Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Ernesto Rodrigues

‘Pelo teor da mensagem, o autor da carta que transcrevo é alguém com conhecimento e experiência acima da média em televisão. Suas observações, no entanto, além de serem úteis para outros telespectadores, são um lembrete importante para a equipe da emissora nesses tempos de transição do sistema de transmissão analógico para o digital e seu formato específico de tela para alta definição (HDTV). Primeiro, a carta de Antonio Zarich:

‘Parabéns para a equipe do programa Roda Viva por nos permitir, com tanto cuidado, conhecer melhor as pessoas que definem ou influenciam parte de nossa realidade social e cultural. Venho com a presente carta sugerir que se produza um gabarito de proporções para os formatos de TV para se fixar nos monitores ou visores (viewfinders) das câmeras e assim referenciar melhor os operadores de câmera quanto ao enquadramento mais adequado.

O principal motivo para esta sugestão se deve ao fato de que, no programa com o diretor do INPI, para dar o exemplo mais claro, não apareciam, na TV concencional, parte dos textos do chargista Paulo Caruso, destituindo assim, de seu trabalho, o efeito cômico’.

O que o Sr. Zarich sugere que se faça, salvo engano deste ombudsman, já existe e pode ser providenciado eletronicamente. A um simples toque de tecla, os operadores das modernas câmeras de TV de rua e de estúdio podem ter, delimitada no seu visor (viewfinder), a exata dimensão do enquadramento tradicional – o chamado ‘SD’ ou ‘4 por 3’, que por sua vez se encaixa perfeitamente no tamanho das telas das TVs tradicionais mais antigas. Desse modo, o operador e o diretor de TV sabem sempre, com bastante precisão, o que a grande maioria dos telespectadores está vendo em casa.

Embora o mesmo visor das câmeras de estúdio tenha o formato chamado ‘16 por 9’ (ou HDTV) exigido para a gravação (e transmissão) em alta definição, o enquadramento das câmeras continuará sendo prioritariamente em ‘SD’ enquanto a proporção de televisões com esse formato mais antigo (e barato) for grande nos lares brasileiros. O que significa dizer que, de certa forma, são supérfluas ou apenas complementares as imagens que aparecem a mais, à esquerda e à direita do centro da tela, nas modernas (e caras) TVs que recebem o sinal em alta definição.

Se, no entanto, como disse o Sr. Zarich, as charges de Paulo Caruso ficaram incompreensíveis por causa do enquadramento, cabe perguntar: o que será que aconteceu?

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Muito além de um boletim, 15 de abril

As inserções do boletim ‘Jornal da Cultura Informa’ ao longo da programação diurna da TV Cultura tem um significado proporcionalmente bem maior do que os poucos minutos que, somados, esses boletins ocupam na grade diária. Eles são – ou devem ser – sinalizadores de que a emissora, através de seu Núcleo de Telejornalismo, está acompanhando atentamente os fatos relevantes do dia, ainda que só vá tratar desses fatos detalhadamente mais tarde. Até porque é inconcebível, nesses tempos de Internet, que uma emissora de TV aberta fique desconectada dos acontecimentos, principalmente num país como o Brasil e em uma cidade como São Paulo.

E para que a TV Cultura não passe, junto com seu conteúdo, a sensação de que está naquele limbo onde podemos sintonizar canais abertos e por assinatura notoriamente desconectados do cotidiano – do Discovery Channel aos bispos que alugam espaço de algumas redes – o conteúdo dos boletins do JC tem de ter um compromisso inegociável com a urgência, o ineditismo e o impacto das informações que dá. Do contrário, o efeito é inverso.

No caso do boletim do final da tarde desta quarta-feira, dia 14, as imagens e informações sobre o terremoto que devastou uma região da China tinham essa ‘vocação’ de urgência e ineditismo. As outras notícias, não necessariamente: uma falava da continuidade da interdição do acesso ao Corcovado e dos prejuízos causados pela chuva no estado do Rio. A outra, sobre um inquérito que vai apurar aliciamento ilegal de jogadores brasileiros em transferências ao exterior, precisava de pelo menos mais uma frase com informações sobre o caso, para fazer mais sentido.

No aspecto visual, o boletim do JC se ressente ainda mais fortemente que o próprio Jornal da Cultura da pobreza e da timidez das infografias que tentam ilustrar as notas sem imagens.

Esses reparos, longe de insinuar a irrelevância, sugerem, muito pelo contrário, uma atenção maior da direção da emissora para esse espaço da grade que será também a alternativa natural para que o Jornalismo da TV Cultura entre e fique ao vivo quando – e se – esse tipo de cobertura recomendar. Como aconteceu, aliás, há menos de duas semanas, no Rio de Janeiro, com quase todas as emissoras de TV aberta baseadas na cidade e impactadas pela tragédia da chuva.

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Quem disse que a TV Cultura não sabe fazer?, 14 de abril

Críticas e análises prévias são uma raridade aqui neste espaço, pela própria natureza da missão do ombudsman, que é a de entrar em contato com os conteúdos da emissora em condições idênticas – ou as mais semelhantes possíveis – às do telespectador comum. A reapresentação do documentário ‘Cidades – O mundo que construímos’, programada para esta quinta-feira, dia 15, às 23h, é, portanto, uma preciosa oportunidade que este ombudsman tem de recomendar um trabalho exemplar, principalmente porque ele comprova a capacidade de produção e de realização da equipe envolvida no projeto.

Talvez seja o caso de recomendar que o telespectador releve o fato de o documentário começar quase que escondendo, inexplicavelmente, sua ótima produção de campo e dando a impressão de que é apenas uma discussão acadêmica sobre os problemas e desafios das grandes cidades a partir do relatório da ONU que situa algumas capitais brasileiras entre as 20 mais desiguais do planeta. Não é. A discussão existe, tem alto nível, mas é apenas um dos ingredientes do programa.

Acima de tudo, trata-se de um conteúdo que, além de legítimo para televisão, é adequado à TV aberta. Ancorado e literalmente ‘amarrado’ com vibração e muita eficiência por Laila Dawa em múltiplos cenários urbanos, falado em português do começo ao fim, ‘Cidades – O mundo que construímos’ tem uma cuidadosa cobertura de imagens urbanas, uma edição moderna e sempre preocupada com o ritmo e a agilidade da narrativa, um conceito de infografia limpo e objetivo que poderia até ser observado com atenção pela equipe do Jornal da Cultura e, como já foi dito, uma produção de campo robusta e competente.

Foi assim nas reportagens que levaram a repórter Andresa Boni a São José dos Campos, para registrar o impacto da dispersão urbana em uma família que vive com um pé na cidade e outro na capital, a Guarulhos, para uma movimentada e criativa abordagem dos prós e contras das câmeras de segurança e do isolamento de shoppings e condomínios fechados, e ao bairro da Lapa, para demonstrar os danos da especulação e da verticalização imobiliária. Tudo sempre ilustrado com eficiência por uma edição em que cada frase tinha uma interface audiovisual pertinente e informativa, também nos momentos em que o programa abordou a questão do trânsito e do lixo nas grandes cidades brasileiras.

O esforço de produção incluiu ainda entrevistas com um time respeitável de especialistas, entre eles o economista Ignacy Sachs, o antropólogo José Guilherme Magnani, a arquiteta urbanista Nádia Somekh e Antônio Carlos Carpintero, a geógrafa Roz Mari Zenha, o sociólogo Flávio Testa e os consultores José Vicente da Silva Filho (segurança pública), Paulo Saldiva (saúide), Sérgio Ejzenberg (trânsito) e Sabatei Calderoni (meio ambiente). Além da oportuna participação do repórter Alex Gusmão, para mostrar o que aconteceu com Brasília, uma cidade que começou do zero há 50 anos.

Entre as poucas ressalvas seria possível citar a abordagem um pouco descontextualizada – em função do tema central do programa – das dificuldades e discriminações sofridas pelas mulheres pobres e trabalhadoras e o uso no mínimo estranho de um clássico de Chico Buarque sobre a rotina deprimente do dia-a-dia (‘Cotidiano’) para ilustrar a edição sobre a vida pra lá de agitada de uma personagem do programa.

Nem mesmo a pegada acentuadamente generalista (ou tematicamente um pouco pretensiosa) e não muito ‘nervosa’ do programa como um todo, do ponto de vista jornalístico, compromete a pertinência desse trabalho que, para usar as palavras do entrevistado Ignacy Sachs, tem o mérito de equacionar os problemas, definir as urgências e mobilizar – no caso, o telespectador – para que ele entre na ‘boa trajetória’ dos três princípios da sustentabilidade: o social, o ambiental e o econômico.

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De Arruda a Rapunzel, 13 de abril

Uma frase simples, sem qualquer pretensão editorial, no meio da narração do repórter Anderson Arcoverde sobre a libertação do ex-governador Arruda, no Jornal da Cultura de segunda-feira, 12 de abril, provocou mais impacto do que uma caixa de adjetivos no momento em que registrou o que aconteceu com um dos deputados distritais aliados de Arruda que também foram libertados: ‘da cadeia para o plenário’.

Outros momentos eficientes foram a condensação – na medida do interesse médio pelo assunto em um telejornal de rede – de três reportagens da TV Brasil do Rio de Janeiro sobre a tragédia da chuva no estado; a reportagem sobre a reabertura do Museu Mazzaropi em Taubaté, que encerrou o jornal devidamente ilustrada por trechos emblemáticos de seus filmes, e o tratamento dado às imagens impressionantes da explosão que matou várias pessoas – incluindo um cinegrafista francês – durante uma manifestação na Tailândia.

As artes do JC continuam miúdas e tímidas. Foi assim no detalhamento dos artigos importantes do novo código de conduta médica, do arsenal de ogivas nucleares espalhadas pelo mundo e da pesquisa sobre o etanol.

E matérias como a que abordou os perigos do sal, por mais corretas que tenham sido a produção e o desempenho da repórter Juliana Barletta, ficam meio suspensas no ar, acompanhadas de uma incômoda interrogação, quando desacompanhadas, como foi o caso, do sempre saudável gancho jornalístico que deveria preceder uma pauta de telejornal diário. Pelo menos uma parte dos telespectadores certamente ficou querendo descobrir a razão de ser da reportagem, que foi salva da falta de tempero pelo comentário final de uma senhora que, ao justificar o uso de pouco sal na comida, disse: ‘Saúde… a minha e a do meu velho que tem 95 anos’.

Metrópolis

Uma reportagem irretocável de Andrea Couto sobre a estreia de Beth Goulart em São Paulo com sua já antológica interpretação de Clarice Lispector em ‘Simplesmente eu’ abriu com brilho o Metrópolis de 12 de abril, com um texto envolvente e sofisticado, bons trechos da entrevista da atriz, o sempre luxuoso auxílio do acervo da Tv Cultura e saborosos momentos dos bastidores e da preparação de três horas diárias a que Beth se submete.

Vale registrar também a saudável preocupação do Metrópolis de informar a idade das imagens de imagens de arquivo que são usadas em notícias do dia, como foi no caso das notas sobre a banda Supergrass, que está acabando, e sobre Roger Waters, que continua na estrada muito antes pelo contrário.

E também o acerto da abordagem que Cunha Jr fez da vinda de James Cameron e Sigourney Weaver ao Brasil. Em vez dos povos da floresta, o assunto da matéria foi cinema, que é o que os torna interessantes. Com todo respeito.

Um crédito incorreto: Burt Bacharach, e não Bacharack, como saiu na matéria com Dionne Warwick.

Quem diria!

Transcrevo resposta da gerente de programação, Anna Valéria, ao email também transcrito aqui (Perguntas e respostas, 12 de abril) de um telespectador que ficou intrigado com a classificação indicativa para um programa infantil da emissora:

‘A série Contos de Fada, é uma produção antiga, da década de 80. Como é de conhecimento de todos, nessa época, não havia as preocupações relativas à classificação indicativa, muito menos a obrigatoriedade de utilizá-las. Muitos de nossos telespectadores nos escreveram ao longo dos anos pedindo o retorno da série que é muito bem feita, com artistas consagrados e histórias eternas.

Tão logo fomos avisados da renovação dos direitos de exibição, passamos a reavaliar os episódios com foco na qualidade de áudio e vídeo (novas cópias foram providenciadas) e na classificação indicativa. Três episódios tem cenas que foram consideradas pela pós-produção como mais picantes ou ainda, para usar as mesmas palavras do Luiz que nos escreve, não tão ‘inocentes’. Vamos a eles:

Programa 02 – Rapunzel – alusão à pratica sexual, agressão física e verbal

Programa 11 – A bela adormecida – alusão à pratica sexual, cenas com bebidas alcoólicas

Programa 14 – Os três porquinhos – cenas com bebidas alcoólicas e embriaguez

Assim sendo, pensando não só naqueles que gostariam de rever a série, mas principalmente naqueles que nunca a assistiram e que o farão com seus filhos, demos o selo de ‘não recomendado para menores de 10 anos’ para estes três programas específicos.

Acreditamos que os pais são os maiores e melhores críticos para todo e qualquer conteúdo televisivo, cinematográfico ou publicitário. Cabe a nós informá-los, conforme solicita o Ministério da Justiça. Cabe a eles decidir se as crianças irão ou não assistir aos programas classificados.

Gostaria ainda de deixar um comentário: nunca imaginamos que alguém poderia questionar a classificação de 10 anos ! Achávamos que teríamos sim, pais reclamando do conteúdo dos episódios apesar de os classificarmos. Realmente, foi surpreendente !

Grande abraço,

Anna Valéria – Gerente de Programação’

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Perguntas e respostas, 12 de abril

Transcrevo, para comentar depois, os trechos menos técnicos de um email que recebi da gerente de programação da Fundação Padre Anchieta, Anna Valéria, referente à coluna publicada aqui no dia 8 de abril sob o título ‘Problema antigo’ e que trata de um erro na exibição da chamada do programa Metrópolis.

‘Existe uma ‘nova’ rotina diária com relação à gravação das chamadas dos programas ao vivo (Login, Metrópolis e Jornal da Cultura), desde que deixamos de trabalhar com fitas (…) Essas chamadas chegam a nós pelo servidor de exibição e são identificadas por um número que é sempre o mesmo para cada programa. Ontem (8/4), a produção do Metrópolis avisou que não haveria gravação da chamada. Só que desta vez, não pediram ao Controle Mestre para derrubá-la do roteiro de programação (…)

Sem saber (também) que a chamada havia caído, o operador enviou para a exibição a chamada com o conteúdo do dia anterior. Como fato determinante para a exibição repetida, o coordenador do dia 7 de abril não era o mesmo do dia 6 e assim não tinha como identificar que o conteúdo da chamada era o mesmo do dia anterior.

Após os esclarecimentos, gostaria apenas de reiterar que a nossa ‘trapalhada’, como se refere na coluna, não é fato corriqueiro nesta emissora. Tanto a produção, quanto operações, quanto programação empenham-se diariamente no cumprimento de suas atribuições de forma a que nada de errado aconteça no ar, nunca. Infelizmente, a correria do dia-a-dia e a certeza de trabalharmos com uma equipe completamente afinada causou o engano.

É evitável? Com certeza é. Afinal, todos os outros dias em que as chamadas são derrubadas, outras entram em seu lugar, sem prejuízos ao telespectador.

O erro é tão antigo quanto a própria televisão? Com certeza também é, apenas ‘agravado’ pelas novas normas impostas pela automação a que ainda estamos nos acostumando!

Um grande abraço,

Anna Valéria’

Antes de tudo, reitero que quando citei o fato de o erro ser antigo eu quis me referir ao universo de todas as emissoras de TV, em qualquer tempo e lugar, e não apenas à TV Cultura. Reconheço também que o termo ‘trapalhada’ passou para os telespectadores uma impressão de desleixo e de irresponsabilidade que é obviamente injusta com o profissionalismo da equipe de programação, mais ainda se levarmos em conta as circunstâncias especialmente atípicas que, agora conhecidas e somadas aos novos procedimentos impostos pela automação, levaram ao erro da chamada repetida. Pela injustiça do termo, peço que Anna Valéria e sua equipe aceitem minhas desculpas.

Perguntar não ofende

Faço minhas as perguntas do telespectador Luís Fernando Beloto Cabral, de Idaiatuba, São Paulo. Ele ficou intrigado com uma determinada classificação indicativa para o horário infantil da TV Cultura. Ao email:

‘Mandei alguns e-mails para a Cultura (que os respondeu muito bem respondidos, eis um ponto alto da Cultura: o contato com os telespctadores) perguntando o porquê de alguns episódios do seriado ‘Contos de Fada’ terem tido uma classificação indicativa de inadequado para menores de 10 anos.

A resposta foi que, nos padrões atuais, os episódios ‘Rapunzel’, ‘Branca de Neve e os Sete Anões’ e ‘Os Três Porquinhos’ possuem material inadequado. E aí fiquei com a pulga atrás da orelha: quais são os critérios dessa classificação? Porque essas histórias são tão inocentes, eu não acho que tenham algo inadequado.

Assisti essa primeira série antes dos meus 10 anos e nunca me deparei com algo ‘anormal’ para a minha idade… Talvez porque, nos tempos do ‘politicamente correto’ em que vivemos qualquer coisa possa ser apontada como inadequada para tal público…

Luís Fernando Beloto Cabral (Indaiatuba, SP)’’