“No dia 8 de outubro, a Coluna da Ouvidoria lançou mão das comunicações de leitores que reclamam dos títulos das noticias publicadas pela Agência Brasil, para mostrar que essas comunicações podem ser classificadas de acordo com as funções que os títulos deixaram de cumprir, na opinião dos leitores. A coluna foi motivada pela manifestação de uma leitora que reclamou do desencontro de informações entre o título e o texto da reportagem publicada na Agência Brasil com o seguinte anúncio Brasília não terá VLT e vai construir rodovia para a Copa de 2014. [1]
Para além de apontar o desencontro de informações, que foi corrigido, a demanda da leitora despertou também nosso interesse para a cobertura que a ABr vem fazendo sobre os projetos de mobilidade urbana que o país prepara para a Copa de 2014. O VLT de Brasília era uma das 51 obras de mobilidade urbana que constavam na Matriz de Responsabilidades assumidas pelas 12 cidades que sediarão os Jogos. São projetos com objetivos específicos para atender ao público que virá para o evento, principalmente para facilitar os deslocamentos entre aeroportos, hotéis e estádios. Essas são exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa), inclusive. Mas desde o início o governo brasileiro declara que as obras de mobilidade urbana, bem como as outras obras projetadas para a Copa, devem ser sustentáveis. Dentre os critérios que definem a sustentabilidade, destaca-se na esfera da mobilidade urbana o acesso da população a meios mais rápidos e eficientes de transporte coletivo que servem ao mesmo tempo para desafogar o trânsito nos grandes centros.
Só este ano, a ABr publicou 47 matérias sobre as obras de mobilidade urbana que estão sendo realizadas para a Copa. Os conteúdos cumpriram o princípio jornalístico de equilíbrio: ambos os lados – as autoridades e os críticos – foram ouvidos.
Das 65 fontes citadas, 28 (43%) são representantes do governo federal, 12 (18%) são representantes dos governos municipais e estaduais, sete (11%) são do Tribunal de Contas da União (TCU), três (5%) são representantes dos ministérios públicos Federal e estaduais e 15 (23%) são de entidades da sociedade civil, pesquisadores e moradores de bairros populares.
Da perspectiva dos temas abordados, 11 (23%) das 47 matérias focaram o cronograma de execução das obras, cinco (11%), a fiscalização administrativa e financeira e cinco (11%), as linhas de crédito criadas para o financiamento das obras. Três matérias apresentaram a Conferência Rio+20 como teste dos futuros grandes eventos. Dez matérias trataram as obras no contexto mais amplo da questão do transporte de massa. Dessas dez, cinco foram favoráveis e cinco foram críticas.
Mas além do equilíbrio entre as fontes, observamos que são escassas as informações que permitam aos leitores avaliarem se as obras integram soluções sustentáveis, como requer o governo brasileiro. Para que o leitor possa obter informações consistentes sobre os impactos dessa obra, as notícias, além de ouvir o ponto e contraponto, têm que fornecer informações que permitam uma análise que inclua, de um lado, dados objetivos sobre o conjunto de obras e, de outro, a avaliação subjetiva dos futuros usuários dos serviços.
Os dados objetivos, disponíveis nos portais da Copa do governo federal e do Sinaenco, mostram que as obras priorizam os meios de transporte – VLT, BRT, metrô e monotrilho – mais recomendados para integrar soluções sustentáveis às mazelas da mobilidade urbana. Das 50 obras que permanecem na Matriz de Responsabilidades depois da eliminação do VLT de Brasília, os projetos nessas categorias correspondem a cerca de 50% do total e respondem por 70% a 75% dos R$ 11,8 bilhões destinados ao setor. Quatro desses projetos – a Transcarioca no Rio, o monotrilho em São Paulo, o VLT de Cuiabá e o monotrilho de Manaus – respondem sozinhos por 54% das verbas. Há de considerar também que alguns dos outros projetos – rodovias e viadutos, voltados para o uso de automóveis – incluem faixas exclusivas para ônibus. [2]
Quanto à avaliação subjetiva dos futuros usuários, as matérias publicadas pela ABr sobre a principal obra de mobilidade urbana em São Paulo, o monotrilho Linha 17 (Ouro), que vai ligar o Aeroporto de Congonhas ao sistema de trens e metrô da capital paulista, podemos citar a expectativa favorável do morador Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis, uma comunidade pobre que será servida pela linha. Segundo ele, o monotrilho é uma das soluções para resolver as deficiências de transportes da região. ‘Hoje, para sair daqui nós chegamos a demorar três horas para ir e voltar. E com a Linha 17 serão 15 minutos’, disse. [3]
Outro morador da capital paulista foi mais crítico sobre a malha de transporte público existente, com a qual o monotrilho vai fazer ligação: o mecânico Luciano da Silva Moura disse: ‘Levo duas horas para sair de onde eu moro, Vila Matilde, até o serviço, em Santana, e tenho que pegar dois ônibus e fazer três transferências no metrô’. Os proprietários de automóveis não foram ouvidos. [4]
Essas avaliações subjetivas talvez sejam o fator mais importante de todos que vão determinar a sustentabilidade das obras de mobilidade urbana. Os meios de transporte coletivo, além de atenderem melhor aos usuários atuais, terão que atrair novos usuários, convencendo-os a deixar seus veículos particulares em casa.
Até a próxima semana.”