Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Erivaldo Carvalho

“'Jornalismo é a segunda profissão mais antiga.' Paulo Francis

Um curiosíssimo fenômeno de cobertura na mídia local está em pleno curso. Poucas vezes na história recente houve tantas decisões judiciais, de grande repercussão, pautando a imprensa da Cidade. De longe, salta em destaque a queda-de-braço sobre o preço da passagem de ônibus em Fortaleza. Na ponta da pirâmide social, uma gincana jurídica decide o destino de áreas ambientais da Capital. Concursos da Polícia Militar são atropelados por concessão de liminares. De enorme relevância jornalística, esses episódios têm demandado forte cobertura dos jornais – do O POVO em particular. Todos os três assuntos já foram manchete neste 2013. Há muitos outros casos que merecem menção. Entre os mais notáveis, cito a situação das barracas na Praia do Futuro e o caso Carlomano Marques – este último simbolizando inúmeros políticos que se mantêm em mandatos eletivos graças a recursos. Registre-se que, enquanto produto das disputas sociais contemporâneas, isso faz parte do jogo democrático. E é positivo, à medida em que as pessoas e setores atingidos recorrem à instituição Justiça, para mediar os conflitos. O problema é outro, que traduzo em uma pergunta: os veículos de comunicação estão preparados para essas coberturas?

Algumas dificuldades

Desconfio que a resposta para a indagação acima seja 'não'. Como argumentos, cito, de cara, a linguagem do meio jurídico em si. Generalista, o repórter não tem domínio desses códigos. Essa dificuldade, aliada à ditadura do tempo e espaço a que a pauta é submetida, é meio caminho andado para o jornal repassar ao leitor dúvidas as mais diversas. Daí não raro matérias com lacunas de informação, imprecisões e até erros. Claro que há exceções. Mas se você, caro leitor/internauta, somar esses gargalos à pouca experiência do profissional por causa da faixa etária das redações – cada vez mais baixa – terá uma boa ideia da qualidade do produto que chega às suas mãos ou à ponta de seus dedos.

Juridiquês, melindres e distanciamento

Como dito acima, as pautas determinadas por decisões judiciais têm complicações inerentes. Mas isso é dificultado, e muito, pela postura das empresas de comunicação. Não estou falando só da ausência de ações para se familiarizar com o juridiquês, que poderiam fazer uma baita diferença no produto final. Refiro-me à relação sempre melindrosa dos veículos com o Judiciário. O hobby preferido da imprensa é jogar pedra nos legislativos e cobrar dos executivos. De preferência, sempre farejando o próximo escândalo. Mas ninguém quer se indispor com o Judiciário. O terceiro e não menos importante motivo para a cobertura de baixa qualidade é a distância, propriamente. Não vejo necessidade de setoristas de jornal em tribunais, fóruns e varas, todos os dias da semana. Mas isso não significa que devamos saber de posicionamento de magistrados por assessorias de imprensa.

A exceção diante da regra

Um justo registro: nos últimos dois dias, O POVO ultrapassou a linha imaginária da cobertura do Judiciário. Trouxe à tona o clima de mal-estar instalado nos gabinetes do Tribunal de Justiça do Ceará. O combustível foi, justamente, decisões e opiniões sobre procedimentos desencontradas de seus integrantes. E como isso foi possível? Simplérrimo. Enviamos uma repórter lá. O ombudsman faz votos para que a exceção vire regra.

Redação: 'Isso vem mudando, paulatinamente'

Em conversa com o ombudsman, por telefone, o diretor adjunto da Redação do O POVO, jornalista Erick Guimarães, reconheceu que a cobertura do Judiciário pelo jornal é menos intensa do que a dispensada ao Legislativo e Executivo. Segundo disse, isso se deve ao fato de não haver uma abertura tão grande quanto os dois outros poderes. 'O Judiciário ainda é o poder mais fechado. Mas isso vem mudando, paulatinamente. E o jornal vem acompanhando essa evolução', disse. Erick destacou momentos considerados por ele como importantes nos últimos tempos, como as crises e denúncias contra integrantes da Justiça, a partir da criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 'Estamos em uma mudança cultural, e o jornal tem acompanhado essa tendência, rumo à redução da desigualdade na cobertura', destacou.

FOMOS BEM

COPA DO NORDESTE

Mostramos força e equilíbrio na classificações de Ceará e Fortaleza para as semifinais

FOMOS MAL

IMPOSTO DE RENDA

Não conseguimos ser informativos e didáticos o suficiente para o leitor contribuinte”