’11/04/2006
A manchete do ‘Estado’ está melhor do que a da Folha porque junta duas informações que questionam os procedimentos da Polícia Federal: ‘PF evita ouvir Bastos e devassa vida de caseiro’. O enunciado da Folha só trata de um aspecto: ‘PF descarta ouvir Bastos sobre violação de sigilo’. A manchete do ‘Correio Braziliense’ vai na mesma direção da do ‘Estado’: ‘PF alivia Bastos, mas amplia cerco a caseiro’.
O ‘Globo’ trata do Plano Diretor do Rio: ‘Barra pode ter mais obras; e favelas, maior controle’.
Conexão Ribeirão
A entrevista dada por Rogério Buratti para o ‘Estado’ contém mais informações sobre as atividades de negócios da chamada ‘República de Ribeirão’ do que a da Folha. Nas duas entrevistas ele confirma a presença de Antonio Palocci na casa do Lago Sul, mas a do ‘Estado’ explora melhor o lado lobista do grupo. A Folha pareceu mais preocupada com as festas com garotas de programa.
CPI dos Correios
Está mal dada, na Edição Nacional, a informação de que a CPI incluiu no relatório final o pedido de indiciamento do banqueiro Daniel Dantas (‘Senado rejeita recurso do PT contra relatório’). A informação do pedido de indiciamento está apenas na linha de apoio (pág. A7).
Suzane
O artigo de hoje do colunista Luís Nassif (‘Os segredos de Suzane’, pág. B4) é um desafio ao jornal.
Não se pode considerar como ‘outro lado’ dos advogados de Suzane von Richthofen o parágrafo solitário publicado no meio de uma reportagem em que se informa que serão investigados. Foi assim que saiu na Edição Nacional a referência a uma nota de um dos advogados perdida no meio do texto ‘OAB diz que irá apurar atuação de advogados’ (capa de ‘Cotidiano’).
Intertítulo
Sumiram os intertítulos das reportagens das capas de ‘Dinheiro’ (na Edição Nacional) e de ‘Cotidiano’ (nas duas edições). Haja interesse por parte do leitor.
Violência em São Paulo
A se avaliar pelo tamanho dos textos publicados, a Folha considera um enfrentamento entre comandos num morro do Rio com uma morte tão importante quando a tentativa de invasão de uma delegacia na Grande São Paulo, com quatro mortes, e o assassinato de dois policiais e um amigo, numa feira pública. É o que se deduz comparando o registro da ação ousada do PCC na sexta-feira à noite e no sábado de manhã em Suzano (38 km de São Paulo, ou seja, extensão da capital) com o registro de hoje ‘Invasão de traficantes no morro do São Carlos, no Rio, deixa um rival morto’ (pág. C3 da Edição Nacional).
Aviso
Participo amanhã, em São Paulo, da reunião da Comissão Julgadora do Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo. Por esta razão não farei a Crítica Interna.
10/04/2006
Deve-se à insistência jornalística da ‘Veja’ a continuação do caso da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. A revista, que na semana anterior já havia contado a ‘história secreta’ da conspiração que levou à quebra do sigilo e à queda do ministro Antonio Palocci, prosseguiu revolvendo o caso e trouxe na atual edição mais informações relevantes sobre a participação do ministro da Justiça, Márcio Tomaz Bastos. A revista revela mais um fato omitido por Bastos, sua participação numa reunião com Palocci, Mattoso (ex-presidente da CEF) e o advogado Arnaldo Malheiros, no dia 23 de março. A Folha, que trouxe versões incompletas da participação do ministro da Justiça no domingo e na segunda-feira da semana passada, não conseguiu avançar com informações próprias.
Título na capa da ‘Veja’: ‘Golpe sujo II – O ministro da Justiça ajudou a planejar defesa de Palocci’.
Com exceção da Folha, que destacou na manchete o resultado da pesquisa Datafolha para o governo de São Paulo – ‘Serra mantém a liderança em SP’ -, os jornais mantiveram hoje o foco no ministro da Justiça com títulos muito parecidos:
‘Estado’ – ‘Sob pressão, Bastos quer ir logo ao Congresso’.
‘Globo’ – ‘Sob pressão, Thomaz Bastos antecipa ida ao Congresso’.
‘Correio Braziliense’ – ‘Sob pressão, Bastos antecipa sua defesa’
Na Folha – ‘Bastos pede para ser ouvido logo no Senado’.
Eleições 2006
Uma das artes da ‘Intenção de voto pra governador de SP’ está errada na Edição Nacional: um dos cenários é ‘Sem Maluf , sem Quércia’ e não ‘Com Maluf, sem Quércia’ (pág. A6).
O ‘Globo’ iniciou, na edição de domingo, investigações próprias sobre o candidato do PSDB a presidente da República, Geraldo Alckmin, na linha que a Folha já vinha apurando.
E o ‘Estado’ traz hoje um grande resumo do inquérito sobre a Nossa Caixa. O que vi no ‘Estado’ de novidade em relação à cobertura da Folha foi a relação de pedidos de CPIs importantes que foram contidos pela força da base de apoio do ex-governador na Assembléia Legislativa.
Datafolha
Está errada a manchete da capa de ‘Cotidiano’, ‘Em São Paulo, 65% desconhecem o prefeito’. Se apenas 23% sabem quem é o novo prefeito, significa que 77% desconhecem quem seja. Deveriam ter sido somados os índices dos que não sabem (65%) com os dos que acham que ainda é o Serra (3%) ou outro nome qualquer (9%).
Farsa
Por causa do horário de fechamento, a Edição Nacional não registrou a farsa armada pelos advogados de Suzane von Richthofen e revelada pelo Fantástico. Acho que a Edição Nacional de amanhã deve ter um registro, principalmente por que a coluna ‘Toda mídia’ só teve condições de contar a história pela metade (‘Encontro’), sem a evidência da farsa.
Violência em São Paulo
O ‘Estado’ fez uma cobertura muito melhor do que a da Folha no caso das mortes em Suzano, na Grande São Paulo, ocorridas na noite de sexta-feira e manhã de sábado. Bandidos, segundo o ‘Estado’ ligados ao PCC, fizeram um ataque à Delegacia Central de Suzano e, no dia seguinte, atacaram policiais numa feira livre da cidade. Um ato de ousadia e desafio. No primeiro ataque morreram quatro bandidos. No segundo, foram mortos dois policiais e um amigo. Imagino o espaço que a Folha daria se o Comando Vermelho ou qualquer outro comando que domina o narcotráfico no Rio fizesse um ataque frontal a uma delegacia da Baixada Fluminense e, no dia seguinte, armasse uma tocaia e matasse dois policiais numa feira livre.
Pois a Folha publicou apenas um registro na edição de domingo (‘Ataques em Suzano deixam sete mortos’), enquanto o ‘Estado’ publicou quase meia página, com manchete mais forte (‘Guerra entre polícia e PCC deixa sete mortos’) e chamada na Primeira Página (‘Guerra entre policiais e PCC mata 7 em Suzano’). O ‘Estado’, corretamente, continuou acompanhando o caso na edição de hoje, ‘Presos 2 suspeitos de ajudar em execução de policiais’. Na Folha, o caso sumiu, apesar de sua gravidade.
É muito freqüente, nos debates jornalísticos, o questionamento de que os jornais de São Paulo dão muito destaque para os atos de violência que ocorrem no Rio e cobrem com parcimônia os crimes que ocorrem em torno deles. Neste caso de Suzano a Folha dá razão aos críticos.
Miss Brasil
A Folha publicou uma reportagem de uma página, na coluna ‘Mônica Bergamo’ de domingo, sobre a preparação das candidatas a Miss Brasil, ‘As pequenas princesas’ (pág. E2). O desfile ocorreu no sábado à noite. Não há uma linha na edição do domingo, nem na de hoje, sobre o resultado. Se o jornal considerou tão importante fazer uma reportagem sobre o assunto a ponto de dar uma página inteira de sua edição mais nobre, pelo menos uma notinha deveria informar o resultado final.
07/04/2006
Por conta dos preparativos da Conferência Anual de Ombudsmans que será realizada em SP no mês que vem com apoio da Folha não será possível fazer hoje a Crítica Interna.
Reproduzo a resposta que recebi, da Sucursal de Brasília, via Secretaria de Redação, à Crítica Interna de ontem:
‘O ombudsman considera que a Folha não deu as seguintes informações:
a. que a PF considera Palocci o suspeito (OESP e OG).
b. que o MPF quer quebra do sigilo telefônico dos envolvidos (OESP).
A informação sobre o item A está na página A8, e sobre o item B, como furo (manchete da Edição Nacional, chamada na SP) na edição de ontem’.
A Sucursal tem razão em relação ao item b, e peço desculpas pela falta de atenção. Em relação ao item a, chamei a atenção para o fato de que ‘O Globo’ e ‘O Estado de S. Paulo’ publicarem que a Polícia Federal já tinha concluído que Palocci foi o mandante do crime enquanto o material da Folha destacava que a Polícia Federal faria uma acareação entre Palocci e Mattoso.
06/04/2006
É interessante observar como os três grandes jornais trataram, nas suas Primeiras Páginas, as notícias de mais um dia quentíssimo em Brasília.
A Folha elegeu como principal destaque os desdobramentos das investigações sobre a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa – ‘PF fará acareação entre Palocci e Mattoso’ -, mas não tinha a informação que está na capa do ‘Estado’ e do ‘Globo’ – ‘PF já concluiu: Palocci foi o mandante da violação de sigilo’.
O ‘Estado’ e o ‘Globo’ deram mais destaque para os desdobramentos da CPI do ‘mensalão’:
‘Estado’ – ‘CPI aprova relatório; Cunha escapa’.
‘Globo’ – ‘Dois pra lá, dois pra cá – CPI derrota governo e aprova o relatório final do mensalão – Mas Câmara absolve seu ex-presidente João Paulo Cunha, do PT, envolvido com valerioduto’.
Na Folha, as notícias estão separadas e não tem a mesma força editorial: ‘CPI dos Correios aprova relatório’ e ‘Ex-presidente da Câmara é o oitavo absolvido do mensalão pelo plenário’.
Os três jornais têm a foto do deputado Osmar Serraglio, relator da CPI, carregado em triunfo após a aprovação do relatório.
A Primeira Página do ‘Globo’ é a que tenta dar mais visibilidade para o conjunto das notícias do dia e tem detalhes editoriais que a diferenciam das outras. As notícias sobre a CPI e a quebra ilegal de sigilo estão arrumadas num mesmo bloco e ocupam dois terços da capa, com uma charge do Chico que ilustra a idéia da ‘dança com pizza’; e a morte do palhaço Carequinha serve para mais um recado: ‘Hoje não tem marmelada – Morre Carequinha, o palhaço ético de três gerações’.
Outras manchetes:
‘JB’ – ‘Mensalão existiu. PT saudações’.
‘Correio Braziliense’ – ‘CPI marca o PT com carimbo do mensalão’.
‘Zero Hora’ – ‘Câmara absolve seu ex-presidente mas evita comemoração pública’ e ‘CPI aprova relatório do mensalão e derrota Planalto’.
Quebra do sigilo bancário
Além de garantir que a Polícia Federal já concluiu que Palocci mandou violar o sigilo bancário do caseiro, o ‘Estado’ traz informações do Ministério Público Federal (‘MP pede quebra de sigilo telefônico de suspeitos’), informa que o último funcionário ligado a Palocci no Ministério da Fazenda foi demitido ontem e tem um relato mais completo do que o da Folha do depoimento do general Armando Félix (Gabinete de Segurança Institucional) no Congresso.
Folha e ‘Estado’ têm informações diferentes e contraditórias sobre a reação do diretor da Polícia Federal no caso do interrogatório do ex-ministro Antonio Palocci. Segundo o ‘Estado’, o delegado Paulo Lacerda criticou o privilégio dado ao ex-ministro, que foi ouvido em casa, e o caso provocou uma crise interna na Polícia Federal. Segundo a Folha, ‘PF diz que ouvir ex-ministro em casa foi correto’.
CPI
Acho que a Folha continua devendo um relato mais detalhado das conclusões do documento final aprovado ontem pela CPI do ‘mensalão’. Os textos e infográficos publicados até agora são insuficientes para se entender o impacto do relatório.
Um exemplo: a definição de mensalão feita no relatório não está contemplada no infográfico de hoje, ‘O relatório final da CPI’ (pág. A4). E esta definição é fundamental para se formar um juízo sobre o relatório. Não basta o jornal resumir ‘o mensalão existiu’. Como o relatório descreve o mensalão? Como resume as principais operações detectadas? De tantas denúncias e acusações feitas, quais as que realmente foram comprovadas e estão documentados e quais foram esquecidas ou enterradas?
A crônica da aprovação é importante, mas isso todo mundo deu e as TVs mostraram imagens mais fortes que textos. O que a TV não tem condições de fazer, e o jornal tem, é publicar os trechos mais importantes de um relatório que será usado e manipulado pelos partidos durante a disputa eleitoral.
O jornal deve ainda procurar explicações para as mudanças de última hora no relatório e a retirada de nomes na lista de sugestões de indiciamentos (infográfico ‘Principais mudanças do relatório final da CPI’, pág. A5 da Ed. SP).
Enéas
O deputado Enéas Carneiro ficou conhecido a partir de 1989 pelo bordão ‘Meu nome é Enéas’ e pela barba. Como ele tirou a barba, é normal a curiosidade de vê-lo de rosto limpo. Não dá para entender, portanto, por que a Folha só publica a foto dele sem barba na Edição São Paulo, deixando de fora, pelo segundo dia consecutivo, da Edição Nacional. Não consigo entender o critério jornalístico usado.
05/04/2006
O depoimento, tarde da noite, do ex-ministro Antonio Palocci obrigou os jornais a mudarem suas manchetes. Como eram e como ficaram:
Folha – ‘Pedida quebra de sigilo de Palocci’ e ‘Palocci é indiciado após depor à PF’.
‘Estado’ – ‘Relatório do PT nega tudo e CPI busca saída’ e ‘Palocci nega tudo à PF, mas é indiciado por quebra de sigilo’.
‘Globo’ – ‘Presos no Rio 44 fiscais do Trabalho por fraudes’ e ‘Palocci depõe à PF em segredo e é indiciado’.
Quebra do sigilo bancário
Um parágrafo da reportagem ‘Palocci depõe em casa, nega ter violado sigilo e é indiciado’ (pág. A4 da Edição SP) saiu truncado e teve seu sentido alterado: ‘Palocci disse ainda que seu ex-assessor Marcelo Netto e o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg, estavam em sua casa naquela noite, mas presenciaram a entrega do extrato nem souberam das informações’.
Infográfico
O infográfico ‘O PT passado a limpo’ (pág. A6) destaca as frases em que Paulo de Tarso e Paulo Okamotto se referem a uma tal de CPEM mas não explicam do que se trata. O leitor tem de procurar no texto para entender. O objetivo do infográfico é facilitar a vida do leitor, e não complicar.
A propósito, o jornal ora escreve CPEM, ora Cpem.
Enéas
É uma pena que o jornal não tenha conseguido editar na Edição Nacional as duas fotos do deputado Enéas Carneiro, com e sem barba (‘Enéas tira a barba e sai candidato’, pág A8 da Ed. SP).
Nossa Caixa
Segundo o ‘Globo’, a tentativa de instaurar uma CPI na Assembléia de SP para investigar o caso Nossa Caixa sofreu ontem novo revés – ‘PT não consegue aprovar CPI contra Alckmin’.
Operação Paralelo 251
Embora não tenha ocorrido em São Paulo, base do jornal, a operação da Polícia Federal que levou à prisão quase a metade dos fiscais da Delegacia do Trabalho no Rio – ‘PF detém 55 suspeitos de fraudar FGTS’, pág. B7 – deveria ter tido mais visibilidade no jornal pela sua dimensão e conseqüências. O esquema fraudulento existe há mais de dez anos, milhares de trabalhadores foram prejudicados e o número de prisões feitas ontem, e que devem continuar, é recorde.
A Primeira Página ignorou o assunto, que interessa a assalariados do Brasil inteiro que desconfiam das contas nas rescisões de contrato.
E internamente o jornal não teve a preocupação de prestar serviço: o que podem fazer agora os assalariados prejudicados? Podem entrar na Justiça ou devem esperar a promessa do ministro do Trabalho de que haverá uma revisão dos cálculos e um ressarcimento? Se recorrerem à Justiça, o que devem fazer? Podem entrar com ações contra seus antigos empregadores que se beneficiaram da fraude?’