Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica interna

25/10/2006

MARCELO BERABA

As manchetes da Folha e do ‘Estado’ saem da última pesquisa Datafolha:

Folha – ‘Lula tem 61% dos votos válidos’.

‘Estado’ – ‘A 5 dias da eleição, Lula tem 22 pontos à frente’.

O ‘Globo’ não deu destaque para a diferença, fez apenas um registro: ‘Lula mantém liderança folgada’. O jornal do Rio deu manchete para a economia, mas com um enfoque eleitoral: ‘Superávit mensal do governo é o menor registrado desde 1998’. Este foi o segundo destaque do ‘Estado’, ‘Superávit cai ao menor nível desde 1998’. A Folha não dá tanta ênfase: ‘Superávit do governo federal em setembro é o pior do ano’.

A Folha se recuperou bem no caso da Vale do Rio Doce e deu a notícia do negócio como a segunda chamada mais forte da Primeira Página: ‘Vale dá US$ 13,2 bi por mineradora e vira a 2ª maior do mundo’. A compra é a manchete do ‘Valor’: ‘Mercado prestigia a Vale após a aquisição bilionária’. O ‘Estado’, que já tinha adiantado a informação ontem, hoje ignora o assunto na sua capa.

O noticiário sobre o dossiê dos Vedoin segue no ritmo das gotas que a PF pinga diariamente: ‘Laranja diz à PF não saber sobre compra dos dólares’.

Eleição 2006

A edição de hoje da Folha reflete bem a exaustão a que chegou a campanha eleitoral às vésperas da votação do segundo turno. Sem notícias novas, sem polêmicas programáticas, sem avanços nas investigações policiais, a ocupação obrigatória do espaço do noticiário eleitoral se salva pelas pesquisas do Datafolha (também sem novidades) e pela agenda insossa dos candidatos. A calmaria de um dia como o de ontem demonstra como o jornal depende das pesquisas, da agenda dos candidatos e da Polícia Federal. Hoje teria sido um bom dia para a publicação de reportagens especiais e/ou reflexivas sobre a disputa eleitoral e seus desdobramentos.

A coluna de Janio de Freitas, ‘Além da imaginação’, retrata bem esta reta final desprovida de razão e de emoção.

Debate?

O jornal esqueceu que o debate de anteontem, iniciado depois das 22h, só foi noticiado na Edição SP. O leitor da Edição Nacional de hoje que só lê a Folha ou a tem como principal referência ficou sem saber o que aconteceu no tal debate. Nem um resumozinho o jornal se dispôs a conceder. Como este (e)leitor não obteve informações e não teve acesso às avaliações e comentários que o jornal publicou ontem na sua Edição SP, ele continua sem entender porque os debates estão ‘saturados’, como está na reportagem ‘Campanhas avaliam que debates estão ‘saturados’ (pág. A9). Pelo menos os comentários críticos sobre os desempenhos dos candidatos (os textos de Gustavo Patu e Nélson de Sá, por exemplo) deveriam ter sido copiados hoje na Edição Nacional. É muita falta de consideração com mais da metade dos leitores da Folha que não vivem na Grande São Paulo.

‘Dinheiro’

A reportagem sobre as negociações entre o Brasil e a Bolívia (‘Acordo com Bolívia pode ser parcial, afirma Amorim’, pág. B12), informa, nas duas edições do jornal, que ontem à tarde houve nova reunião mas que ‘o encontro não havia terminado até o fechamento desta edição’. A Edição SP, pelo registro da Primeira Página, fechou à 0h20. A reunião não teria terminado neste horário ou a Folha repetiu no automático a informação da Edição Nacional?

‘Cotidiano’

O ‘Estado’ dá grande destaque hoje, inclusive com chamada forte na Primeira Página, para denúncia de corrupção na Câmara de Vereadores de S. Sebastião, no litoral paulista. Os vereadores estariam recebendo dinheiro para mudar as regras de zoneamento e atender a investidores imobiliários portugueses.

‘Ilustrada’

O debate na Record foi anteontem, e não ontem, como está na primeira nota da coluna de Mônica Bergamo (‘Serra, o debate e as férias do garoto mineiro’, pág. E2).

Aviso

Participo amanhã de almoço na Folha, em São Paulo. Por esta razão não haverá a Crítica Interna.



24/10/2006

Como os grandes jornais deram o debate de ontem à noite na Record, o terceiro deste segundo turno: ‘Alckmin cobra ética e Lula exalta política social na TV’ (manchete da Edição SP da Folha), ‘Alckmin ataca corrupção, Lula mantém ironia’ (‘Estado’, mas não é a manchete) e ‘Lula fala em entendimento após eleição, Alckmin nega’ (‘Globo’).

A Folha começou a circular, antes do debate, com a manchete ‘País pagou R$ 1,2 trilhão de juros em 6 anos, diz estudo’. O ‘Estado’ manteve a manchete nas duas edições: ‘Sudeste tem 50% de risco de apagão em 2008’.

Debate

O melhor da cobertura (Edição SP) foram, mais uma vez, os comentários (Gustavo Patu e Nelson de Sá). Boa a idéia de assistir ao debate com o psicanalista (Sergio Telles) e com o cientista político (Leôncio Martins Rodrigues).

A cobertura propriamente dita continuou sintética, como no último debate, e com mais preocupação em descrever os ânimos e a retórica dos candidatos do que em selecionar alguns temas para a informação do leitor que não pôde assistir. Pelo menos dois temas pouco explorados apareceram e não tiveram a atenção do jornal: política externa e a democratização dos meios de comunicação.

A primeira nota da coluna ‘Bastidores’ (‘Orelhão’, pág. A6) informa que os tucanos suspeitam que Lula foi auxiliado, durante o debate, por um ponto eletrônico no ouvido e que pretendem pedir explicações à TV Record. Por que o jornal não esclareceu ontem mesmo esta dúvida? Não tinha repórter na Record?

‘Dinheiro’

Segundo o ‘Estado’, a Vale do Rio Doce havia conseguido obter, até 22h de ontem, a adesão de mais de 70% dos acionistas da Inco e assumiu o controle do grupo canadense – ‘Vale fecha a compra da Inco e vira a 2ª maior mineradora do mundo’.

A Folha vinha acompanhando as negociações, mas não vi nada na edição de hoje.

‘Cotidiano’

A Folha ignora, na edição de hoje, um fato polêmico que dá margem para um bom debate: foi condecorada ontem, na Assembléia Legislativa do Rio, a senhora que reagiu a um assalto no Flamengo e atirou na mão do assaltante.

‘Esporte’

Segundo a Folha, Michael Jordan teria presenteado Ronaldinho Gaúcho com sandálias (‘Sandálias da humildade’, pág. D3). As reportagens que vi na TV e em outros jornais informavam que o jogador de futebol recebeu um par de tênis. A conferir.



23/10/2006

A Folha traz mais informações a respeito dos problemas que o Estado de São Paulo está tendo para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal em 2006 – ‘Para fechar as contas, SP reduz obras em até 80%’. O texto da manchete não informa quem são os governadores e partidos que administraram o Estado ao longo deste ano. Era uma referência jornalística obrigatória. Geraldo Alckmin, governador até 31 de março, é candidato a presidente da República e tem como algumas de suas bandeiras o equilíbrio orçamentário e o choque de gestão.

‘Estado’ e ‘Globo’ mantêm o destaque nas investigações do casso dossiê: ‘Saque para dossiê foi em Nova Iguaçu’ (‘Estado’) e ‘Dólares para dossiê saíram de corretora na Baixada’ (‘Globo’). A Folha também tinha a informação: ‘PF investiga 3 casas de câmbio no caso dossiê’.

Dossiê

A Folha traz na edição de domingo novas informações que ajudam a reconstituir a gênese da trama do dossiê contra os tucanos que os Vedoin tentavam vender para o PT (‘Acusados dizem que negociaram um mês’, pág. A9). Uma informação que saiu logo no início do caso e depois sumiu foi a de que as prisões no aeroporto em Cuiabá e, depois, no hotel em São Paulo aconteceram porque a Polícia Federal vinha monitorando os Vedoin. É um detalhe importante uma vez que uma das teorias que prosperam -enquanto as investigações caminham lentamente – é a de que foi tudo uma armação.

Também foi importante a publicação das fotos no hotel, com as malas. (‘Valdebran contesta petista e afirma que mala tinha dinheiro’, pág. A8). São mais informações que ajudam a montar o quebra-cabeça.

Ligações perigosas

Problema de edição nas reportagens da página A19 de domingo. O texto principal, ‘PSDB pede explicações no ‘caso Lulinha’, termina com a informação de que a empresária Arlette Siaretta não atendeu a Folha para dar a sua versão em relação à reportagem da revista ‘Veja’. Mas no texto seguinte, ‘Gamecorp nega ter tentado influir no governo Lula’, a empresária é ouvida pelo jornal.

Câmara

É uma pena que só agora, acabada a eleição para a Câmara dos Deputados, o jornal tenha produzido a reportagem ‘Bancada de Enéas só aprovou uma lei’ (pág. A25 da Edição de domingo). É o tipo de serviço jornalístico para os (e)leitores que deveria ter saído antes de 1º de outubro, e é um balanço que deveria ter sido estendido a todos os partidos.

‘Cotidiano’

A capa do caderno ‘Cotidiano’ de hoje- ‘Sem verbas, Lembo reduz ritmo de obras’ – deveria ter feito uma remissão mais explícita do que o usual ‘Leia Mais’ para os argumentos do governo do Estado, jogados para a página C8. A edição deixou o ‘Outro lado’ muito distante da reportagem, o que prejudica as explicações oficiais.

‘Esporte’

O desenho da capa do caderno, com meia página de anúncio e os recursos gráficos utilizados, não deu a dimensão histórica da corrida de Fórmula 1 em São Paulo apontada no título – ‘Em GP histórico, Massa e vence e pensa em Senna’.

Por que o estilo Schumacher, por ser diferente do estilo ‘fashion’ dos demais pilotos, é cafona, como o jornal define na linha fina ‘Heptacampeão mantém seu estilo, arrojado na pista e cafona fora dela’ (pág. D7)?’