Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um olhar mais duro sobre Barack Obama

Há quatro semanas, o ombudsman do New York Times, Arthur S. Brisbane, criticouo jornal por exagerar em um artigo sobre a compra de parte de uma empresa de tecnologia por um “fundo cego” (em que os beneficiários não sabem onde é aplicado o dinheiro) de Ann Romney, mulher do pré-candidato republicano à presidência Mitt Romney. A matéria, segundo Brisbane, ilustrava o foco da cobertura da corrida presidencial na disputa republicana. Neste mesmo período, por outro lado, pouco se leu no jornal sobre a campanha de reeleição do presidente Barack Obama pelo Partido Democrata.

O ombudsman diz que existem precedentes para este tipo de disparidade. Há oito anos, o NYTimes fez uma cobertura insuficiente do republicano George W. Bush, que competia pela reeleição. Agora que a disputa republicana para as eleições de 2012 começa a chegar ao fim e tem início a disputa eleitoral de fato, o jornal tem que começar a cobrir mais agressivamente o presidente, suas promessas e sua campanha para tentar mostrar aos leitores “quem é Barack Obama”.

Olhar positivo

Muitos críticos vêem o Times comoum jornal incapaz de cobrir imparcialmente as eleições. Na última campanha presidencial, em 2008, o clima era de euforia pela chance de eleição do primeiro presidente negro do país, e grande parte da imprensa americana – incluindo o Times – acabou fazendo uma cobertura considerada positiva demais. A New York Times Company, que publica o diário, chegou a publicar um livro sobre “o primeiro presidente afroamericano”, e o jornal fez um extenso e inédito perfil de Obama – não há nada parecido sobre George W. Bush, por exemplo.

Segundo um estudofeito pelos acadêmicos Stephen J. Farnsworth e S. Robert Lichter, a cobertura do Times no primeiro ano de governo de Obama foi significativamente mais favorável do que no primeiro ano de seus três antecessores: o republicanos George W. Bush e Ronald Reagan, e o democrata Bill Clinton. Diante dos números, os autores do estudo chegaram a questionar se o jornalão havia decidido deliberadamente se mostrar mais liberal em um esforço para enfrentar a competição do Wall Street Journal. Brisbane duvida fortemente disso. Com base em conversas com repórteres e editores que cobrem a campanha em Washington, o ombudsman diz que eles se veem como jornalistas agressivos que não têm favoritos.

Responsabilidade

Para Kathleen Hall Jamieson, diretora do Centro de Políticas Públicas Annenberg, da Universidade da Pensilvânia, para ser imparcial, o jornal deve, por exemplo, não dar destaque a um escândalo sexual quando não se há evidências sobre ele, como foi feito em artigo de 2008 sobre a relação do candidato republicano John McCain com uma lobista. Além disso, o Times deve examinar os históricos e as promessas de campanha de Obama.

Na opinião de Richard Stevenson, editor político que monitora a cobertura da campanha, o jornal leva muito a sério a responsabilidade de escrever sem favoritismo. “Diariamente, nos lembramos de que precisamos dar a nossos leitores informações e contexto sobre candidatos, seus históricos, posições e influências, incluindo seus doadores de campanha”, afirma.