O ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton, lembra em sua coluna [1/6] de alguns ativistas americanos que (quase) nunca têm espaço na mídia. Um deles é Ralph Nader, veterano defensor dos direitos dos consumidores que, nos anos 60, provocou polêmica ao acusar as montadoras de automóveis de não instalarequipamentos de segurança por economia de custos, e foi candidato à presidência seis vezes – em uma delas, em 2000, pelo Partido Verde, tirou tantos votos de Al Gore na Flórida que acabou ajudando George W. Bush a ganhar as eleições.
Pexton conta que recebeu uma ligação de Nader pedindo mais cobertura dele e também de assuntos que impulsionariam a organização em favor dos direitos dos consumidores Public Citizen. Segundo Nader, os especialistas da Public Citizen raramente são entrevistados por jornalistas, mesmo estando envolvidos em temas relevantes de interesse público, como reforma financeira, alimentos que estimulam a obesidade infantil, reorganização do serviço postal, dentre outros. Suas cartas a editores tampouco são publicadas.
Mesmo com a internet permitindo a multiplicidade de vozes, o megafone da grande mídia ainda é para poucos. A situação não é exclusiva ao liberal Nader. É difícil para pessoas questionadoras – sejam de esquerda, de direita ou de centro – serem ouvidas. O nome de Nader apareceu 48 vezes nos artigos do Post nos últimos dois anos – na maioria das vezes citado em obituários de amigos ativistas. Em todas as matérias sobre a controvérsia da aceleração repentina da Toyota, há cinco anos, Nader – o “rei” da segurança automobilística no país – não foi ouvido nem pelo Post nem pelo New York Times.
Por outro lado, são frequentes matérias citando os nomes de sempre: o apresentador de rádio direitista Rush Limbaugh (202 vezes nos últimos dois anos), o comentarista também de direita Glenn Beck (270) e o humorista político liberal Jon Stewart (211), entre outros. De fato, o ombudsman conta que recebe mensagens de leitores reclamando que as matérias citam sempre as mesmas fontes.
Também nos últimos dois anos, instituições de estudos políticos como o American Enterprise Institute, de centro-direita, e o Brookings Institution, de centro-esquerda, foram citados 284 e 551 vezes, respectivamente. Por outro lado, o U.S. Institute of Peace, considerado por Pexton uma das mais mais interessantes e inovadoras organizações em Washington, apoiada tanto por Democratas quanto Conservadores no Congresso, teve apenas três menções no Post no mesmo período. Para Nader, trata-se do “jornalismo da trívia e da exclusão”. Na opinião do ombudsman, é importante ouvir outras vozes – sejam de especialistas ou cidadãos comuns, de direita, esquerda ou centro.