’04/07/2006
A impressão que tenho é que o jornal já abandonou alguns dos princípios anunciados na reforma gráfica de 17 de maio. Está lá, no ‘Manual de Formatos’: ‘Primeira Página – A parte mais nobre do navegador da Primeira Página, a barra horizontal logo abaixo do logotipo da Folha, será destinada a conteúdos exclusivos do jornal (furos, entrevistas, features, suplementos e colunistas)’.
A parte mais nobre da Primeira Página de hoje está ocupada por uma caixa com foto e notícias que não têm nada de exclusivas. Todos os jornais têm as mesmas fotos e notícias colhidas na entrevista coletiva dada por Carlos Alberto Parreira ontem à tarde no Rio.
Estranho também o corte no ‘navegador’, com as notícias sobre a Copa cortadas pela manchete do jornal. Entendo como uma variação do ‘caos organizado’ assumido pelo jornal no manual citado.
O ‘Estado’ e o ‘Globo’ mantêm o padrão de prestação de serviço para os que querem acompanhar os jogos da Copa independentemente da atuação do Brasil e publicam infográficos com os próximos jogos das semifinais e os horários. Na Primeira Página da Folha, o serviço, que vinha sendo publicado todos os dias enquanto a seleção seguia aos trancos, hoje foi trocado por um título seco (‘Alemanha e Itália abrem hoje semifinais’) sem horário e serviço de TV e sem informações de um jogo que reúne duas seleções tricampeãs. Ou seja, na capa da Folha não tem a cobertura da Copa, mas apenas da seleção brasileira. É uma cobertura voltada para o próprio umbigo.
O candidato do governo à Presidência do México não está 1% na frente do da oposição, como informa a Primeira Página da Edição Nacional, mas um ponto percentual.
‘Erramos’
A correção de erro de informação deve ser completa e deve facilitar a vida do leitor, e não complicá-la. A correção ‘Mundo’, na edição de hoje (pág. A3), reconhece o erro publicado ontem no infográfico ‘Referendo sobre Autonomias’ na Bolívia, mas não informa que Departamentos votaram pelo ‘sim’ (a favor da autonomia) e pelo ‘não’. Ou seja, obriga o leitor a recuperar o jornal de ontem para saber do que se trata. Ou adivinhar que o jornal estaria publicando novamente o quadro na edição de hoje.
Por se tratar de um erro que contraria o ‘Manual’ e prejudica o leitor, sugiro a republicação da correção, agora de forma correta.
Eleições 2006
A Folha traz hoje uma reportagem sobre as discussões internas nas campanhas dos dois principais candidatos à Presidência sobre o déficit da Previdência e as medidas necessárias para equilibrar as contas no próximo governo – ‘PT e PSDB querem adiar aposentadorias’ (pág. A8).
Como a reportagem situa, é um tema complicado porque implica em mudanças de regras e de direitos. Os candidatos fogem dele nas campanhas eleitorais porque não atrai votos, ao contrário.
O chapéu escolhido – ‘Agenda oculta’ – é bom porque indica que o jornal resolveu mexer em vespeiros.
Foi uma boa iniciativa. Espero que não seja a única, mas a primeira de uma série de reportagens e análises sobre os assuntos que realmente interessam para a população e que os candidatos vão evitar discutir publicamente para não perder votos.
O texto da manchete na Primeira Página deveria ter deixado claro que as mudanças estudadas para a elevação do limite de idade para a aposentadoria se referem apenas a novos segurados. No caso dos atuais segurados, o que a reportagem da página A9 informa é que o ‘Governo estuda alterar idade para aposentadoria integral’, fixando em 60 anos o padrão para o cálculo do fator previdenciário.
Como saiu na capa do jornal, ficou parecendo que os dois partidos querem adiar a aposentadoria para os que já estão no mercado. Pelo menos, foi o que entendi.
Acho que a foto do infográfico ‘Linhas de frente de campanha’ (pág. A7 da Edição Nacional) é do jurista Miguel Reale, morto em abril, e não do filho Miguel Reale Júnior, tesoureiro da campanha do PSDB.
Cotas
É um absurdo o tratamento dado hoje pela Folha à discussão sobre os projetos que instituem a Lei de Cotas e o Estatuto da Igualdade Racial.
1 – A Folha publicou, na quinta-feira passada, a íntegra do manifesto ‘Todos têm direitos iguais na República’, contrário aos dois projetos de lei. Ontem, foi divulgado o ‘Manifesto em favor da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial’, também assinado por intelectuais e artistas.
Por que não foi publicada a íntegra do novo manifesto? E o pluralismo? Não foi garantido o mesmo tratamento para as duas posições.
2 – O infográfico publicado na página C4 que ilustra o texto ‘Intelectuais fazem manifesto pró-cotas’ é um equívoco, porque destaca os signatários (celebridades) e não os principais trechos dos manifestos (conteúdo, idéias, argumentos).
3 – Não há na página um resumo da Lei de Cotas e do Estatuto. Como o leitor pode entender a discussão e se posicionar?
4 – O assunto merecia uma chamada na Primeira Página, embora não com o enfoque equivocado da reportagem publicada em ‘Cotidiano’.
Conclusão: o leitor da Folha está mal informado sobre um assunto difícil, que divide a sociedade e que deverá ser definido em breve no Congresso.
O mínimo que o jornal pode fazer agora é publicar a íntegra do novo manifesto para que seus leitores possam se informar e tomar posição.
03/07/2006
As manchetes da Copa, da torcida à eliminação:
Folha – ‘Ou vai ou racha’ (sábado), ‘França, de novo, elimina o Brasil’ (domingo) e ‘Time não teve união, diz Parreira’ (hoje).
‘Estado’ – ‘A seleção em busca do erro zero’ (sáb.), ‘Um time para esquecer’ (dom.) e ‘Sem vergonha, time sem vergonha’ (hoje).
‘Globo’ – ‘Argentina cai; Brasil é o continente hoje’ (sáb.), ‘França liquida Brasil’ (dom.) e ‘Parreira diz que chegou a