Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Post precisa de menos política e mais governo

Margeando a esplanada em Washington estão alguns dos “gabinetes menos sexy do governo americano” – Agricultura, Comércio, Habitação e Desenvolvimento Urbano, Interior, Trabalho e Transporte –, como avalia o ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, em sua coluna [6/1/13]. Eles respondem por US$ 173 bilhões (mais de R$ 350 bilhões) dos gastos federais anuais. As decisões tomadas nesses prédios – e pelos comitês de congressistas que as supervisionam – afetam as vidas de milhões de americanos.

Mas você não irá ler muito sobre eles no Post, muito embora uma das estratégias financeiras do jornal seja o indispensável guia de Washington. É claro que os ministérios mais sexy – Departamento da Defesa, do Estado, do Tesouro e as agências de inteligência – recebem uma cobertura digna de prêmio por parte das editorias de segurança nacional e de finanças do Post. Já os departamentos menos visíveis recebem a mínima atenção; a maioria deles nem tem uma reportagem inteira dedicada ao seu trabalho.

O Departamento de Agricultura, por exemplo, ajuda a imaginar quais as colheitas que serão plantadas por 2 milhões de lavradores e os preços que terão, aqui e no exterior. Os lavradores americanos exportaram aproximadamente US$ 136 bilhões (em torno de R$ R$ 276 milhões) de comida em 2011 – um recorde – com grandes aumentos no trigo, milho, carne bovina e de vitela. E como isso afeta a vida das pessoas nas fazendas?

O programa vale-comida, agora chamado Programa Assistencial de Nutrição Suplementar também é de responsabilidade do Departamento de Agricultura. Atende a 47 milhões de americanos, um recorde. Funciona, é eficaz, atende às necessidades das famílias e dos lavradores? Os leitores poderiam gostar de saber.

A banalidade da política americana

O ombudsman do Post defende uma maior cobertura dos departamentos não só por ser um serviço público e bom jornalismo, mas por ser uma boa estratégia no longo prazo. Poderia aumentar o número de leitores locais do jornal impresso, por servidores federais, e nacionalmente, na internet, por pessoas afetadas pelas políticas do governo – os lavradores, por exemplo, cujos jornais locais e regionais também não cobrem o setor tão bem quanto o faziam antigamente.

Um dos problemas do jornalismo americano é que as matérias sobre o governo encolheram enquanto matérias sobre política e personalidades dispararam. A cobertura de Washington significa apenas, e cada vez mais, a Casa Branca, o Congresso e tudo de política o tempo todo: as pesquisas, as gafes, quem sobre, quem desce, quem está levantando mais dinheiro. Esse tipo de cobertura aumenta a banalidade da política americana, na qual as questões pouco ou nada são discutidas.

O efeito das decisões

O Post não é imune a essa tendência. Segundo o ombudsman, tem 21 pessoas – repórteres, blogueiros, editores, colunistas e produtores – cobrindo política o tempo todo, de um total de 96 pessoas cobrindo assuntos nacionais. Isso exclui a equipe de pesquisas e os três repórteres da Casa Branca e os cinco do Congresso que são chamados a cobrir política. O Post anunciou na quinta-feira (3/1) que irá aumentar sua oferta de notícias em vídeo com um novo canal de política. Isso irá exigir a contratação de muito mais pessoas para produzi-lo. Nenhuma delas cobrindo governo.

Kevin Merida, editor nacional do Post, destaca que tanto a página semanal do Servidor Federal quanto o blog Federal Eye, além da coluna In the Loop, tratam dos funcionários federais e suas questões. E acrescenta que “o governo federal é a indústria de nossa cidade e nós nos preocupamos muito com ele, enquanto organização jornalística… Estamos sempre buscando maneiras de nossa cobertura de agências federais ser mais profunda e mais abrangente. Isso inclui rever se precisamos redistribuir repórteres por espaços que não estejamos cobrindo tão bem quanto gostaríamos. Recentemente, discutimos a possibilidade de criar uma espécie de um conselho federal – repórteres que cobrem governo se reuniriam regularmente para trocar ideias e maximizar nosso conhecimento coletivo na redação”.

Essa é uma boa ideia. Merida também ressalta que “não é precisa ter repórteres plantonistas para fazer uma boa matéria”, citando os escândalos de prostituição no serviço secreto e do Serviço Geral de Administração em 2012. O ombudsman concorda com ele, mas desenterrar matérias reveladoras de como o governo funciona ou não funciona e por escândalos a descoberto exige reportagens que saiam na frente e liderem a notícia, ao invés de procurá-la. Se o ombudsman estivesse no lugar de Marty Baron, o novo editor-executivo do Post, e tivesse que enxugar a redação e realocar recursos, ele avaliaria a possibilidade de cortar na área de política e acrescentar à equipe de governo.

O que os políticos prometem e dizem em campanhas eleitorais é importante, mas mais importante é o que fazem uma vez empossados. A cobertura dos departamentos do governo mostra o efeito de suas decisões, o que é um serviço para os leitores e para a causa da democracia.