‘20/10/06
A Folha, acertadamente, mudou a manchete da Edição Nacional – ‘Turista tem maior gasto no exterior em oito anos’ – e o desenho da Primeira Página para dar destaque ao segundo debate entre os dois candidatos, realizado à noite no SBT. A manchete da Edição SP, síntese do que o jornal considerou mais importante no debate – ‘Lula tira corrupção de foco em debate’ –, não faz, no entanto, sentido: não foi Lula quem tirou o tema do debate; foi o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que optou por não dar tanta ênfase à corrupção, provavelmente por estratégia eleitoral. Alckmin trocou o questionamento sobre corrupção por temas como saúde e educação. Se fosse do interesse do tucano insistir no assunto, não teria como Lula evitá-lo. A formulação da manchete tem um tom acusatório fora de propósito. Aliás, o correto, pelo relato da Primeira Página da Folha, seria dizer que Alckmin tirou o tema corrupção do foco do debate.
Freud Godoy é o personagem das manchetes do ‘Estado’ e do ‘Globo’, com informações que a Folha não tem: ‘Investigado, Freud mantém contato com assessor de Lula’ (‘Estado’) e ‘Petista confirmou que Freud mandou comprar o dossiê’ (‘Globo’).
Em relação ao debate, o ‘Estado’ acrescentou, na Edição SP, o seguinte título: ‘Lula e Alckmin trocam papéis em debate’. O ‘Globo’ assim o resumiu o debate: ‘Debate tem troca moderada de acusações’.
Debate
Achei muito sintética e incompleta a cobertura feita pela Folha do debate presidencial no SBT. Os leitores que não tiveram condições de assistir mereciam mais trechos do debate. Os detalhes de bastidores são interessantes e atendem à curiosidade de uma parte do leitorado, mas nada justifica que eles tenham mais peso na cobertura do que a reportagem sobre os argumentos e propostas dos candidatos. Vários temas tratados, como segurança pública (PCC) e educação, não foram reportados pela Folha.
O melhor da cobertura do jornal é a análise de Gustavo Patu, ‘Números enganosos e consenso oculto’ (pág. A5).
Eleições 2006
Terminou de forma abrupta a resposta do candidato Geraldo Alckmin à última pergunta editada nas páginas com a sabatina da Folha (página A17 da Edição Nacional), exatamente a única sobre o PCC. O ex-governador fala em ‘duas coisas’ para a análise do problema, mas só aparece uma no jornal.
‘Dinheiro’
Um dos textos mais interessantes nos jornais de hoje está no ‘Estado’. É o relato da repórter Pui-Wing Tam, do ‘The Wall Street Journal’, que conta como ela foi espionada durante um ano pela Hewlett-Packard, ‘Como a HP vasculhou o meu lixo’.
18/10/06
18/10/06
Folha e ‘Estado’ deram destaque para a pesquisa Datafolha: ‘Lula abre 19 pontos sobre Alckmin’ (Folha) e ‘Pesquisa: vantagem de Lula sobe para 20 pontos’. A pesquisa é a mesma, mas os jornais puxam indicadores distintos: a Folha usa o resultado da intenção de votos e o ‘Estado’ o cálculo dos votos válidos.
O ‘Globo’ deu manchete para a entrevista que fez com Geraldo Alckmin: ‘Lula está desmontando a indústria do país, diz Alckmin’.
E o ‘Valor’ chama a atenção para a economia real: ‘Falta de gás para térmicas põe setor elétrico em alerta’.
A entrevista exclusiva com Al Gore merecia melhor atenção da Primeira Página. Na Edição SP não restou sequer o pequeno título sem texto da Edição Nacional.
Eleições 2006
A reportagem sobre o discurso de Lula em Belém (intertítulo ‘Movimentos sociais’ em ‘Com a cabeça na Paulista, Alckmin não conseguirá governar, diz Lula’, pág. A6 da Edição SP) não autoriza a linha fina ‘Petista (…) afirma que, se eleito, tucano perseguirá movimentos’. Não há esta afirmação de Lula no texto.
Está errada a legenda da foto da página A6 da Edição Nacional: Clarissa Matheus, filha de Anthony Garotinho, não aparece na foto. Aliás, nem estava neste comício.
A foto de José Carlos Espinoza com Lula, na página A8, não informa a data em que foi tirada. Como está, faz supor que a foto foi feita ontem.
Dossiê
O título da manchete da pág. A11 da Edição SP – ‘Dinheiro deve ter saído do PT, diz relatório’ – é desmentido pelo próprio delegado responsável pelo relatório citado. Como a Folha, pelo que a reportagem indica, não leu o tal relatório, o mais prudente teria sido um título com outra formulação. A ver.
‘Dinheiro’
A notícia da aquisição do conjunto de prédios em Nova York (‘Conjunto de 110 prédios em Nova York é leiloado por US$ 5,4 bilhões’, pág. B8) poderia feito uma comparação da área (0,32 km²) leiloada com alguma referência no Brasil, para que ficasse mais compreensível a dimensão do espaço ocupado pelos prédios.
‘Cotidiano’
Ficou incompreensível, tanto na Edição Nacional (capa) como na Edição SP (pág. C9), o jogo de fotos com flagrantes de carros em situações irregulares. Não dá para entender se as fotos ilustram as reportagens da página ou se têm vida própria. Neste último caso, deveriam ter tido outro tratamento gráfico, algum título e alguma explicação. Por que a Folha foi para a rua fotografar infrações? Era uma reportagem especial reduzida a um texto-legenda? Dezoito infrações em 25 minutos é muito ou pouco? Como se diz no jargão jornalístico, qual o ‘gancho’ das fotos?
O jornal não traz informações sobre o andamento das investigações do desastre do avião da Gol.
Aviso
Faço amanhã, em São Paulo, uma palestra no 3º Seminário da Anatec (Associação Nacional de Editores de Publicações). Por esta razão não haverá a Crítica Interna.
16/10/06
Participo hoje e amanhã do seminário Mídia e Violência, organizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, no Rio. Por esta razão não haverá a Crítica Interna nos dois dias.’