Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Crítica interna

2/2/07

A manchete da Folha é um mero registro de um fato que já havia sido exaustivamente explorado ontem por todos os meios de comunicação que concorrem com os jornais. Não acrescenta nada, nem informação nem interpretação, ao que os seus leitores já sabiam via TVs, rádios e internet -’Chinaglia é o novo presidente da Câmara’. Nem a linha fina que complementa o título dá qualquer pista do significado da vitória do petista – ‘Com 18 votos de diferença, petista vence Aldo Rebelo (PC do B); Renan Calheiros (PMDB) é reeleito no Senado’. A Edição SP da Folha ainda tem uma chamada que avalia o resultado da disputa pelas presidências da Câmara e do Senador – ‘PT é o grande vencedor; PSDB sofre desgaste no Congresso’. A Edição Nacional nem isso tem.

O ‘Estado’ também opta pelo registro do já conhecido – ‘Chinaglia vence Aldo por18 votos’ –, embora acrescente uma pitada de avaliação própria – ‘Presidente Lula vence na Câmara, mas margem apertada mostra a divisão da base aliada’.

O ‘Globo’, entre os grandes, foi o único que avançou no título: ‘Acordo com PSDB garante vitória de petista na Câmara’. O ‘Correio Braziliense’ também aponta para o acordo com o PSDB: ‘A supremacia PT – Acordo com tucanos assegura vitória de Chinaglia’.

‘Painel do Leitor’

A carta ‘Educação superior’ (A2), do secretário José Aristodemo Pinotti, traz uma informação nova – foi alterado o decreto sobre o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) e o secretário não mais o presidirá. Além disso, explica as razões do contingenciamento das verbas para as universidades. O caráter informativo da mensagem deveria ter levado o jornal a publicá-la como informação oficial no caderno ‘Cotidiano’, junto com as informações prestadas pelo governador José Serra (C11 da Edição SP), e não no ‘Painel do Leitor’, tirando espaço dos que querem se manifestar. Como ficou, o jornal publicou duas vezes as mesmas informações, sendo que em uma delas ocupou o espaço do leitor.

Congresso

A reportagem ‘Bancada pró-Lula na Câmara cresceu 39% de 2003 para agora’ (A7) informa que, tal como em 2003, a base de apoio ao governo petista está se reforçando com o crescimento de partidos, como o PR (antigo PL), que atraem novos deputados com a promessa de cargos federais. E cita dois exemplos de mudanças partidárias conquistadas pelo PR com promessas dos tais cargos: Maurício Quintela (PDT-AL) e Lúcio Vale (PMDB-PA). Não entendi a lógica destas trocas partidárias. Segundo o infográfico publicado pelo jornal na mesma página (‘A evolução da base de apoio a Lula’), o PDT (de Maurício Quintela) e o PMDB (de Lúcio Vale) já fazem parte da base aliada. Se assim é, por que os seus deputados teriam de mudar de partido para conseguir cargos no governo? Não faz sentido.

Há ainda uma imprecisão na reportagem. No infográfico, o PTB consta na cota dos partidos da situação (que apóiam o governo Lula), mas no texto está dito que ele ‘ainda espera algumas definições sobre o rumo de sua direção nacional’. Afinal, o PTB está na base aliada ou não?

O ‘Estado’ faz conta diferente da Folha. No levantamento deles, os partidos da coalizão têm 321 deputados; a Folha calcula a base do governo em 352 deputados.

iFHC

Segundo o ‘Estado’, o Ministério Público de São Paulo ‘abriu ontem investigação sobre a doação de cerca de R$ 500 mil feita pela Sabesp ao Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC)’. É importante e não vi na Folha.

Juros

O infográfico ‘Trajetória de queda’, que ilustra a reportagem de capa de ‘Dinheiro’ sobre a ata do Copom, informa erroneamente que a taxa de juros em janeiro caiu para 12,75%.



1/2/07

Só a Folha, entre os grandes jornais, optou por colocar na manchete, como o assunto mais importante do dia, a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. O título não quer dizer muito, exceto para os iniciados: ‘Governistas fazem megabloco na Câmara’. É necessário ler a linha fina para entender que fazem isso para ‘conseguir maioria dos cargos da Mesa’.

No ‘Estado’ e no ‘Globo’, a atenção continua voltada para a administração das contas públicas: ‘Gastos disparam, mas superávit atinge a meta’ (‘Estado’) e ‘País gastou R$ 590 bilhões com juros em quatro anos’ (‘Globo’).

Congresso

Três candidatos disputam a presidência da Câmara dos Deputados. Por que, na apresentação que fez das candidaturas (A6, na Edição Nacional, e A8 na Ed. SP), a Folha reservou menos espaço para um deles, Gustavo Fruet? Qual o critério? Os três não deveriam ter o mesmo tratamento nos tamanhos das fotos e dos textos?

Iraque

A Folha traz um bom relato, de Washington, da relação cada vez mais tensa entre os Estados Unidos e o Irã por causa da guerra civil no Iraque (‘Incidente aumenta tensão entre Washington e Teerã’, A16). Mas a edição não tem as informações sobre as medidas tomadas ontem pelo governo de Bagdá, como – segundo o ‘Estado’ – o fechamento da fronteira com o Irã e a suspensão de vôos vindos da Síria. O foco da Folha é o apoio do Irã aos xiitas iraquianos, mas o ‘Estado’ mostra igual preocupação de Bagdá com a ajuda que a Síria estaria dando aos sunitas.

Itália

A Folha tem uma boa história da Itália (a reportagem do ‘L` Espresso’ com padres católicos, ‘Confessores dão a repórter conselhos na contramão da ortodoxia do Vaticano’, A16), mas ignorou outro caso de boa leitura: a carta aberta da mulher do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi exigindo que ele pedisse desculpas públicas por tê-la ofendido.



31/1/07

As manchetes giram em torno das contas públicas, cada jornal com um foco diferente.

Folha – ‘Governo define concessões aos Estados’.

‘Estado’ – ‘Mantega admite que INSS terá reforma’ e ‘Governo recusa dividir CPMF com Estados’.

‘Globo’ – ‘CPMF agora pode cobrir o rombo da Previdência’.

‘Valor’ – ‘Rombo da Previdência pública atinge R$ 35 bi’.

‘Gazeta Mercantil’ – ‘Despesa acelera e superávit primário recua’.

Congresso

O jornal chega às vésperas das eleições para as mesas do Congresso sem ter dado importância à eleição para a presidência do Senado. Os leitores não sabem o que pensam e o que propõem os dois candidatos, o da situação e o da oposição. O que significam as candidaturas? Qual a importância da presidência do Senado para o país? Que balanço se pode fazer dos últimos anos do Senado? Que críticas podem ser feitas à gestão que se encerra? A reportagem de hoje (‘No Senado, candidatos já esperam ´traições´‘, A6) repete o viés que predominou em relação à disputa pela presidência da Câmara, corrigido parcialmente nos últimos dias com os debates entre os candidatos: o que importa parece ser apenas a contabilidade dos votos.

Escândalos

O jornal, que cobriu com tanto destaque o escândalo dos sanguessugas, agora já não parece tão interessado em seus desdobramentos. Ficou inexplicavelmente sumida, na edição de hoje, a notícia de que a Polícia Federal indiciou seis deputados acusados de participar do esquema (A6).

Segundo o ‘Globo’, a Polícia Federal encaminhará para o STF, nos próximos dias, relatório que mostra que há indícios ligando o ex-governador tucano e hoje senador Eduardo Azeredo ao valerioduto. A ver.

Metrô

Trecho da reportagem de capa do caderno ‘Cotidiano’ (‘Gerente da linha 4 do metrô é afastado’): ‘Ele [o engenheiro Marco Antonio Buoncompagno] responde a processo na Justiça sob a acusação de, nos anos 90, ter participado -como dono de uma empresa- de um esquema ilegal de contratações públicas em conluio com uma empreiteira que hoje integra o Consórcio Via Amarela’. Por que o jornal não identifica a empreiteira? Se considera importante expor o nome do engenheiro, por que omitir o da empreiteira?

Aliás, os nomes das empreiteiras já não saem no jornal. Não era o caso de informar sempre, em algum momento dos textos, os nomes das empresas que compõem o Consórcio Via Amarela?



29/1/07

Os três grandes jornais têm capas bem distintas, cada um apostando em assuntos próprios, o que é um aspecto positivo.

A Folha, contrariando meus temores expressos na coluna de ontem, voltou a publicar investigação própria sobre o acidente do Metrô. O jornal ignorou o assunto na nobre edição dominical, mas ressuscitou-o na manchete de hoje: ‘Fiscal da linha 4 é acusado de ligação com empreiteira’.

O ‘Estado’ faz uma análise de dados do Banco Central para concluir: ‘Agroenergia atrai mais capital externo’. No ‘Globo’, o destaque é para a volta da antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia: ‘Recriada por Lula, Sudam responde a 290 inquéritos’.

O ‘JB’ traz, segundo o jornal com exclusividade, o relatório do Grupo de Trabalho da Amazônia: ‘Amazônia tem invasão confirmada pela Abin’.

Pentecostais

Não tenho elementos para contestar, mas me parece precipitada a conclusão de que a bancada de pastores pentecostais na Câmara dos Deputados tenha sido reduzida à metade nas últimas eleições por causa do envolvimento de pastores parlamentares em escândalos (‘Brasil é o maior país pentecostal’, A6). A reportagem deveria ter buscado casos ou depoimentos que comprovem a conclusão.

Populismo

O novo presidente da OAB não chega a defender a onda populista na América Latina, como está no título da Primeira Página da Folha, ‘Presidente da OAB defende onda populista’. Ele defendeu, na verdade, o respeito ao que chamou de ‘determinação dos povos’ (A12). O título interno está mais próximo do que disse Cezar Britto para a Folha – ‘Onda populista na América Latina deve ser respeitada’.

Criminalidade

Os títulos da Primeira Página – ‘Rio supera São Paulo em mortes de jovens’ – e do caderno ‘Cotidiano’ — ‘Rio passa São Paulo em mortes de jovens’ (C4 da Ed. SP) – a respeito dos números de homicídios entre os jovens ressaltam uma disputa inconseqüente entre Rio e São Paulo e deixam de apontar para o principal aspecto do levantamento: as duas cidades têm resultados indecentes.

Aviso

Participo amanhã, em São Paulo, da comissão de jurados do Prêmio Folha. Por esta razão não haverá a Crítica Interna.’