Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

HISTÓRIA
Filipe Coutinho e Lucas Ferraz

Acervo da ditadura mofa sob goteiras

‘Enquanto o governo federal compra briga com os militares para desvendar informações sobre a ditadura (1964-85), o Arquivo Nacional, em Brasília, guarda documentos sob goteiras e dentro de sacos plásticos, com risco iminente de incêndio.

São quase 35 milhões de folhas, armazenadas em condições precárias, que narram a censura, a perseguição a militantes de esquerda e a ação das Forças Armadas em um dos momentos mais obscuros da história do país.

Toda essa papelada ainda aguarda triagem dos arquivistas para a definitiva incorporação ao acervo.

Os arquivos estão desde 1999 no prédio da Imprensa Nacional, que até hoje não foi adaptado para armazenar documentos históricos: não há saídas de emergência, o teto tem infiltrações e há fios expostos nos corredores.

O Arquivo Nacional em Brasília, uma espécie de filial do do Rio de Janeiro, que concentra a maior parte do material, trabalha no limite de sua capacidade. Segundo a própria direção, ‘não há espaço para mais nada’.

Os documentos guardados sob lonas e expostos a goteiras e infiltrações representam um terço do acervo do órgão na capital do país. Se fosse empilhada, a papelada chegaria a cinco quilômetros -o equivalente a um prédio de 1.500 andares.

No total, o arquivo de Brasília guarda 15 quilômetros de material, ou 105 milhões de páginas -no Rio, são mais de 420 milhões.

Com o tempo, muitos documentos mofam e são tomados por pragas, e aí necessitam de uma higienização antes de voltar às estantes. Boa parte desse material em quarentena está armazenado em sacos de lixo.

A Folha teve acesso a todas as dependências do Arquivo Nacional e flagrou mapas que ainda seriam analisados jogados num canto do galpão e dezenas de caixas com documentos com sinais de que foram molhadas.

No mesmo local em que estão as 35 milhões de folhas históricas há banheiros e uma copa para os funcionários, situação que é considerada irregular pela própria coordenação da instituição, já que a proximidade com banheiros e cozinha pode causar infiltrações.

RISCOS

O prédio do Arquivo Nacional foi doado em definitivo ao órgão em 2008 -pertencia antes à Imprensa Nacional. Mesmo com a estrutura carente, a instituição contou nos dois últimos anos com orçamento disponível de R$ 117 milhões.

A principal preocupação do Arquivo, no entanto, não é com o armazenamento dos documentos da ditadura. Cercado por janelas com grade e com fios expostos pelos corredores, o risco de incêndio no local é iminente.

A Folha teve acesso a laudo do Corpo de Bombeiros que obriga o órgão a fazer uma série de adaptações para evitar incêndios, sob pena de interdição do prédio.

O Corpo de Bombeiros deu 30 dias para que fossem criados sistemas de iluminação, alarme, sinalização, chuveiro automático e extintores. Segundo os bombeiros, o prédio nem sequer tem saída de emergência para a segurança dos 55 funcionários.

‘[O Arquivo Nacional deve] instalar saídas de emergências e adequar a edificação para garantir o abandono seguro de toda a população’, diz trecho do laudo.

O prazo dado pelos Bombeiros se encerra nesta semana, mas o Arquivo Nacional já trabalha para conseguir mais tempo.’

 

Arquivo diz que reforma deverá custar R$ 1,2 mi

‘O Arquivo Nacional informou ter criado uma comissão interna para atender a todas as recomendações existentes no laudo elaborado pelo Corpo de Bombeiros.

De acordo com o órgão, a mesma comissão, criada no dia que a reportagem visitou o local, vai atuar na reforma do prédio. O valor da obra chega a R$ 1,2 milhão. Ainda não há, entretanto, prazo para iniciar as obras.

A Casa Civil da Presidência da República, responsável pelo Arquivo Nacional, disse que está acompanhando o assunto e que tomará todas as medidas para a adequação do prédio e do acervo guardado dentro dele.

‘A reforma é necessária e já estava prevista’, afirmou Ricardo Neves, engenheiro civil do órgão que acompanhou a visita da Folha. ‘Vamos trocar as telhas e colocar uma manta no telhado. As lonas são para evitar goteiras nos arquivos.’

De acordo com o engenheiro, está prevista também a mudança de local dos banheiros e da copa que é utilizada pelos funcionários.

Sobre os arquivos em tratamento guardados em sacos plásticos usados para lixo, Maria Esperança Resende, coordenadora do Arquivo Nacional em Brasília, disse se tratar de uma técnica para desinfetar os documentos e matar fungos.

‘Os sacos não são de lixo, são sacos resistentes. As folhas em tratamento ficam em quarentena e aí voltam para o lugar. É uma metodologia de trabalho, por precaução’, afirmou Resende.’

 

PUBLICIDADE
Talita Bedinelli

Médicos fazem ‘parcerias’ com famosas para divulgar clínicas

‘Quando Mirella Santos, modelo, ex-participante do programa ‘A Fazenda’ e atual mulher do cantor Latino, trocou as próteses de silicone dos seios um fotógrafo acompanhou cada passo.

A moça, maquiada e sempre sorridente, foi fotografada ao se preparar para a cirurgia, ao ser medicada e enquanto o cirurgião plástico fazia a incisão em seu corpo.

‘Achei bacana. Pelo menos eu dou um moral também para o médico’, diz ela.

O médico em questão é Ricardo Cavalcanti Ribeiro, que aparece abraçado com ela em parte das fotos.

A operação, segundo Mirella, foi fruto de um acordo com o cirurgião plástico. ‘A gente fez uma parceria, né? Afinal, eu também estava divulgando o nome dele’, diz.

Parcerias como essa estão cada vez mais comuns. Enquanto o médico entra com o bisturi, a celebridade entra com a propaganda na mídia.

A cirurgia de Mirella, segundo o médico, saiu de 30% a 40% mais barata. E as fotos foram bastante publicadas.

Tessália Serighelli, ex-participante do Big Brother Brasil, também andou aparecendo em fotos ao lado do cirurgião Luiz Fernando Dacosta, que turbinou os seios dela de graça. ‘Não foi cobrado nada. Nem hospital, nem a prótese, nem a clínica’, diz ela.

‘Acho que para o médico é interessante a divulgação. As pessoas vão saber que eu pus silicone e vão querer saber com quem foi’, afirma ela.

A Folha não conseguiu localizar o médico anteontem.

Já Fernanda Cardoso, colega de Big Brother de Tessália, acha que ganhou o presente dos médicos porque ‘eles têm um coração bom’.

‘Eles não precisam disso’, diz a moça, que se recupera de uma rinoplastia feita na clínica Santé, zona sul de SP.

A ex-BBB não pagou pelo trabalho dos médicos, só pela prótese e pela clínica.

‘Não temos parceria. Às vezes vem aqui [um artista] em início de carreira e não tem como pagar. Eu deixo de cobrar meus honorários’, diz Leonard Edward Bannet, dono da Santé. ‘Eles falam da gente por gratidão.’

‘Para muitas pacientes, [divulgar] a plástica alavanca a carreira delas’, diz Ribeiro, que operou Mirella.

REPÚDIO

Desiré Carlos Callegari, secretário do Conselho Federal de Medicina, diz que o órgão repudia a prática. ‘Se o médico está dando [a cirurgia], está levando algo em troca.’

Ele afirma que isso caracteriza concorrência desleal.

Além disso, a prática é condenável do ponto de vista da ética médica. ‘O médico não pode se abraçar com uma personalidade e dizer que ele fez uma cirurgia. Não pode fornecer entrevista para se autopromover’, ressalta.

Callegari também diz que as fotos do procedimento cirúrgico de Mirella Santos podem virar motivo de sindicância contra o médico. ‘O médico não poderia ter autorizado que a foto fosse feita.’

O cirurgião da modelo diz que também não concorda com a prática. ‘Mas não tem como impedir. Celebridade acha que pode tudo’.’

 

COPA
Marcos Augusto Gonçalves

Jagger e Clinton dão as caras, mas futebol é a estrela do dia

‘No Twitter, sobre Mick Jagger e Bill Clinton, que apareceram no estádio: ‘Um não consegue satisfação. O outro consegue demais’. 😉

Mas quem ficou mesmo satisfeito ontem foi o fã de futebol, que teve jogos emocionantes e mais um festival midiático em torno da bola.

Na Band, quando o goleiro do Uruguai saiu mal e deixou a Coreia do Sul empatar, Nivaldo Prieto lembrou Marzurkievski, na Copa de 70, que levou aquele incrível drible de Pelé.

Marcelo Barreto e PC Vasconcellos, no SporTV, torceram por mais um encontro entre Brasil e Uruguai, que pode rolar nas semifinais. ‘Gigante la Celeste’, manchetou o ‘El País’, de Montevidéu. O presidente uruguaio planeja ir à África. ‘É importante’, aprovou Edmundo, o comentarista camomila -calminho, calminho.

E no Twitter já tem gente falando em tri! #URU’

 

Vanessa Barbara

A síndrome do excelente Effenberg

‘‘ENTÃO OS desbravadores europeus se espalharam para o centro da África e…’, discorreu Galvão Bueno, durante o modorrento confronto entre Inglaterra e Argélia, no dia 18.

É nos momentos mais soníferos dos jogos mais mornos que os narradores esportivos têm de provar seu valor, entretendo os ouvintes com sua sabedoria aleatória. Naquela ocasião, discutiu-se a estampa florida da bermuda térmica de um dos atletas. Em seguida, Galvão declarou que o melhor em campo era o juiz do Uzbequistão.

Os locutores aproveitam o ensejo para lançar mão de todos os seus recursos de oratória. Uma seleção pode, por exemplo, ‘assimilar’ o gol adversário e efetuar fortes passes ‘em profundidade vertical’ (o popular chutão).

Em transmissões, é comum dizerem que o jogador ‘primeiro tentou na categoria, depois na raça’, ou seja, primeiro tentou roubar a bola, depois apelou para uma sangrenta voadora. Menciona-se a ‘desinteligência’ do esquema tático para se referir à burrice do técnico, e o ‘bom humor da torcida’ quando esta emite palavrões de fazer corar Edmundo, o saudoso Animal.

Entre as gafes históricas da narração televisiva, está uma transmissão da Copa de 74 feita por um pool de comentaristas, entre eles Galvão Bueno. O trio narrava um ataque do time da Bulgária, quando a bola saiu pela linha de fundo e foi tiro de meta para a Suécia. Nesse momento, a câmera deu um close no placar do estádio: ‘Austrália 0, Alemanha Oriental 0’. Pânico na cabine.

Galvão não tinha nada a fazer senão continuar: ‘Vai a Austrália para o ataque, e a Alemanha Oriental se defende como pode’, informou, numa locução esquizofrênica em que a Bulgária chutou por cima do gol da Suécia e quem bateu o tiro de meta foi a Austrália. Ambos tinham as mesmas cores de uniforme: amarelo de um lado e branco do outro.

Mas o maior tropeço ainda estava por vir. Na Copa de 94, conforme reza a lenda, um locutor colombiano se superou, entrando imediatamente para o cânone. Primeiro disse: ‘Stefan Effenberg está com a bola, que bom jogador é Stefan Effenberg… excelente Effenberg’.

E, em seguida: ‘Senhores, substituição na Alemanha. Entra Stefan Effenberg’. Silêncio incômodo.’

 

TELEVISÃO
Andréa Michael

O PM que faz programa de TV, canta e cria filme

‘O capitão Rogério Guidette, 40, tem uma história inacreditável. O bombeiro estava apaixonado até que um dia foi chamado para um incêndio no edifício Joelma.

A mulher de sua vida trabalhava lá. Ele se desesperou atrás dela, mas não a encontrou. A moça foi dada como morta, ele sentia-se culpado por não salvá-la e entrou em depressão. Um dia, um colega foi chamado a atender um acidente banal, mas ele teve de substituí-lo. A mulher ferida era a sua amada. No incêndio, ela bateu a cabeça, perdeu a memória e sumiu.

Nos braços do bombeiro, suas lembranças voltaram.

Esse é ‘O Último Salvamento’, longa-metragem que Guidette sonha filmar. Já inscreveu seu roteiro em edital do Ministério da Cultura, mas não foi selecionado.

Casado, dois filhos, Guidette foi bombeiro por 15 anos, até trocar as ruas pela área de comunicação da Polícia Militar. Nessa época, em 2006, houve o acidente da TAM em Congonhas.

Ele pegou o uniforme de bombeiro e a câmera. No local, viu que seria mais útil como cinegrafista. Foi o único a filmar as zonas interditadas.

Guidette se tornou diretor e apresentador do ‘Emergência 190’, da PM, na TV Câmara. Fez canto, foi do coral da PM. Na adolescência era vocalista da banda de rock Mister Feeling. ‘Mas eu não era cabeludo’, garante, rindo.

BOLADOS

Leandro Hassum (esq.) e Marcius Melhem na gravação de ‘Os Caras de Pau’ do outro domingo; Leandro não gosta de jogo e Marcius coleciona camisas de seleções

BOLA DIVIDIDA

A Copa até agora não causou grande perda de audiência a canais sem os jogos. Em junho (Ibope nacional das 7h à meia-noite), a Record teve 7,6 de média antes da Copa e passou para 7,1 depois.

O SBT até subiu pouco (5,5 para 5,6) e a Rede TV! segurou 1,1. Com o Mundial, Globo e Band subiram (18,5 para 21 e 2,3 para 3,1). O SporTV, turbinado pelo crescimento da TV paga, teve 44% a mais de ibope do que nos dez primeiros dias da Copa 2006.

Fralda Miau A MTV estreia hoje, às 22h, o ‘Colírios Capricho’. Anunciará os dez finalistas que concorrerão a uma vaga de repórter do canal, capa da revista ‘Capricho’ e membro do blog ‘Vida de Garoto’, fenômeno teen. Escolhidos dentre 93 mil inscritos, de 14 a 18 anos, ficarão confinados em uma casa, nas férias escolares.

Pelado? O repórter Smigol, conhecido por produzir pautas com humor, vê hoje, no Rio, o jogo Argentina x México com o ator argentino naturalizado brasileiro Mario José Paz, o Maradona da novela ‘Viver a Vida’, da Globo. A reportagem vai ao ar amanhã, às 8h, no programa ‘Bom Dia África’, do canal SporTV.’

 

Reality show bate recorde ao mostrar acidente mortal

‘‘Pesca Mortal’, que registra os eventos a bordo de embarcações durante temporadas de pesca no Alasca, atingiu o seu pico de audiência com a exibição da última terça-feira, no Discovery Channel, nos EUA.

O episódio ficou em primeiro lugar na TV paga e foi o primeiro dos quatro que vão mostrar o acidente que resultou na morte do capitão Harris, um dos protagonistas do reality.’

 

Marcelo Gleiser

A vingança dos Nerds

‘Sendo um cientista preocupado com a difusão da ciência para o público não especializado, não há como não celebrar séries em que cientistas são protagonistas.

A coisa anda na moda aqui nos EUA. Em ‘Numb3rs’, um matemático especializado em estatística ajuda a polícia a decifrar crimes difíceis.

Em ‘The Big Bang Theory’, dois físicos, um teórico, outro experimental, vivem no mesmo andar de uma garçonete gata com sonhos de virar atriz. Os físicos têm dois amigos, igualmente brilhantes e incapazes de agir (e reagir) de modo normal.

Até mesmo na literatura recente, parece que descobriram que cientistas são personagens interessantes.

Ian McEwan e John Ban- ville publicaram neste ano romances com físicos e matemáticos como personagens principais. É bom também lembrar que Cacá Diegues, em ‘O Maior Amor do Mundo’ (2006), teve como protagonista um astrofísico brasileiro radicado nos EUA.

Tomadas conjuntamente, essas obras ilustram algo de interessante: o contraste entre a TV de um lado e a literatura e o cinema de outro.

Na TV, especialmente na série ‘Big Bang’, a imagem do cientista é a de um quase pateta, incapaz de funcionar socialmente ou de ter relações interpessoais normais.

Neuróticos, afeminados, completamente estereotipados, os cientistas são essencialmente palhaços. Todas as idiossincrasias que se espera do mais nerd dos cientistas afloram a cada episódio. Ou seja, a série usa uma imagem distorcida dos cientistas para criar situações de humor.

O título é basicamente uma apelação para chamar a atenção do público. Imagino que o ‘Big Bang’ aqui sejam as relações explosivas entre os personagens.

Ciência essencialmente só existe nas deduções lógicas e rápidas que ocorrem nas conversas entre personagens e nas asserções meio incompreensíveis que são feitas.

Fico pensando em outras séries na TV atual em que o tema gira em torno de um time da polícia ou de um escritório de advocacia ou de médicos num hospital, como a famosa ‘House’.

Em raríssimos casos, essas profissões são tomadas como veículos de humor. Ao contrário, os policiais, advogados e médicos são heróis, salvam vidas, resolvem casos complicados, prendem assassinos perigosos. O contraste, para quem tenta combater o estereótipo do cientista nerd na mídia, é doloroso.

ANTI-HERÓIS

Entendo que é delicado dramatizar ciência. Ao escrever roteiros sobre temas científicos, tem-se de tomar muito cuidado para que a ciência não vire protagonista. Afinal, as pessoas querem se divertir ao assistir uma série e não aprender sobre a teoria da relatividade ou a mecânica quântica.

Mas certamente existem outros modos de fazer da ciência objeto dramático ou mesmo engraçado sem ridicularizar o cientista. Apesar de confessar que acho ‘Big Bang’ engraçada, preferiria ver outra em que cientistas são heróis, e não patetas.’

 

Gustavo Villas Boas

Nerd antissocial vira estrela de seriado

‘Apesar de dizer orgulhosamente que tem um ‘amplo círculo de 212 amigos no MySpace’, o doutor Sheldon Cooper (187 de Q.I.) considera muito estressante ter mais de quatro amizades simultâneas no mundo real.

Antissocial, obsessivo, egoísta e incapaz de entender sarcasmo, o brilhante físico teórico interpretado por Jim Parsons virou a estrela de ‘The Big Bang Theory’.

O gênio disfuncional é o preferido dos fãs na enquete feita no site da CBS, emissora que transmite ‘The Big Bang Theory’ nos EUA.

Parsons, antes desconhecido, foi indicado ao último Emmy como melhor ator de comédia (não venceu).

Até moda o cientista tem ditado: as camisetas que usa, com personagens de quadrinhos, equações ou robozinhos, viraram objeto de adoração e são vendidas na Amazon e em sites que pululam na internet para cultuar Sheldon -dois Ph.Ds, o primeiro aos 16 anos.

‘Parsons faz algo raro na TV, tornando o intelectualismo admirável, até heroico’, disse Ken Tucker, crítico da ‘Entertainment Weekly’.

CALCULADORA

Heroico como toda a série, que começou em 2007, sem grande impacto, e hoje é uma lucrativa queridinha da TV norte-americana.

É o quinto seriado mais assistida por adultos que têm entre 18 e 49 anos nos EUA, o primeiro colocado do ranking entre as comédias.

O terceiro ano foi visto por, em média, 14,2 milhões de pessoas, enquanto os capítulos do último ano da badalada ‘Lost’ foram vistos por cerca de 11,6 milhões.

O bom resultado é similar ao de ‘Two and a Half Men’, do mesmo produtor Chuck Lorre e que tem o problemático astro Charlie Sheen.

Se o elenco de ‘Big Bang’ já revelou não ter a aptidão científica dos personagens, mostrou ao menos que é bom de calculadora. Jim Parsons, Johnny Galecki (Leonard) e Kaley Cuoco (Penny) negociam, em conjunto, um aumento de 285% no valor que ganham por episódio. Se acertado, cada um receberá US$ 250 mil por capítulo.

A Warner, produtora e distribuidora, também está lucrando: recentemente, fechou um acordo milionário para o programa ser exibido por mais canais nos EUA.

Com isso, Ken Werner, presidente da divisão que distribui nos EUA as produções da Warner, elevou a série ao mesmo patamar de ‘Seinfeld’ e ‘Friends’.

programa, que tem quarta temporada prevista para setembro nos EUA, é exibido no Brasil no canal pago Warner com pequeno intervalo.

O SBT tem os direitos para a transmissão, mas não há previsão de estreia.

NA TV

THE BIG BANG THEORY

Maratona da terceira temporada

QUANDO terça, às 21h, na Warner

CLASSIFICAÇÃO não informada’

 

Lúcia Valentim Rodrigues

EUA lançam dez novas séries com reciclagem de fórmulas

‘A temporada de meio de ano nos EUA está bem ecológica: as fórmulas estão em processo de reciclagem. Até agora, dez seriados tentam emplacar. E, com certeza, não apareceu o novo ‘Lost’.

‘Rubicon’ é a que se arriscou mais, talvez ajudada pela narrativa enigmática que acompanha Will, um rapaz inteligente, enfurnado numa agência que decifra códigos.

Em andamento, está uma estranha conspiração política, cujo comando é a princípio desconhecido, mas se infiltra até mesmo nessa organização não governamental.

Will (James Badge Dale) enxerga algo suspeito nas palavras cruzadas dos jornais e seu chefe é morto.

Contada assim rapidamente, a trama não parece tão diferente do já visto nos filmes ‘Uma Mente Brilhante’ ou ‘Inimigo do Estado’.

Mas as pistas que o cérebro atormentado do protagonista vai juntando fazem com que ele seja, ao mesmo tempo, frágil e de caráter sólido.

Acrescente-se a isso ter perdido mulher e filha no atentado do 11 de Setembro e temos o herói perfeito.

Pena que o próximo capítulo só vá ser exibido em 1º de agosto, dia oficial da estreia.

CONFINAMENTO

‘Persons Unknown’ coloca sete desconhecidos isolados numa cidade monitorada por centenas de câmeras.

Sem saber por que foram privados de suas vidas, se veem numa espécie de reality show bizarro, que tem um assassinato como a primeira prova. Só que aqui o vencedor é o primeiro a conseguir sair desse inferno.

‘Pretty Little Liars’ quer ser a nova ‘Gossip Girl’. Quatro garotas tentam superar a morte de uma amiga enquanto descobrem sua sexualidade e recebem mensagens de um(a) observador(a) misterioso(a). Segredos são divertidos, mas a série precisa mostrar a que veio.

VIZINHO CHUPA-SANGUE

Mistura de ‘Desperate Housewives’ e ‘True Blood’, ‘The Gates’ é nome de um condomínio para onde é transferido um xerife.

Seus vizinhos, aparentemente normais, são lobisomens e vampiros. Tudo fica mais estranho quando crimes começam a ocorrer.

O problema é que ‘Gates’ perde na comparação com os programas já exibidos. Se não houver renovação, vai virar só um buraco preenchido na grade, sem futuro.

Tendo isso em mente, ganha pontos a originalidade de ‘Scoundrels’, em que uma família de ladrões tenta se converter à vida sem crimes após a condenação do homem da casa à prisão. Mas é meio moralista e ser certinho não está na moda.

Para quem se interessar, dá para ver episódios de ‘The Gates’ e ‘Scoundrels’, após a exibição nos EUA, no site do canal (www.abc.com).’

 

Clarice Cardoso

Autor de comédia cria xará melhorado

‘Era outubro de 2009 e fazia um mês que estreara ‘Bored to Death’ na HBO dos EUA.

À procura de companhia e sem TV, Jonathan Ames resolveu usar o Twitter para pedir abrigo na casa de um desconhecido amistoso para assistir ao novo programa.

Normalmente, os 140 caracteres do pedido passariam despercebidos não fosse Ames o próprio criador da comédia ‘Bored to Death’.

‘Não sei como é no Brasil, mas aqui o cabo é caro e eu não tinha nem dinheiro nem TV’, disse em entrevista exclusiva à Folha por telefone.

Fato é que o ‘choramingo’, como ele define, deu certo e a HBO acabou dando um televisor ao reclamão.

Agora, após uma primeira temporada bem-sucedida, ele já edita o segundo ano, que tem estreia prevista nos EUA para 26/9 e será exibida no Brasil em data a definir.

Autor de oito livros, Ames ganhou fama de pervertido pela personalidade excêntrica e até pelo excesso de detalhes ‘pessoais’ dos textos.

Foi um deles, aliás, que originou a série sobre um escritor que, de tanto ler Raymond Chandler, colocou um anúncio na internet e virou detetive particular. Um plano que Ames, diz, bolou em um momento de tédio e nunca realizou na vida real.

FOCINHO DE OUTRO

Ingênuo, abobalhado e de coração puro, o protagonista é um escritor em crise, chutado pela namorada, que se chama… Jonathan Ames.

‘Por que dei meu nome a ele? É o que mais ouvi ultimamente’, diz Ames, o real.

‘Se escrevia ficção, perguntavam se tinha acontecido. Se fazia jornalismo, se eu tinha inventado. Assim, resolvi o problema e criei a intriga: o que ali é real?’

Apesar das complicações que possam vir de dividir o nome -e uma série de características (leia abaixo)- com a criatura, ele diz que o saldo é positivo. ‘Jonathan é mais jovem, bonito e bonzinho que eu. Ele me representa melhor do que eu mesmo.’

Ainda assim, não é com esse personagem que ele mais se identifica. ‘Acho que o vivido por Ted Danson reflete melhor meus problemas mentais’, diverte-se, referindo-se ao editor de revista rico, bonachão, viciado em vários tipos de drogas e de sexo.

Mesmo com o uso de narcóticos e lavagens intestinais, um marco da série é o estilo de humor simples, politicamente incorreto, quase inocente. ‘Prefiro piadas que vem de os personagens serem tão falhos que, mesmo fazendo o melhor que podem, não dão em nada.’

Ames compara o xará a um Dom Quixote que só falha. Mas, pelas neuroses e pela relação com a cena urbana, não estaria mais para um Woody Allen do Brooklyn? ‘Acho que não sou tão engraçado e talentoso. Talvez seja até menos atraente’, ri.

Ames já interpretou a si mesmo numa adaptação televisiva de suas memórias, mas não quis repetir a dose. ‘Meus dentes são muito feios’, encerra.’

 

INTERNET
Coca comemora publicidade no Twitter

‘A empresa de refrigerantes disse que teve um resultado ‘fenomenal’ com a publicidade relacionada a discussões sobre Copa do Mundo no microblog. Segundo a companhia americana, os anúncios tiveram 86 milhões de ‘views’ em 24 horas e uma taxa de visita muito superior à média.’

 

YouTube lidera setor de vídeos na web

‘Segundo a consultoria Com- Score, 43,1% dos internautas norte-americanos viram vídeos nos sites do Google no mês passado, especialmente no YouTube. O segundo colocado foi o Hulu, com 3,5%. Em média, os norte-americanos assistiram a 101 vídeos no YouTube, ante 27 vídeos no Hulu.’

 

FOTOGRAFIA
José Geraldo Couto

Sobrevivente do bangue-bangue

‘RESUMO Premiado com o Pulitzer pelas imagens que registrou nos últimos anos do apartheid, o fotógrafo sul-africano Greg Marinovich fala à Folha das cenas de violência que presenciou durante o regime segregacionista em Johannesburgo. Também relembra os colegas do ‘Clube do Bangue-Bangue’, grupo de fotógrafos do qual fez parte.

NO FINAL DE SETEMBRO DE 1990, A POLÍCIA do regime segregacionista do apartheid irrompeu no escritório da AP, a lendária agência de fotos norte-americana Associated Press, em Johannesburgo. Procuravam o fotógrafo Sebastian Balic, bem como as fotos que ele havia tirado alguns dias antes, uma delas em especial: a que mostra um homem bem no centro do enquadramento, numa tentativa de agachar-se ou levantar-se, envolvido por um halo de chamas alaranjadas e azuis, típicas da combustão de gasolina. Aparecem também duas outras pessoas: uma delas golpeando-o com um facão; a outra era ainda um menino.

A polícia alegava querer as fotos e o depoimento do fotógrafo para poder identificar os algozes daquele homem que ficou conhecido como ‘tocha humana’. A crueza da cena era inédita nos jornais americanos e europeus, que costumam evitar chocar os leitores com fotos de violência extrema. Não foi o caso da foto da ‘tocha humana’, que, distribuída pela AP, ganhou as páginas dos jornais e assim informou ao mundo a gravidade da tragédia que se desenrolava a cada dia nos bairros negros de Johannesburgo.

Sebastian Balic sumiu do mapa, para não ser forçado a prestar depoimento; a AP o enviou para Londres e, em seguida, para Belgrado, onde outras guerras cruentas, as dos Bálcãs, geravam trabalho para fotógrafos como ele.

Alguns meses depois, em abril de 1991, a foto da ‘tocha humana’ ganharia o mais importante prêmio do fotojornalismo mundial: o Pulitzer. E Sebastian Balic, na verdade um iniciante, entrou para a elite do fotojornalismo mundial -mas atendendo por seu nome verdadeiro, Greg Marinovich.

CLUBE Marinovich fez parte do ‘Clube do Bangue-Bangue’, grupo de jovens e intrépidos fotógrafos que, todos os dias, se embrenhavam nas zonas conflagradas do bairro de Soweto, em Johannesburgo, para documentar o fogo cruzado entre os partidários do Congresso Nacional Africano (CNA), em sua maioria da etnia xhosa, e os simpatizantes do Inkhata, o partido radical dos zulus, insuflado pela minoria branca racista para solapar a transição para a democracia plurirracial.

Dos quatro membros originais do ‘clube’, Ken Oosterbroek morreu baleado num confronto e Kevin Carter se matou. Gary Bernard, uma espécie de quinto elemento do grupo, também cometeu suicídio. Sobraram Marinovich (ferido quatro vezes) e João Silva, que registraram a saga no livro ‘O Clube do Bangue-Bangue’ (trad. Manoel Paulo Ferreira, Cia. das Letras), que em maio teve sua versão cinematográfica apresentada no Festival de Cannes.

Dirigido por Steven Silver, sul-africano radicado no Canadá, o filme apresenta, no papel de Marinovich, o americano Ryan Phillippe, de ‘Gosford Park’ (Robert Altman) e ‘A Conquista da Honra’ (Clint Eastwood). O fotógrafo acompanhou as filmagens, realizadas no bairro de Soweto e nas favelas de Thokoza e Alexandra.

‘Foi difícil voltar a certos lugares’, diz ele. ‘A gente fica amarrado às emoções para sempre. A primeira morte que você presencia é que nem o primeiro amor.’

ABUTRE Marinovich se comove sobretudo ao lembrar de Kevin Carter, o amigo que se matou em 1994, aspirando a fumaça do escapamento de seu carro, três meses depois de também ter conquistado o Pulitzer pela célebre foto de um abutre espreitando uma criança famélica do Sudão.

‘Essa foto foi decisiva na crise que levou Kevin ao suicídio’, afirma Marinovich. Na época, a imagem suscitou um acirrado debate sobre a ética do fotojornalismo. Carter foi acusado de pensar só na foto e deixar a criança desamparada, em vez de levá-la até um lugar seguro. Limitou-se a espantar o abutre. ‘Não sei se ele agiu certo, pois eu não estava lá. O João Silva, que estava, acha que a criança não corria perigo de fato.’

Marinovich diz ter falado com pessoas que trabalharam no Sudão; segundo elas, a mãe tinha ido buscar ajuda, alguém levou a criança para o posto de assistência. ‘O que o Kevin deveria ter feito? Para o bem dele próprio, o melhor teria sido pegar a criança e levá-la até onde fosse cuidada, de modo que o coração dele, Kevin, pudesse ficar em paz.’

‘Se alguém precisa de ajuda, eu ajudo. A única pergunta é: devo fotografar ou ajudar primeiro? Eu não sou uma câmera, sou uma pessoa’, diz ele. ‘O problema é se você vai ajudar alguém em detrimento de fazer o seu trabalho. A foto em si é uma ação, é um modo de interferir na realidade.’

ADRENALINA Além das drogas e do álcool, problemas recorrentes entre os fotógrafos que vão para a linha de frente, a adrenalina que o corpo libera em situações de perigo pode ser viciante. O mesmo acontece também com soldados, paramédicos, policiais, paraquedistas. ‘É parte do prazer do trabalho’, explica Marinovich.

O que levou aquele jovem que nem bem se iniciara no jornalismo a se meter numa cena conflagrada como a de Soweto? ‘Éramos rapazes brancos de classe média, protegidos em nossos bairros, em nossas casas. O que sabíamos? Nada.’ Segundo ele, nos anos 70, ‘tudo era orquestrado, organizado e oculto’: ‘A brutalidade era escondida. Mas a gente suspeitava que havia algo errado’.

Foi a mesma curiosidade que levou esse filho de croatas a viajar em 1991 para a zona de conflito na Bósnia, onde conheceu a jornalista austríaca Heidi Rinke, que viria a ser sua primeira companheira. Hoje, Marinovich está casado com a sul-africana Leonie, com quem tem dois filhos.

Aparentemente curado do vício da adrenalina, o fotógrafo diz que não cobre mais guerras, terremotos, situações de violência extrema ou desgraça explícita. Como assim? Em sintonia com a estabilidade democrática de seu país, Marinovich estaria se acomodando a uma vida burguesa, colhendo os louros dos anos de trabalho duro que o tornaram uma estrela do fotojornalismo mundial?

Longe disso. Ele está envolvido em dois grandes projetos interligados de jornalismo multimídia. O Twenty Ten é um projeto temporário montado para a Copa do Mundo, para produzir conteúdo jornalístico comercializado por uma agência holandesa. Depois da Copa, Marinovich e Leonie, sua mulher, voltam a tocar a storytaxi.com, agência de notícias ‘puramente africana’.

DESAFIOS E quais são os desafios para o fotojornalismo, agora que a violência crua dos confrontos políticos e raciais está aparentemente superada? ‘A violência, as tensões, são mais sutis. A vida é vivida na fronteira, no limite’, diz o fotógrafo, editor e escritor.

A entrevista está terminando, e uma bela luz de outono banha Johannesburgo, visível à distância do alto do bairro nobre de Randburg. Marinovich me leva até o portão e, antes de se despedir, me pergunta se é verdade que 200 mil pessoas assistiram no Maracanã à final da Copa do Mundo de 1950.

Respondo que sim e ele, maravilhado, confessa: ‘Eu adoraria ver um jogo num estádio brasileiro. De preferência um Flamengo x Santos. Quem sabe, quando as crianças crescerem, Leonie e eu nos mudemos para o Brasil ou para a Colômbia. Na América do Sul, assim como na África, tudo ainda está por acontecer’.

‘Se alguém precisa de ajuda, eu ajudo. A única pergunta é: devo fotografar ou ajudar primeiro? Eu não sou uma câmera, sou uma pessoa’’

 

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