Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O papel dos vazamentos no fluxo de informações

Uma lei que tramitano Congresso dos EUA pode dificultar que jornalistas de veículos americanos informem a seus leitores o que o governo está fazendo, comenta, em sua coluna [3/8/12], o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton. Trata-se da autorização anual para financiamento de agências de inteligência que tem cláusulas destinadas a deter vazamentos não autorizados de informações secretas. Estas cláusulas limitariam (com mais rigidez do que ocorre atualmente) quem nas agências pode falar com a mídia, exigiriam relatórios frequentes para o Congresso sobre contatos com jornalistas e restringiriam briefings feitos para repórteres em viagens ao exterior.

O grupo Washington Post Company tem posição contrária às cláusulas antivazamento. Nenhum repórter ou editor do Post discorda de que uma democracia precisa manter algumas informações em sigilo e que o governo precisa proteger a vida de suas tropas, funcionários da inteligência e fontes em campo. Mas a legislação será um pesadelo administrativo que não fará muito para deter vazamentos. “A lei cortará o fluxo da informação”, opina Doug Frantz, editor de segurança nacional do Post. “Pessoalmente, acredito que as novas leis, se forem aprovadas, não interromperão os vazamentos”, diz Robert M. Gates, ex-secretário de defesa e diretor da CIA.

Todos vazam informações em Washington, diz o ombudsman – Casa Branca, membros do Congresso, Pentágono, CIA, Departamento de Estado. Os vazamentos lubrificam as engrenagens das políticas estrangeiras e de defesa; são parte do diálogo político. Repórteres são facilitadores deste processo. “Jornalistas não obtêm informações secretas por violação e à força. As informações secretas são dadas a eles”, resume Benjamin Shore, editor aposentado da Copley News Service.

Jogo de informações

Alguns segredos, no entanto, são diferentes de outros. Algumas vezes, repórteres recebem informações secretas ou sensíveis que realmente não deveriam ter sido divulgadas naquele momento. Eles sabem disso porque subitamente porta-vozes do governo retornam seus telefonemas e marcam entrevistas com fontes do altíssimo escalão.

Pexton conta que passou por isso quando era repórter. Meses depois da Guerra do Golfo, quando a Marinha ainda estava encontrando minas que Saddam Hussein havia soltado, o jornalista recebeu um relatório sobre problemas graves com pequenos navios caça-minas americanos. Dois grandes navios já haviam sofrido danos durante a guerra, por terem atingido minas. Segundo o relatório, pequenos navios caça-minas estavam constantemente quebrando, os motores não eram confiáveis e na maior parte do tempo os navios ficavam nos portos em vez de estarem desarmando minas que ameaçavam navios e petroleiros.

Depois que a Marinha foi atrás de Pexton, pressionando-o sem sucesso para saber como ele havia obtido o relatório, o jornalista conseguiu conversar com o chefe das operações navais, que lhe disse: “Bom trabalho. Agora veja o que farei para consertar os navios”. O vazamento acabou funcionando: o tema recebeu atenção e recursos e Pexton conseguiu uma boa história. Mas ele só a escreveu depois de uma negociação delicada com funcionários da Marinha sobre aspectos dos navios que eles queriam manter em sigilo – não queriam, por exemplo, que o Iraque ou o Irã soubessem de determinadas características.

Em outro caso, o New York Times e o Post esperaram um ano, a pedido do governo, antes de publicar detalhes sobre o programa de grampos lançado pela administração americana após os ataques de 11/9. “Se não for por nada, a mídia erra para o lado da preocupação, e não por descuido ou negligência”, diz Doug Frantz.