‘A intenção inicial era trazer uma análise mais aprofundada da cobertura da campanha eleitoral do segundo turno apenas no próximo domingo, evitando, para hoje, qualquer tipo de influência do que aqui estivesse posto sobre o convencimento dos leitores acerca das candidaturas que se apresentam como alternativas para administrar Fortaleza. Um quadro de pouca procura ao Ombudsman, por qualquer dos lados envolvidos na disputa, favorecia esta opção pelo distanciamento do tema na coluna. Foi quando veio a quinta-feira, dia 28, e um episódio que deixamos de relatar no dia seguinte, sexta-feira, apesar do acompanhamento de todo seu desenrolar por equipe do O Povo. A omissão gerou protesto justificado da assessoria do candidato Moroni Bing Torgan, foi objeto de cobrança no comentário interno daquele dia e de uma resposta da Redação. Vamos ao fato: equipe do jornal acompanhou operação em gráfica de Fortaleza acusada de estar imprimindo panfletos apócrifos contra a candidata do PT, Luizianne Lins. Nada foi encontrado e o proprietário, acusando petistas que acompanhavam a ação policial, dentre eles o deputado federal João Alfredo, anunciou que iria atrás de reparação dos danos morais que teria sofrido. Os jornais Diário do Nordeste e O Estado noticiaram o fato, enquanto nós o ignoramos, solenemente.
Só havia o fato se houvesse panfleto
A questão foi posta pela assessoria do candidato Moroni da seguinte forma: se os panfletos tivessem sido encontrados, haveria notícia? O editor-executivo do núcleo de Conjuntura, Érick Guimarães, responde à pertinente pergunta: ‘a única razão pela qual deixamos de publicar a matéria foi operacional. O repórter que acompanhou a ação na gráfica era o mesmo que estava pautado para o último comício da candidata Luizianne Lins e teve que sair às pressas para o local onde a concentração aconteceria. Ao chegar na Redação, tarde da noite, discutimos o material de que ele dispunha e, diante do pouco espaço disponível, optou-se por não publicar nada da busca na gráfica’. Portanto, teria sido mais um efeito das nossas insanáveis dificuldades estruturais. O argumento me obriga a dar razão à queixa da assessoria de Moroni, considerando que O Povo desconheceu uma operação que mobilizou justiça eleitoral e a Polícia Federal, levou militantes petistas à porta da gráfica denunciada e, certamente, constrangeu seu proprietário. Nós acompanhamos tudo para, no final das contas, concluir que não valia noticiar, sequer em texto curto, pois nada tinha sido encontrado. Portanto, em resposta ao questionamento da assessoria do candidato pefelista, parece claro que haveria sim matéria em nossas páginas se os panfletos tivessem sido encontrados, o que dá peso relativo ao fator operacional como determinante da decisão.
É preciso tomar a pauta dos marqueteiros
A campanha do segundo turno chegou ao fim deixando a impressão de que Moroni e Luizianne passaram incólumes, sem boa parte das cobranças que lhes poderiam ter sido feitas quanto à possibilidade de execução do que propuseram nos seus discursos. Repetindo um pouco o que acontecera na etapa anterior, em que o debate acabou desviado para um arquivado caso França, atendendo estrategistas de campanha, agora se perdeu mais um tempo discutindo o que a candidata do PT sugeria ao propor uma abordagem positiva da homossexualidade nos currículos das escolas municipais fortalezenses. Um desvio, mais um, que serviu ao adversário de Luizianne, embora pouco trazendo de útil à discussão central que deveria ser sobre a cidade. O que devemos começar a ver, já com o foco nas próximas campanhas, é como se consegue escapar das armadilhas que os ‘marqueteiros’ montam com o objetivo de trazer o debate para o ponto que eles querem. Normalmente, em tais casos, o que eles buscam não é o que a sociedade deseja, ou precisa. Importa-lhes apenas o que amplia as chances de vitória do candidato ao qual estiverem servindo, independente da importância real do tema para a vida dos cidadãos que seus patrões se propõem a liderar.
O nome vem junto com o ato público
O advogado Arimá Rocha, de forte identificação com a luta pelos direitos humanos no Ceará, faz uma série de ponderações interessantes quanto à questão, aqui tratada domingo passado, da nossa falta de padronização ao definir quando devemos divulgar um nome em matéria policial ou de denúncia. Para ele, que esteve discutindo o assunto com os jornalistas do O Povo no último dia 14, a convite da Chefia da Redação, o correto seria fazer a divulgação quando existir um ato público, seja ele administrativo ou judicial. Ou seja, o fato de a pessoa estar indiciada pela polícia (ato público administrativo) já daria o embasamento necessário ao jornal para veiculação do seu nome. Arimá concorda que o que faz falta, hoje, é uma regra padrão que deixe claro porque determinados nomes são expostos, enquanto outros são protegidos no noticiário. ‘Na verdade, o feeling do repórter parece muito importante em tais situações, permitindo-lhe avaliar quando, aplicados os critérios básicos exigidos, a divulgação de um nome parece fundamental, ou não, à matéria’, diz o advogado. O que o órgão de comunicação deve evitar é a digressão, seria apresentar conclusões que os documentos disponíveis ou a apuração feita não permitam. ‘Divulgar o ato público, administrativo ou judicial, o que inclui os nomes envolvidos, está dentro do que se pode considerar como aceitável’, finaliza Arima Rochá. É fundamental que o leitor perceba a importância da discussão do assunto, aparentemente desinteressante à maioria leiga, mas que, na verdade, reflete-se de maneira direta na qualidade da informação que é oferecida.
O jornalista é um servidor público
Participei de discussão na última quarta-feira, dia 27, com alunos do curso de Comunicação Social da UFC, convidado pelo professor Agostinho Gósson. Foi um evento interessante, por uma série de razões. Inicialmente por resultar, segundo relato do próprio Agostinho, da curiosidade que os estudantes apresentam, de vez em quando, em saber mais sobre a função do Ombudsman, pra que serve, como funciona, quais seus efeitos etc. Depois, pela oportunidade que essas trocas de idéias oferecem para sentirmos o que passa pela cabeça dos jovens que caminham para ocupar as nossas redações. Finalmente, por permitir uma animadora conclusão, pra mim, de que as gerações futuras que se preparam para o exercício do jornalismo demonstram algum esforço para enxergá-lo na perspectiva de uma carreira pública. Uma compreensão que se não começar a ser construída desde os bancos acadêmicos, encontrará muita dificuldade para se tornar possível após a entrada no mercado de trabalho.’