Há, no mundo corporativo, uma máxima que diz que nenhum funcionário é insubstituível. Quando até o membro mais valioso da equipe sai da empresa, alguém ocupa o seu cargo e a vida segue. A ombudsman Margaret Sullivan, no entanto, não está tão certa disso. Mesmo estando há apenas cinco meses no New York Times, ela sabe que há diversos talentos, experiências e personalidades que farão falta – da habilidade jornalística e operacional à coragem de divulgar mensagens duras.
Em dezembro, o Times anunciouum novo plano de demissão voluntária. Entre os profissionais que aderiram ao plano estão os editores Jonathan Landman, de Cultura, e Joe Sexton, de Esportes. Em suas cinco décadas combinadas de trabalho no jornal, diz Margaret, eles “deram voz a verdades”. Landman foi quem primeiro alertou sobre o repórter Jayson Blair, que plagiou diversas matérias há uma década. Em um memorando de 2002, ele implorou a seus superiores para “impedir Jayson de escrever para o NYTimes”. O aviso foi ignorado por muito tempo. Mais tarde, quando Howell Raines, então editor-executivo, lutava para manter sua carreira depois do escândalo, Sexton disse a Raines e ao chefe de redação Gerald Boyd, durante uma reunião: “Eu acredito profundamente que vocês perderam a confiança em muitos na redação. As pessoas sentem-se menos lideradas do que intimidadas”.
Eles certamente não foram os únicos de dentro do jornal com coragem para falar; apenas fizeram algo mais memorável do que outros. Após o escândalo de Jayson Blair, o Times tomou diversas providências, incluindo criar o cargo de ombudsman. Isso mostra um compromisso contínuo para ouvir críticas. No final do ano passado, em uma reunião com o novo executivo-chefe do diário, Mark Thompson, Sexton mostrou mais uma vez seu vigor, fazendo perguntas nada confortáveis sobre o histórico de Thompson na liderança da rede britânica BBC, diante do escândalosexual envolvendo o apresentador Jimmy Savile, morto em 2011.
Bastidores
Cerca de 20 jornalistas anunciaram recentemente planos de deixar o Times, na medida em que o diário tenta reduzir custos ao diminuir a redação de 1.150 profissionais, focando particularmente em cargos com maiores salários. Eles sairão por razões variadas – alguns estão chegando perto da idade da aposentadoria, outros querem aceitar novos desafios profissionais, há os que estão cansados de décadas estressantes na redação. Alguns são editores que fazem um grande trabalho nos bastidores, como Jim Roberts, famoso no Twitter por seus 78 mil seguidores, que ajudou a levar o estatístico Nate Silver para o jornal. Dois que farão especialmente falta, diz a ombudsman, são o chefe de redação John Geddes e seu subchefe, William Schmidt.
A editora-executiva Jill Abramson divulgou, na semana passada, um memorando falando sobre como planeja o futuro da redação. Os indicados por ela são jornalistas de talento impressionante e que podem ser as pessoas certas para levar o jornal a uma próxima fase crucial. Ainda assim, como Aron Pilhofer, editor de notícias interativas, disse: “há muita memória institucional saindo e isso é duro”.