam ambiente, mas gastos, inflação e risco externo pesam mais’.

Jornal plural é mesmo uma boa, mas fica difícil entender se o fim da CPMF foi determinante para a seqüência de tropeços da Bolsa desde a semana passada.

Longe da Amazônia

Mais uma reportagem importante sobre fato no Pará que a Folha, sem correspondente em Belém, apurou de longe: ‘Justiça do Pará anula julgamento de acusado de matar Dorothy Stang’ (pág. A8).

Velho Chico 1

Tive a impressão de haver erro no texto ‘´Ministro Patrus não tem qualificação para falar da transposição´, diz bispo’ (pág. A8), na boa cobertura que a Folha tem feito em Sobradinho: ‘A pressão arterial é verificada ao menos duas vezes por dia. Quando está baixa, o bispo tem os braços mergulhados em água gelada’.

Não seria o contrário? Água gelada não combate a pressão alta?

Velho Chico 2

Seria interessante publicar a opinião de religiosos católicos favoráveis à transposição do São Francisco, mas que não se dispõem a entrar em greve de fome por suas opiniões.

Daria caráter mais plural à cobertura.

A Folha, assinalo, entre os maiores jornais do país, tem sido o mais plural no noticiário sobre a manifestação do frade.

Confronto na Abin

O noticiário sobre o BMW usado por um assessor da Abin é indício de conflito entre funcionários de carreira da agência e os originários da Polícia Federal.

O atual diretor do órgão é o delegado da PF (aposentado) Paulo Lacerda.

Renato Porciúncula, o assessor que dirige o carro apreendido de traficante, também é proveniente da PF.

Vale matéria.

Faltou o sobrenome

O texto ‘Disputa por publicidade do governo envolve 30 agências’ (pág. A10) cita o publicitário ‘Paulo de Tarso’.

Qual é o sobrenome dele?

A omissão ocorre um dia depois da publicação de fotografia de publicitário errada, como reconhecido hoje em Erramos.

Pleonasmo e omissão

A reportagem ‘Mulher morre, e família diz que farmácia negou remédio por R$ 10’ (pág. C5) se refere mais de uma vez à ‘asma brônquica’.

Existe outra asma que não a brônquica?

O jornal deveria informar o nome da farmácia.

Será?

Diz a reportagem ‘IML confirma que Gracie estava drogado’ (pág. C7): ‘O psiquiatra [Sabino Ferreira de Farias Neto] disse ter feito um teste de urina em Ryan na delegacia, que [sic] indicou o uso de cocaína, maconha e um remédio contra ansiedade’.

Acho que o jornal não deveria ter citado o nome do remédio.

E faria bem se checasse se é possível que um exame dessa natureza seja feito na delegacia.

Título

Título em seis colunas na pág. B4 da edição Nacional, corrigido na São Paulo: ‘Alimentos sobem o dobro que a inflação’.

Conversão

O serviço na pág. 37 da revista Lugar que circulou ontem com a Folha em parte do território nacional afirma, sobre o hotel San Domenico, que 112 euros equivalem a R$ 1.031.

Não equivalem.

17/12/07

O caminho da roça

Depois de ler e ver (o ensaio com imagens obtidas por câmera de telefone celular) a magnífica reportagem de Antônio Gaudério na edição de domingo, impõe-se a pergunta: por que a Folha não faz mais trabalhos com essa qualidade?

Se o jornal obtiver respostas, talvez matérias como a de ontem não sejam bissextas em suas páginas.

O caminho da perdição

Foi de arrogância e leviandade jornalísticas evidentes a apresentação ontem da final do Mundial de Clubes.

Arrogante, a Folha quis adivinhar como seria o jogo.

Leviana, insistiu na antecipação.

Infelizmente, não se pode dizer que o vexame surpreenda.

Título: ‘Jogo do tetra ameaça ser tétrico’ (pág. D7 do domingo).

Linha-fina: ‘Com Milan de um atacante só e Boca forrado de volantes, final no Japão tem tudo para ser amarrada’.

Abertura: ‘A final do Mundial de Clubes em Yokohama vai deixar um time no topo da história, o primeiro tetra do planeta, mas não deverá ser um jogo atraente’.

A cobertura sobre Milan 4 x 2 Boca está no jornal de hoje. Um dos títulos: ‘Chuva de gols na final é a maior desde os anos 60’ (pág. D2).

A linha-fina: ‘Milan x Boca Juniors contraria previsões de jogo amarrado’.

A Folha, golpeando a transparência, esconde que foi essa a sua previsão.

Boom

A edição São Paulo/DF do sábado circulou com 202 páginas.

Um recorde nesse dia da semana, creio.

Ao contrário do que ocorreu quando o jornal atingiu a marca de 200 páginas, dia 10 de novembro, não houve alarde sobre o feito.

SIC

A fotografia do publicitário Paulo de Tarso Venceslau aparece hoje em quadro que acompanha a reportagem ‘Governo pagou quase R$ 1 bi a publicitários ligados ao PT’ (pág. A8).

Venceslau não é ligado ao PT, mas adversário do partido que integrou no passado.

O Paulo de Tarso em questão é outro. Sua imagem não foi publicada.

Sem perguntas

Quando se tornou público que uma adolescente dividira cela com homens no Pará, incentivei o jornal a cobrar uma manifestação da governadora.

Agora, que o lutador Ryan Gracie morreu em dependência de delegacia de São Paulo, sugiro que sejam cobrados secretário da Segurança e governador.

Se investigar apenas as ações do médico que atendeu Gracie, a Folha fará uma cobertura enviesada.

O Estado deve assegurar a integridade física das pessoas sob sua custódia.’