A credibilidade da mídia é uma questão que tem tido bastante destaque recentemente nos EUA, segundo a coluna de 30/1/05 do ombudsman do Washington Post, Michael Getler. Isso se deve ao fato de que se tornaram públicos os casos de pagamentos do governo a Armstrong Williams e Maggie Gallagher, comentaristas que têm espaço considerável na imprensa. O Post, por sua vez, protagonizou um episódio que suscitou dúvidas quanto à confiabilidade de suas fontes.
No dia 21/1/05, o diário trazia na capa uma reportagem sobre o discurso inaugural do segundo mandato de George W. Bush, em que o editor da revista Weekly Standard, William Kristol, um notório neo-conservador, elogiava a fala do presidente e a qualificava de ‘histórica’. No dia seguinte, o Post publicou outra matéria sobre a segunda posse de Bush em que informava que o mesmo Kristol teria assessorado a Casa Branca a preparar o texto e, por incrível que pareça, ainda assim, dava espaço para que ele dissesse mais uma vez que teria sido ‘um discurso raro’ que será ‘histórico’. Esta reportagem mencionava uma reunião em que diferentes especialistas teriam opinado sobre o que Bush deveria priorizar no segundo mandato. Charles Krauthammer, colunista que têm seus textos reproduzidos pelo Post, esteve no encontro. Kristol, não.
Alguns leitores, inclusive integrantes de um grupo chamado Media Matters for America (a mídia importa para a América), escreveram para Getler chamando atenção para o fato de que Krauthammer e Kristol elogiaram a apresentação do presidente sem avisar que haviam sido assessores dele para aquela ocasião – condição que Krauthammer rejeita, pois alega que a reunião a que compareceu não tinha o discurso inaugural como mote. De fato, o encontro ocorrido no dia 10/1/05 tinha como tema a política externa americana no Oriente Médio. No entanto, os presentes foram questionados sobre quais achavam que deveriam ser as questões a que o governo deveria dar mais atenção. O redator de discurso da Casa Branca, Michael Gerson, estava presente.
Getler conclui que Kristol e Krauthammer, caso tenham mesmo dado algum conselho à equipe de Bush, deveriam tê-lo explicitado antes de fazerem comentários na imprensa. Ademais, como são ambos colunistas e já gozam de algum espaço na mídia, na opinião do ombudsman, seria até melhor que se abstivessem de assessorar a Casa Branca, pois podem expor suas opiniões em seus textos.