Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Crítica interna


’08/08/2005


Na falta de fatos novos importantes sobre a crise política, a Folha tem três dias de manchetes fracas: ‘CPI quer pedir cassações em 10 dias’ (sábado), ‘Delúbio se afasta e PT adia punições’ (domingo) e ‘TSE que punição mais rígida para crimes eleitorais’ (segunda). A minha avaliação é que o assunto mais forte desta edição de segunda são as manobras ocorridas dentro do PT que mostram o predomínio do Campo Majoritário e a pouca disposição dos que têm a maioria do partido de realmente investigar e punir. Foram vários episódios ocorridos no final de semana que permitiriam o jornal formular uma manchete mais grave. A idéia de punição mais rígida para crimes eleitorais não é do TSE, mas do seu presidente, e é apenas mais uma idéia. Merecia registro e debate (que não houve), mas não uma manchete.


As seqüências de manchetes dos principais concorrentes da Folha:


‘Estado’ – ‘Governo garante que crise não muda economia’ (primeira edição de sábado), ‘Empresários cobram de Lula ações e menos gastos’ (segunda edição de sábado), ‘Grupo Opportunity é o novo alvo da CPI dos Correios’ (dom.) e ‘Valério vai à CPI acusar Jefferson de chantagem’ (2ª).


‘Globo’ – ‘CPI acelera o processo de cassação de 18 deputados’ (sáb.), ‘PT não consegue abrir caixa-preta de Delúbio’ (dom.) e ‘Dirigente do PT quer punição branda para o caixa dois’ (2ª).


Com exceção da ‘Carta Capital’, as revistas semanais miram o presidente.


‘Veja’ – ‘Lulla – Sem ação diante do escândalo que devorou seu partido e paralisou seu governo, Lula está em uma situação que já lembra a agonia da era Collor’.


‘Época’ – ‘A crise sobe a rampa – Dinheiro de Marcos Valério foi usado na campanha de Lula. Presidente reage e testa sua candidatura à reeleição’.


‘IstoÉ’ – ‘A crise antecipa a sucessão’.


‘Carta Capital’ – ‘Nos bastidores da Conexão Lisboa’.


Escândalo do ‘mensalão’


O maior problema da cobertura do jornal de hoje é o relato que faz da reunião do PT ocorrida neste final de semana em São Paulo. A nossa reportagem fica apenas no registro das incoerências e omissões do documento aprovado pela maioria.


Pelos outros jornais é possível saber que as críticas feitas por deputados de esquerda ao encontro são mais fortes do que as que a Folha registra na sua Edição SP. Na Edição Nacional nenhum participante é identificado, apesar das críticas da esquerda terem sido abundantes e de vários deputados falaram abertamente.


Segundo o ‘Estado’, ‘Dirceu ainda dá as cartas no partido’. É provável que sim, mas a Folha não investiu em uma reportagem que mostrasse o que aconteceu de fato nos bastidores do encontro, como as tendências se enfrentaram, as manobras e os atropelos. O presidente Tarso Genro foi derrotado em todas as questões que encaminhou, como o veto de legenda nas próximas eleições para os deputados do PT que renunciarem. O afastamento de Delúbio se deu por conta de uma manobra do Campo Majoritário para evitar sua expulsão ou suspensão, a se confiar no que saiu nos jornais. Foi mais uma demonstração de fraqueza da nova direção. Aliás, vários jornais disseram que a reunião seria esvaziada e que ficaria demonstrado que o grupo de José Dirceu perdera força. Não foi o que aconteceu.


O ‘Globo’ e o ‘Estado’ foram mais precisos na reconstituição do que ocorreu no PT neste final de semana: segundo o jornal do Rio, ‘Dirceu mantém caixa-preta fechada’; segundo o ‘Estado’, ‘Esquerda acusa cúpula do PT de blindar Delúbio e acobertar suspeitos’.


Faltou à Folha uma melhor compreensão do que ocorreu de fato na reunião. Faltou contar a história dos bastidores deste encontro. De tudo o que aconteceu, certamente o documento final é o fato menos importante para se entender o tamanho da guerra interna em que o PT está mergulhado.


O infográfico com o ‘Raio X’ do escândalo do ‘mensalão’ (pág. A10) que o jornal publicou no Domingo está incompleto.


– Ele deixa de fora, quando trata da origem do dinheiro no esquema do ‘mensalão’, as empresas privadas. Pelo menos duas já foram citadas nas investigações, a Usiminas e as telefônicas do grupo Opportunity.


– Ele deixa de fora os deputados do PSDB, do PFL e do PMDB.


– Ele não tipifica os crimes que teriam sido cometidos. Este ponto é importante para se ter uma idéia do peso das centenas de acusações que já surgiram. Exemplo: do que o deputado José Dirceu está sendo acusado? Se for comprovado que ele sabia do esquema do ‘mensalão’, qual o crime que ele cometeu? Isto vale para todos os envolvidos até agora. O jornal ainda não fez uma sistematização das acusações com respectivos crimes ou irregularidades cometidos, provas ou evidências já surgidas, investigações em curso e penas previstas.


– Ele não incorpora, de forma resumida, a informação bem desenvolvida na página seguinte, ‘Votações coincidem com dias de saques’, importante para a compreensão de uma das hipóteses que tentam explicar o esquema armado.


O infográfico ‘Gamecorp e Telemar’ que ilustra a reportagem ‘Negócio com filho de Lula é raro no mercado mundial’ (pá. A8 de hoje) descreve a G4 Entretenimento e Tecnologia Digital como uma empresa de publicidade e propaganda. É isso mesmo?


Toda Mídia


Problemas de acabamento nas notas ‘A estrela sobe’ e ‘Em campanha 2’ da Edição Nacional da coluna ‘Toda Mídia’ (pág. A8).


Cachimbo


Que o Fantástico da TV Globo tenha contado, ontem à noite, a história do buraco de Cachimbo pela metade, omitindo o fato que provocou a declaração mentirosa do presidente José Sarney em 1985, é um problema deles. Mas a Folha registrar o programa de TV e não mencionar que a mentira do ex-presidente foi em resposta à reportagem da Folha que revelou a existência do campo de teste, é descuido com a própria história do jornal.


05/08/2005


A manchete da Folha – ‘Jefferson volta atrás e isenta Lula’ – só se justifica porque o jornal foi o único que afirmou categoricamente, na edição de quarta-feira, que o deputado Roberto Jefferson envolveu diretamente o presidente Lula no caso da Portugal Telefônica – ‘Jefferson envolve Lula; Dirceu diz que ele mente’. Segundo Jefferson, escreveu o jornal na sua capa de quarta, a ida de Marcos Valério a Lisboa para negociar a dívida do PTB, ‘foi por orientação do presidente’. O depoimento de Jefferson na CPI dos Correios não permitia tal entendimento da participação do presidente. A frase de Jefferson era dúbia e os outros jornais interpretaram como ‘insinuação’ ou ‘ilação’. A Folha se baseou em entrevista direta com o deputado para usar o verbo ‘orientar’, mas a reprodução, na página A4 edição de hoje, do que ouviu de Jefferson já não contém a mesma formulação categórica. Hoje, informa que a viagem foi combinada por José Dirceu, ‘mas era do conhecimento do presidente’. Como a formulação feita pela Folha na quarta-feira se baseou na entrevista com o deputado, e não no depoimento da CPI, acho que o jornal deveria ter sido explícito na edição de hoje: o deputado Roberto Jefferson voltou atrás sobre acusações feitas contra o presidente Lula em entrevista para a Folha.


Como outros jornais destacaram a crise do ‘mensalão’:


‘Estado’ – O jornal teve uma entrevista exclusiva com Marcos Valério. Começou a rodar com a manchete ‘Jefferson revela caixinha de Valério na Eletronorte’ (21h15), mas depois mudou para a entrevista em que o empresário incrimina o ex-ministro José Dirceu – ‘Valério: bancos emprestavam porque Dirceu era a garantia’ (0h20).


‘Globo’ – ‘Evidências de mensalão no PTB desmentem Jefferson’.


‘Estado de Minas’ e ‘Correio Braziliense’ – ‘Conexão Lisboa acelera cassação de José Dirceu’.


‘Zero Hora’ – ‘Recibo comprova dinheiro de Valério para o PT gaúcho’.


Escândalo do ‘mensalão’


Ainda sobre a manchete de hoje da Folha e a reportagem da página A4, ‘Jefferson recua, inocenta Lula e volta a culpar Dirceu’.


A frase dúbia de Roberto Jefferson pronunciada no depoimento de terça-feira, e reproduzida no jornal de hoje na página A4, a propósito do envolvimento do presidente Lula no caso da Portugal Telecom, não permitiria a formulação feita pela Folha na capa de quarta-feira. Reproduzo a frase do deputado e o texto da Folha:


Roberto Jefferson, na terça:


‘V. Exa. [José Dirceu] autorizou a mim e ao PT que mandássemos emissários à Portugal Telecom para que negociássemos, depois do encontro que V.Exa. patrocinou da Portugal Telecom com o presidente Lula, um acordo que pusesse em dia as contas do PTB e do PT.’


Folha, na 1ª página de quarta:


‘Segundo Jefferson, foi por orientação de Lula que o publicitário Marcos Valério e o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, foram a Lisboa negociar operação para quitar dívida de campanha de petebistas’.


Pode até ser que as investigações cheguem a revelar o envolvimento direto do presidente no caso, mas não foi o que Jefferson disse no depoimento. O que permitiu aquela formulação foi a entrevista que o deputado deu para a Folha. A frase que permitiu ao jornal dizer com segurança que o deputado acusou Lula de ter orientado a excursão a Portugal deveria ter sido reproduzida pelo jornal de hoje.


Uma observação em relação à coluna ‘Sem cerimônia’ (pág. A2): pelo que entendi, o encontro de Marcos Valério com o então ministro português ocorreu em outubro do ano passado, e não na visita que fez em janeiro. A conferir.


A acusação contra a campanha eleitoral do prefeito José Serra (‘Petista acusa Serra de ter caixa 2 em 2002’) deveria ter o ‘outro lado’ editado separadamente, com destaque, e não embutido. O correto é editar as respostas às acusações sempre separadamente, aliás, como o jornal vem fazendo na maioria das vezes.


Acho que merecia espaço no jornal o repúdio do ex-secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, ao mea culpa do deputado José Dirceu terça-feira no Conselho de Ética.


Segundo o ‘Valor’, ‘Planalto e Severino articulam renúncias para abreviar CPIs’.


Segundo o ‘Estado’, a revelação de que o escritório de advocacia de Aristides Junqueira, que representou o PT no caso Celso Daniel, recebeu pelo esquema de Marcos Valério abriu mais uma crise no PT.


‘Esporte’


Segundo o ‘Estado’, ‘Kia negocia com clube inglês e futuro no Brasil fica incerto’. A Folha tem a informação que ele está em Londres, mas não a agenda. A verificar.


04/08/2005


Tenho duas críticas em relação à primeira página da Folha de hoje. Acho que o caso da Portugal Telecom é mais importante do que mais um discurso emocionado do presidente Lula, e deveria ter sido a manchete. E o jornal erra ao deixar de fora da chamada da capa sobre a Portugal Telecom (‘Para português, Valério era consultor de Lula’) a informação de que o José Dirceu, ainda ministro da Casa Civil, recebeu em 11 de janeiro o presidente do Banco Espírito Santo acompanhado de Marcos Valério. Treze dias depois, o empresário mineiro viajou para Portugal com o tesoureiro informal do PTB, tal como informou Roberto Jefferson na CPI dos Correios. A revelação, que está na página A7 do jornal, é ainda mais importante porque o deputado José Dirceu omitiu o encontro no seu depoimento de anteontem. Este detalhe é a manchete do ‘Globo’: ‘Agenda desmente e compromete Dirceu’.


Segundo o ‘Estado’, três dias depois de o presidente Lula ter recebido o presidente da Portugal Telecom, o Conselho Deliberativo da Previ recomendou que o fundo vendesse as ações que tinha da Telemig Celular e da Amazônia Celular, ações que interessariam à Portugal Telecom.


Nada chegou mais próximo do Planalto do que este caso da Portugal Telecom.


O ‘Estado’ também destaca, como a Folha, o discurso do presidente: ‘Lula: ‘Com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir’. A formulação ficou melhor do que a da Folha, ‘Vão ter que me engolir, afirma Lula’. O jornal tem uma informação importantíssima na capa, ilustrada com cópia de um documento confidencial: ‘Documento mostra que Delúbio foi avalista de Valério’. A Folha tem a informação, mas perdida internamente na reportagem ‘Dirceu sabia de empréstimos, diz Valério’.


Escândalo do ‘mensalão’


O infográfico ‘Conexão Portugal’, que ilustra a reportagem ‘Para português, Valério era ‘consultor de Lula’ (pág. A6 da Edição São Paulo), omite uma informação importante: na audiência com José Dirceu no dia 11 de janeiro deste ano, Marcos Valério estava acompanhado do representante do Banco Espírito Santo no Brasil.


O ‘Painel’ informa, na nota ‘Ventilador’ que abre a segunda coluna, que Marcos Valério ameaça envolver publicitários de São Paulo nas suas denúncias. Na verdade, já começou, segundo a reprodução do seu depoimento à Procuradoria Geral da República (‘Dirceu sabia de empréstimos, diz Valério’, na pág. A8). Lá, ele cita inclusive as agências que teriam, como as suas, sido ‘submetidas a interesses políticos’. E só relaciona agências de peso. O jornal deveria ouvi-las.


O ‘Estado’ informa que o deputado José Borba (PMDB-PR) teria confidenciado a dois peemedebistas que o dinheiro que recebeu do esquema Marcos Valério foi para pagar o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, pela entrevista que fez com o presidente Lula em abril de 2004. O jornalista Ricardo Kotscho, na época assessor de imprensa da Presidência, negou que tivesse havido o pagamento.


O jornal deveria ter uma atenção especial para estes setores da comunicação – imprensa, agências de publicidade e agências de comunicação – que têm relações promíscuas com o setor público. Hoje há referências nos jornais aos três setores.


O jornal cobre mal a guerra aberta entre os partidos com os pedidos de cassações de deputados. Segundo o ‘Estado’, já foram pedidas 19 cassações. Há o aspecto das disputas partidárias e há a questão jurídica do encaminhamento destes pedidos.


Em relação ao deputado José Dirceu, o ‘Estado’ informa que a Câmara encaminhou uma consulta formal ao STF para que decida o fórum adequado para julgar um possível pedido de cassação do ex-ministro.


Já são conhecidas duas listas de sacadores: a da diretora da SMPB, com 12 nomes, e a de Marcos Valério, com 31 nomes. O ‘Estado de Minas’ se refere hoje, na sua primeira página, a uma lista com 148 políticos e assessores!


O jornal ‘Valor’ traz hoje boa reportagem sobre os pontos nebulosos da investigação da CPI e sobre os problemas que os assessores estão tendo para trabalhar, atropelados pelos parlamentares que pressionam para obter informações exclusivas (‘CPI está longe de desvendar operação’). A Folha já tinha mostrado a confusão que é o trabalho de investigação na coluna da Mônica Bergamo de 24/7 (‘Cavernas, catacumbas e CPI’). Aparentemente o caso ficou mais grave. A reportagem também é interessante porque tenta mostrar alguns pontos de estrangulamento das investigações. A Folha precisa pensar em algo parecido, mais aprofundado, que ajude o leitor a entender o que está ocorrendo: o caminho já percorrido e o que tem pela frente, os fatos já comprovados, as acusações já esclarecidas e descartadas, e o que ainda deve ser investigado e comprovado.


03/08/2005


Como os três maiores jornais resumiram os capítulos de ontem do ‘mensalão’:


Folha – ‘Jefferson envolve Lula; Dirceu diz que ele mente’ (manchete), ‘Ex-ministro nega ser mentor de ‘mensalão’, ‘dinheiro de Valério pagou serviço da campanha de Lula, diz assessor de Ciro’, ‘Petista relata fila para falar sobre dívida com Delúbio’ e ‘Tarso afirma que quem renunciar perde vaga no PT’.


‘Estado’ – ‘Valério pagou defesa do PT no caso Santo André’ (manchete), ‘Jefferson: Dirceu pediu dinheiro à Portugal Telecom’, ‘Na lista, R$ 2,67 mi para o presidente da Casa da Moeda’, ‘Propina na Loterj era de R$ 300 mil por mês, diz Soares’ e ‘Azeredo culpa assessor por caixa 2, mas não convence’.


‘Globo’ – ‘No duelo, Dirceu culpa PT e Jefferson faz nova denúncia’ (manchete), ‘Secretário-executivo de Ciro sacou R$ 457 mil’, ‘Secretário dos EUA veio dar apoio ao governo’, ‘Azeredo responsabiliza o coordenador de campanha’.


Escândalo do ‘mensalão’


A Folha deu mais importância à nova acusação de Roberto Jefferson, o caso da Portugal Telecom. Ao ‘Estado’ chamou mais a atenção a revelação de que Aristides Junqueira, advogado do PT no caso de Santo André, foi pago pelo esquema de Marcos Valério. Acho que a Folha acertou: as viagens de Marcos Valério e de Delúbio Soares a Portugal ainda estão mal explicadas. O ‘Correio Braziliense’ já chama de ‘Conexão Lisboa’. Não é possível se dizer, pelo que saiu hoje, que as viagens tenham a ver com a Portugal Telecom. Mas devem ser investigadas. A Folha, mais do que qualquer outro veículo, tem a obrigação de esgotar este caso por ter a telefônica como sócia.


Aliás, em algum momento do noticiário o jornal deveria ter mencionado que a Portugal Telecom tem 21% das ações da empresa Folha/UOL S.A., que edita o jornal. Como fez o ‘Agora’. O caso não implica a Folha em nada. A informação apenas reforçaria que a Folha não tem qualquer constrangimento na cobertura.


A Folha ainda deve uma explicação a respeito da manchete de domingo, ‘SMPB liga Valério a assessor de Dirceu’. A manchete foi baseada em informação exclusiva da Folha, que teria ouvido da diretora da SMPB, Simone Vasconcelos, que ela teria autorizado Roberto Marques, assessor de José Dirceu, a sacar R$ 50 mil. Desde então a diretora vem negando a informação. A negativa feita na Polícia Federal anteontem só saiu na Edição São Paulo.


O jornal deveria ter buscado um outro jogo ou metáfora para ilustrar a movimentação dos principais personagens do escândalo do ‘mensalão’. O jogo de xadrez (‘O xadrez político’, na pág. A7 da Edição Nacional) foi muito mal utilizado. Não faz sentido para quem conhece minimamente o jogo.


O jornal procurou enriquecer a cobertura do depoimento do deputado José Dirceu com um artigo e uma coluna de notas. Faltou, na minha opinião, um texto que analisasse, sob o ponto de vista jurídico, a estratégia de defesa apresentada pelo deputado. Ele se eximiu de toda responsabilidade pelas barbaridades do partido e sugeriu que não pode ser julgado por quebra do decoro porque os fatos analisados se referem ao período em que era ministro.


A Folha ignorou o depoimento do ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares na CPI dos Bingos. Ele reafirmou acusações sérias contra o PT do Rio antes da vitória eleitoral de 2004.


Painel do Leitor


As explicações do deputado Custódio Mattos para os saques registrados em seu nome (‘Esclarecimento’, carta no ‘Painel do Leitor’ de hoje), deveriam estar no noticiário sobre o ‘mensalão’, como um legítimo ‘outro lado’ do parlamentar. Se o jornal for publicar no ‘PL’ as justificativas e versões de todos os relacionados na lista de saques das contas das empresas de Marcos Valério, aí sim o leitor que quer participar do debate público pode se despedir de vez do ‘PL’.


02/08/2005


O depoimento da diretora da SMPB, Simone Vasconcelos, à Polícia Federal fez os jornais mudarem as manchetes.


Folha – ‘Presidente do PL renuncia e culpa PT’ (Edição Nacional) e ‘Valério revela destino de R$ 56 mi’ (Edição SP).


‘Estado’ – ‘Rural confirma empréstimo para ex-mulher de Dirceu’ (21h20) e ‘Presidente do PL é o 1º a renunciar e escapa da cassação’ (0h25).


‘Globo’ – ‘Presidente do PL renuncia para escapar de cassação’.


Escândalo do ‘mensalão’


O texto ‘Dirceu transpôs modelo cubano ao PT, diz ex-aliado’ (pág. A12 da Edição Nacional) não é uma ‘Memória’, como está definido, mas uma interpretação de um aspecto da vida política do deputado José Dirceu feita por um desafeto. O mínimo que o jornal deveria ter feito era ouvir o próprio deputado ou buscar uma outra interpretação sobre a concepção partidária de Dirceu.


O jornal não teve agilidade para acrescentar à arte ‘O que pesa sobre Dirceu’ (pág. A12) as últimas acusações que surgiram na imprensa relativas a uma de suas ex-mulheres.


Ao relacionar os fatos que nos últimos três dias foram ‘corrosivos’, segundo expressão do jornal, para a imagem do ex-ministro, não ficou claro, no texto ‘Dirceu testemunha e enfrenta acusador’ (pág. A12), o que quis dizer com a seguinte frase: ‘(…) Por fim, a renúncia de Valdemar, que colocou o ônus em Dirceu para dar resposta semelhante’. Semelhante a quê?


Há um erro grave na Edição Nacional que foi corrigido na Edição SP, mas que exige uma correção no jornal amanhã. No texto ‘Funcionária do PT diz que só cumpria ordens’ (pág. A14), está escrito: ‘Muito abalada, Solange conversou, segundo petistas, com o novo tesoureiro do partido, deputado José Pimentel (CE), antes de se afastar da função. Ela apresenta sinais de quem é beneficiada com alta soma de dinheiro. Recém-casada, vive com a mãe’. Na Edição SP está que ‘ela não apresenta sinais de ser beneficiada com alta soma de dinheiro’.


Dinheiro


O ministro Silas Rondeau defende o arrendamento de refinaria de Manguinhos, como está no título da pág. B8, ou é desfavorável, como está na abertura do texto?


Edição Nacional


Os anúncios publicados no meio das páginas do jornal são um incômodo para o leitor, principalmente quando interrompem uma seqüência de reportagens sobre o mesmo assunto. Mas, é provável que a maior parte dos leitores entenda a necessidade de o jornal vender espaços diferentes para garantir o faturamento da publicidade, principal fonte de sustentação da imprensa. O que acho que não dá para entender é quando o jornal mantém este tipo de anúncio sem necessidade, como ocorre nas páginas A8, A9, A10 e A11 da Edição Nacional de hoje.


Está claro que os anúncios programados pela agência de publicidade não chegaram a tempo e o jornal começou a rodar com ‘calhaus’ publicitários, ou seja, com anúncios da própria Folha. Neste caso, o bom senso deveria ter sugerido ao jornal baixar estes anúncios, que estão ali para quebrar um galho, para o pé da página e subir as reportagens. Como ficou na edição de hoje é péssimo para o leitor, que não entende por que a Folha resolveu atrapalhar a sua leitura com anúncios dela mesma, e péssimo para a imagem do jornal.


Acabamento:


O jornal repete a mesma informação duas vezes na pág. A8: ‘Cassações vão esperar fim da CPI, diz Severino’ e ‘Cassações só serão votadas após fim da CPI, diz Severino’.


Não é possível que o jornal não tenha uma foto colorida do deputado João Paulo Cunha para ilustrar a galeria de ‘Congressistas envolvidos com Marcos Valério’ (pág. A6).


O texto ‘Valério diz ter ‘fatos novos’ e tenta acordo’ (pág. A10) informa, no segundo parágrafo, que o empresário mineiro ‘volta a depor hoje às 14h na Procuradoria’. No mesmo texto, no final, foi mantida, no entanto, uma outra informação: ‘No início da tarde de ontem, o procurador-geral disse que decidiria até o final do dia se acolhia ou não o pedido do empresário de prestar outro depoimento’.


Primeira frase da notícia da morte do rei Fahd (‘Rei saudita Fahd morre; Abdullah assume’, pág. A17): ‘Após comandar durante 23 o país líder mundial na comercialização de petróleo, morreu ontem o rei saudita Fahd’. 23 o quê? Pior que continuou assim na Edição SP e na versão on line.’