’21/11/2005
A Folha de hoje, SEGUNDA, retoma o foco no andamento das CPIs: ‘CPI vai propor indiciamento de 50’ e ‘Relator quer ver Buratti e Waldomiro indiciados’. Nas edições de sábado e domingo, o jornal preferiu explorar os aspectos políticos da crise do governo: ‘Lula assume candidatura, depois diz que foi um lapso’ (SÁBADO) e ‘Lula usa Dilma para reduzir superávit’ (DOMINGO).
As manchetes do ‘Estado’:
‘Lula diz que quer ‘consertar’ a economia’ (Sáb.), ‘Corte de gastos é consenso para reduzir dívida e juros’ (Dom.) e ‘Lula recebe proposta de combate ao caixa 2’ (hoje).
No ‘Globo’:
‘Interior já responde por metade do PIB brasileiro’ (Sáb.), ‘Greves somam 3 anos e meio sem aula em universidades’ (Dom.) e ‘Câmara quer regulamentar greves em universidades’ (hoje).
As revistas:
‘Veja’ – ‘A medicina que faz milagres’ e ‘O Brasil está blindado contra o populismo’.
‘Época’ – ‘Militantes do consumo – Por que suas compras podem ajudar a salvar o planeta’ e ‘Fogo amigo – O que leva Lula a jogar dos dois lados no duelo Palocci x Dilma’.
‘IstoÉ’ – ‘Coração para a vida toda’, ‘Palocci – Os bastidores da guerra em torno da política econômica’ e ‘Pesquisa IstoÉ/Databrain: O desempenho exemplar [grifo do ombudsman] do governador de Goiás’.
‘Carta Capital’ – ‘Crespúsculo de um rei’ [sobre os problemas de José Sarney no Maranhão].
O lançamento do livro da autobiografia de Danuza Leão, colunista da Folha, teve mais sucesso do que o último livro de Paulo Coelho: saiu em todos os grandes jornais, no sábado, e nas quatro revistas semanais.
Está errada a chamada na primeira página de hoje da Folha para o suplemento ‘Folhateen’: como informa a reportagem, as adolescentes que toparam fazer a viagem de ônibus estavam acompanhadas de seus pais.
Erramos
Se entendi corretamente, o repórter fez um texto com as explicações do governo do Rio a respeito das verbas de publicidade e o jornal simplesmente não o publicou na edição de ontem (‘Rosinha amplia em 879% verba para a comunicação no RJ’). É um erro grave e acho que o jornal, independentemente da publicação da carta o secretário de Comunicação (‘Verba’, no ‘Painel do Leitor’ de hoje) e da publicação de correção na seção ‘Erramos’, deveria ter feito uma nova reportagem com os argumentos da carta e com as informações do repórter, que é acusado de ‘manipulação da informação’. O assunto se justifica por envolver verba publicitária e a futura campanha presidencial.
Entrevista de 2ª
Mais importante do que a revelação de que portugueses deram aula de racismo aos Estados Unidos, como destaca a ‘Entrevista de 2ª’ com James Meredith (pág A15), é o conceito de ‘supremacia branca’ que ele opõe em várias ocasiões ao de ‘racismo’, mas que a entrevista não explora e não explica direito do que se trata.
Folhateen
Fiquei frustrado com a reportagem ‘Capitães da fumaça’, na página 3 do suplemento que circula hoje. Embora informe que o ‘Folhateen conversou com alguns dos jovens que causaram tumulto na França nas últimas semanas’, a reportagem não tem uma entrevista sequer com os jovens franceses ouvidos pelo repórter. A pauta é pertinente, o texto do repórter sintetiza bem um aspecto da revolta, mas a falta de entrevistas com os jovens impede que se conheça o que pensam através de depoimentos deles mesmos.
O jornal perdeu uma boa oportunidade de ajudar a entender o que se passa na cabeça daqueles adolescentes.
Imagino que não foi por falta de espaço, porque o suplemento teve uma página e meia para mais uma reportagem sobre o lançamento do novo livro e do novo filme com Harry Potter (que, aliás, tem apoio promocional do jornal) .
É muito superficial a reportagem de capa do suplemento, ‘Passageiros de primeira viagem’. A pauta é até interessante, reflete um problema real para as famílias de classe média alta, divididas entre dar independência para os filhos e o medo da violência. Mas a reportagem ficou pobre porque se limitou ao universo desta classe média alta, porque ouviu poucos adolescentes e porque todos tinham o mesmo tipo de visão e argumentos.
O principal motivo das meninas entrevistadas não andarem de ônibus não é a violência, a lotação, o banco quente ‘desagradável’ ou as cantadas, mas o fato de que não precisam.
E os teens que andam de ônibus por necessidade ou opção?
Acabamento: ‘Feira com exposição e venda de selos raros traz a São Paulo raridades do Brasil e da Inglaterra e anima jovens filatelistas’ (pág. 10).
18/11/2005
O grande trabalho da imprensa ontem foi interpretar as palavras e os gestos do presidente da República. Para que lado Lula se inclina na disputa entre a Fazenda e a Casa Civil em torno dos rumos da política econômica? Os resultados das exegeses estão resumidos nas manchetes de hoje:
Folha – ‘Lula elogia Dilma e não cita Palocci’.
‘Globo’ – ‘Lula faz elogio a Dilma e evita defender Palocci’.
Os jornais econômicos ignoraram os sinais da guerra palaciana na capa. Mas, internamente, o ‘Valor’ registrou: ‘Lula elogia Dilma e diz que Palocci ‘saiu-se bem’.
E o ‘Estado’, que já tinha revelado o tamanho da crise com a entrevista que publicou com a ministra Dilma Rousseff, é o único que foi além dos sinais e trouxe informação nova, resultado de um relatório a que teve acesso: ‘Dilma disse a Lula que ação de Palocci pára ministérios’.
Erramos
A Folha reconhece hoje, na seção ‘Erramos’ (pág. A3), os erros que cometeu na chamada (foto e texto) da primeira página de domingo passado sobre a indústria de calças no Ceará, principal reportagem do caderno ‘Dinheiro’. É, acertadamente, um ‘Erramos’ pouco comum pelo tamanho e pela reprodução da foto.
Questiono, no entanto, um ponto: o jornal vende aos domingos mais do que durante a semana e o perfil dos leitores muda um pouco em função da venda em banca e das assinaturas exclusivas de final de semana. Por esta razão, a correção de um erro como este deveria sair no domingo, e não hoje.
O ideal é que os erros sejam corrigidos o mais rápido possível, de preferência no dia seguinte. Mas, num caso como este, em que o jornal levou cinco longos dias para corrigi-los, melhor teria sido publicá-lo no próximo domingo. Os leitores de fim-de-semana não saberão que o jornal errou, e muito, em sua chamada mais forte e destacada do domingo passado.
E acho que um ‘Erramos’ como este deveria ser publicado na primeira página do jornal, como a Folha já fez em outras ocasiões.
Escândalo do ‘mensalão’
Problema de edição na Edição Nacional: o jornal separou reportagens sobre o mesmo assunto (e com títulos quase iguais). Na pág. A4, publicou que ‘Marinho [ministro do Trabalho] muda discurso e sai em defesa de Palocci’; e na pág. A10, que ‘Dirceu muda discurso e defende Palocci’.
Bom o infográfico questionando o depoimento de Palocci no Senado, ‘O que Palocci não explicou’ (pág. A6).
Acusado de ter privilégios na distribuição de verbas publicitárias das empresas estatais (intertítulo ‘Publicidade’ no texto ‘Para ex-secretário de Daniel, PT quis despolitizar morte’, pág. A11 da Ed. SP), o jornal ‘Diário do Grande ABC’ não teve espaço para explicações e defesa.
Panorâmicas
Segundo a Folha, um jornalista de Marília é suspeito de ter comprado uma testemunha (‘Polícia de Marília pede prisão de jornalista suspeito de comprar testemunha’, pág. A11 da Ed. SP). Ele teria pagado para a testemunha mudar o depoimento. Mas o jornal não informa o teor do depoimento que o jornalista supostamente quis alterar. A notícia está incompleta e ficou confusa.
Na mesma página, a nota ‘Sem-terra do MLST que pediu proteção a Lula é morto com 18 tiros no PE’ não informa quando o sem-terra foi morto.
Maranhão
‘Estado’ e ‘Globo’ informam que a Assembléia Legislativa do Maranhão aprovou projeto que retira a Fundação José Sarney, ex-presidente da República e colunista da Folha, do Convento das Mercês, prédio histórico de São Luiz. Segundo o ‘Globo’, ‘ex-presidente chora, passa mal e pede ação da Justiça’. Não vi na Folha.
Mundo
Continua incompleta e confusa a cobertura que a Folha está fazendo do envolvimento do jornalista Bob Woodward no caso Valerie Plame. Reclamei ontem e volto a reclamar hoje. Basta comparar o texto da Folha (‘Ex-diplomata quer inquérito sobre jornalista do ‘Washington Post’, pág. A13) com o do ‘Estado’ (‘Bob Woodward vive seu próprio Watergate’).
Cotidiano
A Folha tem duas reportagens importantes na área médica: ‘CRM quer mais rigor contra propaganda irregular de médico’ e ‘Provão de medicina reprova 5 faculdades’. Mas o ‘Globo’ tem uma informação igualmente relevante que terá desdobramentos: ‘Ministro [da Saúde]: intervenção de Lula [nos hospitais do Rio] foi um desastre’.
17/11/2005
Se existe um verbo inadequado ao estilo Palocci, este verbo é atacar. Palocci raramente ataca. Sua retórica é de outra natureza. Por isso, soa estranha e parece exagerada, para quem assistiu todo ou apenas parte do depoimento do ministro da Fazenda ontem no Senado, a manchete da Folha ‘Palocci ataca Dilma e investigações’. A manchete interna no caderno Brasil me pareceu mais condizente com o que ocorreu: ‘Oposição suaviza, Palocci se defende e critica Dilma’.
Foi como os dois concorrentes trataram o depoimento do ministro:
‘Palocci explica, rebate críticas, mas não deve escapar de CPI’ (‘Estado’);
‘Palocci diz que Dilma está errada e critica investigações’ (‘Globo’)
A visão dos jornais econômicos:
‘Valor’ – ‘Palocci agora aguarda apoio explícito de Lula’.
‘Gazeta Mercantil’ – ‘Continuam as dúvidas sobre permanência de Palocci’.
O verbo atacar teria sido bem usado no título da notícia sobre a reação do governador de Mato Grosso do Sul , Zeca do PT, à visita da ministra Marina Silva, também do PT. Ali, sim, não houve apenas uma crítica (‘Governador de MS critica ministra e defende usina’), mas um ataque.
Escândalo do ‘mensalão’
Qual o crime cometido pela Interbrazil por ter apoiado a campanha do PT em 2004 a pedido de Adhemar Palocci, irmão do ministro? Como está na Folha (‘Interbrazil aparece em fita de Waldomiro’, pág. A13 da Edição SP), ainda mais no condicional – ‘teria apoiado’ -, não há aparentemente irregularidade ou crime. O que a Folha não deixa claro na reportagem é que, na CPI, a suspeita é de que a seguradora teria, segundo o ‘Estado’, ‘dado dinheiro para o caixa 2 do PT em Goiás em 2004’. E isso é bem diferente de ajudar na campanha. A falta de precisão no caso faz com que pareça gratuita a ligação que a Folha estabelece entre a participação da empresa na eleição goiana e o caso Waldomiro, no Rio.
Folha e ‘Globo’ fizeram interpretações diferentes da parte do discurso de ontem em que o presidente Lula se refere à imprensa (na Folha, pág. A7 da Edição SP; no ‘Globo’, pág. 9). Segundo a Folha, ‘(…) o presidente voltou a insinuar sua desconfiança com setores da imprensa…’. Segundo o ‘Globo’, ‘Lula pede que povo se informe para decidir o futuro no ano que vem’. Pelos textos reproduzidos pelos dois jornais, fiquei com a impressão que a Folha interpretou mal o discurso presidencial.
Mundo
A cobertura sobre a reação do governo Bush à acusação de que teria mentido no caso do Iraque (‘Casa Branca reage a críticas sobre Iraque’ e ‘Bush não mentiu, diz ideólogo conservador’, págs. A14 e A15 de ‘Mundo’) exigia uma complementação com o histórico e os argumentos das acusações.
Sem informações sobre a lei norte-americana, fica difícil entender porque o jornalista Bob Woodward teve de depor e revelar a sua fonte de informação. As leis dos EUA e do Brasil são bem diferentes em relação ao sigilo da fonte e este caso Valerie Plame exige sempre uma explicação sobre estas diferenças legais.
O ‘Estado’ explica hoje para os seus leitores que o ‘cachorro’ usado pelo presidente Hugo Chávez para atacar o presidente Vicente Fox tem, na Venezuela, também tem o significado de ‘cachorrinho’, como inicialmente a Folha traduziu e depois reconheceu como erro. O esclarecimento é do adido de Imprensa da Embaixada da Venezuela no Brasil.
Cotidiano
Está mal editada a reportagem a respeito dos furtos ocorridos na Biblioteca Nacional, no Rio (‘Cai segredo de Justiça e Biblioteca Nacional revela furto de 949 peças’). É um escândalo sem tamanho.
16/11/2005
As manchetes são praticamente iguais:
Folha – ‘Palocci tenta esfriar crise e antecipa ida ao Senado’
‘Estado’ – ‘Palocci se antecipa e vai hoje ao Senado para evitar CPI’.
‘Globo’ – ‘Palocci tenta reduzir crise antecipando ida ao Senado’.
Variação sobre o mesmo tema:
‘Valor’ – ‘Palocci joga o seu futuro no Senado hoje’.
É um exagero a capa da Edição Nacional reservar tanto espaço – uma foto em quatro colunas e um infográfico bem destacado, além do texto da chamada – para os problemas do aeroporto de Congonhas. Tanto é exagero que, na Edição SP, destinada aos leitores que mais interesse têm no assunto, a foto dos aviões em fila foi substituída (por uma foto óbvia, é verdade, de carros em fila no engarrafamento pós-feriadão).
Ilustrada
Como o jornal ignorou o assunto nas edições de ontem e de hoje, repito a nota da Crítica Interna de segunda-feira:
‘A reportagem ‘Ano do Brasil na França foi ‘milagre’ (pág. A10 da Edição Nacional), tradução do ‘Le Monde’, exigia uma complementação da Redação da Folha. Há informações que deveriam ter sido confirmadas com o governo brasileiro e há uma acusação grave – a de que a mostra de Arturo Bispo do Rosário teria sido cancelada porque o diretor do museu no Rio pedia uma comissão – que foi publicada sem o devido ‘Outro lado’. Não fica claro se esta comissão era uma cláusula normal de ajuda ao museu ou se uma propina. Pela importância que o jornal deu ao longo do ano para o evento na França e pelas informações veiculadas ontem, a Folha deveria – e deve – esclarecer melhor o assunto’.
Escândalo do ‘mensalão’
As divergências entre a ministra Dilma Rousseff e o ministro Antonio Palocci por conta da política econômica do governo Lula não podem estar relacionadas no rol de ‘suspeitas’ contra o ministro, como ficou editado hoje no infográfico ‘As suspeitas que envolvem Palocci’ (pág. A5 da Edição Nacional; não sei se foi mantido assim na Edição SP porque não a recebi).
É um absurdo. O infográfico deveria ter outro título; ou a nota ‘Fogo amigo’ deveria estar em outra parte da cobertura.
Não há dúvida de que as resistências dentro do governo à política econômica representada pelo ministro da Fazenda ajudam a enfraquecê-lo neste momento em que está sendo bombardeado por várias acusações sérias. Mas isso nada tem a ver diretamente com o ‘mensalão’ (ou seja, com crimes e irregularidades) como o título do infográfico e o chapéu da página fazem crer. Não será por isso que o ministro cairá. Vale lembrar que divergência igual – Serra x Malan – percorreu todo o governo FHC.
Elio Gaspari está dando mais importância, na sua coluna de hoje (‘A conexão Luanda-Ribeirão’, pág. A7), às informações publicadas pelo ‘Globo’ desde domingo (‘Banco do valerioduto também pagou a autoridades de Angola’) do que a Folha vem fazendo. Só ontem, e bem superficialmente, o jornal tratou do assunto.
Igreja
Não vi registro na Folha do retorno ao Brasil do padre italiano Vito Miracapillo, expulso em 1980 pelos militares.
Haiti
A Folha destaca hoje, com acerto, a denúncia encaminhada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos por supostos crimes cometidos pelas tropas brasileiras no Haiti. Está na primeira página do jornal (‘Brasil é acusado por supostas chacinas no Haiti’) e na capa do caderno ‘Mundo’ (‘Ongs acusam Brasil de violações no Haiti’). Não é a primeira vez que ocorrem acusações semelhantes.
Já escrevi sobre o assunto em diversas ocasiões, na Crítica Interna e na coluna de domingo, e continuo com o mesmo diagnóstico: o jornal ainda deve aos seus leitores uma grande reportagem (ou uma série) sobre o que de fato está ocorrendo naquele país e sobre as responsabilidades do Brasil nos crimes que são denunciados. É uma reportagem que só pode ser feita lá e com recursos do próprio jornal para que esteja garantida total independência.’