Folha de S. Paulo, 16/4
Fernando Rodrigues
Desconectados
Está na praça uma informação alarmante a respeito do futuro dos políticos e dos partidos brasileiros. A arrecadação de doações via internet na eleição de 2010 somou apenas R$ 736 mil.
Trata-se de uma cifra desprezível. Para ser mais exato, equivale a 0,022% do total geral de R$ 3,3 bilhões em doações recebidas no ano passado pelos políticos, seus comitês eleitorais e partidos.
O quadro piora quando se observa que quase a metade do arrecadado via web entrou nos cofres de apenas duas candidatas, Marina Silva (PV), com R$ 170,5 mil, e Dilma Rousseff (PT), com R$ 180 mil.
Outra informação para dimensionar o grau de desconexão dos políticos é o número diminuto de doadores on-line. Marina teve 19,6 milhões de votos, mas só 3.095 doações via web. A desproporção cresce com Dilma: 55,8 milhões de votos (no segundo turno) e meras 2.032 doações por meio da internet.
Não há dados sobre José Serra (PSDB). O tucano nem sequer tentou arrecadar doações via web.
Esses dados ilustram a eleição do ano passado, mas remetem a um cenário similar em pleitos futuros. Nada no comportamento de políticos e de partidos indica alterações relevantes já para 2012.
A participação de eleitores fazendo pequenas doações é um subproduto positivo da era da internet. O cidadão que dá R$ 10 ou R$ 50 tende a se lembrar do nome do político por muito tempo. Cobrará mais no caso de seu candidato ser eleito. O exercício da cidadania ganha em qualidade. Melhora a democracia.
Os políticos reclamam que a lei no Brasil os impede de fazer um processo permanente de arrecadação via web. Não é verdade. Os candidatos estão proibidos. Os partidos, não. Mas poucas agremiações hoje têm coragem de, na TV, pedir dinheiro aos eleitores.
Preferem ficar na zona de conforto do Congresso, discutindo reforma política e financiamento público. Desconectados da vida real.