Professores de inglês e gramáticos aposentados se distraem procurando – e encontrando – erros de sintaxe e tipografia no Washington Post, brinca o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [17/1/10]. Nos últimos meses, um grupo de leitores passou a reclamar que os erros estão cada vez mais frequentes, prejudicando a credibilidade do diário. ‘Se o jornal não se preocupa com gramática e digitação, o quanto importa a precisão factual?’, disparou o leitor Philip K. Cohen.
Em julho, Alexander escreveu uma coluna sobre estes tipos de erro; de lá para cá, em vez de a situação melhorar, leitores alegam que as falhas aumentaram. Michael Larabee, que cuida das cartas ao editor, afirma que notou um aumento de reclamações, inclusive sobre a existência de várias incorreções em uma mesma matéria.
Em geral, os erros são pequenos, porém contínuos. Um artigo sobre um velório no cemitério de Arlington descreveu um soldado usando ‘barcos pretos’ e não ‘botas pretas’ – ‘boats’, no lugar de ‘boots’. Uma lista de índice de desemprego trocou o nome de Chipre (‘Cypress’, em vez de ‘Cyprus’). Exemplos não faltam.
A redução da equipe é um dos motivos para um aumento nos erros. Há uma década, a redação tinha mais de 900 funcionários em período integral – sem incluir a equipe online, que trabalhava separadamente. Hoje, as duas redações integradas contam com 650 funcionários, que produzem um jornal e mantêm atualizado um site 24 horas por dia. Por meio de demissões, voluntárias ou não, o número de revisores caiu de 75 para 43 entre 2005 e 2008.
Multiplataforma
Um fator decisivo para o aumento dos deslizes gramaticais foi a mudança no papel destes profissionais. Foi-se o tempo em que sua função primordial era detectar erros para a edição do dia seguinte. Hoje, eles operam em um ambiente online no qual ‘a otimização de sites’, ou seja, a adoção de estrátegias para melhorar a visibilidade de um site nas ferramentas de busca, é um objetivo-chave. Isso, no entanto, requer novas habilidades e tarefas adicionais que tomam tempo. As manchetes para a versão online do jornal devem ser reescritas de modo a atrair atenção na rede; links devem ser testados e inseridos; palavras-chave devem ser sublinhadas. Tudo isto para que o conteúdo do Post seja facilmente localizado em ferramentas de busca, como Google e Yahoo, a fim de aumentar o tráfego no site e, assim, incrementar a publicidade online. ‘Somos agora multiplataforma’, diz Anne Ferguson-Rohrer, que possui o cargo de… ‘chefe de edição multiplataforma’.
Algumas tarefas extras para revisores foram implementadas na segunda metade do ano passado – o que pode ter contribuído para o aumento dos erros. Com o objetivo de tentar reduzir as falhas, esta semana o Post irá começar a fazer um treinamento de otimização de sites em toda a redação, para ter também ajuda dos jornalistas nesta tarefa. Novas tecnologias podem ajudar, como programas que detectam erros de gramática, digitação e pontuação, além de palavras com duplo sentido. Nada, no entanto, pode substituir um revisor experiente e nada pode ajudá-lo mais que um repórter cometendo menos erros, diz Alexander.