O memorando em que o ex-chefe da Inteligência britânica é citado afirmando que o governo Bush adequou informações estratégicas a seu projeto de invadir o Iraque é o tema principal das mensagens que têm chegado ultimamente ao ombudsman do Washington Post [19/6/05], Michael Getler. A maioria dos e-mails que ele recebeu, por sinal, foram originados por uma campanha do grupo pró-democrata de monitoramento de mídia Fairness & Accuracy in Reporting (Fair), para reclamar de um texto escrito pela repórter Dana Milbank, publicado em 8/6, em que ela chama militantes de um grupo esquerdista de ‘wingnuts‘ (termo depreciativo para designar ‘birutas’ de alguma tendência política, tanto de direita como de esquerda).
O artigo tratava da recente coletiva concedida pelo presidente americano, George W. Bush, em conjunto com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em que um repórter perguntou sobre o citado documento de Inteligência. Dana observou que um grupo militante denominado Democrats.com havia oferecido um prêmio a quem conseguisse uma resposta de Bush para a acusação de que seu governo havia adequado informes de Inteligência a seu plano bélico. A jornalista escreveu que o repórter não fez a pergunta por causa da recompensa oferecida pelos wingnuts, como se referiu a esse grupo pró-democrata.
Os leitores escreveram reclamando que o termo não era adequado para uma matéria jornalística. Como explica Getler, quem colocou sua queixa nesses termos provavelmente se deixou enganar pelo Fair, que, ao promover a mobilização contra o texto de Dana, não explicou que ele saiu numa seção intitulada ‘Washington Sketch’, em que ela publica textos opinativos. Tampouco explicou que a jornalista, além de atuar como repórter, ultimamente faz vez também de colunista. Assim, apesar de a expressão wingnuts ser bastante dura, ela jamais foi empregada num texto que pretendia ser apenas informativo. Neste ponto, o Fair e seus seguidores falharam. O Post, por sua vez, falhou por nunca ter anunciado a seus leitores que Dana passaria a escrever textos de opinião. O ‘Washington Sketch’ começou a sair no diário sem maiores explicações.
A jornalista não concorda que tenha exagerado ao usar o termo. Consultada por Getler, ela respondeu: ‘Como ombudsman, nos últimos cinco anos você tem exercido seu direito de tentar extirpar do Post qualquer tipo de texto colorido ou provocativo. Mas passa dos limites ao sugerir que uma colunista não pode chamar de ‘wingnuts’ um grupo que há muito tem perturbado a mim, a outros repórteres e a suas famílias com mensagens de ódio, obscenidade e, às vezes, até anti-semitismo’.