Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Guálter George

‘A primeira reclamação contra O Povo havia sido feita pelo prefeito Juraci Magalhães, na edição do último dia 1º de agosto. Agora é a vez do candidato dele à sua sucessão, Aloísio Carvalho, manifestar incômodo com a cobertura que o jornal tem feito de sua campanha. Foi através do jornalista Roberto Maciel, ex-porta-voz de Juraci e assessor de imprensa do candidato Aloísio, que as queixas foram apresentadas ao ombudsman durante contato na última segunda-feira. Naquele dia, a editoria de Política publicara a segunda matéria de uma série iniciada domingo, na qual apontava algumas das principais promessas dos candidatos e as suas conseqüências sobre os cofres municipais. A leitura do assessor é que mesmo a pauta abordando propostas de todas as coligações e candidatos, o foco pareceu mais negativo em cima daquele que representa a atual administração. Roberto não aceita o fato como isolado, dizendo que o comportamento vem sendo observado desde o início da campanha. Ele sugere que se o jornal tem um candidato, pelo menos mantenha o esforço de não influenciar o noticiário com sua escolha.

Ruim, também, pra petista e tucano

A verdade, com ênfase maior ou menor, é que críticas à cobertura chegam quase todos dias e de todos os lados. Cada um amplia a lente sobre a notícia publicada que não lhe seja favorável, ou não lhe pareça, imediatamente procurando justificativas. Por exemplo, leitor petista questiona se não é exagerada a cobertura do O Povo sobre a crise interna do seu partido que se arrasta desde a fase de pré-campanha. ‘A idéia é transformar a Luizianne Lins em vítima?’ perguntou, à queima-roupa. Para meu espanto, inclusive, pois até tenho avaliado que se alguém está perdendo com o volume de notícias relacionadas aos problemas no PT, com a abordagem que apresentam, na maioria, trata-se da candidata oficial da sigla. Mais um exemplo: um tucano, outro dia, manifestou-se criticamente em relação ao jornal pela insistência de, vez ou outra, voltar à história de que Cambraia pode ser um ‘plano b do prefeito Juraci Magalhães’. São exemplos que mostram como se dá, muitas vezes, a avaliação do público sobre a cobertura que um órgão como O Povo faz de um processo eleitoral com todas as complicações que apresenta este de 2004, em Fortaleza.

Os critérios são os anunciados

As queixas que chegam ao ombudsman, naturalmente, em grande parte também chegam ao núcleo de Conjuntura, onde está a editoria de Política. O editor-executivo Erick Guimarães rebate todas, assegurando que a cobertura tem-se dado dentro dos parâmetros definidos e tornados públicos desde o início da campanha. Segundo ele, a seleção do que é ou não pautado, do que se publica ou deixa de publicar, atende, no fundamental, aos critérios da procedência, do interesse público e da relevância jornalística. ‘Não consigo enxergar onde estão os problemas das matérias relacionadas ao candidato do PMDB apontados pela assessoria. As informações que nos chegaram, contra quem fosse, e atenderam aos critérios básicos do que seja uma notícia, após suficientemente checadas e confirmadas, foram publicadas sem qualquer interesse específico’.

Para cada crise um tempo

Ano eleitoral é, em si, marcado pela tensão na média das redações brasileiras. Não seria exceção entre nós e, ao contrário, as características marcantes de O Povo fazem ainda mais possível, e previsível, uma pressão como a observada com o desenrolar da campanha em curso. Uma análise fria do cenário, afastada das manifestações apaixonadas ou profissionalmente contaminadas, o que concluiria? Sem dúvida, que mesmo longe de estar no nível apontado pelas críticas negativas, a cobertura apresenta pontos que acabam justificando um ou outro ataque contra ela. A crise petista, de fato, tem sido mal alimentada pelo jornal em muitos momentos, registrando-se que uma boa parcela das matérias publicadas valeu-se de fontes que não se identificam. Só na matéria mais recente, publicada na última quinta-feira, os agentes principais da notícia aparecem aclarados. De outra parte, uma crise dentro da campanha do PSDB, com uma mal explicada substituição do coordenador Roberto Matoso, uma inesperada entrega da função ao senador Luiz Pontes, que para tal teve de deixar a Secretaria de Governo, durou poucos dias no noticiário, foi logo transformada em página virada. Nada mais conveniente para um candidato que naquele momento precisava – e conseguiu –, de paz para fazer deslanchar seu nome junto ao eleitorado.

Para o editor Erick Guimarães as abordagens apareceram diferentes nas páginas porque os casos também diferem entre si. ‘Na esquerda, quando há briga, é sempre mais possível obter informações, o que não acontce no PSDB, por exemplo, mesmo quando resguardando a fonte’, diz ele. Quanto à rápida crise tucana, o jornalista afirma que O Povo checou todas as informações que chegaram, publicou tudo o que apurou e considerou relevante fazê-lo e, se deixou de falar dela muito rapidamente é porque a coordenação da campanha de Antônio Cambraia conseguiu tirar logo o assunto da pauta. ‘Não havia informação disponível além daquelas que publicamos’, afirma Érick.’