No início de setembro, um artigo escrito pela crítica de TV do New York Times Alessandra Stanley enfureceu o repórter da Fox News Geraldo Rivera. Em um dos parágrafos finais do texto, a jornalista acusava Rivera de ter empurrado, ou melhor, ‘acotovelado’, um membro do resgate da Força Aérea, durante uma operação de socorro em Nova Orleans após a passagem do furacão Katrina, para que a câmera pudesse filmá-lo ajudando uma velha senhora em cadeira de rodas. O repórter negou a acusação e exigiu uma retratação do jornal. Na ocasião, a Fox News cedeu uma fita com a gravação em questão para o Times, e uma porta-voz do jornal declarou que ‘diversos editores revisaram a fita e estão certos de que Alessandra descreveu a cena com precisão’, como informou o New York Post [8/9/05].
Diversos leitores – alguns dos quais disseram não ser fãs de Rivera – escreveram ao editor-público do Times, Byron Calame, questionando se a decisão do jornal foi justa e pedindo que ele analisasse o assunto. Calame afirma, em sua coluna de 25/9, que assistiu à gravação pelo menos uma dúzia de vezes, incluindo uma exibição quadro a quadro, e não encontrou em nenhum momento a tal cotovelada que o jornalista teria dado no funcionário da Força Aérea. Ele disse que chamou Alessandra para assistir à fita com ele, mas ela recusou o convite.
Procurado pelo editor-público, o editor-executivo do jornal, Bill Keller, concordou que a cotovelada descrita pela jornalista não é mostrada na cena. Segundo ele, Rivera insinua-se entre os salva-vidas e a vítima de cadeira de rodas, mas não há nenhum empurrão sendo mostrado. ‘Então, se Alessandra não pode ter visto a cotovelada, por que não publicar uma correção?’, questiona Calame. Keller justifica a posição do jornal tomando como base uma explicação que, para o editor-público, compromete a imparcialidade jornalística do Times: levando em consideração a resposta agressiva de Rivera ao texto da jornalista (ele foi a programas de TV negar as acusações, a comparou com o repórter-plagiador Jayson Blair e chegou a dizer que, se ela fosse homem, a chamaria para uma briga), é justificado que Alessandra tenha ‘assumido’ que o repórter da Fox News tenha tido um comportamento inapropriado durante o resgate em Nova Orleans.
‘Eu acho absurdo acreditar que qualquer editor do Times tenha chegado a pensar que o posterior mau-comportamento de Rivera dê ao jornal o direito de confiar em suposições e se recusar a corrigir um fato insustentável’, afirma Calame.
Para piorar a situação, Keller também justifica a não-correção da afirmação sobre Rivera dizendo que Alessandra, por ‘escrever como uma crítica, possui a licença que o título carrega’. Ou seja, ela tem o poder de opinar em seus textos. Calame discorda, e alerta para a grande diferença que existe entre descrever uma cotovelada – um fato – e opinar sobre uma cotovelada. ‘Mesmo críticos precisam separar fatos de opiniões’, conclui o editor-público.