Em sua coluna de 31/10, o ombudsman do New York Times criticou o uso exagerado de citações de ‘especialistas’, ‘analistas’ e outros comentaristas nas matérias do jornal. Para Daniel Okrent, as abundantes afirmações apoiadas nos experts servem muitas vezes para ‘enfeitar’ o texto, mas raramente fornecem coerência ou algo mais do que a ilusão de equilíbrio.
Em seu artigo publicado domingo passado [14/11], Okrent retorna ao assunto. Afirma que ficou surpreso em não receber nenhum contato ou reclamação de ‘especialistas’ dispostos a defender sua posição no caderninho de fontes dos repórteres e nas páginas do jornal. Ele cita nomes de fontes que aparecem constantemente no Times – uma delas esteve em 46 matérias, escritas por 23 repórteres, apenas este ano.
Questionados pelo ombudsman, os jornalistas asseguram que seus especialistas de plantão são confiáveis, honestos e bem informados. Okrent afirma que acredita na palavra deles. A partir daí, levanta outra questão: se ele confia no especialista citado na matéria porque o repórter confiou naquela pessoa primeiro, então será que o leitor precisa realmente daquela citação – já que, no fim das contas, a credibilidade é do jornalista?
Ao contrário do que possa parecer, Okrent não faz campanha contra os analistas. Pelo contrário, acredita que há boas razões para que o repórter recorra a eles – quando o editor despeja uma pauta a poucas horas do fechamento, ou quando o jornalista sabe realmente muito pouco, ou nada, sobre o assunto sobre o qual tem que escrever, por exemplo.
O perigo reside em abusar do uso destas fontes. Segundo o ombudsman, é preciso proteger uma pequena, mas delicada e preciosa, peça do exercício do jornalismo: a objetividade. ‘Alguns repórteres pensam que colocar um expert para fazer comentários na matéria aumenta (ou incrementa) esta objetividade’, diz ele. O que é um equívoco. Muitas vezes, tentando conseguir um maior equilíbrio e isenção, o jornalista acaba sendo parcial – sem tomar conhecimento disso.
Muitos profissionais da área acreditam que a objetividade é, de fato, algo inalcançável; ‘todos nós trazemos nossas experiências, sensibilidades e preconceitos inatos’ para dentro da redação, e até mesmo a tentativa de deixá-los do lado de fora altera nossa percepção. Desta forma, tentar isentar sua própria análise ao colocá-la a cargo dos especialistas não é um mecanismo lá tão útil. As raízes históricas da objetividade como ideal jornalístico, afirma Okrent, sugerem mais do que simplesmente encaixar as opiniões de outros no texto e tentar manter-se fora dele. Para fazer uma matéria justa e clara, é obrigatório que se considere todos os lados da questão, defende o ombudsman, e não que se faça uma reportagem isenta de críticas.