Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica interna

’05/07/2004


Dois dias de (boas) surpresas na capa da Folha. Na sexta, como já havia comentado, com as seqüências de fotos e frases de Saddam Hussein e a manchete para o aborto. E no SÁBADO, com o grande espaço, no alto, destinado à morte do ator Marlon Brando.


A edição de DOMINGO não tem surpresas, mas tem temas bem tratados, como a própria manchete (‘Migração ilegal para os EUA é recorde’) e a foto do garimpeiro (‘Serra vendida’).


O ‘Globo’ tem, mais um domingo, investimento próprio bem feito e bem editado. O jornal buscou um ângulo novo para um tema rotineiro e publicou o caderno ‘Órfãos da violência’ com um levantamento feito pelos repórteres do jornal: ‘Violência deixou 2.895 órfãos no Rio em 2003’.


Manchete do ‘Estado’: ‘Palocci quer fim do orçamento engessado’. As revistas:


‘Isto É’: ‘Os super-remédios’, ‘Máfia dos combustíveis –o esquema no Judiciário’ e ‘Paraguai– A prisão de Oviedo’.


‘Veja’: ‘Por que eles não ficam presos –Nunca se investigou tanto a roubalheira, mas condenar corruptos ainda é coisa rara no Brasil’ e ‘Marlon Brando– A morte de um mito’.


‘Época’: ‘Saúde – A guerra dos planos’ e ‘Impunidade – Como a caça aos corruptos pode ficar mais difícil’.


DOMINGO


Há o que ler


Em Brasil: as histórias dos garimpeiros que ainda estão em Serra Pelada (‘Formigueiro dá lugar a cidade fantasma’, pág. A6), o levantamento dos processos contra Paulo Maluf (‘Maluf é réu em 37 ações e acumula 10 condenações’, e ‘Meninos malufinhos’, pág. A14), os artigos do Janio de Freitas, do Elio Gaspari e do Josias de Souza. É muito boa a história da sindicalista do PT vigiada pela Abin (‘A serviço de Lula, Abin vigia o quintal do PT’, pág. 15) e idem a foto do alto da A4 (‘Crianças caminham pelas ruas de terra da vila do garimpo de Serra Pelada (…)’).


Em Mundo: ‘Brasileiros ilegais nos EUA batem recorde’ (capa do caderno) e as reportagens que seguem nas páginas seguintes formam um bom dossiê de um assunto que não é novo, mas que tem novidades. Senti falta de mais histórias da fronteira. As que temos foram tomadas de longe. Acho que era o tipo de reportagem que exigia a ida do repórter para alguma das cidades do México ou dos Estados Unidos.


O material feito no Brasil, em Brasília e em Goiânia, também está bom, mas não acreditei muito nos números do governo de Goiás (‘Até meio milhão de goianos vivem fora, diz governo’, pág. A19). É aquela história de sempre com os números. Nós sabemos como são feitas algumas ‘estatísticas’. São estimativas (chutes?) que o jornal publica sem questionamento. No mínimo, deveríamos exigir as bases e raciocínios que inspiram estas estimativas. O governo goiano estima, por exemplo, que entre 3.000 e 5.000 goianas estejam trabalhando como prostitutas na Europa, sendo que 70% delas seriam mães solteiras. A diferença entre 3.000 e 5.000 é muito grande. Como chegaram a estes números?


O jornal, em reportagem como estas que tratam de um fenômeno, não precisa ficar tão escravo dos números. É evidente que quanto mais dados precisos sobre o fenômeno, melhor, e é obrigação tentar obtê-los ou fazer um levantamento próprio (como foi o caso do ‘Globo’ com os órfãos da violência no Rio). Mas, se não tem dados confiáveis ou não tem como explicar os números fornecidos, o melhor é tentar explicar o fenômeno de outra forma.


Ainda em Mundo, vale ler ‘Eu odeio Michael Moore’ (pág. A20).


Em Dinheiro: A editoria tenta amarrar o noticiário recente dos enfrentamentos e percalços que o Brasil vem tendo no mercado de exportação (‘Batalha Verde’, capa e páginas seguintes do caderno). Tem o mérito de ajudar a entender o que vem acontecendo a partir da reconstituição dos casos e das análises de especialistas. Mas notícia mesmo, informação nova, apenas na página B4, ‘Defesa sanitária tem verba inferior à de 2000’.


Mas, se um dos problemas do lado do Brasil é a precariedade da fiscalização sanitária, não caberia uma reportagem sobre o assunto? Não era o caso de mostrar na prática o que o jornal entende por ‘reforço da área sanitária’? Os nossos textos estão todos baseados em números e análises.


Detalhe: Como estão editadas, as artes com indicadores das aplicações da semana (pág. B6) parecem ser referentes ao texto ‘Brasil tem 27 milhões sem proteção do INSS’. Seria necessário algum recurso na diagramação para distinguir as duas informações.


Em Cotidiano: É interessante o material sobre o estudo que mostra que status ajuda a prolongar a vida, capa do caderno, mas tem o pecado de sempre: tese para um lado, entrevista com o autor para o outro e reportagem (‘Velhinhos da Academia reforçam a tese’) separada.


Na Ilustrada:Destaque para ‘Apenas uma mulher’, um dia com Sylvia Maluf (‘Mônica Bergamo’, E2); e ‘Bicheiro paquera em bate-papo televisivo’ (capa).


Classificados – Achei que faria mais sentido a capa de Imóveis 1 (‘Hotéis baixam preço para subir ocupação’) em Dinheiro. Imaginei que fosse uma reportagem com serviços para quem busca investir neste mercado de hotéis ou flats, mas era um levantamento do mercado das grandes cadeias e suas previsões de novos investimentos. Todas as outras reportagens de capas dos cadernos com classificados têm a preocupação com serviço.


É para iniciados a chamada, na primeira página do jornal, sem referência ao caderno a que pretende remeter: ‘Dúvida – Clélia possui bicombustível, mas não junta álcool com gasolina; mistura gera receio’.


SÁBADO


O ‘Globo’ atualiza um grande caso da Folha: o senador Marcelo Crivella, candidato a prefeito do Rio pelo PL, será ouvido pela PF por evasão de divisas e sonegação fiscal. Ele é um dos dirigentes da Igreja Universal que estão sendo investigados no processo aberto a partir de reportagens da Folha sobre a compra da Record.


Achei que já tinha sido erradicado do jornal o termo colônia para designar uma comunidade de estrangeiros, conforme orienta o ‘Manual’ (pág. 68). Mas está lá, no Contra-Ataque do ‘Painel F C’, em ‘Piada de Português’ (pág. D2): ‘A boa campanha de Portugal na Eurocopa tem sido comemorada pela colônia lusitana’.


SEGUNDA


A foto de Felipão consolando o jogador de Portugal depois da derrota para a Grécia é muito boa; pena que tenha sido usada pela Folha e pelo ‘Estado’ , e na mesma posição na capa. Os jornais ficaram iguais, embora as manchetes sejam diferentes.


Não está assinada, na Edição Nacional, a Entrevista de 2ª, ‘Bush no divã’ (pág. A12). A entrevista é o contraponto de outro estudo, igualmente polêmico, que analisava psicologicamente líderes mundiais, mas poupava os dos EUA: ‘Saddam no divã’, publicada em 7 de junho.


02/07/2004


Saddam Hussein, eis o homem. A Folha se redime da edição de ontem, em que omitiu a frase histórica do ex-ditador ao se apresentar ao tribunal iraquiano (‘Sou Saddam Hussein al-Majil, presidente da República do Iraque’), com uma seqüência de fotos e frases do julgamento no alto de sua capa.


‘STF libera aborto de feto sem cérebro’, a manchete, dá visibilidade para um assunto complexo, que emociona e divide a sociedade. E o jornal conseguiu escapar, pela primeira vez na semana, das notícias e dos índices econômicos que têm lugar cativo na metade superior da sua primeira página. Ainda tem Suplicy apaixonado, os anéis de Saturno e Maria Sharapova.


O ‘Estado’ tem Saddam e muita economia: recorde de carga tributária, recorde de exportações, reajuste de tarifas de telefone e de luz. O ‘Globo’ abre, com um caderno especial sobre os candidatos do Rio, a temporada de cobertura eleitoral e dá destaque para o debate de ontem entre os cinco primeiros colocados (‘Promessas inviáveis –Muitas propostas, poucas verbas’). O jornal do Rio tem agenda própria e, pela segunda vez esta semana, dá manchete para o Estatuto do Desarmamento.


‘Globo’ e ‘Estado’ dão o mesmo título para o noticiário sobre Saddam: ‘Bush é o verdadeiro criminoso’.


Manchetes dos jornais econômicos: ‘Exportação pode garantir avanço de 4% do PIB’ (‘Gazeta Mercantil’) e ‘Decisão do STJ pode elevar os juros do crédito pessoal’ (‘Valor’). Em economia, pode tudo.


Eleições


O ‘Globo’ começou bem sua cobertura eleitoral com um noticiário crítico do debate de ontem na TV Globo e com um caderno especial com perfis e as primeiras promessas dos principais candidatos. Com quase quatro páginas, foi o jornal que deu mais espaço para as notícias de ontem. É um indicador de que deve investir na cobertura.


A informação da nota ‘Volta a fita’, do Painel (A4), já estava no noticiário de ontem do jornal. Dizia que a cúpula do PMDB assistiu a fita antes de anunciar o apoio à Erundina.


‘Candidatos atacam governo Lula no Rio’, o título da cobertura do debate na Globo de ontem (pág. A11 da Edição Nacional e A6 da Edição SP), não bate com a nota ‘Fora do alvo’, do Painel, que diz que Lula foi ‘relativamente poupado’, exceto pelos ataques da candidata do PC do B. O relato diz que Lula foi tão atacado quanto o prefeito Cesar Maia. Eu não vi o debate, mas o relato do ‘Estado’ coincide com o Painel.


São pobres e, por isso, desnecessários os relatos dos debates em Recife, Fortaleza e Santos. O de Porto Alegre ainda passa uma vaga idéia do que possa ter acontecido. Com tão pouco espaço para cada texto, os repórteres poderiam ter sido orientados a não repetir as informações que já constam da arte.


Em ‘Serra prevê gastar o triplo do que Maluf na campanha’ (Brasil A4), o jornal informa que Maluf estima gastar R$ 5 milhões. Mônica Bergamo informa, na nota ‘Gastos malufistas’ (Ilustrada E2), que o ex-prefeito calcula que gastará cerca de R$ 7 milhões. É uma boa diferença.


Saddam


A íntegra do depoimento de Saddam Hussein no tribunal é um dos bons momentos do jornal de hoje. Nenhum relato substitui a força do embate travado entre o ex-ditador prisioneiro e o juiz do novo regime.


A edição falha, no entanto, quando não deixa claro em que momento Saddam pronunciou várias frases de efeito destacadas pelo jornal e que não constam da íntegra do seu depoimento. Quando foram ditas? Antes da abertura dos trabalhos? Durante o depoimento, e foram cortadas da versão oficial distribuída? Quando deixava o tribunal?


Não posso crer que o relato da jornalista Christiane Amanpour, da CNN, publicado pelo ‘Estado’, seja o resultado jornalístico do que ela assistiu durante o depoimento de Saddam. É um relato autocentrado, sem informações relevantes, um desperdício.


Saturno


Não ficou claro para mim o que é o fenômeno das ‘ondas de densidade’ percebido nos anéis de Saturno (‘Cassini revela ondas nos anéis de Saturno’, Ciência, A16).


Justiça


Freqüentemente o fato é deformado de forma irreversível, mas imagino que, diferentemente do que está no trecho da decisão do ministro Marco Aurélio de Mello que o jornal publica (capa de Cotidiano da Edição SP), o juiz se referia a uma ‘deformação irreversível do feto’.


Na Edição Nacional, a primeira página informa que a CNBB não comentou a decisão do STF liberando o aborto em caso de anencefalia. Na verdade, presumo, a sua direção não havia sido encontrada. Tanto que quando foi localizado, o presidente da entidade, como era de se esperar, criticou a liminar. Teria sido mais prudente não ter mencionado a CNBB na primeira página. Como está, ficou parecendo que ela estava se omitindo sobre um caso que, desde o início, tem se manifestado contra. D. Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador, é cardeal e é assim que deve ser identificado.


Armas


Na cópia que recebi da Edição SP, a primeira página remete o noticiário sobre a regulamentação do Estatuto do Desarmamento para a página C4 de Cotidiano, mas a reportagem está na página C3.


Cinema


Registro: o ‘Estado’ também enviou repórter para Los Angeles a convite da distribuidora do ‘Homem-Aranha’. E deu, um dia depois da Folha, a capa do seu Caderno 2 para o filme. A agenda é a mesma, com dias trocados.


01/07/2004


A primeira página da Folha de hoje tem dois grandes destaques. O maior é o bloco de notícias econômicas: balanço das aplicações financeiras do semestre, elevação dos juros nos EUA, redução da margem de inflação no Brasil em 2006 e crescimento das vendas na indústria e no comércio de SP.


O outro conjunto é o de notícias das eleições, principalmente em SP. Saddam, futebol (Portugal e Santo André) e homem-aranha completam o cardápio.


O ‘Estado’ dá manchete para a subida dos juros nos EUA e para a eleição em SP: ‘Aprovação do governo Marta cai 14 pontos’. De que instituto? Quando foi feita? A notícia na capa do jornal não informa. Destaque também para o balanço dos dez anos do Plano Real (a Folha e o ‘Globo’ já tinham feito). O ‘Globo’ tem dois grandes assuntos: futebol (‘Noite de vergonha do Fla no Maracanã’ e ‘Um dia que Felipão não esquecerá’) e economia (metas de inflação para o Brasil e juros nos EUA).


Inflação no Brasil e juros nos EUA também são as manchetes dos jornais de economia.


Nos jornais de banca do Rio, o lamento pela derrota do Flamengo: ‘Elvis não morreu e matou o Flamengo’ (‘O Dia’) e ‘Fla virou POEIRA’ (‘Extra’)


Eleições


Achei bom o conjunto sobre eleições municipais publicado pela Folha hoje. O dia de ontem justificava o tamanho da cobertura.


Não entendi, no entanto, porque o jornal não publicou, na sua Edição Nacional, pelo menos um resumo da pesquisa do Datafolha sobre a visão que os eleitores paulistanos têm de seus candidatos (págs. A6 e A7 da Edição SP). É uma pesquisa importante, rara e que, acredito, tem interesse fora de SP. É mais importante, por exemplo, do que a notícia de um pacto de partidos com o TER de SP para não sujar a cidade.


Na pesquisa que traça o perfil do candidato ideal para os paulistanos (pág. A6 da Edição SP), me pareceu confusa a explicação contida na arte (‘As marcas de cada candidato’) sobre que virtudes os eleitores consideram importantes nos candidatos na hora do voto. O texto também não deixa claro porque o Datafolha mediu a importância das virtudes e não fez o mesmo com os indicadores negativos.


Oportuna a reportagem que mostra como várias câmaras municipais gastam dinheiro público em ampliação de prédios. Pena que caiu na Edição SP.


Saddam


‘Sou Saddam Hussein al-Majil, presidente da República do Iraque.’ Esta é a frase que ficará para a história do início, ontem, do julgamento do ex-ditador. A Folha não deu.


Pró-mídia


O ‘Estado’ informa que a Comissão de Educação do Senado deve encaminhar proposta ao BNDES pedindo ao banco que aumente o valor dos recursos que pretende colocar à disposição do setor de comunicações para empréstimos. É pressão sobre o BNDES e o jornal deve acompanhar.


Aspas


Do professor Pasquale, na sua coluna de hoje (‘Para que servem as aspas?’, pág. C2 de Cotidiano):


‘ (…) na última segunda-feira, o caderno Esporte da Folha trouxe o seguinte título: ‘Verde carimba os amarelos’. Para quem não acompanha o futebol, lá vai a explicação dos fatos: revoltada com as últimas derrotas do São Paulo (sobretudo com a eliminação da equipe na Taça Libertadores), a torcida pó-de-arroz tachou (com cantos, faixas, gritos etc.) de ‘amarelo’ (ou seja, de covarde) o time do Morumbi.


Até aí, tudo bem. A torcida dá a seus jogadores os atributos que bem entender (desde que se atenda a normas mínimas de civilização, é claro). O centro da questão não está no uso da palavra ‘amarelos’, mas no fato de ela ter sido publicada pelo jornal sem aspas. O resultado disso é simples: o jornal ‘comprou’ o atributo que os torcedores deram aos craques.


É bom deixar claro que não me interessa julgar o procedimento dos redatores do referido título. Meu papel é explicar aos leitores que, sem as aspas, os redatores, consciente ou inconscientemente, encampam a tese do amarelecimento. O julgamento do procedimento dos redatores é seu, leitor’.


Pesquisas


Na Folha (Cotidiano), Datafolha de 24 e 25 de junho: ‘Ação social alavanca aprovação de Marta’.


No ‘Estado’ (Cidades), InformEstado/Instituto GPP de 26 e 27 de junho: ‘Ap rovação da gestão Marta cai 14 pontos’.


Não são só os títulos que se chocam. A pesquisa do Datafolha, publicada no domingo, mostrou números diferentes em ótimo/bom e ruim/péssimo.


Cinema


As capas dos cadernos de cultura da Folha e do ‘Estado’ são sobre novos filmes.


A Folha viajou para Los Angeles a convite da Columbia Pictures para fazer o lançamento do ‘Homem-Aranha 2’, produção de cerca de UR$ 200 milhões.


O ‘Estado’ foi para Apucarana, no Paraná, para fazer uma reportagem sobre ‘A Bruxa do Cemitério’, produção local que custou cerca de R$ 1 mil e que, segundo a reportagem, está lotando os cinemas onde é exibido, no norte do Paraná.


As duas estão muito boas. A diferença está nas agendas dos dois jornais.


30/06/2004


Poucas notícias, manchetes variadas. Nenhuma emocionante.


Folha e ‘JB’ optam pelo corte de vagas para vereadores no ano que vem.


Estão certos. O assunto vinha rolando e a expectativa era de que, mais uma vez, os políticos votariam de forma corporativa. Teria sido mais um escândalo. ‘O Globo’ informa que ‘Lula determina a ministros pressa para lei das armas’. Segundo o ‘Estado’, ‘Investimento e poupança crescem no país’. Os jornais de banca destacam aumentos de tarifas ou tabela do 13º salário para funcionários públicos (jornais do Rio). E os regionais, assuntos locais.


Faltou notícia e faltou foto. Só assim se justifica o retrato do ex-general Lino Oviedo na capa do jornal. Bastava a informação de sua chegada ao Paraguai e prisão. Em compensação, o bloco ‘Mulheres’ está bem editado. Em dia sem grandes fotos, ‘Globo’ e ‘Estado’ preferiram as modelos que continuam a maratona de desfiles.


Política


Pouca notícia, papel de sobra. É a sensação que passa a edição de hoje de Brasil.


A reportagem sobre a CPI do Banestado (‘Petista não vê motivos para que CPI convoque Maluf’, pág. A4 da Edição Nacional e pág. A10 da Edição SP) é um exemplo. É muito espaço (praticamente uma página) para pouca notícia. O PT acha que não há elementos para a convocação do ex-prefeito, o PSDB acha que sim e a CPI ainda não decidiu. Concordo que é mais uma incoerência do PT, mas o caso se resolvia com um texto menor. O texto principal, a arte e a sub (‘Papéis enviados pela Suíça mostram contas em nome da família Maluf’) praticamente repetem as mesmas memórias do caso. E na Edição Nacional estão editadas duas fotos praticamente iguais com uma legenda que não corresponde à tranqüilidade dos dois fotografados: ‘O deputado José Mentor discute com o senador Antero Paes de Barros durante reunião da CPI’.


Fiquei com a impressão que o jornal queria criticar a decisão da CPI de não convocar Maluf, não o fez e achou que dando muito espaço para o caso isto estaria explícito.


Com espaço de sobra, Brasil pode abrir fotos e caprichar nas artes. Ainda assim, uma boa revisão em quase todas as matérias mostraria que bons cortes não fariam mal.


O ‘Estado’ aproveita melhor a pesquisa CNI/Ibope e faz uma comparação com as pesquisas publicadas em 96, quando o governo FHC tinha o mesmo tempo de mandato que Lula.


O ‘Estado’ também trabalha melhor o noticiário sobre a liberação de verbas do governo federal para Estados e municípios em período eleitoral, o que contraria a Lei Eleitoral. O ‘Estado’ não apenas registra o fato como já mostra a reação da oposição (PFL recorre à Justiça), a origem da decisão do governo (‘Consulta veio do Ministério das Cidades’) e a repercussão no TSE. A Folha, que tinha espaço sobrando, deu o assunto mal nas duas edições.


Paraguai


Está bem feito o material sobre a volta do golpista Oviedo ao Paraguai. O ‘Globo’ também enviou um repórter, mas a cobertura da Folha está mais completa e não se limitou à descrição da viagem e prisão. Tem memória, análise e um bom comentário sobre a ‘carnavalização’ da nossa política latino-americana.


Política de segurança


Nenhuma medida de segurança anunciada pela Secretaria de Segurança do Rio deveria ser noticiada sem a devida memória crítica. A cada problema antigo não resolvido, a secretaria anuncia um novo procedimento e não presta conta da política anterior. É o caso da manchete da capa de Cotidiano da Edição Nacional, ‘Garotinho restringe ação policial em morros’ (pág. C8 da Ed. SP). Uma rápida pesquisa mostraria que, em relação a este mesmo problema (violência policial nos morros X repressão ao tráfico), o governo já mudou de política n vezes, conforme o momento. E os jornais noticiam sempre como se fosse um problema novo.


Portugal e Holanda


Tudo bem que o jornal adore números e comparações. Mas a apresentação de hoje do jogo de Portugal contra a Holanda pela Eurocopa (capa de Esporte) é um exagero. Chega ao ponto de calcular a posição média dos adversários do Brasil na Copa de 2002 no ranking da Fifa e compará-la com a posição média, no mesmo ranking , dos adversários de Portugal na Eurocopa. Como se posição média de ranking pudesse indicar qualquer coisa em futebol.


Pagu


Boa história, bom aproveitamento.


Política cultural


Pela reportagem que li, achei exagerado dizer que já existe uma polêmica em torno da proposta de fundir três museus de São Paulo. O texto da Folha (‘Proposta de união de museus causa discórdia’, pág. E3 de Ilustrada) mostra um diretor de museu contrário, uma outra indefinida e um conselheiro curatorial também contrário. Não entendi porque, com a saída de Milú Villela da presidência do MAM, a sugestão de fusão ganha contornos ‘delicados’. Deve ter uma história por trás disso que quem é da área conhece, mas o leitor não necessariamente.


O que importa é saber se a proposta é viável ou não, se vai ser bom para os paulistanos e visitantes ou não, se melhora ou piora o acervo cultural da cidade. Como a discussão está colocada, só interessa às direções dos museus.


Por fim, a ilustração é um calhau. A discussão é sobre a fusão de três museus e a foto mostra uma peça que já esteve em exposição em uma mostra que já acabou em um dos museus citados.


28/06/2004


Pesquisa eleitoral do Datafolha em São Paulo e um balanço dos dez anos do real são os destaques da Folha no DOMINGO. ‘O Globo’ também investe no balanço do real. A Folha avalia que o Plano Real bateu a inflação, ‘mas não a injustiça’; o ‘Globo’ acha que ‘crescer ainda é o desafio’.


O ‘Estado’ veio com denúncias fortes de corrupção: ‘Máfia dos combustíveis frauda, corrompe e faz ameaças de morte’ (é a manchete, baseada em gravações telefônicas); ‘Golpe com viagens no Itamaraty pode passar de R$ 100 milhões’ (é a submanchete, investigação da Polícia Federal).


Se a principal notícia é a que mais mexe com a vida (e o bolso) dos leitores, não vi notícia mais importante neste domingo do que o artigo que abre a coluna do Elio Gaspari na Folha e na rede de jornais que a publica:


‘O trabalhador vai pagar o impoto da sobrevida’. Segundo Gaspari, o governo federal elevou a expectativa de vida do brasileiro (com base nos dados do IBGE) e, com isso, o INSS mudou os prazos de aposentadorias.


Significa dizer mais tempo de trabalho para se aposentar e aposentadorias menores. ‘Criou-se um tributo sobre a esperança de viver’, resume. É uma notícia que diz respeito a todos os trabalhadores, de qualquer nível.


Deveria ter sido pelo menos repercutida nas edições de segunda-feira dos jornais que publicam a coluna. Não encontrei nada.


DOMINGO


Investimentos


O jornal de domingo está bem de colunas, artigos, pesquisas, estudos e balanços. Está pobre de reportagens e histórias.


Há uma boa e solitária reportagem, em Mundo, na página A22: ‘Clandestino’, o relato de uma jornalista brasileira entre brasileiros em situação ilegal que buscam trabalho no Reino Unido. É um relato pessoal, detalhado, que prende do começo ao fim.


Há várias reportagens que poderiam ter rendido mais, seja no texto, seja na apuração. Um exemplo é ‘Jornalista-babá faz boleiro surgir e sumir’, em Esportes, pág. D6. É uma pauta bem escolhida. O assunto é novo, mal explorado, um tabu entre os jornalistas porque não trata apenas de negócios e imagem, mas de ética. Com tantos personagens e casos à disposição, a reportagem poderia ter fugido do tom relatorial e declaratório para construir histórias que fariam o texto mais fácil e mais contundente. De qualquer modo, é um grande assunto. A história do repórter da rádio Nove de Julho que cobre o Palmeiras e assessora sete jogadores do clube é um escândalo.


A capa de Cotidiano (‘SP cresce 6 vezes mais em fronteira urbana’) é uma boa tentativa de dar vida a um estudo frio. A abertura foge dos números (o título não consegue), leva o leitor para a periferia da cidade, mas a edição depois se rende ao nosso modelo de ‘reportagem’: números de um lado, opiniões e análises (‘Para ministério, é preciso gerir metrópole’) do outro, e ambiente e personagens separados (‘Nem Céu tem endereço próprio para correspondência’).


Brizola


A morte de Leonel Brizola foi o assunto mais comentado pelos leitores na semana passada, segundo levantamento do Painel do Leitor publicado no domingo (A3). Nem assim a Folha se dispôs a fazer um editorial (a favor, contra ou muito pelo contrário) sobre a obra política do velho caudilho.


Pesquisa eleitoral


Como a Folha não fará pesquisas eleitorais com o Datafolha fora da capital paulista, é natural que as notícias sobre a situação de outras capitais busquem pesquisas com outros institutos. Mas a apresentação da metodologia da pesquisa utilizada deveria ser regra para todos os casos.


A análise da eleição no Rio (‘Disputa no Rio envolve Jogos Pan-Americanos e evangélicos’, pág. A8) está toda baseada em pesquisa do Instituto Sensus. Mas o texto não diz quando foi feita (‘mais recente’ pode ter sido feita no ano passado), quantos eleitores foram entrevistados e não informa sobre a margem de erro, fundamental para qualquer avaliação.


O texto da Agência Folha sobre a capital cearense (‘Fortaleza vê fim de aliança e disputa petista’) é menor, mas contém todas estas informações.


SÁBADO


Relatório da ONU


Manchetes no ‘Globo’ e no ‘JB’, o relatório da ONU sobre drogas no Brasil e em onze outros países não saiu na Edição Nacional da Folha e virou uma panorâmica na Edição SP (Cotidiano, pág. C 11). Depois de dois casos recentes de estudos estatísticos polêmicos sobre o Brasil (trabalho infantil doméstico e tráfico humano), os jornais deveriam ler este relatório das drogas com cautela e desconfiança.


O ‘Estado’ fez isso e fez bem feito. Nem supervalorizou o estudo (como o ‘Globo’ e o ‘JB’) nem o ignorou (como a Folha). Comparou os dados da ONU com estudo anterior e fez uma notícia crítica: ‘ONU corrige ranking do País em entorpecentes’. Segundo o texto, o Brasil já havia sido rotulado em outro estudo como o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, depois dos EUA. Este novo estudo mostra que é o que tem o menor consumo, junto com o México, entre os doze países estudados.


Agricultura


‘O Globo’ diz, com todas as letras, que é ‘delicada’ a situação do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Ele estaria sendo criticado pelo setor privado, pelo Itamaraty e pelo próprio Planalto por não ser ágil nos contenciosos que o Brasil está tendo no comércio exterior por conta da soja e, agora, da carne. O noticiário da Folha fala em problema de comunicação (‘Ministério se precipita sobre fim de embargo’, capa de Dinheiro). Pelo que se pode entender do ‘Globo’, é mais do que isso.


Aviso


Amanhã estarei em SP para almoço na Folha e não farei a Crítica Interna.’