’18/06/2004
A derrota do governo no Senado é a manchete de praticamente todos os jornais:
‘Senado derrota Lula e eleva mínimo’ (Folha) ‘Lula perde: Senado aprova mínimo de R$ 275’ (‘Estado’) ‘Senado aumenta mínimo na maior derrota de Lula’ (‘Globo’).
O ‘Dia’, do Rio, foi o mais prolixo: ‘Governo perde, mínimo vai a R$ 275e povo fica tonto’. E o ‘JB’, omitiu a derrota no título: ‘Senado aprova mínimo de R$ 275’. O ‘Valor’ deu a votação no alto, mas chamou a atenção para outros salários: ‘Dissídios repõem perdas e dão ganho real a salários’.
As fotos da comemoração da oposição ao governo, muito boas, são praticamente as mesmas nos três maiores os jornais. O ‘JB’ também tem boa foto, Lula e Rosinha juntos e constrangidos; mas não era a notícia do dia e esfriou a edição.
No mais, soja, Iraque, 11 de Setembro, Fashion Week e Shrek.
Escravidão
Fez bem a Folha em rever a reportagem que publicou como manchete de sexta passada e admitir na primeira página, em espaço nobre, os erros que cometeu na apuração e interpretação do relatório da OIT sobre crianças e trabalho doméstico. O jornal reconhece que errou, tanto no texto da capa como no texto interno, sem artifícios ou jogos de palavras. Volto ao assunto na coluna de domingo.
Está errada, na Edição Nacional, a remissão da matéria na primeira página. O texto (‘Dados sobre escravidão estavam errados’) está na pág. A15, e não na A13, como informa a capa do jornal.
Salário mínimo
As coberturas dos dois jornais de SP estão semelhantes e, me pareceu, bastante completas. Têm a crônica da derrota, os votos de cada senador (na Edição SP) bastidores, balanço do enfrentamento, perdedores e vencedores, análises e um pouco de futuro. Destaco na Folha a arte ‘Quem te viu… quem te vê’ (A4) e a foto de Pallocci com carrinho de compras. Mostram que as incoerências são comuns aos dois lados.
Há, no entanto, um erro na arte ‘O mapa da votação’, pág. A5 da Ed. SP. Entre parênteses, explica que o NÂO são os votos ‘contra os R$ 260 do governo’. É o contrário, são os votos a favor do governo e contra o mínimo de R$ 275.
Pesquisa eleitoral
Continuo achando que o jornal deveria ser mais exigente na publicação de pesquisas eleitorais. Mesmo no Painel, que tem características diferentes do noticiário político. Volto ao assunto por conta da nota ‘Na mesma’, do Painel (A4). É uma pesquisa sem instituto, sem campo, sem data. Sem responsabilidade, portanto.
Tempo verbal
Estranhei, em ‘CPI do Rio convoca ex-assessor de Palocci’ (pág. A6 da Ed. Nacional e A12 na Ed. SP), o tempo do verbo: ‘A CPI (…) publicou hoje edital na imprensa…’. A linha fina também: ‘Publicação foi hoje’.
Unctad
Continuo sem entender os rumos da nossa cobertura da Conferência da Unctad em SP. Falta hoje, último dia, algo que amarre o que aconteceu ao longo da semana, uma análise que informe e interprete as discussões, até para dizer que não valeram para nada. Nossa cobertura de hoje abre com um estudo enviado de Washington e tem três reportagens com informações setorizadas. Por que me preocupo com isso? Porque o jornal anunciou com muito destaque a realização da conferência; porque a conferência se realiza em SP, sede do jornal; porque o país discute o tempo todo que a saída para o nosso estrangulamento é o comércio exterior; porque este assunto deixou de ser apenas econômico e tomou conotações políticas; e porque era (ou ainda é) uma oportunidade para a Folha fazer, em casa, uma cobertura internacional.
O jornal deu mais espaço para a conferência do que os concorrentes. Mas fez uma cobertura factual, sem aprofundamento. Esperava, por ser em SP, que enviaria seus principais jornalistas especializados em economia e política globalizadas (e tem muitos, como Clóvis Rossi, Luís Nassif, Eliane Cantanhêde, Fernando Rodrigues, Fernando Canzian, Cláudia Antunes) para complementar a cobertura noticiosa com análises e avaliações críticas.
Aftosa
Fez bem Dinheiro ao mexer no seu noticiário, na Edição SP, e editar na capa a reportagem sobre a descoberta de caso de febre aftosa, jogando para dentro mais uma previsão do BC.
Manual/Menores
Repito o começo da nota de ontem: o ‘Manual da Redação’, na sua página 81, recomenda que seja evitado o uso do termo ‘menor’ para referir-se a criança ou adolescente.
Há uma preocupação com o significado negativo, sinônimo de infrator, que o termo adquiriu. Já tínhamos tratado disso em outra Crítica Interna, mas Cotidiano continua a usar. Ontem, estava no título e no texto da reportagem ‘Juiz manda prender oito menores após briga’. Hoje, está no título ‘Depois de 9 dias, juiz solta menores presos após briga em escola de SP’, na capa da Edição Nacional.
Se a editoria acha esta norma deveria ser revista, acho que poderia encaminhar os argumentos e se abriria uma discussão, que considero normal. Enquanto isso, acho que deveríamos respeitar as normas do ‘Manual’.
Aviso
Participo domingo de uma seminário do Instituto Prensa y Sociedad, em Lima. Por esta razão, não haverá Crítica Interna na segunda-feira.
17/06/2004
As manchetes são diferentes, mas os assuntos são praticamente os mesmos na Folha e no ‘Estado’: juros que não caem, indicadores econômicos positivos, mais uma mentira de Bush, protestos contra Lula, soja, explosão em quartel no Rio, ensino medíocre. E Marcelo Antony.
Destaque, na capa da Folha, para a foto do tubarão pré-histórico. Já que a foto é de corpo inteiro, a legenda poderia informar o comprimento médio do peixe (entre 30 cm e 40 cm) para que o leitor pudesse avaliá-lo melhor. Aliás, havia espaço na primeira para o jornal mostrá-lo no tamanho natural.
Os jornais do Rio dão destaque para a explosão que matou três militares. E os de economia, para entrevistas com Gustavo Cisneros, a terceira maior fortuna da América Latina.
Unctad
A conferência da Unctad termina amanhã e sinto falta na Folha de textos analíticos, que informem sobre o andamento das várias negociações e conversas gerais e paralelas. A conferência está servindo para alguma coisa? Dela sairão avanços no campo do comércio em relação a conferências anteriores? Ela está sendo boa para o Brasil? É só um blablablá e nada mais?
Hoje temos um artigo do Paulo Nogueira Batista Jr (página B2) que questiona a validade dos esforços do Brasil para tocar para frente negociações difíceis como as que estão ocorrendo com a União Européia. A reportagem principal da nossa cobertura (‘Exportações intrablocos são maioria na AL’, B12) divulga estudos que parecem dar razão ao economista. Este não é um tema a ser analisado à luz das discussões da conferência e aproveitando a presença de tantos especialistas?
No seu artigo, Paulo Nogueira diz, com razão, que as informações que saem a respeito das negociações entre o Mercosul e a União Européia (e o mesmo vale para a Alca) são incompletas e, não raro, contraditórias. Não é o caso de aproveitar a conferência para consolidar estas informações e facilitar a discussão?
O noticiário da Unctad foi jogado hoje para a última página, está praticamente centrado na divulgação de estudos, já não traz a agenda do dia e nem as notinhas.
Espião no Planalto
O ‘Globo’ dá o nome dos dois jornalistas suspeitos de envolvimento com o caso da espionagem no Planalto. Está na coluna da Tereza Cruvinel, que diz que já era público. Eu não tinha lido ainda em nenhum jornal. A nota da Folha sobre o caso (A6 da Ed. SP e A11 da Ed. Nacional), pequena, não precisava repetir a frase do ministro Thomaz Bastos duas vezes na abertura. Imagino que seja uma decisão editorial não investir mais neste assunto, que continua rendendo nos outros jornais.
No ‘Estado’
O ‘Estado’ tem bastidores da crise no Planalto: ‘Lula decide manter Dirceu fora da ação política’. O jornal informa também que o governo atrasou o pagamento de uma parcela do novo avião do presidente e que a Polícia Federal indiciou ontem os 17 presos na Operação Vampiro. Informa também que a mãe de Sérgio Vieira de Mello entrou com uma ação contra a ONU, terça-feira, para obter a certidão de óbito do filho morto no Iraque.
Manual
O ‘Manual da Redação’, na sua página 81, recomenda que seja evitado o uso do termo ‘menor’ para referir-se a criança ou adolescente. Já tínhamos tratado disso em outra Crítica Interna, mas Cotidiano continua a usar. Hoje, está no título e no texto da reportagem ‘Juiz manda prender oito menores após briga’ (pág. C3 da Ed. SP e C4 da Ed. Nacional).
Mangueira
Deve ser por total falta de notícia que foi publicada a nota ‘Mangueira’, na coluna da Mônica Bergamo, sobre um incêndio que não houve.
Paraty
O ‘Globo’ informou ontem, e o ‘Estado’ hoje, que o escritor João Ubaldo desistiu de ir à Feira Literária de Paraty por considerar, entre outras razões, que é um evento voltado para autores da Companhia das Letras. Não vi nada na Folha.
Resposta do editor
Recebi do editor-adjunto de Regionais, Rubens Linhares, resposta ao comentário que fiz segunda-feira sobre a quantidade de erros no ‘Guia Universitário’:
‘De um total de 247 instituições de ensino superior do Estado de São Paulo incluídas no ‘Guia’, 23 registraram algum tipo de incorreção. É muito, quase 10% do total. De fato, isso levanta questionamentos sobre a qualidade da apuração do jornal, independentemente de a origem do erro ter sido a reportagem ou a fonte da informação.
Mas quero deixar registrado que, na edição do suplemento, a maior preocupação foi justamente a checagem das informações: um repórter ficou responsável somente pela verificação das informações apuradas. Para a publicação da tabela errata, além das entidades que reclamaram, foram enviados novamente e-mails a todas as instituições questionando se havia alguma incorreção e dando um prazo para o encaminhamento dos dados corretos, o que fez passar de 12 para 23 o número de cursos com correções’
16/06/2004
A Folha usa o estudo de uma entidade de executivos de finanças para mostrar que os cortes feitos pelo BC nos juros não chegaram ao consumidor na mesma proporção. No ‘Globo’, a manchete é um estudo de entidades financeiras sobre os mais ricos do mundo: ‘Mercado financeiro fez 5 mil milionários no Brasil em 2003’. Combinam. A Folha destaca ainda estudo do Vaticano sobre a inquisição, discurso do Lula na Unctad, o aumento da gasolina acima do previsto e o contencioso com a China, que é a manchete do ‘Estado’ (‘Exportadores de soja querem processar a China na OMC’). E, nos dois jornais de São Paulo, Naomi Campbell.
O ‘Estado’ dá o troco e publica uma seqüência de fotos de Waldomiro Diniz no orelhão, próximo de sua casa. Segundo o jornal, ‘medo de grampo’. A Folha havia feito, em abril, o ex-assessor do Planalto fazendo compras em um supermercado. As investigações sobre o caso não avançam, apesar do esforço fotográfico.
Os jornais do Rio dão destaque para o afastamento de 26 PMs suspeitos de espancarem e matarem três jovens na madrugada de domingo.
Exploração infantil
A pesquisa de hoje sobre trabalho infantil (‘2,2 milhões de jovens do país trabalham sob risco, diz OIT’, Brasil, pág. A4) traz metodologia e informa sobre as bases utilizadas para os cálculos, o que não ocorreu em pesquisa semelhante publicada na sexta-feira. E como naquela ocasião foi a manchete do jornal (‘Brasil tem meio milhão de crianças escravizadas’), a Folha deveria ter feito alguma referência àqueles números. A ‘Veja’, por exemplo, fez vários questionamentos sobre o estudo.
Os 500 mil escravizados de sexta-feira estão incluídos nos 2,2 milhões de hoje que trabalham sob risco? São todos estudos da OIT, mas os de hoje me pareceram mais consistentes porque têm como fonte declarada o IBGE.
Excesso de arrecadação
Caiu, na Edição SP, a reportagem que informava que o adiamento, ontem, do anúncio da arrecadação de impostos em maio gerou a suspeita de excesso de arrecadação (Brasil, A5). Segundo a Folha, as receitas superaram ‘ligeiramente’ as projeções e a divulgação dos números poderia prejudicar os argumentos do governo, que tenta convencer os senadores a votarem no mínimo de R$ 260,00. Se a apuração está correta, é uma informação relevante e não deveria ter caído na Ed. SP. Se o jornal não estava seguro de que o adiamento tinha a ver com o mínimo, não deveria ter publicado na Edição Nacional.
O jornal normalmente peca pelo excesso de números. Mas no caso desta reportagem, os números fizeram falta. Diz, por exemplo, que ‘desde o início do ano, o governo vem registrando ‘excesso de arrecadação’. Teria sido precisa se citasse quanto a Receita vem arrecadando além das previsões. O ‘Estado’ cita.
Danuza
Acho que o jornal fez bem em publicar uma réplica (‘Com todo respeito, Danuza!’, A6 na Ed. Nac. e A7 na Ed. SP) ao artigo da Danuza Leão de ontem e as cartas que mostram como foi polêmico.
Maluf
A edição do ‘Estado’ que circula no Rio, fechada às 22h05, já traz a notícia de que o MP tem uma carta manuscrita por Maluf transferindo para os filhos o saldo bancário de uma conta na Suíça e não faz referência ao Jornal Nacional. A Folha só trouxe na Ed. SP. e atribui a informação ao jornal da Globo. Na sua última edição, o ‘Estado’ traz o fac-símile da carta de Maluf.
Espião no Planalto
Na Folha, na Ed. Nacional: ‘Lula pretende encerrar caso do suposto espião’ (A8). Para ajudar o presidente, o jornal ‘matou’ o caso na Ed. SP e o transformou numa notinha sem informação: ‘Abin diz que Lula concorda com ações de general’. A nota não diz sequer que ações são essas.
Acho um erro o jornal não explorar (jornalisticamente) um caso como este que envolve, mais do que intrigas palacianas, o uso indevido de poderes públicos para acusar e perseguir.
No final, vai tudo ficar como se fosse invenção da imprensa.
PPS
Está mais completa do que a do ‘Estado’ a reportagem da Folha sobre a reunião do PPS em Brasília e os enfrentamentos entre os grupos de Ciro Gomes e Roberto Freire.
Cartões de crédito
O ‘Estado’ tem dados atualizados dos gastos do governo federal com cartões de crédito corporativos e com as verbas secretas.
Inquisição
O melhor material sobre o documento liberado ontem pelo Vaticano a respeito da inquisição é o da Folha (pág. A10), tanto pelo texto noticioso como pelo texto de apoio (‘Saiba mais’). Acho, no entanto, que a entrevista deveria ter sido feita com um grande historiador especializado no período, e não com um vaticanista (como também fez o ‘Globo’), que de uma certa forma repete os argumentos e conceitos do papa e do estudo.
Teria sido mais rico uma entrevista que questionasse com bons argumentos as conclusões do Vaticano.
Acho que faltou também quantificar em números absolutos os mortos segundo o estudo e compará-los com outros estudos sérios.
Mesa redonda?
É estranho dizer que a platéia que aparece na foto do alto da capa de Dinheiro são participantes de uma mesa-redonda. A foto não mostra isso.
Gasolina
A Folha deveria ampliar seu levantamento de preços da gasolina depois do aumento nas refinarias. ‘Zero Hora’, por exemplo, informa que em Porto Alegre o combustível já subiu em média 16% nos postos.
Nane Annan
Bom, o perfil da mulher do secretário-geral da ONU (‘Primeira-dama da ONU só quer pintar’, B6).
Tim Lopes
Sumiu na Edição SP da Folha uma das declarações mais escandalosas dos últimos tempos. Segundo o secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, ‘alguns jornais’ precisam ‘passar por um episódio como aquele do Tim Lopes’ (…) ‘para que reflitamos sobre a importância de encarar isso com seriedade’. Referia-se, aparentemente, a jornais que adotariam, na opinião dele, a linha de apologia a facções do tráfico. Na capa de Cotidiano da Ed. Nacional.
Georgette Vidor
Não existe Câmara dos Deputados no Rio, como informa a nota ‘Mais reclamação’, do Painel FC, pág. D2 de Esporte. Georgette Vidor é deputada estadual. O certo é Assembléia Legislativa.
Acho que é o caso de Erramos.
Resposta do editor
Recebi, via SR, resposta do editor de Ilustrada, Cássio Starling Carlos, a questionamento que fiz ontem em relação ao destaque dado à entrevista com Jeffrey Eugenides.
‘A respeito de observação do ombudsman questionando a publicação de entrevista com o escritor Jeffrey Eugenides em alto de página ímpar da Ilustrada, gostaria de esclarecer que:
1) Julgar a relevância (literária e jornalística) de um autor pelo número de livros por ele publicado parece-me um critério sem critério. Sem chegar ao exagero de comparar Eugenides a alguns autores,vale lembrar que Miguel de Cervantes, por exemplo, publicou apenas um romance: ‘Dom Quixote’. James Joyce, cujo ‘Ulisses’ esteve nesta semana em capas de cadernos de cultura de jornais do mundo inteiro, publicou ‘só’ três. Por outro lado, Sidney Sheldon, Barbara Delinksy, Nora Roberts e companhia já lançaram mais de cem títulos. Nem por isso conquistaram espaço de destaque em cadernos de cultura considerados sérios.
2) Se formos levar ao absurdo o critério ‘estatístico’ um simples teste no Google revela que, tendo publicado ‘só’ dois livros, Jeffrey Eugenides é mencionado 57.400 vezes no Google. O brasileiro Ryoki Inoue está no ‘Guinness’ com mais de 1.000 romances publicados e recebe 125 menções no buscador.
3) O livro que a Ilustrada destacou em alto de página, ‘Middlesex’, ganhou o Prêmio Pulitzer do ano passado (está explicitado na matéria). Eugenides levou também prêmios como o Guggenheim Fellowship. O livro trata de um tema polêmico, a história de um hermafrodita e acompanha a montanha-russa da moral sexual a partir do início do século passado.
Antes mesmo de tais premiações, a publicação de ‘Middlesex’ havia valido a Eugenides a presença (por meio de entrevistas, perfis e resenhas) em onze de cada dez publicações de cultura relevantes do chamado ‘Primeiro Mundo’.
Todas celebravam o retorno do autor, que havia chamado a atenção de meio mundo em sua estréia com ‘Virgens Suicidas’.
4) A única vez que deu entrevista para a Ilustrada, em 1994, no lançamento de ‘Virgens Suicidas’, Eugenides foi capa do caderno.
5) O festival é sim restrito, mas a) a cobertura da imprensa busca justamente torná-lo menos restrito; b) o festival mais do que triplicou seus lugares, como já foi anunciado em matéria anterior: no ano passado acomodava 178 espectadores; agora serão 550 cadeiras no espaço principal, uma segunda tenda na qual 800 leitores assistirão às palestras por telão e um terceiro espaço junto à livraria do evento; c) mesmo com o aumento de espaço, a briga pelos ingressos é grande e quem não se adiantar não consegue bilhetes para as palestras; ao falar com antecedência do festival aumentamos a chance de que nossos leitores, bem informados, consigam garantir seus lugares.
6) Devido à exclusividade de seu elenco em 2003, a Flip acabou identificada como um ‘encontro de autores publicados pela Companhia das Letras’. Em 2004, esse monopólio desapareceu e a Ilustrada decidiu chamar a atenção para isso dando destaque a convidados de outras editoras: o português Miguel Souza Tavares (publicado pela Nova Fronteira) recebeu o mesmíssimo espaço e destaque na edição da segunda-feira; Eugenides (editado aqui pela Rocco); a espanhola Rosa Montero (que sai pela Ediouro), já entrevistada receberá tratamento equivalente.
7) O fato de a organizadora do evento, Liz Calder, editar Eugenides na Inglaterra e trazê-lo para palestras por si não invalida a entrevista. Os direitos internacionais dele não são controlados por Calder e ela dificilmente vai aumentar as vendas dele no Reino Unido trazendo-o para um encontro literário no Brasil.
8) Considerar Eugenides um autor ‘pouco conhecido’ (juízo, aliás, questionável) traz à tona outro estranho critério: se decidirmos que somente o consagrado, o popular e o óbvio mereçam destaque no jornalismo (cultural ou não), isso quererá dizer que um jornalista não deve chamar a atenção quando descobrir uma pauta que contenha novidade, invenção ou criação (também conhecidos como notícia)?
15/06/2004
A gasolina sobe e é manchete ou alto de página de todos os jornais.
Os outros assuntos que formam as edições de hoje: Lula pede novo Plano Marshall para os países pobres, carro-bomba explode em Bagdá e a China pára de comprar soja brasileira.
Painel
A primeira, quarta e quinta notas do Painel trazem informações parecidas com as da reportagem ao lado (‘Governo cogita adiar votação do salário mínimo no Senado’, A4).
Salário mínimo
O ‘Globo’ está mais bem informado sobre o voto da senadora Roseana Sarney. Tem reportagem de São Luiz informando que a senadora não vota no mínimo do governo. Era a festa do Zequinha, a família toda estava reunida e aparentemente só o ‘Globo’ estava lá, além dos jornais locais. Na Folha, o noticiário sobre o voto da senadora é especulativo.
PPS na TV
A reportagem ‘PPS racha e discute fidelidade ao governo’ (Brasil, pág. A4 da Edição SP) diz que Roberto Freire prepara um programa nacional de rádio e TV em que explorará o alto desemprego. Mas os ataques já começaram. Há dias o partido veicula nas emissoras de TV pequenos comerciais com fortíssimo conteúdo crítico e que chamam para o programa do partido. Quem assiste fica seguro de que o PPS lidera a oposição ao governo Lula. A Folha tinha uma retranca sobre estes ataques na Edição Nacional e derrubou na Edição SP. Como ficou, parece que o jornal não vê TV.
Calhau
Mais uma vez a Edição Nacional traz foto sem qualquer importância e razão de ser. É o caso, hoje, na página A5 de Brasil. A foto mostra um funcionário limpando o lago do Congresso e informa que ‘nesta semana o valor do salário mínimo deve entrar na pauta do Senado’. Vale lembrar que a reportagem da página é sobre as contas do governo apreciadas pelo TCU e que o noticiário sobre o mínimo está na página anterior, A4.
Danuza
O artigo da Danuza sobre o arraial de Lula traz algumas críticas que procedem, como o uso marketeiro da festa e a proibição, de resto inócua, de a imprensa acompanhá-la. Mas a forte carga de preconceitos impede que estas críticas sejam analisadas.
O espião
Esta história do espião no Planalto continua mal explicada por parte do governo que se mostra, mais uma vez, incompetente em suas investigações e na administração de suas crises.
Tráfico humano
No alto da página A10 de Mundo, mais um destes relatórios dos Estados Unidos com números que ninguém sabe como foram obtidos (‘Brasil não pune tráfico humano, dizem EUA’). O relatório está certo quando diz que no Brasil raramente os traficantes são presos ou punidos. Mas como chega à estimativa de que 75 mil mulheres e adolescentes brasileiras se prostituem na Europa e 5.000 na América Latina? E de que 25 mil brasileiros trabalham forçados no campo? Acho que na difusão destes relatórios –como o da OIT na semana passada sobre crianças escravizadas– o jornal deveria ter a preocupação de checar as fontes que servem de base para os dados sobre o Brasil. Outra coisa: o noticiário sobre o relatório dos EUA deveria vir acompanhado de material produzido no Brasil que comentasse os dados. O governo e entidades especializadas deveriam ter sido ouvidas. Como está, parece que o relatório tem força de verdade.
Ciência
O ‘Globo’ informa que foi descoberta nova espécie de porco na Amazônia.
Bacia de Campos
A Folha entrevistou ontem um diretor da Petrobrás (‘Plataformas terão até US$ 2,8 bi’) e deixou de perguntar se existe ou não uma outra bacia de petróleo sob a Bacia de Campos e, caso exista, se é viável sua exploração. O ‘Estado’ noticiou isso na semana passada, o ‘Globo’ repercutiu no dia seguinte. Como até agora a Folha não tratou do assunto, devo supor que a notícia do ‘Estado’ não era verdadeira.
Glossário
São tantos os acordos em curso, tantos os fóruns de discussão entre os países, tantos os organismos reguladores que os leitores não iniciados mereciam uma espécie de glossário para acompanhar a reunião da Unctad. Hoje, por exemplo, encontramos Rodada Doha (Doha está em título, na Edição Nacional, como se fosse o termo mais comum do mundo), NG5, Sul-Sul, G20 e por aí vai.
Repetição
A nota ‘Política monetária’, na seção Diplomáticas (Dinheiro, B6) repete piada que já tinha saído ontem em quase todos os jornais.
Acabamento
A reportagem de Ribeirão Preto sobre mudanças de delegados (‘Suposta relação de policiais com o crime provoca troca de delegados’), na página A3 da Edição Nacional, termina de forma abrupta, com uma palavra cortada ao meio e a frase incompleta.
Ônibus
A reportagem ‘Ônibus do Maranhão tomba em SP e fere 25’ (pág. C3 da Edição SP e C4 da Nacional) não explica o que um ônibus vindo do Maranhão com destino ao Rio estava fazendo em Cajamar. Como mostra o mapa da Ed. SP, o desvio aparentemente não faz sentido.
Parati
Uma pergunta que faço à Ilustrada: faz sentido dar o alto de página ímpar para uma entrevista com um autor com dois livros, pouco conhecido, que só estará no Brasil em julho em um festival que no ano passado foi super restrito? A sua editora é a organizadora do festival, como ele mesmo informa na entrevista. Sem entrar no mérito literário do escritor, não parece meio exagerado e excessivamente promocional?
Erramos
O conserto rápido de um erro, principalmente erro de prestação de serviço, uma demonstração de respeito ao leitor. E não é comum no jornal, que leva dias, às vezes semanas, para editar um Erramos. Agiram bem, portanto, Turismo, na edição de hoje, e Informática, na semana passada, ao informarem já no dia seguinte que tinham dado informações erradas.’