‘02/04/07
Os grandes jornais tiveram apenas um assunto em suas manchetes desde sábado, a crise no governo Lula provocada pelo caos nos aeroportos.
Folha – ‘Motim de controladores pára os aeroportos e governo cede’ (sábado), ‘Após motim, Aeronáutica rejeita gerir controladores de tráfego aéreo’ (domingo) e ‘FAB abandona controle de tráfego aéreo’ (hoje).
‘Estado’ – ‘Controladores se amotinam, param vôos e o governo cede’ (sábado), ‘Acordo desgasta militares e caos continua nos aeroportos’ (domingo) e ‘Controle de vôo passa logo para a área civil’ (hoje).
‘Globo’ – ‘Motim aéreo pára o país’ (sábado), ‘Fim da greve não acaba com caos nos aeroportos’ (domingo) e ‘Crise após motim deixa controle aéreo sem chefia’ (hoje).
O rabino Sobel
Acho que foi correta a cobertura feita pela Folha, desde a edição de sexta-feira, do caso Sobel.
O jornal noticiou a prisão na Primeira Página e na capa do seu caderno ‘Cotidiano’. Seguiu dois princípios do jornalismo que nem sempre são respeitados: o da relevância da notícia e o da impessoalidade.
O fato de ser um rabino conhecido, com uma trajetória de participação política e social no Brasil, tornou o rabino Sobel uma figura pública, além da responsabilidade moral que tem como líder religioso. O fato de o crime a ele atribuído ser grave ou leve já não tem importância, nenhum jornal poderia ignorar a notícia. A cobertura foi equilibrada na medida em que o jornal publicou o perfil bastante positivo de Sobel, demonstrando que o que aconteceu em Miami não apaga o que havia feito como líder da comunidade judaica de São Paulo. Talvez tenha havido excesso, na edição de sexta, na publicação do mapa da Flórida e da foto da loja onde ocorreu o furto. Eram desnecessários, mas não comprometem a cobertura.
Nos dias seguintes, o jornal também noticiou com destaque na Primeira Página a internação de Sobel com alterações de comportamento (sábado) e o pedido público de desculpas (domingo). Hoje o caso praticamente já desapareceu do noticiário, restando apenas nas colunas do ‘Painel do Leitor’ e de ‘Mônica Bergamo’. O ‘Estado’ informa que Sobel deve deixar o hospital hoje.
Em síntese, a Folha não escondeu a informação, deu ao caso o tratamento que dá em circunstâncias parecidas a outros homens públicos flagrados em crimes ou irregularidades, mas ao mesmo tempo destacou os problemas de saúde de Sobel e seu histórico de compromisso público.
Vale lembrar que o jornal tem dado destaque para desvios de outros líderes religiosos, como os bispos de igrejas evangélicas e padres e bispos católicos. É correto que assim o faça.
A melhor contribuição que o jornal deu para o assunto esteve no ‘Painel do Leitor’. O PL registrou, junto com a maioria das mensagens de solidariedade a Sobel, algumas mensagens de leitores que aproveitaram o fato para propor uma discussão sobre como a imprensa trata outros casos sem a mesma compreensão (carta de Roseli Albuquerque, na edição de ontem) ou sobre o tratamento diferenciado que as elites exigem das polícias (Haroldo Pereira, na edição de hoje).
Festa em Brasília
A falta de resposta do repórter ou da Redação à carta ‘Festa em Brasília’ (‘Painel do Leitor’ de hoje, A3) parece indicar que a assessora de imprensa da butique Magrella está certa quando indiretamente afirma que o jornalista inventou diálogos e descreveu uma cena que não existiu. Se o jornalista foi fiel ao que observou e ouviu, o jornal deveria ter referendado a reportagem; se não, o caso é grave e exige uma correção explícita do jornal.
Caos aéreo
Não há como comparar as coberturas da crise dos aeroportos da Folha e do ‘Estado’ de hoje. A do ‘Estado’ está mais completa, com o equivalente a seis páginas (contra duas da Folha), com a mobilização de um grande equipe em São Paulo, Brasília e outros Estados (contei umas vinte assinaturas) e com reportagens preparadas antecipadamente sobre os efeitos da crise, como no setor turístico.
A edição de domingo do caderno Metrópole do ‘Estado’ já tinha sido quase monotemático, com mais de seis páginas sobre a crise.
O problema não é o tamanho, mas a atenção para as tantas frentes que a cobertura exige, e o ‘Estado’ me pareceu mais preparado para o acompanhamento da crise que entrou pelo final de semana.
Natação
Dois problemas no resumo de hoje do que foi o Mundial de Natação na Austrália (‘Phelps fatura sete ouros e faz história no Mundial’, D4):
O jornal não publica o ranking de medalhas. Sequer informa no texto quantas medalhas os Estados Unidos e os organizadores ganharam. E a China, que hospeda a próxima Olimpíada, foi bem?
O Mundial não teve 15 tempos superados, como informa o relato, mas 14 tempos superados e um igualado (50 m de costas feminino, segundo o ‘Globo’).
Aviso
Esta é, assim planejo, minha última Crítica Interna. Pretendo aproveitar os dois próximos dias para colocar em dia a correspondência com os leitores e acabar de limpar três anos de gavetas, estantes e arquivos eletrônicos. Como o jornal informou ontem, Mário Magalhães assume a função a partir de quinta-feira, dia 5.’