“‘Jornalismo é publicar alguma coisa que alguém não quer. O resto é publicidade.’ Cidinha Campos, jornalista e política brasileira
Desde quando assumi o mandato de ombudsman – e acredito que com os colegas que me antecederam não foi diferente – leitores interpelam o porquê de a imprensa, de maneira geral, ter fixação por notícias ruins. Nas últimas semanas, houve um pequeno aumento no volume dessas ligações. Por isso, trago o assunto a público, meio que para padronizar as conversas que tenho mantido com essa parte importante do público do jornal. Em primeiro lugar, devo dizer que essa crítica não é nova. A discussão acompanha a história dos próprios meios de comunicação social e vara os cursos de jornalismo de todo o mundo. E há todo tipo de teoria para explicar essa espécie de fetiche. Vai do ‘instinto de urubu’ que os mais ácidos e rasteiros veem em repórteres e editores a, acreditem, teorias conspiratórios do fim do mundo. Os que enxergam este último vínculo dizem que só divulgamos ‘o que não presta’ para insuflar a insatisfação coletiva e, assim, preparar o terreno para a chega do Anticristo. Os acadêmicos preferem se debruçar sobre a máxima ‘bad news is a good news’, que significa, em termos mercadológicos, que ‘notícia ruim é uma boa notícia’ porque é a que vende jornal. E quem nunca ouviu um político dizer que sofre injustiças e perseguições por parte dos noticiosos?
A explicação que passa pelo público
Deve haver muitas outras ‘explicações’ para essa, digamos assim, preferência dos veículos pelo lado negativo das coisas. É interessante notar, também, que essa característica está em todos os tipos de cobertura, produzidas para os mais variados públicos. Vai das revistas de fofoca, que adoram relatar o barraco do próximo capítulo da novela e as demais intrigas da trama (se houver assassinato ou outras formas de violência, melhor ainda) a escândalos nacionais e do mundo real, envolvendo figurões endinheirados e grã-finos, que mandam e desmandam. Não importa a posição na pirâmide social. O fato é que o grosso das coberturas tem essa marca. Mas, talvez tão importante quanto os motivos desse fenômeno seja a igual preferência do público por esses conteúdos. Por que, por exemplo, capítulos de folhetins eletrônicos batem recorde de audiência no dia em que o vilão ou vilã consegue executar aquele plano diabólico? Como explicar que uma cidade como Fortaleza tenha mais de 15 horas de programas televisivos especializados no mundo cão e na desgraça alheia?
Sobre a intrínseca queda das pessoas pelo lado crítico da realidade, vale mencionar, ainda, a atitude de leitores, diante de algo que os incomoda, aflige ou, de alguma forma, contraria seus interesses. Quem ele procura, se não a redação de um jornal, para jogar no ventilador a carga de denuncismo que carrega?
Da autofagia ao equilíbrio
Quando coloco todos esses pontos, não é para justificar ou defender que veículos de comunicação sigam na linha do quanto pior, melhor. A rigor, nem considero que esse seja um fim em si mesmo. Não sou adepto do lema ‘se sangrar é manchete’ (if it bleeds, it leads, como dizem nos EUA). Insistir nisso é uma atitude autofágica. Indo nesse runo, no final das contas, todos pagaremos um preço. Mas não podemos deixar de ver o mundo criticamente. Até mesmo porque muitos dos avanços sociais se devem, em parte, a cobranças e atitudes da imprensa. A mesma que é, muitas vezes, atacada.
Por outro lado, uma pergunta: a quem interessa uma imprensa dócil e, por assim dizer, ingênua? Como dizem os bons manuais de redação, jornalismo não existe para adocicar a realidade. O fundamental, nisso tudo, é a busca constante do equilíbrio e, quando muito for o caso, reconhecer acertos e fazer elogios. Isso não está proibido.
FOMOS BEM
RECORDE DE MORTES a bala na RMF. Na mesma semana, governo anunciou investimentos
FOMOS MAL
COELCE NA BERLINDA.
Direito do consumidor sempre será pauta relevante e afirmativa”