’03/09/2004
A ação de terroristas na Ossétia do Norte e os novos desdobramentos do caso Banestado, a mãe de todas as investigações, são os assuntos comuns aos grandes jornais no alto de suas capas.
A Folha registra com destaque, na sua Edição SP, o sétimo assassinato de morador de rua. O ‘Estado’ faz apenas um registro, no pé da capa: ‘Outro mendigo é assassinado no centro’.
As manchetes e principais chamadas:
Folha: ‘Terroristas libertam 26 reféns na Rússia e mantêm tensão’ e ‘Outro morador de rua é morto em SP’;
‘Estado’: ‘Força-tarefa acusa 137 políticos por evasão e fraude via Banestado’, ‘Lula cobra de bancos mais apoio à produção’ e ‘Terroristas libertam 26 mulheres e bebês’;
‘Globo’: ‘Lula manda banco oficial apressar crédito’, ‘Seqüestradores libertam 26 em escola na Rússia’ e ‘Investigação aponta 548 em evasão de US$ 24 bi’.
A Folha destaca ainda que ‘Procuradores acusam José Alencar [o vice-presidente] de fraude em MG’ e que ‘MP já dificulta acesso a dados de Meirelles [presidente do BC]’.
Nos jornais de banca do Rio:
‘O Dia’: ‘Tragédia no mundo da moda — Estilista das estrelas enforcado no Arpoador’;
‘Extra’: ‘Estilista das estrelas da TV e da alta sociedade tem morte misteriosa em apartamento de luxo no Arpoador’.
Eleições
A cobertura da eleição para a Prefeitura do Rio foi reduzida, na edição de hoje, a uma série de gracinhas (já sem graça) do prefeito Cesar Maia em relação a seus adversários (‘Maia analisa propaganda na TV e debocha de adversários no Rio’, pág. A10).
Não vi notícia. A eleição no Rio não pode estar tão ruim e desimportante que chegue a este ponto. Não me admira Cesar Maia passar o tempo com brincadeirinhas. O que me espanta é o jornal ainda considerá-las notícia e seus adversários ainda estarem dispostos a respondê-las. No caso de Maia e dos outros candidatos, é falta do que fazer.
Diamantes
O ‘Estado’ informa que já está pronto o texto de um decreto que proíbe a extração de diamantes na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia. É a reserva onde ocorreram os assassinatos de garimpeiros em abril.
Pacto
A proposta do pacto para o desenvolvimento da economia merece continuar a ser explorado. Senti falta de alguma avaliação em on ou em off do Ministério da Fazenda e do BC.
Acho impróprio usar a expressão ‘Frente Ampla’ para o pacto. Normalmente ela é usada para frentes eleitorais ou políticas e, no Brasil, remete ao movimento de 66, que juntou Lacerda, Goulart e Juscelino contra o regime militar.
O fato de o jornal trabalhar bem uma informação exclusiva — no caso, o pacto econômico — não significa que deva tratar mal notícias do dia igualmente importantes. O encontro de Lula com os dirigentes dos principais bancos federais, manchete do ‘Globo’ e capa dos cadernos de economia do ‘Estado’ e do ‘Globo’, merecia mais do que um simples registro, como fez a Folha (‘Presidente pede mais agilidade para recursos’ , pág. B4).
O jornal considerou mais importante outra frase de efeito do presidente do BNDES do que o resultado da reunião dos bancos com Lula.
Gostaria de entender os critérios jornalísticos que levaram a editoria a editar tão mal, na minha avaliação, a reunião.
Massacre no centro
O jornal tem hoje uma boa cobertura sobre os moradores de rua (ou pessoas em abandono, como sugere Bárbara Gancia).
Um detalhe: a discussão sobre as propostas dos candidatos ficou mal editada na Edição Nacional (‘Propostas de candidatos são criticadas’, pág. C3). Sem uma arte que relacionasse as propostas de cada candidato, a edição ficou pesada, e a apresentação das propostas e das críticas não seguiram um padrão.
Estilista
Diz o relato da Folha, a respeito da morte do estilista Amaury Veras (pág. C4 da Edição Nacional e C7 da Edição SP): ‘Ao acordar, Frankie viu o corpo do sócio na cama’. Será isso mesmo? Não estaria faltando um ‘não’? Porque o corpo foi encontrado em outro local, pelo que entendi. 02/09/2004As manchetes dos principais jornais sobre a ação terrorista na Rússia estão muito parecidas: ‘Terror faz crianças reféns em escola russa’ (Folha), ‘Crianças russas reféns do terror’ (‘Estado’) e ‘Terror faz crianças reféns na Rússia’ (‘Globo’).
‘Estado’ e ‘Globo’ dividiram o alto de suas capas entre o noticiário sobre a Rússia e um segundo assunto:
‘Estado’: ‘Lula quer a criação do Tribunal Agrário’;
‘Globo’: ‘BNDES oferecerá empréstimo especial a quem criar emprego’.
As fotos são da Rússia e dos atletas olímpicos que retornam.
Gato e rato
A primeira carta do ‘Painel do Leitor’ (A3) cita um pensamento do dirigente chinês Deng Xiaoping. Mas a ilustração parece ser de Mao Tse-tung.
Verde-amarelo
O jornal deveria ter explorado melhor a informação exclusiva que trouxe hoje na reportagem ‘Governo convida empresas para empreitada patriótica’ (pág. A4 da Edição Nacional e A13 da Edição SP).
O box (‘Um país que vai pra frente –Regime militar promoveu campanhas ufanistas’) é óbvio demais como material de apoio.
Embora a campanha do governo petista remeta imediatamente para as iniciativas da ditadura militar, o assunto é mais complexo do que a Folha apresenta. O jornal poderia ter ouvido alguns especialistas na nossa história contemporânea, como historiadores, antropólogos e/ou comunicadores, que poderiam analisar a iniciativa. Quase todos os governos tentaram campanhas semelhantes. Por que não dão certo?
Eleições
Acho que há um erro no texto sobre a pesquisa do Datafolha editada na pág. A7 (‘PT visita 20% dos eleitores em São Paulo’). O texto diz que 16% dos moradores da zona norte receberam visitas de militantes petistas. Na arte está que foram 21%.
Fogo cruzado
Ao dividir o noticiário sobre a participação do ministro José Dirceu ontem na CNI, editando parte em ‘Brasil’ (‘Dirceu diz que PSDB não tem ‘moral’) e parte em ‘Dinheiro’ (‘Dirceu pressiona por aprovação das PPPs’), a Folha tirou a força da cobertura. As palavras do ministro ficaram dispersas, assim como as reações das oposições.
‘Globo’, ‘Estado’, e mesmo o ‘Valor’, deram mais destaque e força ao noticiário.
Como o material não foi consolidado pela primeira página nem houve remissão em ‘Brasil’ (procedimento que desapareceu do jornal) para o material de ‘Dinheiro’, o leitor fica sem uma amarração, sem contextualização, sem edição.
A frase mais forte do ministro (‘Vamos arrombar portas’) está perdida e sem destaque.
Tribunal agrário
O ‘Estado’ informa que o presidente Lula sugeriu ao presidente do STJ a criação de um tribunal agrário para julgar os conflitos no campo. A sugestão ocorreu no evento de ontem no STJ sobre lavagem de dinheiro. Não vi a informação no noticiário da Folha.
Cáucaso
Achei confusa, e provavelmente contém erros, a arte ‘Principais atentados’, que acompanha o noticiário sobre Ossétia do Norte na Edição Nacional (capa de ‘Mundo’). Os números referentes a alguns atentados não estão corretamente localizados nos mapas que formam a arte. Na Edição SP, os mapas foram retirados.
Embora a ocupação da escola com reféns seja uma iniciativa de rebeldes da Tchetchênia, o jornal deveria ter trazido mais informações sobre Ossétia do Norte. Poucos conhecem a divisão geográfica da Rússia e os conflitos internos de cada república e das regiões. Faltou informação.
01/09/2004
O crescimento da economia é o principal assunto dos jornais:
Folha: ‘PIB cresce 4,2% no primeiro semestre’;
‘Estado’: ‘PIB cresce com a maior força em 8 anos’;
‘Globo’: ‘Mercado interno faz o PIB crescer além do esperado’;
‘Valor’: ‘Investimento cresce, mas ritmo ainda é insuficiente’.
Na linha menos eufórica do ‘Valor’, a Folha também fez suas ressalvas: ‘É o melhor resultado desde 2000, mas especialistas dizem que são necessários investimentos para a manutenção do ritmo’.
Os outros assuntos comuns: atentados em Israel e na Rússia, nova rodada de pesquisas eleitorais do Ibope e o beijo, para os fotógrafos, de Ronaldo e Daniela Cicarelii.
Boa, a foto da primeira página da Folha (‘Sem teto e sem nome’).
Investigação
Achei boa a iniciativa do jornal de apresentar a sessão de hoje do STF que decide se o MP pode conduzir investigações (A6). Está um material informativo, didático e equilibrado.
Usineiros
Está errado o quadro que ilustra a reportagem ‘Usineiros reconhecem dívida de R$ 450 mi com o Estado’ (pág. A7) da Edição Nacional. Foi montada a arte ‘Promessa de Campanha’, sobre os CÉUS-Saúde em SP.
PIB
O material sobre o PIB e os outros indicadores econômicos divulgados ontem (capa e páginas seguintes de ‘Dinheiro’) está extenso e bem editado. Achei também equilibrado, no sentido de dar destaque para todos os indicadores positivos e, ao mesmo tempo, mostrar os problemas, gargalos e deficiências que a economia terá pela frente se quiser realmente se firmar.
A cobertura do ‘Estado’ vai na mesma linha.
A do ‘Globo’ é mais modesta.
Massacre no centro
Achei bom o jornal ter publicado, na Edição SP de hoje, uma análise crítica ao comportamento do Estado e da Prefeitura neste caso dos ataques a moradores de rua. Mas continua devendo uma discussão sobre o que fazer com este povo. Quais são as soluções? As políticas atuais são corretas? O que pensam os candidatos ao governo da cidade? Têm propostas? São diferentes das atuais? São viáveis? E o que pensam os melhores especialistas? E como fizeram outras grandes cidades? Este debate ainda não foi feito e o caso logo cairá no esquecimento.OlimpíadaO jornal marca um tento ao conseguir a entrevista com o irlandês que atrapalhou a corrida de Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona (‘Cristo dará a Vanderlei o ouro que tirei’, pág. D4 de Esporte). Falta agora identificar o senhor que tirou o atleta das mãos do ex-padre. Será que nenhum jornal grego o identificou e entrevistou? A ação dele também foi marcante.’