O ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, revela, em sua coluna [21/12/12], que entende que alguns leitores estejam furiosos com a defesa da colunista de esportes, Sally Jenkins, ao ciclista Lance Armstrong. O relatório investigativo da Agência Antidoping dos EUA sobre Armstrong é persuasivo e mostra o ciclista como um traidor, mentiroso e defensor do doping. O ciclista optou por não contestar o relatório e, como resultado, perdeu os sete títulos do Tour de France.
Já em relação ao fato de Sally ter violado as regras éticas do Post ou outros princípios jornalísticos, Pexton não está tão convencido assim. Ela é prioritariamente colunista de esportes, tendo escrito algumas matérias que vão desde os atentados de 11/09/11 ao escândalo sexual na Universidade Penn State. Sally integrou a equipe de esportes de 1984 a 1990, depois passou uma década como freelancer e retornou ao jornal em 2000. Ela é co-autora, com Armstrong, de um livro publicado em 1999, que é um bestseller, sobre a batalha do ciclista contra o câncer e sua primeira vitória no Tour de France. Antes disso – e nem depois -, ela nunca havia escrito sobre ciclismo ou Armstrong pelo Post.
Transparência
Quem cobre os Tours de France pelo Post são freelancers ou a AP. As matérias sobre doping e Armstrong foram escritas pelos repórteres Liz Clarke e Amy Shipley. Sally escreveu ocasionalmente colunas sobre ciclismo e Armstrong. Nos últimos 12 anos, ela escreveu 13 colunas sobre esses temas, a maior parte em julho de cada ano, quando é realizado o Tour de France. Em cada um, ela explicou no texto ou acrescentou em nota que escreveu livros (um em 1999 e outro em 2003) com o ciclista, que obteve lucros com eles, que são amigos próximos e, quando se refere a ele, não é objetiva. Em uma coluna de 2003, escreveu: “você não pode dizer nada de ruim sobre ele a mim, não vou escutar”. Jornalistas devem sempre revelar um possível conflito de interesse aos leitores – e Sally sempre o faz.
Exceto em duas colunas sobre o relatório da agência, suas 11 colunas sobre ciclismo ou Armstrong foram não sobre drogas, mas sobre os desafios únicos das três semanas do Tour de France, no qual ciclistas andam sob condições difíceis, superando dor, cansaço e decepções. Sally disse que editores do jornal a encorajaram a escrever cada uma, pois seu olhar sobre Armstrong e ciclismo superava qualquer conflito. Em outras colunas sobre doping em outros esportes, ela foi consistente. Sally acredita que as investigações são injustamente condenadoras, que as drogas que melhoram o desempenho não são cortadas e que as punições são menos sobre os atletas e mais sobre políticas.
Alguns leitores acreditam que ela não deveria escrever sobre Armstrong e nem sobre ciclismo, porque acaba promovendo seus livros – e Pexton discorda disso. O ombudsman fez algumas perguntas a ela sobre o episódio de doping e ela afirmou que não fecha os olhos ao que Armstrong fez, apenas o perdoa. “Não acredito que sou inocente sobre doping, é o oposto. Simplesmente não sinto o mesmo que as pessoas querem que eu sinta e acho que isso é a fonte da raiva. Vejo o tema do doping como algo complicado moral, judicial e filosoficamente. E cheguei a essas conclusões independente de Lance”, disse.
Armstrong não foi uma “fonte” no sentido tradicional de repórter e fonte. Ele era uma estrela do esporte que a contratou para escreveu suas memórias. Eles eram colaboradores e viraram amigos. Ela explica isso repetidas vezes aos leitores quando escreve sobre ciclismo ou sobre ele. “Posso discordar com Sally sobre os danos que Armstrong fez, mas ela não violou nenhuma regra das normas éticas do Post”, conclui.