"20/12/04
O fim do Campeonato Brasileiro de Futebol domina as primeiras páginas dos jornais nesta SEGUNDA. As manchetes estão, em geral, comedidas, apenas informam; exceto as dos jornais do Rio, que não escondem o alívio com a permanência dos clubes cariocas na primeira divisão.
Folha – ‘Santos vence Vasco e leva o bi no Brasileiro’.
‘Estado’ – ‘Santos é bicampeão brasileiro’.
‘Diário de S. Paulo’ – ‘Santos é o bicampeão’.
‘Globo’ – ‘Ufa!’
‘JB’ – ‘E Deus foi carioca’.
‘Extra’ – ‘Fogão e Mengão na Primeira Divisão’.
‘O Dia’ – ‘Fla 6×2, Fogão 1×1: UFA!’.
‘A Tarde’ (Salvador) – ‘Alegria de campeão [Santos]/ Tristeza de rebaixado [Vitória]’.
O ‘Valor’ também tratou do campeonato, mas com outro enfoque: ‘Brasileirão é menor que o Manchester’. O clube inglês faturou sozinho, em 2004, mais do que o dobro do que faturaram juntos os 24 times brasileiros da série A.
As manchetes de DOMINGO:
Folha – ‘Governo eleva gasto em ano de arrocho’.
‘Estado’ – ‘Consumidor compra mais, mas evita crediário’.
‘Globo’ – ‘Tráfico começa a vender crack nas favelas do Rio’.
‘JB’ – ‘Rio tem mais ONGs para menores que crianças na rua’.
As revistas:
‘Veja’ – ‘Retrospectiva – Fatos e personalidade que fizeram o ano.’
‘Época’ – ‘Jesus e Madalena’
‘IstoÉ’ – ‘João Paulo II – Teimosia e carisma’.
Obesidade
Manchete do jornal na sexta-feira (‘Brasil tem mais obesos que pessoas com falta de peso’), a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE que lança novas luzes na discussão sobre pobreza e desnutrição foi completamente ignorada pela Folha nos dias seguintes. As questões suscitadas pela pesquisa não tiveram desdobramentos, como era de se esperar, nas edições de sábado, domingo e hoje. Nenhuma reportagem, nenhuma entrevista, nenhuma suíte, como se identifica, no jargão jornalístico, a continuação de um assunto.
Três exceções confirmam a regra: no domingo, os colunistas do jornal Clóvis Rossi (‘Obesos, mas muito pobres’) e Gilberto Dimenstein (‘Lula tem o corpo do Brasil’) ensaiaram interpretações da pesquisa; e na edição de hoje há um artigo da economista Sônia Rocha (‘Critério de renda para delimitar fome superestima o problema’), mas apenas na Edição São Paulo (pág. C4).
Ou o jornal não percebeu a importância das questões abertas pela nova pesquisa ou não teve fôlego para aprofundá-las. A impressão que ficou é de um tratamento superficial, que valorizou mais o aumento de obesos do que a discussão sobre as políticas sociais em vigência e os mitos questionados pela pesquisa.
O ‘Globo’, que na sexta-feira também privilegiou o aumento de obesos, pelo menos deu continuidade ao assunto na sua edição de sábado e ouviu especialistas sobre o resultado da pesquisa: ‘Pesquisa do IBGE põe em xeque política social’.
Arquivos e aborto
Em compensação, o jornal tem aberto espaço para reportagens e debates sobre dois assuntos delicados e polêmicos, os arquivos militares e o aborto.
Pesquisas
A propósito de pesquisas, a Folha trouxe no domingo reportagem, publicada na capa de ‘Cotidiano’, que mostrava que o ‘déficit oficial de moradias é exagerado’. O estudo questiona as estatísticas que calculam o déficit habitacional brasileiro, ‘Estudo vê exagero em escassez de moradia’.
Há uma desconfiança crescente entre pesquisadores de várias áreas e jornalistas em relação a vários cálculos que orientam políticas públicas. Imagino que poucos são manipulados ou estão errados; mas é cada vez mais forte o entendimento de que todos devem ser questionados em suas metodologias para que não se criem mitos depois difíceis de serem desfeitos.
Mitos
A propósito de mitos, o ‘Globo’ do domingo tem como manchete e principal reportagem ‘Tráfico começa a vender crack nas favelas do Rio’. Segundo o jornal, ‘aumentam as apreensões e o número de dependentes da droga no Rio’. Ainda segundo o texto, a droga começou a entrar no Rio no final de 2002.
Não é, portanto, um fenômeno recente, mas só agora foi percebido, graças a um estudo do advogado Cesar Caldeira publicado na revista ‘Insight Inteligência’ de dezembro. A reportagem do ‘Globo’ é baseada neste estudo, que faz as indagações e questionamentos que deveriam ter sido formulados por jornalistas, e não foram.
Segundo a revista, a história de que crack não entra no Rio ‘é um mito criado por traficantes, disseminado por jornalistas e policiais’.
SEGUNDA
Em ‘Carga tributária sobe e vai a 31,3% do PIB’ (capa de Dinheiro) há a informação de que a queda da carga tributária em 2003 em relação a 2002 foi de 0,3 ponto percentual do PIB. Mas o jornal havia informado, no dia 10 (‘Carga tributária cai no primeiro ano de Lula’, pág. B12 de Dinheiro) que a queda havia sido de 0,65 ponto percentual. É possível que tenha ocorrido nova revisão? Se não, um dos índices está errado.
17/12/2004
A Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE é a manchete da Folha, do ‘Globo’ e do ‘JB’ e está na primeira página de quase todos os jornais:
Folha – ‘Brasil tem mais obesos que pessoas com falta de peso’.
‘Globo’ – ‘Brasil tem mais obesos do que desnutridos, diz IBGE’.
O ‘JB’ é mais direto – ‘Quatro em 10 brasileiros são gordos’.
Folha e ‘Estado’ dão tratamento diferente para a cúpula do Mercosul. O ‘Estado’ muda a manchete da sua primeira edição (‘Lula reabre negociação sobre valor do mínimo’) e ressalta o conflito: ‘Brasil ganha aliados contra a Argentina’. A formulação da Folha valoriza a negociação: ‘País chega a acordo com Argentina sobre cotas’.
Retrato do Brasil
O brasileiro médio, homem ou mulher, inclusive o que vive em área urbana, tem peso normal de acordo com os critérios do IMC. Pergunto, portanto, se os jornais não foram um tanto alarmistas com o resultado da pesquisa do IBGE. Uma coisa é um alerta em relação à obesidade; outra, a idéia de uma ‘epidemia de obesidade no Brasil’. Contribui para esta idéia a mistura dos percentuais de obesos com os de excesso de peso. É como se a população estivesse doente.
O ‘Globo’ chega a informar, erroneamente, que a obesidade atinge 38 milhões de brasileiros adultos, quando este número, segundo a Folha, se refere a todos os brasileiros com excesso de peso, não necessariamente obesos. O jornal do Rio, que também fala em epidemia, chega a dizer que o Brasil tem um percentual de obesidade que ‘aproxima o país das nações ricas’. Em seguida, o próprio jornal informa que nos Estados Unidos 70% da população está acima do peso e 30% é obesa. O Brasil está, portanto, distante destes índices, com 40,6% e 11%, respectivamente.
Também tenho dúvida em relação à forma como a Folha minimiza o problema da desnutrição. Esta pesquisa trata apenas dos adultos, a parte referente às crianças ainda não foi divulgada. É verdade que a desnutrição entre adultos caiu. A fome não é mais um problema relevante para a grande maioria dos brasileiros adultos, segundo a própria Folha. Mas os programas de renda e desnutrição estão muito voltados para as crianças e adolescentes. Acho que só se pode ter um quadro mais preciso da situação da desnutrição e da fome com o resultado completo da pesquisa.
O que os jornais estão dizendo hoje é que o problema do país deixou de ser a fome e a desnutrição e passou a ser a obesidade. Esta interpretação da pesquisa do IBGE está certa?
Não tenho elementos para julgar, por isso apenas levanto a questão. Mas já vimos vários outros casos de pesquisas interpretadas com alarmismo não justificado.
É estranho que o jornal tire da capa de ‘Cotidiano’ da Edição SP o assunto que elegeu como manchete, a pesquisa do IBGE. O anúncio que entrou na primeira página do caderno na Edição SP não justifica a mudança. A nova capa é fraca: ‘Vencedor de licitação quer trocar papel falso’. O verbo querer derruba qualquer título e assunto.
O ‘Globo’ ouve os responsáveis pela política social do governo, que comentam a pesquisa do IBGE.
‘Brasil’
A Folha não precisava usar mais uma vez a imagem do padre canadense nu e humilhado para ilustrar sua arte ‘A Polêmica dos Arquivos’ (A4). O padre entrou nesta história por azar. Uma reprodução reduzida da primeira página do ‘Correio’ teria melhor efeito ilustrativo e preservaria o padre.
Há dois erros no texto ‘STF nega habeas corpus a juiz’ da página A12 da Edição Nacional. É Luiza, e não Luiz, o nome da procuradora do Ministério Público Federal. E o sobrenome é Frischeisen, e não Frischseisen.
No ‘Estado’, a defesa do mandato de cinco ou seis anos para presidente da República feita por Sarney e por Aldo Rebelo foi interpretada como uma vontade do governo Lula. A Folha tem a entrevista do Sarney, mas omite a discussão sobre o tempo do mandato.
A Folha destacou, do discurso do ministro José Dirceu, o fato dele ter definido o governo Lula como ‘reformista’. ‘Estado’ e ‘Globo’ preferiram o anúncio de uma ‘super-Receita Federal’.
Saúde privada
Tenho recebido mensagens de leitores que reclamam da cobertura da Folha no caso da Interclínicas. Reclamam, na verdade, da falta de cobertura. São 166 mil associados que aguardam um desfecho para os problemas da empresa e que dependem dos jornais para se informar. O ‘Estado’ tem feito uma cobertura mais regular do assunto. E hoje tem reportagem de meia página, ‘Suspensa negociação da Interclínicas’, que não vi na Folha.
Prefeitura
O ‘Estado’ informa que a Prefeitura de S. Paulo suspendeu esta semana o pagamento do Renda Mínima, principal programa da área social do governo Marta Suplicy. Não vi na Folha."