O ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, diz que costuma receber e-mails e telefonemas de leitores alegando que o jornal tem uma agenda pró-gay e publica muitas matérias sobre casamento homossexual, e criticando a presença de casais do mesmo sexo na seção de encontros Date Lab, na revista dominical. “O lado família, conservador, tem pouco espaço”, queixou-se um leitor, que travou um diálogo com um repórter e Pexton sobre se o jornal e os jornalistas, em geral, são desesperadamente liberais e geneticamente surdos em relação aos conservadores sociais.
Em resposta à crítica do leitor, o repórter alegou que veículos de mídia cobrem gays porque “é a questão de direitos civis do nosso tempo”. “O jornalismo, no seu âmago, trata de justiça e equidade; portanto, jornalistas vão cobrir o segmento da sociedade que ainda não é tratado igualmente perante a lei”, justificou.
“Contrário ao que você diz, a missão do jornalismo não é a justiça”, replicou o leitor. “Definir justiça é uma questão política, não jornalística. Jornalismo deveria ser sobre precisão e equidade”.
Perto da verdade
A discussão revela muito sobre jornalistas, diz Pexton. A maior parte deles acredita que, ao escrever sobre a vida como ela é, mostrando as lutas das pessoas e as contradições da sociedade, chegam perto da verdade. A democracia, estando informada de maneira mais completa, pode então tomar decisões conscientes e talvez, como resultado, melhorar as vidas das pessoas. Eles têm ainda um forte desejo pela equidade porque, ao percorrer o mundo, deparam-se com muitas situações de desigualdade e querem expô-las. Jornalistas conservadores e liberais compartilham estes sentimentos.
Pelo fato de a atividade jornalística nos EUA ser centrada na Primeira Emenda da Constituição, muitos jornalistas não suportam, por exemplo, religiosos dizendo às pessoas o que podem ou não fazer. Muitos americanos acreditam que permitir que pessoas do mesmo sexo se casem diminui o valor de seus casamentos heterossexuais – o que é incompreensível para Pexton, que acredita que o casamento é algo baseado no amor e no compromisso que você tem com seu companheiro, e não no que você pensa sobre seus vizinhos.
Por esses motivos, jornalistas têm dificuldades em dar voz aos grupos que se opõem ao casamento gay. Eles veem esses críticos como primos distantes daqueles nos anos 50 e 60 que, citando Deus e a Bíblia, eram contra negros sentarem-se nos mesmos lugares que eles.
Para Pexton, além da questão gay, o Post ainda deve ampliar e aprofundar sua cobertura do movimento antiaborto, para explicar e transmitir aos leitores, com imparcialidade e objetividade, as crenças e os medos dos conservadores.