Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ernesto Rodrigues

‘Vale a pena compartilhar, com o telespectador, algumas informações contidas no relatório referente ao trabalho da Central de Relacionamento da TV Cultura durante o mês de setembro. O primeiro fato a destacar é o aumento na quantidade de mensagens respondidas – entre as quais as originárias de emails enviados a este ombudsman – em comparação ao volume do mês de agosto: 3693 em setembro contra 2925 em agosto.

A explicação dada pela Central para este aumento na quantidade de mensagens é semelhante à que foi citada aqui nesta coluna, há alguns dias: ‘Houve um aumento de críticas que, contabilizadas com reclamações, revelam alguma insatisfação relacionada à mudança de programação por conta do Programa Novo’.

As mudanças na grade de programação mais criticadas foram, segundo o relatório da Central, as que afetaram (ou tiraram do ar) os programas ‘Shaun, o Carneiro’, ‘Tudo que é sólido pode derreter’, ‘Resgate Vôo 29’ e ‘Pé na rua’. Em contrapartida, a Central informa que houve ‘aumento acentuado de elogios – gerado pela audiência infanto-juvenil do programa’

Houve, também por conta da estreia do Programa Novo, um aumento temporário de pendências (mensagens não respondidas). E a explicação da Central, para os telespectadores que estranharam a falta de retorno, é a seguinte: a equipe do Programa Novo, não conseguindo atender a todas as entradas de participação via internet, optou por suspender o atendimento do Fale Conosco a partir do dia 25 de setembro – mantendo os canais mais interativos e com moderação como o Orkut, Twiter, blog, mural, chat – até conseguir dar conta de responder as mensagens pendentes – o que foi feito na segunda semana de outubro.

Resta saber que tipo de repercussão ou impacto – positivo ou negativo – terá prevalecido em relação ao Programa Novo ao longo do mês de outubro. O relatório da Central de Relacionamento certamente será uma ótima ferramenta para esta avaliação.

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Última pergunta, 21 de outubro

O telespectador Carlos Henrique, de Bauru, comentando o encerramento sem aviso prévio do Roda Viva do dia 19 de outubro com o presidente da Linux International, Jon Maddog Hall, observou que o entrevistado deveria ter oportunidade de pelo menos um comentário final de cerca de dois minutos.

Vale observar que esta não foi a primeira vez em que um âncora do Roda Viva, premido pelo costumeiro estouro do tempo do programa, se viu obrigado a encerrar a entrevista de forma quase abrupta, deixando o convidado entre a surpresa e uma ponta de contrariedade.

Não é difícil imaginar que o Roda Viva, em sua longa existência, já tenha oferecido regularmente esta oportunidade aos seus entrevistados. E é fácil concluir ou lembrar que muitos desses entrevistados não retribuíram a generosidade do programa, transformando a participação final em discursos intermináveis, irrespondíveis e difíceis de serem interrompidos exatamente por serem a palavra de despedida.

Entre a ladainha final e o corte abrupto, a postura mais conveniente talvez fosse o meio do caminho: o âncora deixaria bastante claro, sempre e de forma enfática, principalmente para o entrevistado, que a última pergunta seria mesmo a última pergunta. Assim, o convidado teria a oportunidade de, junto com a última resposta, acrescentar o que quisesse ou tivesse preparado como comentário final.

De quebra, essa saída pelo menos atenuaria um outro problema que tem sido motivo de boa parte dos emails recebidos por este ombudsman e que são relacionados ao Roda Viva: a dificuldade que os convidados do programa têm tido de concluir respostas e raciocínios, devido ao frequente atropelo do âncora e dos entrevistadores convidados, na hora de fazer as perguntas.

No caso de Jon Maddog Hall, diga-se, o atropelo não aconteceu, mas o motivo está mais no fato de se tratar de uma entrevista com tradução simultânea em inglês e português.

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Esclarecimentos, 20 de outubro

Em resposta à coluna publicada ontem, 19 de outubro, sob o título ‘A reposta do Móbile’ Lillian Aidar, produtora executiva do programa, mandou a mensagem que transcrevo, na íntegra, a seguir:

‘Peço uma pequena correção. Jamais disse para este ombudsman: ‘Outro assunto é o pressuposto usado por parte dos realizadores da emissora – e reafirmado pela senhora Lillian – de que a TV Cultura já busca ‘boas audiências’ e que, portanto, não deveria se preocupar muito com os índices. Será que já busca mesmo?’

Na verdade esta produtora disse: ‘Quanto à audiência insípida, peço que obtenha maiores informações a respeito dos números de ibope que o programa obtém no dia e horário de exibição. Demonstra que a emissora segue no mesmo patamar já conquistado.’ (…) ‘ …acreditando que a tv pública, além de buscar boas audiências e anunciantes como o faz a tv comercial, deve também fazer o que esta não faz.’

Gostaria de pedir acesso ao ombudsman, das criticas feitas pelos telespectadores em relação ao programa, para que possa discutir melhor com minha equipe.

Obrigada

Senhorita Lillian’

Lillian Aidar está coberta de razão. Ela jamais proferiu a frase assinalada em sua mensagem de hoje. A frase, se o texto da coluna for lido com a devida atenção, é e nunca deixou de ser de autoria deste ombudsman. Trata-se de uma crítica a um tipo de postura profissional que este ombudsman – por sua conta e risco – identificou nos termos da primeira mensagem que recebeu de Lillian.

Os emails enviados a este ombudsman e relacionados ao programa Móbile estão sendo copiados ainda hoje, em caráter particular, para Lillian Aidar, para que ela, como este ombudsman já fez, dê a eles o destino que julgar necessário.

há décadas e não, como querem alguns, de alguns anos para cá.

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A resposta do Móbile, 19 de outubro

Transcrevo a íntegra da mensagem que recebi da senhora Lilian Aidar, produtora executiva do programa Móbile:

‘Prezado Senhor,

Começo me desculpando por não respondê-lo antes, embora considere sua forma de se dirigir a equipe de produção extremamente deselegante.

O título ‘Arrogância Subsidiada’ me traz à cabeça outra expressão, ‘Ignorância Subsidiada’.

Li sim, os dois ou três comentários feitos ao longo do ano em sua coluna. Alguns foram de enorme utilidade para o programa, como por exemplo, dar mais ênfase as legendas, creditar os textos sobre Alicia Alonso e Havana, escritos pelo próprio diretor. As outras colocações levam a seguinte reflexão: a não aparição do diretor em suas perguntas e os convidados pautados estão plenamente de acordo com o projeto e concepção do programa. Programa este idealizado por Fernando Faro e Cassiano Gabus Mendes na década de 60, na TV Tupi, e agora reeditado, dois nomes de maior importância para a tv brasileira , como deve ser de seu conhecimento. Na ocasião o diretor da emissora colocou o Móbile, um programa de linguagem vertical, isto é, dirigida a produtores, colado a um programa sabidamente de linguagem horizontal, com mamãe Dolores no seu papel principal, na novela ‘O direito de nascer’. Outra informação: na época foi feito uma pesquisa colocando de um lado Flávio Cavalcanti e do outro este tal de Fernando Faro. A resposta do Cassiano foi: ‘Claro que eu fico do lado do Faro, que é o futuro da TV.’ O Flávio é aquela coisa redundante, sabida, de sempre.

Quanto à audiência insípida, peço que obtenha maiores informações a respeito dos números de ibope que o programa obtém no dia e horário de exibição. Demonstram que a emissora segue no mesmo patamar já conquistado.

Assim, posso exercer o meu direito democrático, colocado pelo senhor, acreditando que a tv pública, além de buscar boas audiências e anunciantes como o faz a tv comercial, deve também fazer o que esta não faz.

Obrigada por abrir a discussão. Espero que meus colegas possam aproveitar este momento para se manifestarem diante de sua colocação. Cito: ‘São o retrato da postura arrogante, elitista e excludente que sobrevive, intacta e subsidiada, nos corredores e em parte das salas da emissora.’

Lillian Aidar – Produtora Executiva do Programa Móbile’

Feita a transcrição, agradeço a resposta, em nome daqueles telespectadores que, situados cultural e intelectualmente nos limites do que a senhora Lillian Aidar classifica de ‘linguagem horizontal’, subsidiam indiretamente a sugerida ignorância deste ombudsman.

Sempre em nome desses mesmos telespectadores (e contribuintes), particularmente dos que não tiveram o berço educacional e cultural que a senhora Lillian e sua equipe certamente tiveram, aceito as desculpas que ela pede pela demora em sua resposta a este ombudsman.

Também registro a explicação de que ‘a não aparição do diretor (do Móbile) em suas perguntas e os convidados pautados estão (sic) plenamente de acordo com o projeto e concepção do programa’. Feito o registro, e com todo respeito ao projeto e à concepção do programa, a explicação não resolve um problema: a insanável falta de inteligibilidade dos momentos das entrevistas que são precedidos por perguntas que o telespectador simplesmente não ouve.

É também tentando representar os telespectadores da TV Cultura que agradeço o esforço da senhora Lillian de descer das alturas da ‘linguagem vertical’ do Móbile e contextualizar a pequena lição embutida na carteirada intelectual que ela nos aplicou, mostrando, de forma um pouco confusa, diga-se, a importância de Fernando Faro e Cassiano Gabus Mendes – assim como a redundância (sic) de Flávio Cavalcanti – na história da televisão brasileira.

A senhora Lillian agradece a este ombudsman por abrir a discussão. E este ombudsman sugere que a discussão continue, começando pelo próprio futuro da TV, que ela sugere estar materializando no Móbile ou, pelo menos, saber onde ele, o futuro da TV, está. Outro assunto é o pressuposto usado por parte dos realizadores da emissora – e reafirmado pela senhora Lillian – de que a TV Cultura já busca ‘boas audiências’ e que, portanto, não deveria se preocupar muito com os índices. Será que já busca mesmo?

Qualquer que fosse o desfecho, uma discussão assim seria, no mínimo, uma forma bastante produtiva de todos nós, a senhora Lillian de lá e este ombudsman de cá, sendo ou não arrogantes e ignorantes, dormirmos em paz com nossa inquestionável condição de subsidiados pelo povo do estado de São Paulo.