‘Em relação à análise que fiz do Manos & Minas, questionando a direção do programa sobre a necessidade de legendagem das músicas cantadas pela rapper americana Rah Digga, o diretor Ramiro Zwetsch enviou a seguinte mensagem:
‘Gostaria de esclarecer o seguinte: o programa foi gravado no dia 17/11 e foi ao ar no dia 19/11, o que nos exigiu um esforço especial para finalizá-lo a tempo. Tivemos 3 períodos de edição – manhã e tarde de terça-feira (18/11) mais tarde de quarta-feira (19/11), um a mais do que temos normalmente em toda semana – e a conclusão do programa, mesmo sem legendas, aconteceu apenas uma hora e meia antes dele ser exibido. Tendo em vista que as letras de rap são bastante longas, este trabalho simplesmente inviabilizaria a exibição do programa. Talvez fosse possível deixar o programa para a semana que vem, a tempo de legendá-lo, mas desta forma nós perderíamos a chance de veicular um programa quente na semana da consciência negra – a rapper Rah Digga se apresentou em São Paulo no dia seguinte à exibição do programa. Devo acrescentar, também, que diante da velocidade em que os MCs costumam rimar, tenho dúvidas se as legendas dariam tempo de leitura para o telespectador. É isto! Muito obrigado e um abraço!’
Ramiro enfrentou, portanto, uma sinuca de bico logística e editorial. É bom que o telespectador saiba que esse tipo de situação acontece muito em televisão.
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‘Conheça os pontos positivos e negativos da programação exibida na última semana. Saiba quais atrações da TV Cultura ganharam destaque e as que ainda podem melhorar.
Febre dos 80
Metrópolis, 13 de novembro
Em um de seus melhores momentos no Metrópolis, o grupo Massaroca fez uma divertida e rica crônica sobre os ícones culturais dos anos 80, brincando com passado e futuro de forma muito competente.
Verdade virtual
Pé na rua, 11 de novembro
No mergulho do Pé na rua no mundo frenético dos nicks, do MSN e de outros canais de comunicação da nova geração – um vocabulário quase incompreensível para a geração deste ombudsman, diga-se – tivemos mais uma prova de que, também na volumosa e infinita Internet, acontecem micos, saias-justas, equívocos e decepções. E que as dicas para sermos felizes nesse mundo são as mesmas que valem ‘aqui fora’: informação, ética, senso de humor e, principalmente, objetividade. Boa pauta e boa edição.
Marco histórico e afetivo
Vitrine, 11 de novembro
A lembrança – e o respectivo vt comemorativo – dos 40 anos da novela ‘Beto Rockfeller’, dirigida por Bráulio Pedroso, foi um presente para a geração mais antiga de telespectadores do Vitrine e um registro merecido e necessário de umas das obras mais importantes da história de teledramaturgia brasileira. A matéria, ilustrada com boas entrevistas de Irene Ravache e Lima Duarte, trouxe de volta os pesonagens de Luiz Gustavo, Plínio Marcos, Débora Duarte, Ana Rosa, Irene Ravache, Walter Foste, Marília Pêra e Beth Mendes, entre outros, a inédita temática urbana e ousada e a trilha sonora inesquecível que incluía, entre outras, ‘Here, there and everywhere’, dos Beatles, e ‘F.. comme femme’, de Adamo. Emocionante e também relevante.
Tela cidadã
Jornal da Cultura, 11 de novembro
O pedreiro que só entra em casa pela janela foi um ótimo emblema da matéria sobre a aproximação da temporada de enchentes em São Paulo, onde, de acordo com o bom texto do repórter Ricardo Ferraz, ‘verão rima com preocupação’. A reportagem aliás, ao explicar a simplicidade do pluviômetro feito com uma garrafa pet, foi um exemplo cristalino da importância que um telejornal pode ter na vida da comunidade que o assiste. Sem ter que necessariamente revolucionar a história da comunicação.
Assim é bem melhor
Coluna do Ombudsman
As manifestações de Gabriel Priolli, Washington Novaes, Ricardo Elias, Toninho Neves, Anderson Lima, Carlos Wagner Messerlian La-Bella, Cássia Mello e Fernando Almeida, tratando, ao longo da semana passada, de esclarecimentos, discordâncias ou reflexões sobre as análises feitas por este ombudsman representam um salto qualitativo do debate interno da emissora sobre a qualidade do conteúdo que ela transmite. E quem sai ganhando no final, não tenhamos dúvidas, é o telespectador.
Uma certa confusão
Opinião Nacional, 14 de novembro
Com a ressalva de que este ombudsman não teve como acompanhar a parte inicial do programa, o Opinião Nacional sobre o significado da vitória de Barack Obama no debate sobre as políticas afirmativas – uma pauta oportuníssima – pareceu, várias vezes, uma discussão sem rumo, principalmente por causa das longas e confusas intervenções de José Carlos Miranda, do Movimento Negro Socialista.
Os limites da câmera
Jornal da Cultura, 11 de novembro
Na relevante reportagem de serviço de Carmem Souto sobre a pesquisa de estudantes da Santa Casa de São Paulo que mostra a presença de bactérias no cotidiano das pessoas – em ônibus, no manusear do dinheiro e na hora de comer – um rapaz apareceu devorando um sanduíche que a edição da matéria sugere estar contaminado por bactérias. Seria melhor não permitir que o rapaz fosse identificado, não tanto pelo risco de um processo, por improvável, mas como iniciativa de respeito à imagem de uma pessoa em uma postura claramente negativa. Coincidentemente, a reportagem seguinte, sobre o funcionamento de 67 câmeras de segurança no centro de São Paulo, tratava exatamente dos limites éticos entre usar as imagens que são de interesse público – como os flagrantes de crimes – e a violação da privacidade das pessoas.
E a eleição?
Especial Cultura Barack Obama
O Especial Cultura sobre Barack Obama, exibido no dia 13 de novembro, tinha padrão BBC. Estavam lá o texto elegante, infelizmente legendado, a riqueza do acervo de imagens e a edição corretíssima. Na parte final, deixou de ser documentário para se tornar uma sucessão épica de longos trechos do discurso de Obama na vitória contra Hillary Clinton, na convenção democrata. Outro problema: o programa terminou na convenção democrata, deixando a certeza de que foi editado bem antes da eleição em que Obama efetivamamente foi eleito. Até aí, nada contra a boa idéia da emissora de comprar os direitos do programa e guardá-lo para uma noite oportuna pós-eleição. Qual seria, no entanto, o inconveniente fazer uma breve atualização, editada pela TV Cultura com imagens da vitória de Obama, completando e atualizando o assunto? Além de atualizar o telespectador do ponto de vista jornalístico, essa providência desfaria a impressão errônea que o programa deixou de que o discurso de Obama na vitória na convenção – otimista, épico, radicalmente mudancista e quase revolucionário – era o da vitória eleitoral – este muito cuidadoso, realista e quase uma advertência de tempos difíceis pela frente.
Quem foi à aula?
O discreto charme das partículas elementares, 10 de novembro
Os diretores Ricardo Elias e Carlos Wagner Messerlian La-Bella, em suas mensagens a este ombudsman, destacaram que a média de audiência foi maior que a do horário, o que não deixa de ser um prêmio aos físicos e profissionais de televisão envolvidos no dificílimo projeto de explicar o significado e a importância das partículas elementares e do acelerador de partículas LHC. Feita a ressalva, é preciso considerar que o programa, ao ser veiculado no horário nobre, ignorou que a maioria dos telespectadores da TV aberta dificilmente seria impactada ou envolvida pelo tema. E que a estrutura narrativa linear não contribuiu muito para que os leigos aderissem a essa viagem ao mundo da Física.
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Noites da cultura
(Programação, 19 de novembro)
Manos e minas who?
A participação da cantora americana Rah Digga no Manos & Minas foi mais do que pertinente. Mas, considerando a importância do conteúdo das letras nesse tipo de música e o fato de o programa ter sido gravado, não seria o caso de traduzir e legendar as letras das músicas que ela cantou, claro, em inglês?
Redondo I
Na edição de 19 de novembro, o Metrópolis juntou duas qualidades que são fundamentais para televisão, TV aberta em particular: o ecletismo temático e a edição competente. Foi assim com a canja da banda Black Rio, os vídeos muito loucos do projeto Cantainerart, a riqueza da mostra de artistas chineses no Masp e o vt em forma de homenagem a Leon Hirszman que embalou a cobertura da exibição do filme ‘São Bernardo’ no Festival de Brasília. E iniciando a noite eclética do Metrópolis, o Grupo Massaroca mostrou que a boa fase voltou, com uma crônica inspirada em Woody Allen e que homenageou musas do cinema de todos os tempos, idades, telas e estilos.
Redondo II
O registro feito pelo Jornal da Cultura da entrevista em que Ronaldo Fenômeno admitiu abandonar o futebol teve, além da perfeita ‘Tristeza’ na trilha sonora, o carinho e o sentimento de justiça histórica que tanto faltam à nossa imprensa quando nossos craques começam a descer a ladeira profissional. Eles costumam ser grosseiramente chutados para fora de campo, como se nunca tivessem nos dado orgulho e alegria. O JC deu um belo drible na mesmice.
O JC voltou bem ao tema Hugo Chavez com uma matéria que, sem usar qualquer adjetivo, foi revelador sobre a postura atual do presidente venezuelano diante da perspectiva de derrota nas eleições.
O texto elegante de Ricardo Ferraz e a edição competente dos trechos dos curtas dos adolescentes da rede pública de São Paulo, tudo coroado com uma bela citação de ‘Central do Brasil’, compuseram um ‘boa noite’ clássico para o Jornal da Cultura. Uma receita conhecida e universal, sim. E que, exatamente por isso, dá muito certo quando bem preparada.
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Ombudsman também é cultura
(Caixa de mensagens, 19 de novembro)
No email que recebi do telespectador Ricardo Tiezzi e que reproduzo abaixo, temos uma prova irretocável de que este ombudsman e as condições em que seu trabalho acontece também não escapam da contradição básica que há muito tempo mantém a TV Cultura distante das massas. Diz o Ricardo:
‘Caro Ernesto. Se no texto resposta ao diretor Ricardo Elias sobre o Partículas Elementares você afirma representar um público que ‘não frequenta o msn’ e ‘não tem a menor idéia do que significa a palavra ombudsman’ por que diacho você é apresentado como ombudsman da TV Cultura e os comentários lhe chegam através de e-mails? Lógica inescapável: os telespectadores que você diz representar não sabem o que você faz e tem pouco acesso para falar com você. Abraço’.
Não tenho absolutamente nada a contrapor à observação de Ricardo. A não ser reafirmar e confiar no compromisso assumido pela presidência da Fundação Padre Anchieta de viabilizar o programa semanal do ombudsman na grade da emissora ao longo do atual mandato deste ainda pretenso representante do telespectador.
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Percentual de risco
(O discreto charme das partículas elementares, 18 de novembro)
Ainda a propósito da análise que fiz do programa ‘O discreto charme das partículas elementares’, Carlos Wagner Messerlian La-Bella, diretor de Prestação de Serviços, Documentários e Produção Independente, enviou a seguinte mensagem:
‘Caro Ernesto, Em resposta ao seu comentário sobre ‘O Discreto Charme das Partículas’, gostaria de começar respondendo pelo ‘será que valeu a pena tanto esforço?’. Eu não acho, eu tenho certeza que valeu, pois temos sim que fazer todo o esforço possível para produzir documentários científicos, uma deficiência desta casa – e deste país, principalmente na TV aberta.
Foi uma grande experiência – desde a viabilização da verba, discussão de roteiro – foram meses, com dois roteiristas, três consultores e toda a equipe de criação e produção da casa, além do envolvimento de outros núcleos. Trabalho reconhecido por você como ‘houve um notável esforço dos realizadores’. É verdade. Se tudo isto não conseguiu tirar certa aridez do roteiro, se tudo isto não conseguiu amenizar o ‘peso’ dos dois blocos iniciais, conseguimos pelo menos ter a certeza de que estamos sim caminhando para o acerto.
Como responsável por este projeto, tenho muito orgulho do resultado deste trabalho. Evidente que temos ressalvas, inclusive motivo de várias reuniões, evidente que temos de melhorar, afinal estamos engatinhando na área cientifica. E por fim, quanto ao ‘É uma pena, mas, em nome do espectador médio, mais acostumado a conteúdos não exatamente educativos neste horário…..’, não vou responder pelos espectadores, pois eles mesmos já responderam como mostra nosso indicador de audiência: média domiciliar de 1,0%, o que representa um crescimento de 43% na audiência em relação à mesma faixa horário da semana anterior.
Entendemos que a função da TV Pública, caro Ernesto, não é apenas disputar audiência com programação semelhante às TVs comerciais, mas, antes de mais nada, apontar caminhos, oferecer alternativas – e evidenciar ao telespectador médio que há sim, a possibilidade de utilizar a televisão como veículo transmissor de conhecimento – até mesmo de física. Um abraço’
Mais uma vez, acho importante esclarecer que, em nenhum momento, coloquei em dúvida a grande experiência e o merecido orgulho profissional de todos os envolvidos na realização do programa ‘O discreto charme das partículas elementares’. Por outro lado, é fundamental ressalvar que minha missão ética, profissional e contratual, como ombudsman da TV Cultura, é a de tentar interpretar outro tipo de experiência ou satisfação: a experiência e a satisfação do telespectador, diante do conteúdo exibido pela emissora.
Não cabe repetir as razões pelas quais considerei o programa inadequado para o horário em que foi exibido e seguramente incompreensível para a maior parte dos telespectadores da TV aberta. Elas, as razões, e os argumentos do diretor Ricardo Elias em defesa do programa estão disponíveis logo abaixo, nas colunas de 11 e 13 de novembro, respectivamente.
Cabe, no entanto, dizer que não considero razoável acreditar que um crescimento de 43% sobre uma média de audiência domiciliar de apenas 1,0% seja indício seguro e tranqüilizador de que o programa foi um sucesso de público. Tudo depende do universo de telespectadores potencialmente expostos à programação das emissoras de TV aberta.
Há, ainda, na mensagem de Carlos Wagner, duas premissas com as quais não posso concordar. A primeira é a de que a TV Cultura ‘disputa audiência’. E a segunda é que essa disputa se dá com ‘programação semelhante às TVs comerciais’. Basta um olhar ligeiro para a grade da emissora – e desde já é importante ressaltar que não vai, nesta citação, qualquer condenação genérica deste ombudsman à grade atual – para chegarmos à conclusão que a maioria dos conteúdos da TV Cultura não é e nem quer se assemelhar aos conteúdos das emissoras comerciais.
Convenhamos: a TV Cultura, há décadas, já vem apontando caminhos e oferecendo alternativas. E a proposta embutida na minha crítica ao programa ‘O cdiscreto charme…’, sempre em nome do telespectador, é a de que todos nós façamos uma reflexão corajosa e desarmada sobre se é aceitável ou suficiente termos tão poucos cidadãos ‘acionistas’ desta emissora trilhando esses caminhos e abraçando essas alternativas.’