Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Ernesto Rodrigues

‘É gratificante perceber que algumas áreas de conteúdo da TV Cultura compartilham da preocupação e do compromisso deste ombudsman com a busca da clareza, da acessibilidade e da adequação dos programas da emissora ao telespectador médio da TV aberta brasileira. Exemplo?

O programa Clássicos, cujo conteúdo básico, por si só, já representaria uma respeitável barreira a ser transposta na busca desses objetivos, tem dado um exemplo, ao cercar a programação de concertos de textos explicativos lidos por uma apresentadora que, por sua vez, além de dar as informações básicas, ’chama’ simpáticas entrevistas e depoimentos dos concertistas.

Foi o caso do Clássicos do último dia 9 de fevereiro, quando a atração era a Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (Osusp), em gravação realizada em agosto de 2009 com os pianistas Fábio Caramuru e Marcelo Bratke, sob regência do maestro Roberto Tibiriçá.

Mesmo para pessoas que já apreciam música clássica, foi importante ilustrar o concerto com informações e depoimentos sobre o concerto para dois pianos e orquestra em ré menor do compositor francês Francis Poulenc (1899-1963) e sobre as músicas Suíte Dolly, opus 56, de Gabriel Fauré, e a Sinfonia Italiana, opus 90, de Felix Mendelssohn.

Infelizmente não é o que acontece em outros núcleos da emissora.

Em defesa do site

Recebi do diretor do Núcleo de Novas Mídias da Fundação Padre Anchieta, Ricardo Mucci, e transcrevo, algumas informações importantes sobre o episódio relatado na coluna publicada no dia 10 de fevereiro sob o título ’TV Cultura invadida’:

’Ernesto,

Estou te repassando informações a respeito da invasão do hacker ao nosso portal, para esclarecer sobre o status do incidente:

A invasão não provocou danos. Só deu trabalho para restabelecer as funcionalidades do portal e respectivos sites, porque esse tipo de invasão desconfigura parcialmente o sistema de gerenciamento e os servidores.

Estamos procedendo a uma verificação minuciosa para conferir se a invasão ocorreu através dos nossos servidores ou do CMS (content management system) que gerencia o portal.

A partir das conclusões, vamos reforçar a segurança do nosso sistema e, se for o caso, terceirizar o hosting do nosso portal para evitar riscos no futuro (ainda que nenhum sistema seja 100% inviolável)

Ricardo Mucci’

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TV Cultura invadida, 10 de fevereiro

Na noite de terça-feira, dia 9 de fevereiro, o site da TV Cultura deu lugar a um hacker que se identificava na primeira pessoa do plural como ’Lady Lara’. Ao impossibilitar acesso do telespectador e do público em geral a todos os links oferecidos pelo site da emissora, em vez de fazer algum ataque a pessoas ou conteúdos da TV Cultura, o hacker, ao contrário do que seria de se esperar nesse tipo de situação, surpreendentemente usou a invasão e o título de sua travessura digital (’TV Cultura invadida!’) para, quem diria, elogiar a própria TV Cultura e desqualificar as outras redes de TV aberta. O início do texto:

’Me desculpem SBT, Globo, Record, Band eRedeTv, mas a única emissora que realmente sabe pra que serve a TV e talvez por isso não tenha tanto Ibope como vocês sempre será a TVCultura’.

Depois dessa introdução em tom até civilizado, o que se seguiu foi uma sessão de impropérios e agressões verbais temperadas de homofobia e de ódio aos políticos, endereçadas a pessoas e programas das mesmas redes comerciais. Como, aliás, costuma acontecer em parte dos emails recebidos por este ombudsman. A diferença, agravante neste caso, é que o lixo atingia a quem quer que tentasse acessar o site da TV Cultura.

O gesto transgressor equivalia, é bem verdade, ao de um terrorista que, por medo, incompetência, estupidez – ou as três alternativas combinadas – decidisse explodir uma bomba no quarteirão onde vivem sua família e seus amigos, diante da impossibilidade de jogar o artefato no território do inimigo. Estupidez à parte, no entanto, o fato é grave e exige providências imediatas por parte dos responsáveis pela segurança em internet da TV Cultura.

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Polêmica no ar, 9 de fevereiro

Transcrevo email recebido de José Antonio Dal Bosco, de Jundiaí, por acreditar que o tema pode ter mobilizado outros telespectadores e, por este motivo, justifique um posicionamento da direção do programa A’Uwe. Ao email:

’Quero deixar aqui meus protestos contra o programa exibido ontem (domingo, de de fevereiro) onde pagés exercitavam a medicina de forma hilária, fumando e invocando espíritos com aprovação de médicos (…?). Retiravam dos doentes uma ’gosmerinha ’ e mostravam para a câmara, num espetáculo de dar dó. Já não basta a televisão brasileira estar inundada de evangélicos que, prometendo mundos e fundos, surrupiam os minguados reais do povo ignorante debaixo dos narizes das nossas complacentes leis (…) Os senhores deixam muito a desejar…’

Aproveito a oportunidade para registrar um outro protesto recebido por este ombudsman durante as férias de janeiro e que se refere ao documentário ’Mesa brasileira’. Os telespectadores se mostravam indignados com cenas de abate de um frango. Um deles, a professora Erica Priscila Serpa, de Amparo, disse:

’Tive uma enorme decepção e total descrença me tomou quando cometi o equivoco em ligar a televisão. Me deparei com uma reportagem que jamais imaginei que fosse exibida numa emissora aberta e pública: uma mulher abatendo um frango. A reportagem mostrou todo o sofrimento do animal sendo esfaqueado por aquele ser que insistimos em chamar de humano (…) Que decepção com a emissora que eu julgava a única que não explorava animais para as suas produções. Não usa, mas exibe matérias como essa. Existem infinitos temas mais interessantes que poderiam ser exibidos nesse horário (…) Entendo que os hábitos alimentares da grande maioria da população são baseados em produtos de origem animal, porém, se os serem viventes nesse planeta não aprenderem a respeitá-los e a respeitar todas as formas de vida, a natureza continuará cobrando a dívida com desastres e tragédias ambientais’.

Outra telespectadora, Deolinda Eleutério, de São Paulo, defendeu que a TV Cultura ’mostre também a realidade das pessoas que se recusam a usar seres indefesos como alimento’. E Marcos Ferreira, também de São Paulo, protestou contra o fato de emissora mostrar a cena ’como se isso fosse algo normal e necessário para a alimentação de um brasileiro’, pedindo programas que mostrem alimentação alternativa com pratos vegetarianos.’