O telefonema preferido do ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton, na semana passada, foi o de uma mulher espirituosa que disse ser assinante do Post desde 1962. Após ler o jornal inteiro de quarta-feira (5/9), ela disse: “Não podia acreditar que não houvesse menção alguma ao discurso da [primeira-dama americana] Michelle Obama. Não tinha certeza se me lembrava direito: será que eu a havia visto na TV na noite anterior?”.
A memória dela estava ótima. A cobertura do discurso de Michelle na Convenção do Partido Democrata realmente fora omitida de 60% dos exemplares impressos do Post naquele dia. Não houve nem matéria do discurso, nem fotos, nem comentários na seção de estilo sobre seu vestido, nada. Igualmente ruim, e motivo de reclamações, foi a ausência de informações sobre o jogo de baseball em que os Nationals derrotaram o Chicago Cubs por 11 a 5. Os Nationals chegam surpreendentemente perto de disputarem os playoffs e a não cobertura desse jogo – que terminou por volta de 22h30 – levou leitores ao desespero. Repórteres do Post disseram que foram assediados, em frente de suas casas, por vizinhos que se queixavam da omissão do jogo e do discurso.
Então, o que aconteceu na noite de terça-feira? O ombudsman tentou resistir aos tradicionais clichês, mas problemas tecnológicos foram realmente os responsáveis. Às 22h17, quando se aproximava a tensão do fechamento (que é feito às 23h30) de uma noite repleta de notícias, o Post se preparava para reorganizar a primeira página, com o discurso de Michelle e a capa do caderno de esportes, com a vitória dos Nationals. Foi aí que o software de edição travou – no pior horário. Não é tão incomum acontecer, mas logo se percebeu que dessa vez era diferente. Não era um problema com o software e, sim, com o sistema de comunicações que liga a sede do escritório do Post, no centro da cidade, a seus provedores, em Tysons Corner – de certa forma, o cérebro do Post. Editores e repórteres na redação nada podiam fazer no principal sistema de computadores, ficando impossibilitados de receber ou editar suas matérias.
Insatisfação dos assinantes
Às 23h, uma turma de editores, designers e técnicos em informação reuniu diversos laptops com as matérias e fotos mais recentes e se dirigiu, de carro, para Tysons Corner. Ali, conectaram seus laptops diretamente com os provedores. Passaram-se minutos preciosos, enquanto o pessoal da gráfica ficava cada vez mais ansioso. Enfrentavam um deadline difícil se as edições dirigidas aos assinantes tivessem que incluir as notícias da noite.
O sistema improvisado com os laptops era instável e, por fim, o diretor administrativo John Temple tomou a decisão de atualizar apenas a primeira página e uma ou duas coisas na seção A, com as matérias da convenção. As fotos de Michelle, no entanto, estavam levando muito tempo para fazer o upload e serem tratadas – foram deixadas de lado. O pessoal da editoria de Esportes chegou ao centro de informações com a matéria sobre os Nationals, mas era tarde demais. Não dava tempo de atualizar a seção de Esportes e ainda ter o jornal impresso e distribuído. Durante o período da falha nas comunicações, que foi até 1h25, a maior parte do website também não pode ser atualizada.
As matérias prejudicadas foram impressas nas edições de quinta-feira, com uma nota de primeira página e um pedido de desculpas. A falha do computador não foi culpa de ninguém. Foram desprendidos esforços heroicos para publicar o jornal, apesar da falha.
O que preocupa o ombudsman é como o incidente pode aumentar a insatisfação dos assinantes. A maioria dos leitores compreendeu, quando lhes foi explicado o que ocorrera. Mas também havia um murmúrio de irritação: parece que sempre acontece alguma coisa com o Post, disseram – e estavam próximos àquele momento da gota d’água, quando não renovam a assinatura. Isso é perigoso.