Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Fontes’ de confusão

Em sua coluna de domingo [26/11/06], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, lembra um antigo ditado comum em redações, que diz: ‘Não deixe os fatos ficarem no caminho de uma boa matéria’. É um dito espirituoso, mas que mostra que a narrativa de uma matéria pode ficar desorganizada caso o repórter dê destaque a cada um dos fatos, ou pode significar ainda que a reportagem pode ficar resumida demais devido ao pouco espaço disponível, prejudicando a compreensão dos leitores de como a matéria foi feita.

‘Jornalistas ganham a confiança dos leitores ao atribuírem fatos e mostrarem a eles como alcançaram tais conclusões. A palavra-chave é transparência’, avalia Deborah. ‘Esta explicação não deve aparecer em cada frase ou parágrafo, mas o leitor deve saber, sem dúvida, como a história foi apurada’.

Na semana passada, o leitor Mario Possamai, de Toronto, questionou como o repórter David Finkel conseguiu apurar um artigo de uma série publicada no jornal com o tema ‘como é ser negro’. Neste caso, Finkel – que ganhou o Pulitzer este ano por Reportagem Elucidativa, dado às matérias que esclarecem assuntos complexos – acompanhou o personagem Chris Dansby por meses à procura de um emprego. Em muitas ocasiões, o jornalista esteve presente inclusive em conversas e chegou a gravá-las, o que não ficou explícito no artigo.

As regras do Post para citações afirmam que ‘devemos ser cuidadosos sobre o uso da palavra ‘disse’. Sozinha, a palavra deve ser usada somente quando o repórter ouviu a fonte dizer as palavras citadas, seja pessoalmente, ou por TV ou rádio. Quando a frase é colocada entre parênteses, devem ser as palavras exatas, escritas precisamente como foram ditas’. A matéria seguiu tais regras, mas os leitores não sabem delas. Uma nota do editor poderia ter deixado isto mais claro.