É um fato, na vida jornalística, que posts de blogs não são examinados tão profundamente quanto as matérias publicadas, comenta, em sua coluna [11/1/13], o ombudsman Patrick Pexton. Com os blogs do Washington Post – 59, pelas últimas contas do ombudsman – alguns posts são editados, porém há menos tempo e, muitas vezes, menos editores, para compará-las com as colunas ou as matérias escritas para o jornal.
Muitos leitores escrevem ao ombudsman irritados com isso. Para eles, qualquer texto com a chancela do Washington Post deveria gozar dos mesmos padrões de imparcialidade e precisão e ponto final. E eles têm razão. Mas os blogs foram projetados para serem rápidos e os primeiros, de modo a vencer os concorrentes. Também são escritos num estilo de conversa, menos formais, mais envolvidos. Na opinião do ombudsman, há espaço para isso no jornalismo.
Porém, segundo Pexton, sempre aparecem duas ou três reclamações de leitores chamando de “lixo” aquilo que está em alguns blogs. Uma delas ocorreu na semana passada. No dia 7 de janeiro, apareceu no Wonkblogum post, escrito por Dylan Matthews – que entrou para o Post no ano passado, depois de se graduar em Harvard –, um infográficocitando estatísticas de estupro.
Críticas ao infográfico multiplicavam-se
O Projeto Enliven, de um grupo novo de advocacia sem fins lucrativos que promove discussões mais abertas sobre violência sexual, produziu o infográfico. Depois de ser orientado a procurá-lo por um tuíte que recebeu de Laura Bassett, repórter que cobre política e assuntos de mulheres para o Huffington Post, Matthews pôs o infográfico no Wonkblog. O texto tinha uma pequena introdução e o título “O gráfico mais triste que você verá hoje”.
Baixar gráficos e infográficos de organizações de pesquisa, agências de governo e universidades é algo que o Wonkblog faz diariamente como parte de sua missão de explicar políticas específicas. A maioria das vezes funciona bem. Neste caso, o infográfico com estatísticas de estupro – com dados selecionados do Departamento de Justiça, relatórios do FBI e outros estudos – ganhou visibilidade imediata: apareceram links com ele no Twitter, no Facebook e outras mídias sociais.
No entanto, um leitor escreveu ao ombudsman e a Matthews dizendo que a informação estava distorcida, que era incorreta e uma mentira. Nos dois dias que se seguiram, o insistente leitor repetiu ao ombudsman as críticas ao infográfico, que já se multiplicavam na internet entre grupos de “direitos masculinos” e advogados de defesa. Uma dessas críticas veio de Amanda Marcotte, uma escritora progressista sobre questões de mulheres que trabalha na revista Slate.
Credibilidade prejudicada
O ombudsman gostaria de explicar suas opiniões. Ele cobriu questões de gênero na década de 90, entre militares. Na época, o Pentágono começava a destacar mulheres para novos papéis, tanto de não-combate quanto de combate. O assédio que enfrentavam as mulheres que iam para aquelas unidades era horroroso, injustificável e errado. O ombudsman também passou muito tempo entre policiais e tribunais e fez trabalho voluntário para um abrigo para vítimas de violência doméstica no Distrito de Columbia, Washington. Ele sabe que a violência sexual e física contra as mulheres é um problema profundo nos EUA, muitas e demasiadas vezes não discutido abertamente, muitas e demasiadas vezes resultando em danos físicos e psicológicos permanentes para as mulheres e muitas e demasiadas vezes levado a tribunais sem sucesso.
O ombudsman leu os estudos em que se baseou o infográfico e as críticas que lhe são feitas. Individualmente, algumas das estatísticas usadas pela Enliven aparecem nesses estudos. Mas a Enliven fez suposições e extrapolações ao consolidar essa informação num gráfico, tornando-a incorreta. Um editor do Post leu o texto de blog antes de ser publicado. Posteriormente, Matthews atualizou-o com umas frases que incluíam a seguinte: “Dados sobre estatísticas de estupro são reconhecidamente difíceis de coletar. (…) Tenha consciência de que os números são sujeitos a discordância.” Mais tarde, Matthews também disse ao ombudsman que ele trabalhara “pensando que a Enliven, como faz a maioria das organizações de pesquisa, obtivesse os números diretamente de alguma fonte obscura, ao invés de extrapolar a partir de informações. Seria bom se eles tivessem sido mais claros”. Ele enviou um e-mail à Enliven pedindo mais informações sobre a sua metodologia, mas o texto do blog foi publicado antes que a Enliven respondesse. “Não sei se não teria publicado o texto no blog, mas poderia ter feito algum tipo de advertência”, disse Matthews.
O texto do blog estimulou controvérsia e discussão sobre violência sexual. Mas prejudicou a credibilidade do Wonkblog e a do Post, assim como prejudicou a questão legítima de denunciar a violência contra as mulheres. Reportagens sérias exigem tempo, análise e investigação. Os blogueiros têm que ser mais cuidadosos.