Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Crítica interna

"28/03/2005


"Os grandes jornais destacam, nas capas desta SEGUNDA, as imagens do sofrimento do papa no Domingo de Páscoa e a comemoração do único gol do Brasil no jogo de ontem com o Peru.


A Folha tem um bloco grande de notícias da Amazônia: ‘Acusado de mandar matar freira no Pará se entrega’ (manchete), ‘Ministro ofereceu como garantia a empréstimo 7 fazendas inexistentes’ e ‘Madeireiras abrem estradas e se espalham na Amazônia’.


As outras manchetes de hoje:


‘Estado’ – ‘Brasil perto de ultrapassar a meta de inflação de 5,1%’ e ‘Novo ministro vai atacar grandes devedores do INSS’.


‘Globo’ – ‘Erro contábil tira R$ 3,3 bi do ensino fundamental’.


Os diários econômicos têm destaques críticos em relação à economia: ‘Um ano depois, a política industrial ainda engatinha’ (‘Valor’) e ‘A economia entra em descompasso no 1º trimestre’ (‘Gazeta Mercantil’).


As manchetes de DOMINGO:


Folha – ‘Casamento dá emprego na Câmara’.


‘Estado’ – ‘Financiamento de veículos é recorde’.


‘Globo’ – ‘Cesar tem R$ 1,5 bi em caixa mas não paga R$ 200 milhões’.


‘Veja’ – ‘Democracia no mundo árabe’.


‘Época’ – ‘A força dos santos’.


‘IstoÉ’ – ‘Como administrar melhor o seu tempo’.


‘Carta Capital’ – ‘A vulgaridade em alta’.


Dinheiro público


O jornal cumpre seu papel ao mostrar a participação do novo ministro da Previdência, Romero Jucá, nas operações com o Banco da Amazônia. O que questiono é o fato de o jornal não ter publicado a reportagem antes da nomeação. A indicação do ministro já estava em pauta há muito tempo e o jornal deveria ter apresentado todos os problemas dele (e dos outros nomes aventados durante a longa novela da reforma ministerial frustrada) antes da nomeação. Essa perda do tempo certo já tinha acontecido com as candidaturas para a presidência da Câmara. A impressão que fica é que o jornal só investiga os personagens públicos depois que são nomeados, quando deveria ser antes. De qualquer modo, antes tarde do que nunca.


Este caso Frangonorte, que envolve o ministro Romero Jucá, aparentemente não tem nada a ver com o outro caso Frango Norte que o jornal vinha cobrindo desde 2000. Mas a coincidência de nomes pedia uma nota esclarecedora do jornal. A primeira impressão que tive foi a de que se tratava do mesmo caso.


Segundo a reportagem ‘Jucá toma crédito, não paga e garantia é falsa’ e a entrevista ‘Suposto dono das fazendas afirma que deve ser um erro do cartório’ (págs. A5 e A6 de ‘Brasil’), duas fazendas empenhadas foram vendidas para a empresa que controla o jornal ‘O Povo’, de Fortaleza, e para a Carbomil, também no Ceará. Não seria o caso de se ouvir estas empresas para saber se as transações ocorreram de fato e esclarecer um pouco mais a história?


Sereno ou irritado?


A Folha traz um texto interessante sobre a difusão das fotos de ontem do papa no Vaticano. Segundo o texto, alguns jornais optaram pelas fotos em que o papa aparece de frente e aparenta sofrimento; outros preferiram as fotos feitas por trás, em que ele aparece dando a bênção. Mas o texto não explica o título: ‘Imagem do papa entra em disputa – Mídia prefere cenas dramáticas de aparição, apesar do Vaticano’ (pág. A9). Por que ‘apesar do Vaticano’? Houve pressão para que as fotos de frente não fossem divulgadas? E por que ‘disputa’? Os jornais que vi hoje dão fotos das duas séries.


Acho que ficou faltando uma explicação.


Saúde na UTI


A arte ‘A saúde: Rio x São Paulo’ (pág. C4) informa que o número de leitos SUS por habitantes é de 2,8 no Rio e de 1,7 em São Paulo. Estes números estão corretos?


‘Jornal dos Sports’


Vieram rosas as páginas E2 e E5 da Edição Nacional que recebi. Ficou impossível a leitura dos títulos das notas da coluna ‘Mônica Bergamo’.


Também são rosas as páginas 2, 5, 8 e 11 do ‘Folhateen’.


DOMINGO


Achei bem apurado o levantamento que sustenta a manchete da Folha no domingo, ‘Casamento dá emprego na Câmara’. Acho, no entanto, que um caso merecia uma correção no ‘Erramos’: segundo registro no jornal hoje, segunda, a mulher do deputado Jutahy Junior trabalha na Câmara porque fez concurso público. Não pode, portanto, estar na lista dos cônjuges contratados ‘sem concurso público’, conforme o critério elegido pela reportagem.


O ‘Globo’ atualiza o caso Pimenta Neves, o jornalista que matou a jornalista Sandra Gomide em 2000: ‘Pimenta Neves ainda longe do banco dos réus’.


22/03/2005


O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, deixou ontem o presidente Lula em situação difícil e esta é a manchete dos três grandes jornais. A Folha alterou a formulação do seu título na Edição São Paulo.


Folha – ‘Severino dá ultimato a Lula por ministério’ (Ed. Nacional) e ‘Severino dá ultimato a Lula, mas depois recua’.


O ‘Estado’ e o ‘Globo’ não registram o recuo – ‘Severino dá ultimato por ministério e irrita Lula’ (‘Estado’) e ‘Severino dá ultimato a Lula e exige nomeação de ministro’ (‘Globo’).


Ficou ruim, na Edição Nacional da Folha, a diagramação das fotos e do texto que tratam das discussões enfrentadas ontem pelo prefeito José Serra. Como as fotos não têm legenda e o texto ‘Sob pressão’ que a elas se refere está no pé da página, sem destaque e espremido, fica difícil entender do que se trata. A solução encontrada na Edição SP melhora a compreensão, mas ainda é muito ruim. Se o jornal publicou a seqüência de fotos, supõe-se que seja para destacar os problemas que o prefeito já enfrenta. Como saiu, o material ficou sem impacto.


‘Erramos’


A Folha informou domingo, na reportagem ‘Após apoiar PT, Trevisan ganha mercado’ (pág. B11 de ‘Dinheiro’), que a empresa de Antoninho Marmo Trevisan tem contratos com o Banco do Brasil. Hoje, o jornal publica duas cartas no ‘Painel do Leitor’ que desmentem a informação e dizem que o jornal confundiu a empresa com uma outra, com nome parecido. Como o jornal não contesta as duas cartas publicadas, entendo que está reconhecendo que cometeu o erro. Deveria, portanto, tê-lo corrigido na seção ‘Erramos’.


Novela ministerial


A Folha continua focando a cobertura da reforma ministerial exclusivamente na novela dos nomes e das pressões. Estaria prestando um serviço ao leitor se informasse, por exemplo, o currículo dos políticos mais cotados para o novo ministério. Quem é Ciro Nogueira, quem é Roseana Sarney, quem é Romero Jucá, quem é Paulo Bernardo? São bons parlamentares, foram bons administradores, entendem do assunto que vão tratar, já foram condenados, respondem a processos ou estão sendo investigados? Da forma como está vamos repetir a cobertura da eleição do deputado Severino Cavalcanti: durante a campanha eleitoral foi ignorado; no dia seguinte os leitores começaram a saber que tinha dado cheques sem fundo, que nomeou quase uma dúzia de parentes, que era conservador e uma infinidade de informações que poderiam e deveriam ter sido reveladas antes da eleição.


Está boa a entrevista com o presidente da Câmara em que mais uma vez ele se revela sem meias palavras (‘Falei num arroubo, diz deputado’, pág. A6 da Edição SP).


Administração


As fotos e o texto sobre o bate-boca do prefeito José Serra com manifestantes ocuparam mais espaço na primeira página da Edição Nacional da Folha do que internamente. Na pág. C4, o texto ‘Durante evento, Serra reclama de assessor e discute com manifestante’ não tem qualquer destaque. Ou errou o jornal ao destinar tanto espaço na primeira página para o caso ou errou a editoria ao dar tão mal o caso internamente.


No ‘Estado’


‘País negocia acordos para emigração’ (capa de ‘Cidades’). Segundo o jornal, o ‘governo quer evitar que brasileiros sejam vítimas das máfias e pretende que consigam empregos antes de deixar o Brasil’.


‘Novo golpe: o do ingresso errado’ (capa de ‘Esportes’). Segundo o jornal, ‘cambistas enganam torcedor com o ingresso família. Vendem, avulsos, bilhetes para acompanhante. O comprador não entra no estádio’.


O ‘Estado’ tem ainda entrevista grande com Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção (‘Não há ninguém como Ronaldo’).


Paulo Coelho


Dois dias depois do festival que tomou conta das revistas semanais, ‘Estado’ e ‘Globo’ destinam as capas de seus cadernos culturais ao novo livro de Paulo Coelho, ‘Zahir’. A Folha ignorou.


O ‘Globo’ tem entrevista com o autor (‘A mágoa do mago’) e o ‘Estado’ apenas o lançamento, com um título batido, ‘Amado por leitores, odiado pela crítica’."